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Música

Do Punk Rock ao Pop Açucarado: Mapeando a Música e o Estilo das Go-Go’s

As Go-Go’s são incríveis pra caralho. Elas foram a primeira banda só de mulheres, tocando seus próprios instrumentos e compondo suas próprias músicas, a chegar no topo das paradas da Billboard.

Quando penso nas Go-Go’s, não penso mesmo em “punk”. Penso em cores pastéis, ombreiras fofas e namoradinhas dos Estados Unidos. Cinco mulheres jovens cantando sobre “ter a batida”, o que eu eu acho que acontece depois que o ritmo te pega – ei, A GLORIA NOS ALERTOU, PESSOAL – e que fizeram uma música chamada “Vacation”. Foi neste clipe que as vi fazendo lip sync e movimentos coreografados com os braços, de maiô e tutu, sobre skis aquáticos. Espera aí, acho que eu sendo um pouco dura e esnobe, vamos começar de novo.

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As Go-Go’s são incríveis pra caralho. Como a página da Wikipédia orgulhosamente afirma, elas foram as primeiras, e até agora se mantêm como a única banda só de mulheres, tocando seus próprios instrumentos e compondo suas próprias músicas, a chegar no topo das paradas da Billboard. O primeiro disco, Beauty and the Beat, ficou em primeiro lugar por seis semanas e ganhou disco triplo de platina. É universalmente aclamado. Elas venderam mais de sete milhões de discos. O single “Speeding”, do segundo disco, está na trilha de Picardias Estudantis, discutivelmente o filme teen que deu origem à ideia de que este tipo de filme deve mostrar adolescentes como eles são de verdade, um conceito com o qual Hollywood lucra até hoje. As Go-Go’s se reuniram em 1999 e ainda fazem turnês. Na verdade, fizeram shows todos os anos desde 2010. Você podia tê-las visto este verão. Repito, as Go-Go’s são incríveis pra caralho.

Mas, nos anos 1980, no meio de todo aquele sucesso e sob uma conservadora imagem pública, as Go-Go’s estavam usando drogas, transando com seus groupies e brigando o tempo todo. Como disse a guitarrista e vocalista Jane Wieldlin: “Éramos meigas e fofas. E também éramos loucas, viciadas em drogas e ninfomaníacas”. Também usavam muita Lycra, e usavam bem.

Belinda Carlisle cresceu bastante adequada ao estereótipo da líder de torcida loira, vivendo nos subúrbios da Califórnia com churrasqueira e piscina e passando muito tempo na praia. Mas ela também era a mais velha de sete filhos, com um espírito rebelde, e como todo bom rebelde, tentou tornar a vida de seus pais o mais difícil possível. Saiu de casa aos 19 anos, depois de ver a capa de Raw Power, do Iggy Pop, um disco que a apresentou a um mundo totalmente diferente, e virou punk no verão seguinte, usando sacos de lixo, boinas, lápis preto e bottons de banda. Fugiu para Hollywood – atrás do punk, não da tela grande – e passou um tempinho tocando bateria na The Germs sob o nome Dottie Danger.

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Ela é a terceira da esquerda para a direita.

Foi em um show em Hollywood que ela conheceu Jane Wiedlin, que também era punk. As duas se tornaram melhores amigas, e passaram dois anos entre drinks e festas até maio de 1978, quando decidiram formar sua própria banda. A motivação delas era basicamente conhecer garotos – um clássico – esperando pouca coisa além de se tornarem as punks mais descoladas da cena. Na época, Jane tinha aspirações de trabalhar com moda:

“Eu estava estudando design de moda e trabalhando em uma fábrica no centro de Los Angeles que era uma sweatshop, basicamente, e eu era modelista. Lembro de pegar meus moldes e escrever letras sobre eles quando tinha uma ideia. Isso é algo que eu gostaria de ter hoje em dia, porque seria uma coisa incrível, um objeto de recordação”.

Agora estou imaginando roupas cobertas de coisas escritas, como o vestido de casamento da Angelina e o vestido com estampa de jornal da Carrie Bradshaw, e não consigo tirar essas imagens do meu cérebro.

Ah, oi, Jane.

Elas recrutaram suas amigas Margot Olavarria e Elissa Bello para tocar baixo e bateria e fundaram as Go-Go’s (elas quase se chamaram The Misfits – nossa). As meninas não tinham a menor ideia do que estavam fazendo. Jane não conseguia afinar sua guitarra, quanto mais tocá-la, e Belinda não sabia cantar. Era uma bagunça bruta, quente e crua. Um jornalista disse na época: “As Go-Go’s são para a música o que o botulismo é para o atum”.

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O primeiro show foi no Masque Club, em Hollywood, o porão de um cinema pornô notório pelos seus banheiros toscos que quebravam o tempo todo e inundavam o lugar com um líquido fétido. Em termos de moda, o estilo delas era punk californiano puro. Belinda tinha o cabelo curto, pintado de preto, e usava camisetas enormes no palco, geralmente com meias estampadas e pumps de salto alto, enquanto Jane usava muito verde limão e adorava suas calças pink de Lycra.

As lembranças delas deste primeiro show não são boas. Em uma entrevista ao Behind the Music, do VH1, Belinda disse: “Tocamos três músicas, a segunda música duas vezes, e eu lembro que as pessoas ou riam histericamente, ou pareciam absolutamente chocadas”. Não que isso as tenha desencorajado; apenas as fez decidir melhorar. Começaram a gravar seus shows para aprender com eles, o que na verdade foi meio deprimente – Belinda percebeu que sua voz era horrível e que precisava desesperadamente fazer aulas de canto. Em setembro de 1978, elas convidaram Charlotte Caffey, que de fato sabia tocar guitarra, para entrar na banda. Ela disse sim na hora, e a banda começou a dar os primeiros sinais de progresso. Mas as meninas ainda estavam mais focadas em fazer festa e se mudaram para um complexo de apartamentos decadente chamado The Canterbury, na região mais tosca de Hollywood – o apelido do lugar era Disgraceland [algo como “Terra da Desgraça”]. Elas ficavam bêbadas o tempo todo e criaram o Booty Club, que era basicamente chamar garotos só para transar.

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Jane lembrou deste tempo em uma entrevista: “O Canterbury era lotado de punks. As outras pessoas morando no prédio conosco eram gente que recebia renda suplementar da previdência, um dinheiro que você ganhava se pudesse provar ao governo que era louco, sem-teto e dependia disso… Tinha esta senhora cheia de sacolas, ela era louca, devia ter uns 80 ou 90 anos. Isso é horrível, mas é engraçado, também. Quando ela morreu, fiquei triste – quero dizer, era uma velhinha – mas vamos encarar, as pessoas morrem. E como eu era punk, entrei escondida no apartamento dela e roubei algumas roupas. Ainda tenho um dos vestidos”.

As coisas começaram a acontecer para elas em 1979, quando mandaram embora a baterista e a substituíram por Gina Schock, na foto acima ao lado de Jane, usando uma camiseta das Go-Go’s (é gauche usar uma camiseta da sua própria banda, ou só muito, muito punk?). Também gostei da intensidade da sobrancelha de Jane e do seu colar brilhante. Gina era uma instrumentista extremamente habilidosa. Ela fez bem para as Go-Go’s, em parte porque as encorajou a ensaiar mais do que uma vez por mês. Sério, garotas, qual é. (Clique aqui para ouvir como elas soavam ao vivo em 1979)

Jane explicou ao AV Club por que Charlotte fez tanta diferença para o som delas. “Em primeiro lugar, ela sabia tocar de verdade; tinha feito faculdade de música, estudado piano, sabia ler partituras e todas essas coisas que não sabíamos fazer. Mas ela também trouxe uma sensibilidade pop e não tinha medo de mostrá-la. Eu cresci amando pop, mas desde que o movimento punk tinha começado, estava totalmente comprometida com ele, apesar que, é claro, sempre teve uma mistura pop-punk como os Buzzcocks, que nós cultuávamos. De qualquer forma, Charlotte chegou e eu imediatamente cliquei com ela no que diz respeito à composição, começamos a compor juntas imediatamente”.

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“A primeira coisa que escrevemos foi “How Much More”, que ainda é uma das nossas músicas mais pop de todos os tempos. Depois disso, virou uma mistura de pop e punk, e quando lançamos o nosso disco…. Quero dizer, hoje em dia, todo mundo ouviria esses discos e diria: ‘Não têm nada de punk’. Mas acredite em mim [risos], na época ainda era meio punk. Depois a mídia inventou o termo ‘new wave’, que descrevia música nova, mais pop, que surgiu depois do começo do punk”.

O som estava se tornando mais firme, rápido e estruturado, mas elas ainda andavam por aí com um visual punk – Charlotte usando um chanel loiro, camisa e gravata, e Belinda com o cabelo mais curto e ainda fã de suéteres larguinhos e leggins. Enquanto isso, Jane tinha descoberto as botas Doc Martens. Nas fotografias desta época, tiradas nos bastidores de clubes cagados, elas parecem crianças desordeiras, encarando a lente com cara de peixe morto, fazendo bagunça: são uma turma da qual você quer fazer parte.

Jane fazendo esta pose, como se estivesse rezando, me lembra o papel dela como Joana D’Arc em Bill & Ted - Uma Aventura Fantástica.

Repare no macacão da Jane e na calça capri e na loirice da Belinda Carlisle. Acho que quando ela ficou loira foi o fim do estilo punk delas. Aqui tem uma foto de perto da bandana e das bijuterias dela, porque eu sei que você vai querer ver isso:

E olha, a Belinda gostou mesmo de calças capri e batas por um tempinho.

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Em dezembro de 1979, as Go-Go’s foram para o Reino Unido pela primeira vez, para abrir os shows da Madness e da Busboys. Elas estavam muito animadas até saírem do avião, perceberem como era a Inglaterra e que o dinheiro delas não ia dar para nada. Viviam com £2,50 por dia, roubando leite da frente das casas de manhã e bebendo xarope para tosse porque não tinham dinheiro para comprar cerveja. Os shows em si eram bem horríveis. Elas estavam tocando para skinheads, que odiavam esses punks californianos vendidos. Constantemente desviavam de garrafas enquanto tocavam, e toda noite Belinda deixava o palco encharcada de cuspe.

A turnê durou três duros meses, e elas obviamente ficaram aliviadas em voltar para casa. Belinda descreveu aquele tempo em uma entrevista ao Arts Desk: “Largamos nossos empregos e vendemos tudo para vir para o Reino Unido, pensando que voltaríamos para os Estados Unidos como rockstars. Vivíamos numa casa toda ferrada, com a Belle Starrs e mais algumas outras bandas da 2 Tone. Vivíamos de pão branco e Nutella. A Stiff Records não gostava das Go-Go’s por algum motivo, mas os caras da Madness imploraram a eles que lançassem “We Got The Beat”. Nos fizeram um favor. Voltamos para os Estados Unidos uns meses depois, 22 kg mais gordas. Não sei como isso aconteceu”.

Adoro o estilo delas desta época. Elas usavam camisas e camisetas cobertas de desenhos – Patolino e Batman – e quilos de gloss e sombra com glitter. As partes de baixo eram divertidas também: calças listradas, saias xadrez e petit pois. Basicamente elas estavam usando tantas estampas e brincos aleatórios quanto pudessem e vendo o que funcionava. Resposta: tudo.

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“We Got The Beat” entrou para o top 40 nos Estados Unidos, mas as Go-Go’s ainda não conseguiam ser contratadas por uma gravadora. Tinham reuniões com executivos que explicavam pateticamente: “Não podemos contratar vocês, são todas garotas”. Depois de meses, finalmente receberam uma oferta do IRS Records, um pequeno selo que se apaixonou pela sua energia, animação e música aburdamente grudenta.

Estar em um selo pequeno significava que elas tinham pouco dinheiro por trás e precisavam economizar sempre que possível. Talvez o mais famoso e bem-sucedido exemplo dessa frugalidade seja o visual delas na capa do seu EP de estreia. Na foto, elas estão usando toalhas e máscaras faciais – o look clássico das festas de pijama – mas isto foi apenas porque não tinham dinheiro para comprar roupas novas. Então saíram, compraram as toalhas, vestiram-nas, tiraram a foto e depois as devolveram para a loja. Alguém, em algum lugar, tem as toalhas que as Go-Go’s estão usando nesta capa. Esta é a capa, e logo abaixo, uma foto sem retoques daquela sessão…

Algo que sempre foi importante para a banda foi empregar tantas mulheres quanto possível. Belinda explicou ao Arts Desk: “Éramos uma operação totalmente feminina. Não tínhamos um Svengali, éramos autodidatas, fazíamos nossas proprias músicas. Tínhamos até roadies mulheres, gerentes mulheres. Nunca nos vendemos. Na verdade, tudo era absolutamente autêntico”.

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À medida em que se tornavam mais famosas e as pessoas finalmente começavam a prestar atenção nas suas músicas, as Go-Go’s se frustravam com a baixista, Margot. Houve um tempo em que ela havia dado à banda atitude e credibilidade punk, mas não havia espaço para isso neste novo começo das Go-Go’s como uma banda “para toda a família”. Margot discordou com a direção que elas estavam tomando e, com as outras meninas contaminadas por uma forte ambição pop, teve que ir embora. Elas a substituíram por Cathy Valentine, que já tinha um currículo de peso. Jane explicou: “Tinha um fascínio ao redor dela, ela já conhecia todas aquelas pessoas famosas quando nós ainda éramos ratinhas de esgoto”.

O primeiro single delas nos EUA foi “Our Lips Are Sealed”, escrita por Jane e Terry Hall, do The Specials. As Go-Go’s estavam tocando no Whisky na Sunset Strip e os caras da The Specials vieram vê-las e convidá-las para ser a banda de abertura na sua turnê pelo Reino Unido. Jane e Terry engataram um romance, apesar de ele estar noivo de outra garota. Depois da turnê ele manteve contato com Jane, escrevendo inúmeras cartas de amor atormentadas; em uma delas estava a letra de “Our Lips Are Sealed”. Jane terminou de escrever a música no seu antigo quarto, na casa de seus pais, e ela se tornou o primeiro single do seu disco de estreia nos EUA, levando-as à uma turnê nacional como banda de abertura do The Police, companheiro de gravadora. Elas estavam tocando cada vez mais no rádio, e logo se apresentado para uma platéia de 30 mil pessoas.

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O segundo single nos EUA foi uma regravação de “We Got The Beat”, lançada em janeiro de 1982. Esta faixa era notavelmente mais pop do que qualquer outra coisa que elas tinham feito antes, e logo se tornou um hit nas casas noturnas de Los Angeles. No primeiro show depois do lançamento, na Starlight, em Los Angeles, a fila para vê-las dobrava o quarteirão. Brian Wilson virou fã das meninas e, em março de 1982, Beauty And The Beat se tornou o disco número 1 nas paradas americanas, permanecendo nessa posição por seis semanas e rendendo à banda uma indicação ao Grammy.

Aqui estão elas no Grammy de 1982. Como você pode ver, com o sucesso, as meninas decidiram mudar de visual, se reiventando como garotas comuns, puras e cor de rosa, doces e inocentes.

Viu só? Estou falando de saias de babado, cores vivas, pérolas, cabelos volumosos e com luzes e todo mundo de salto alto – quanto mais metálico, melhor.

Isto aqui parece uma daquelas famosas festas diurnas que as mulheres viviam dando nos anos 80, com marinheiros posando em pedestais ao lado das janelas. Uma clássica diversão de terça-feira à tarde.

Ou que tal este dia (à direita) em que todas elas TINHAM QUE USAR ALGUMA COISA VERMELHA OU O MUNDO IA ACABAR? Acho que esta foto à direita é a minha favorita dessa fase de renovação do visual. Tão fofa. Eu juro que tenho uma foto de quando eu tinha uns seis anos em que estou muito parecida com a Jane depois de revirar minha caixa de fantasias e roubar a maquiagem da minha mãe.

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As pessoas estavam sempre as obrigando a fazer essas poses esquisitas, e às vezes elas entravam na brincadeira e até pareciam meio felizes em fazer coisas idiotas:

Como nesta foto aqui, em que Jane está usando TANTAS PULSEIRAS.

Ou nesta outra, em que estão dando uma aula de colorblocking anos 80 e suéteres de ombro caído. Mas por que elas estão montadas nessa barra de metal esquisita?

Mas, às vezes, elas só pareciam muito putas de ter que ficar ali, posando com balões estúpidos. (Gina e Charlotte não receberam o memorando de que esta devia ser uma foto mal-humorada).

A garotas mantinham uma imagem absolutamente limpa, mas na verdade ainda eram beberronas boca-suja. A principal prioridade era vender discos, então em entrevistas, sessões de fotos e shows elas eram doces, mas há evidência, em vídeos analógicos arrepiantes, das verdadeiras Go-Go’s (vulgo mulheres normais, não as Princesas Perfeitas do Pop que elas pensavam que o seu público exigia que fossem). Neles você vê Belinda e Cathy nos bastidores, depois de um show em Atlanta, mandando ver com um roadie e alguns groupies. Belinda instrui os espectadores em casa: “Se você não consegue sexo, então o melhor que pode fazer é bater punheta”.

Em uma entrevista à Gay UK, Belinda explicou como era muito mais fácil ter uma imagem pública perfeita naquela época: “Não conseguiríamos sair impunes hoje como naquela época. Não teria como, tem muitas câmeras por aí. Ainda tem muitas drogas, mas naquela época era um pouco mais inocente, e eu achava que era invencível”.

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A fama fez todas as meninas surtarem. Fortemente. Charlotte se tornou mais reclusa: por anos ela foi uma viciada pesada em heroína, enquanto as outras meninas, sabe-se lá como, não faziam a menor ideia. Nascida na realeza de Hollywood – o pai dela era diretor de programas de TV, incluindo Chips e The Dukes of Hazzard – Charlotte sentia muita pressão para ser alguém e já usava drogas com 20 e poucos anos, muito antes das Go-Go’s. Em 1982, ela estava se picando e tentava balancear a heroína com cocaína. Talvez a razão por que as outras meninas não notassem era porque também estavam desenvolvendo hábitos problemáticos. Na verdade, era difícil dizer quem estava com problemas, porque todas elas estavam no esquema: Belinda usava 300 dólares de cocaína diariamente, e mantinha uma caixa de sapato cheia de pó no armário dela – chegando a usar um pouco no Natal, antes de ir para a igreja com a família.

Esta é uma foto delas durante a fase Cocaína-No-Natal.

As drogas não ajudaram nas brigas da banda, que giravam em torno de questões clássicas de gente famosa, como “quem está ganhando mais?” ou “quem é mais famosa?”. Começou a incomodá-las o fato de que Belinda era sempre aquela que as pessoas queriam entrevistar, e elas gradualmente começaram a socializar com grupos diferentes. O segundo disco, Vacation, foi meio descuidado. Charlotte não estava presente durante a maior parte da criação dele, e já que ela era um fator crucial para o processo de composição da banda, a falta dela é profundamente sentida no disco. Lançado em agosto de 1982, alcançou o oitavo lugar nas paradas. Na época, Jane estava numa vibe “que seja, eles simplesmente NÃO ENTENDEM”, mas desde então ela já disse que não acha o disco muito bom. Mas, naquela época, elas estavam tão envolvidas nos dramas da banda que não perceberam – ou não ligaram.

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Depois de a empresária dizer a elas que drogas estavam proibidas nas turnês, as Go-Go’s a ignoraram e ela se demitiu, simplesmente desaparecendo da vida delas. Elas começaram a odiar o público, e Jane disse ao VH1: “Ah, não, outra droga de show para outra droga de plateia de 10 mil nerds, quem precisa disso? Estávamos lá sorrindo, mas na nossa cabeça, estávamos pensando: mal posso esperar que o show acabe para ir transar ou buscar pó, ou seja lá o que fosse”.

O visual de palco delas era mais adulto nesta época, e Belinda andava usando esta blusa de paetês brilhosa que eu tenho certeza que minha mãe usou em um Ano Novo quando eu tinha dois anos.

Jane também estava explorando o excitante mundo dos tecidos cintilantes. Por exemplo, este vestido metálico laranja-pêssego. As outras mulheres preferiam visuais “rock” mais clássicos: coletes, camisetas sem mangas e uma referência a Nigel Tufnel com esses cortes de cabelo. Acho que todas elas eram especialistas naquela famosa técnica capilar para dar volume conhecida como “teasing”. Eram os anos 80, você precisava saber essas coisas.

Nossa, tem tantos tons de rosa choque nessa foto que eu preciso de óculos escuros. Era mesmo necessário iluminá-las por trás com uma luz rosa choque?

Acho que deveríamos discutir o momento em que Belinda usou este vestido verde de cetim. Gosto da expressão facial dela, que diz explicitamente: “Bem, o que foi? Você tem alguma coisa a dizer sobre o meu vestido de duende com as luvas combinando?!”.

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Além disso, o pó compacto era mesmo tão pesado naquela época? O rosto delas está tão pálido em relação ao resto da pele. Na verdade, é assim que eu estou em todas as fotos de 2002, quando comecei a usar iluminador e basicamente me pintava toda com ele.

O que é? Você quer ver uma foto da Jane usando cartola? Bem, se você insiste…

A cabeleireira deve ter visto o chapéu da Jane e percebido que ela teria que fazer o cabelo do resto da banda tão gigante quanto. Este look todo tem uma vibe forte de Suddenly Susan e Uma Secretária de Futuro.

Mesmo assim, as meninas parecem muito saudáveis. Elas eram boas em encobrir o seu mau comportamento fora dos palcos. “Era um momento escandaloso atrás do outro, mas este tipo de coisa não acontece muito mais. Tínhamos 20 e poucos anos, éramos famosas, ricas, não tínhamos responsabilidades, não éramos casadas, então enlouquecemos, como devíamos, e aproveitamos as circunstâncias”, Belinda disse ao Gay UK.

Durante as filmagens do clipe para o primeiro single, “Vacation” – sabe, aquele dos jet ski – elas estavam muito bêbadas. Foi isso que Jane contou ao Songfacts:

“Estávamos no palco de som da A&M, e era um clipe caro, porque naquela época éramos muito populares. Foi divertido, mas era um jeito de trabalhar a que não estávamos acostumadas. Eu me lembro que trabalhávamos 14 horas, e depois de oito horas naquilo estávamos ficando entediadas e inquietas, então começamos a beber. Mas quando eles finalmente filmaram a cena em que estamos nos skis aquáticos, nos apoiando neles com uma mão só, acenando e tudo mais, estávamos muito doidas. É muito engraçado, se você reparar, olhar nos nossos olhos nessa partes, estamos todas vesgas de bêbadas”.

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Olhe de perto…

Em 1983, elas foram para o Reino Unido gravar o seu terceiro disco, Talk Show. Isto foi mais ou menos na época em que começaram a curtir muito sombras de cores vivas.

NOSSA.

Durante o processo de criação do disco, Jane pediu para fazer a voz principal em uma música que tinha escrito, e o resto do grupo disse não. NEGADO. Belinda explicou, de um jeito meio insensível, que ela era a vocalista e era assim que as coisas eram. Jane ficou furiosa, embora a raiva tenha passado um pouco quando ela descobriu que, já que Charlotte e ela tinham feito a maior parte das composições nos dois primeiros LPs, também tinham recebido mais direitos autorais. Gina ligou para o seu contador e perguntou quanto cada uma delas tinha recebido naquele ano e, ao descobrir que tinha ganhado menos dinheiro do que Jane e Charlotte, ficou chocada e pediu às duas que distribuíssem os lucros igualmente.

Jane disse que fariam isto no quarto disco, já que elas recém haviam acabado de fazer Talk Show e ela tinha feito a maioria das composições. Isto levou a brigas bastante violentas – fisicamente, inclusive – e Jane deixou a banda em outubro de 1984. Charlotte ficou perdida e sem esperança, sentindo falta de sua parceira de composição. Ela se internou em uma clínica de reabilitação e finalmente conseguiu deixar os seu excessos mais sombrios, inspirando Belinda no processo, que também decidiu se recuperar.

O lado ruim desta nova lucidez que veio com a sobriedade foi Belinda perceber que a banda não ia mais funcionar. Com Charlotte, ela disse às outras que o sonho tinha acabado. Kathy ficou muito brava pelo fato de que as tinha aguentado chapadas o tempo todo, durante todos aqueles anos, e agora, que elas finalmente estavam limpas, a banda chegava ao fim.

Depois da separação, Belinda teve uma carreira solo insanamente bem-sucedida, com vários singles no topo das paradas ao redor do mundo, um disco inteiro em francês e alguns videoclipes dirigidos por Diane Keaton – tudo isso apesar de ela ter voltado para as drogas, incluindo remédios controlados, alucinógenos e, mais devastadoramente, cocaína. Na verdade, ela ainda estava usando cocaína até os 40 e poucos anos, quando posou para a Playboy. Sobre isso, ela disse: “Você não precisa ser magérrima, loira e estar na casa dos 20 anos para ser sexualmente viável. Algumas das fotos foram muito retocadas. Minha amiga disse: ‘Meus Deus, queria ter uma bunda assim’, e eu respondi: ‘Eu também, porque essa não é minha’”. Eventualmente ela abandonou completamente as drogas, descobriu a ioga e foi para a Índia um monte de vezes. Agora ela vive em Paris e está sóbria e serena.

Enquanto isso, Charlotte escreveu um hit para Keith Urban e uma ópera rock sobre Linda Lovelace, e Gina compôs músicas para Miley Cyrus e Selena Gomez. Jane teve uma carreira solo de sucesso moderado, mas ficou muito feliz quando as Go-Go’s se reuniram nos anos 90. Ela ficou super empolgada em fazer que o público soubesse a história toda: “Sempre tivemos uma compulsão em tentar fazer as pessoas saberem que existíamos antes de nos tornarmos as namoradinhas dos Estados Unidos. Viemos de uma cena muito, muito especifica, da qual somos parte integral. As pessoas podem nos chamar de bunda-moles do pop o quanto quiserem, mas basicamente, começamos essa banda sem experiência, formação ou esperanças de chegar a algum lugar. Para mim, essa é uma verdadeira história americana de sucesso, que tenhamos chegado a algum lugar, e gostamos de honrar nossas raízes”.

Elas são as melhores. Olhe só a Jane, usando dois cintos e se segurando pra valer nessa parede.

Elizabeth Sankey também é uma artista talentosa e metade da banda Summer Camp. Ela está no Twitter - @sankles.

Tradução: Fernanda Botta