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Música

Little Boots Fala Sobre Feminismo, Bundas e o Novo EP ‘Business Pleasure’

E ela ainda divulga "Taste It", faixa produzida por Com Truise que será o single do álbum a ser lançado em dezembro.

A Boots está de volta! Já faz 18 meses desde que a artista lançou seu último álbum, Nocturnes, com uma sonoridade disco reluzente, quatro anos após sua estreia com Hands. Estreia esta que a lançou a alturas estratosféricas, lhe rendendo capas em revistas, louvores, convites para premiações, e oportunidades no jet set, bem como uma legião de fãs obstinados. Hands além disso era um baita de um disco pop com faixas como "New in Town", "Stuck on Repeat" e "Earthquake", que simplesmente destruíam na pista, mas que também tocavam o coração. O que aconteceu depois que as turnês mundiais cessaram e o tornado midiático parou foi documentado de forma sincera em um artigo para o jornal britânico The Sunday Times, mas pode ser resumido em parte como um caso clássico de uma gravadora que gastou mais do que devia e de falta de visão. Os chefões queriam que ela fosse a nova Kylie ou Gaga, e ficaram desapontados quando Boots não vendeu um milhão de discos. Mas Victoria Hesketh é Little Boots: uma garota com educação em música clássica e meio nerdalha em termos de tecnologia vinda de Blackpool que exala pop de cada poro. Uma garota que compôs canções em seu sintetizador lá do seu quarto no leste londrino, que fez covers de Kid Cudi, Miley, Wiley, e Kate Bush, de pijama, e postou estes vídeos na rede; uma garota cujo disco de estreia vendeu feito água, chegando a 250.000 cópias, que levando em conta o mercado de hoje, e até mesmo o de 2009, não é pouca coisa.

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Não que sua trajetória tenha sido determinada completamente pelo sistema malvadão das grandes gravadoras. Ela mesma admite que quando voltou para casa para se focar na composição, se viu desnorteada: “Eu havia perdido a noção de quem eu era. Não sabia como começar de novo”. Nocturnes foi lançado em 2013 pela própria gravadora de Little Boots, On Repeat Records, uma espécie de gravadora de luxo comandada por ela, responsável também pelos singles de artistas promissores como Tom Aspaul e Camden Cox (que nós amamos). É um álbum para se dançar sob um globo de luz e com gelo seco ao seu redor.

Abaixo temos “Taste It”, seu primeiro single desde então, e a faixa de trabalho de seu futuro EP, Business Pleasure, a ser lançado em 1º de dezembro. Produzido por Com Truise e Jas do Simian Mobile Disco, é uma canção construída em cima de baixo, algumas batidas, e os vocais aerados e distribuídos em camadas de Boots. Hipnótica e minimalista, deslizante e estranha, que trata da temática de ter cuidado com o que se deseja e “como nos viciamos em coisas que são ruins pra nós e ainda assim queremos mais".

Pegamos a Little Boots pra bater um papo e saber mais sobre esse EP – um aperitivo para seu terceiro disco, que será lançado no próximo ano – além de descobrirmos o significado por trás do “power bitchin’”, a relação entre criatividade e sobrevivência, e o que a inspira hoje em dia. Ah, e bundas. Ou traseiros, para usar a terminologia adotada por ela, porque claramente rabos estão em alta neste ano de 2014.

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Noisey: Gostei daquele artigo em que você fala de forma muito aberta e franca sobre a sua vivência na indústria musical. Como estas experiências influenciaram seu novo EP e disco?

Little Boots: Nesse lance pro The Times só fui muito sincera em relação a tudo que passei, desde meus sonhos de ser uma estrela pop quando era criança até me tornar uma e depois virar a Cinderela indo ao baile, e por fim sair do outro lado desta jornada louca em que me meti. Aquele artigo foi um dos catalisadores nessa direção. Recebi um retorno muito grande a partir dele, de gente muito interessada e gente que se identificava com aquilo. Me deu muita confiança. Acho que algumas coisas foram se encaixando, como o fato de agora eu ser a CEO de meu próprio negócio e de minha gravadora e como tive que aprendera ser uma mulher de negócios nestes últimos dois anos além de cuidar da parte da música, que sempre foi bem foda. Tem sido em partes iguais uma experiência inspiradora, empolgante e libertadora, além de completamente aterrorizante. Também acho que esta é uma época muito empolgante para mulheres e garotas e tem muita gente surgindo e falando de coisas interessantes.

Ao ver esta sua nova foto para imprensa, parece que seu estilo mudou um pouco com este EP.

Fiquei obcecada com o estilo yuppie de escritório dos anos 90 e terninhos. Eu e meus amigos que cuidamos da gravadora e todas minhas amigas que trabalham na indústria música usam essa expressão “estamos power bitchin’, somos vadias poderosas” – mas de uma forma positiva. Então eu levei a coisa além e comecei a comprar estes paletós enormes com ombreiras. A gente estava numa turnê e assistíamos a Uma Secretária de Futuro direto. O que começou meio como uma brincadeira meio que se ligou à reação que recebi daquele artigo e situações pelas quais estava passando.

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O último disco que fiz para uma grande gravadora me tomou anos para ser feito e foi tudo muito ponderado e neste novo momento sinto-me como uma artista completamente diferente. Como se estivesse diante de uma página em branco e eu pudesse fazer o que bem entender. Vivo um momento em que não tenho medo de ser ridícula. Tenho entrado no estúdio e me divertido, com roupas ridículas e usando muito batom.

Eu curto esse seu novo visual.

Muita risca-de-giz rolando! E isso faz parte da música também – vide Business Pleasure. A indústria da música mudou muito desde que eu comecei. Tem toda essa relação entre criatividade e sobrevivência. Sendo bem honesta, cansei de compor sobre amor e boates. Quem quer ficar ouvindo isso ainda? Fiquei pensando no que mais poderia escrever sobre e é isso que estou passando agora, talvez não seja tão entediante para as outras pessoas.

Você disse ter se inspirado pelo house dos anos 90, que você acha ser mais baseado em uma narrativa. Que outros tópicos você tem explorado?

Com certeza usei minha jornada como inspiração, mas muito do que rola é sobre esse mundo hiperativo e de alta pressão da internet e como consumimos as coisas. Há sempre um milhão de gente falando várias coisas ao mesmo tempo, mas ninguém está realmente dizendo algo. Rola esse diálogo constante que você não tem como escapar, esse julgamento constante. É uma coisa sem fim e acho que parte dessa tensão está no disco.

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Tem horas em que você só quer apertar o pause.

Isso! É exaustivo, e em alguns momentos todo esse agito é bom pra criatividade, mas parte dele também atrapalha. É algo interessante mesmo, é intenso. Quando falei sobre house, eu me referia ao Everything But The Girl, que eu adoro, e tinham músicas daquela época que eram nessa pegada dance ou house que pareciam ter algum significado e me levavam a algum lugar e me contavam uma história ou me colocavam em outro ambiente, ao invés de não falarem nada com nada. Pra mim, é dessa forma que você consegue fazer de discos de dance algo pessoal, já que muito do que rola na dance music é impessoal. Então acho que tentei colocar histórias e personagens ali, mas ainda assim é dance em diversos momentos, simplesmente tento trabalhar com artistas eletrônicos interessantes e criar coisas inesperadas.

Como foi trabalhar com o Com Truise?

Trabalhamos remotamente, então talvez seja melhor eu parar de falar mal da internet porque a coisa rolou com ajuda dela! Aquela música é bem louca, sendo bem sincera. É hiperativa como o Twitter. Quando escuto “Taste It” sinto como se estivesse online, ela é tão frenética. Quando ele me mandou a faixa, foi isso que pensei – um monte de conversas rolando ao mesmo tempo. Adoro ele, a música que ele faz é incrível, e definitivamente não é o tipo de cara que você esperaria participar de uma música pop. Quando lhe enviei o que já havia feito estava bem nervosa, fiquei pensando se ele não acharia aquilo bobo – eu ali cantando um monte de ganchos melódicos sobre negócios em cima da batida animal dele; se ele não ia só apagar meu e-mail! Mas ele curtiu muito. Eu sou muito pop e estou ciente disso – e aceito numa boa. E agora penso “esta sou eu agora, isto é o que eu faço, se você não gosta, cai fora”. E o número de pessoas que não cai fora é que é incrível! Acho que é essa confiança de agir tipo “esta sou eu e isto é o que eu faço e não vou pedir desculpas por isso nem me comprometer”.

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Por um tempo achei que você tivesse desistido da música. Digo, você tinha a sua gravadora e estava lançando outros artistas e talvez fosse seguir uma carreira compondo para outras pessoas.

Com certeza esse pensamento passou pela minha cabeça. Adoro compor para os outros e estou fazendo isso cada vez mais, além de adorar cuidar de minha gravadora e encontrar novos artistas, mas não consigo parar de compor minhas próprias músicas. Não consigo parar e quando todas estas ideias começaram a tomar forma no final do verão do ano passado e tudo parecia tão novo, não parecia mais que eu estava só revisitando o que havia feito antes. Era empolgante. O disco está quase pronto agora, então só irei lançá-lo e ver o que acontece. Com certeza comporei mais e trabalharei mais com a gravadora, adoro tudo isso, mas não sou boa nesse negócio de pular fora ou mesmo ter tempo livre! Acabo inventando novas funções pra mim, sou péssima nisso de relaxar.

Anteriormente você falou que parecia ser uma boa época para as mulheres e que há muitas garotas interessantes surgindo. A que você se referia?

Há tantas! A Tavi que faz a revista Rookie. Assisti à palestra dela no TED e fiquei tipo “uau, quero ter 15 anos de novo! Queria que você estivesse presente na minha vida quando tinha 15 anos! Isso é demais!”. A Lorde também é foda, mas não me refiro só às jovens, temos também a Lena Dunham; a Caitlyn Moran que assisti no mês passado e achei super inspiradora. Sinto que em todo lugar que vejo tem alguma mulher fazendo algo legal sem pedir desculpas ou se comprometer e isso é demais. Alguns anos atrás as Pussycat Dolls estavam no topo e eu pensava “meu Deus do céu, o feminismo retrocedeu uns 100 anos. O que aconteceu com a Shirley Manson e a Gwen Stefani?”

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Tem também o outro lado da moeda que neste momento todo mundo pode analisar e julgar e dizer qualquer coisa a qualquer um agora, e há algo de ruim nisso. Mas acho mesmo que há um movimento de mulheres falando e fazendo coisas muito empolgantes. É uma época massa.

Bom, é esquisito porque temos todas essas mulheres bacanas e criativas e feminismo é uma palavra que retornou ao vernáculo público de um jeito muito verdadeiro nestes últimos dois anos, mas também temos artistas sendo explícitas sexualmente como nunca antes na música pop.

Exato. A ponto de eu ficar dessensibilizada com isso! Assisti àquele clipe do traseiro lá ["Booty" de Jennifer Lopez com participação de Iggy Azalea] e tinha tipo um milhão de traseiros lá. Tantas partes baixas! Iggy e J. Lo dando tapinhas uma na outra e no final eu já estava dessensibilizada em relação a traseiros. Será esquisito não ver um traseiro em um clipe pop. Talvez rolem dois extremos. É surreal o feminismo estar na moda de novo. Há uns anos atrás não podia nem falar com minhas amigas sobre serem feministas e agora é tendência, mas eu que não vou reclamar.

Do meu ponto de vista, saindo daquele esquema de grande gravadora em que espera-se que você tenha determinada aparência e comportamento, não acho que eu precise fazer mais aquilo e vejo que muita gente não o faz mais. Acabo de perceber que as pessoas que mais gosto, as que são mais bacanas, são aquelas que cagam e andam pro que os outros pensam e contanto que você faça isso, com certeza você estará em um lugar melhor!

Business Pleasure sairá no dia 01/12 via On Repeat Records.

Kim Taylor Bennett é a Editora de Moda do Noisey, Siga-a no Twitter.

Tradução: Thiago “Índio” Silva