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Música

Kantupac: Quando o Hip-hop Latino Chega ao Brás

A gente chegou na segunda edição do evento que reúne rappers, grafiteiros e um público que mistura tudo quanto é gente da América Latina.

O suntuoso templo evangélico da Igreja Universal atrai os olhares desavisados por ali. Só quem está atento percebe que a rua Coimbra, no tradicional bairro paulistano do Brás, é uma pequena La Paz aos fins de semana. Nesses dias, imigrantes bolivianos tomam aquela quadra com barracas mambembes, fumacê de fritura e panos coloridos. Uma feira rotineira que recebeu, no segundo sábado de julho, mais um representante: o Kantupac, primeiro evento brasileiro dedicado ao hip-hop latino-americano.

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Realizado pelo Latam Esquad — grupo que pintou aqui no Noisey esses dias —, o encontro chegou à segunda edição meses depois de rolar em outra feira boliviana, a Kantuta. Na rua, o coletivo e outros artistas novamente colocaram canções e rimas à prova para um público misturado. Entre a molecada do rap de vários picos da cidade e a moçada estilosa que poderia ter saído de um filme sobre a Los Angeles dos anos 90, havia também imigrantes que pouco sabiam sobre hip-hop e brasileiros que pouco sabiam sobre imigrantes.

A chuva atrasou o cronograma do evento que previa batalhas de rimas em português e espanhol, microfone aberto, DJs e, claro, a apresentação dos grupos que formam o Latam Esquad. Com o fim da tarde, a rua fechada encheu. Um semi-círculo se formou para que todos assistissem quem tomava a frente do palco-asfalto. Na parede, a moçada soltava uns grafites. Tudo correu no maior sossego, apesar das letras raivosas e dos ataques verbais entre os rappers. Com a reação da plateia, aprendi que cabron não é algo muito legal. Todas as fotos por Felipe Larozza. Os pebolins ocupavam um espaço equivalente a uma pequena área de campo de futebol antes dos shows começarem. Essa senhora é conhecida como La China. Ainda era dia quando a gente balbuciou umas palavras um ao outro – meu espanhol estava enferrujado e o espanhol dela estava embriagado. Essa foto foi feita pouco depois de ela me oferecer um gole da chicha nessa garrafa ainda cheia. E duvido que essa tenha sido a primeira ou última dose dessa senhora no dia. La China era o ser humano mais animado da rua Coimbra naquele dia. A moçada do graffiti colou em peso logo cedo. A La China participou da foto também. No muro de quase 60m² tinha espaço pro graffiti das chicas também. O Cartel é amigo de longa data do Bryan, um dos fundadores do Latam Esquad. Apesar da camiseta, ele estava no evento mais como roadie que como rapper. Ele tem vontade de fazer seu som, mas quer mandar rimas em espanhol – o idioma da Bolívia, sua terra natal. "Quero escrever em espanhol. Prefiro rap em espanhol, mas não tenho muita gíria. Hoje eu vou dar uma assistência aqui. Somar mais pessoas que curtem o mesmo estilo de música, a mesma ideia, países e culturas além do rap é o mais importante disso aqui." O Lucas, na foto, conversou com a gente. Curte rap? "Mais ou menos". Dali em diante a gente resolveu falar de funk porque o cabelo tinha me dado a dica. Ele gosta mesmo é do MC Bin Laden e do MC Pedrinho. Parte do Latam Esquad reunida no lado esquerdo da foto com o grupo La Mil 8 Crew. Essa cumbuca passava de mão em mão sempre com chicha até a borda. Se a bebida caía, era pouca, porque todos nos esforçamos para esvaziar o copinho sempre que ele aparecia. E ainda assim parecia que a chicha não tinha fim. Esse pequeno é filho da Jhennyfer, rapper do Santa Mala. Ele também é a criança mais legal que vimos no Kantupac. A Abigail, também do Santa Mala, tatuou o que ela sente pelo rap. O Christian, do grupo La Mil 8 Crew, perdeu essa batalha mesmo com seu oponente usando uma camiseta do avesso. O Crewolina organiza a "Batalha da Roosevelt". O grupo colou no rolê para entender um pouco mais daquelas rimas que são ora em português, ora em espanhol. O Nino, de boné à esquerda, deu a seguinte ideia. "Quando me convidaram eu achei que era uma parada totalmente diferente, mas não existe distinção do rap em espanhol pro rap em português. Tem que ser isso mesmo: união. Eu nunca tinha colado em um evento desse, mas depois vou trocar ideia com os caras porque acho que isso tem que rolar em outros locais."