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Música

Jarvis Cocker Não Gosta de Galinhas, e Onze Outros Pontos Importantes da Coletiva do Documentário do Pulp

Jarvis Cocker está girando os quadris e emitindo confetes pelo púbis, em câmera lenta. Não é um sonho. É a estreia em Los Angeles do documentário sobre sua querida banda, Pulp.

Jarvis Cocker tem uns seis metros de altura, está girando os quadris e emitindo confetes pelo púbis, em câmera lenta. Não é um sonho. É a estreia em Los Angeles do documentário sobre sua querida banda, Pulp: A Film About Life, Death & Supermarkets, no imponente e histórico United Artists Theatre – hoje propriedade do Ace Hotel –, no centro de L.A. Se você é um fã de Jarvis e do Pulp, é tudo o que poderia querer de um filme centrado no último show deles, na cidade de que vieram, Sheffield, Inglaterra. No filme, Jarvis e seus companheiros de banda soltam o verbo sobre a aversão que sentem à fama – "é tipo alergia a amendoim"; sobre envelhecer; e as suas raízes, uma parte que aborda a questão de se Jarvis pertence ou não à classe das "Pessoas Comuns". Não vou soltar spoiler dessa resposta. Tanto quanto sobre a banda, o filme é um tributo a todos os seus fãs em Sheffield e àqueles que viajaram do exterior para ver o último show.

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Mas após a estreia do filme, Jarvis revelou ainda mais numa coletiva junto com o diretor, Florian Habitch. Ele falou sobre galinhas necrófilas, sobre se escreveria ou não um romance erótico, e a possibilidade de uma nova reunião do Pulp. Aqui estão algumas gemas retiradas das suas respostas.

1. Não deixem Jarvis chegar nem perto de uma galinha.
"Galinhas? É, não gosto muito de galinhas, não. Nunca tive muito contato com elas. Lembro de um amigo contando de como era trabalhar em uma granja. É uma história bem nojenta, para falar a verdade. Ele estava trabalhando numa granja e tinha lá uma galinha morta, e outra galinha estava fazendo amor com o cadáver, enquanto uma terceira bicava os olhos da morta. E isso meio que me deixou decepcionado com as galinhas”.

2. Jarvis concordou em fazer o documentário porque queria ver como eram seus fãs.
"Metade da curiosidade era mostrar como era Sheffield, porque foi ali que tudo começou, e sempre fiquei pensando, enquanto canto no palco. Fico me perguntando o que aquelas pessoas vão fazer quando forem embora, o que vão fazer amanhã, e o motivo de estarem ali. Achei que seria uma maneira de descobrir. Então o que me atraiu foi isso. Se você viu o filme, viu que tem uns personagens bem interessantes. Por exemplo, a menina de Georgia, ela viajou esse caminho todo até Sheffield para nos ver. Então finalmente o meu sonho de compreender um pouco o público se tornou realidade”.

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3. Um bolo também influenciou a decisão de Jarvis de fazer o documentário.
"Florian Habitch queria fazer um filme sobre o Pulp e eu disse, 'agora é tarde, vamos fazer um último show em Sheffield daqui a dois meses, e nesse tempo não dá para organizar uma filmagem’. Ele insistiu um pouco, e me deu um bolo. Bolo red velvet. E eu achei que seria legal simplesmente ter uma lembrancinha dessas turnês todas".

4. Ele teve uma reação de fã quando conheceu pessoalmente seus fãs que aparecem no filme.
"Não conheci o pessoal até a estreia do filme em Sheffield. Então isso foi meio esquisito. Fiquei igual a um fã quando conheci a Josephine. Faz um bom tempo que não moro mais em Sheffield. Quando vi o filme ainda na edição, tive uma surpresa agradável ao ver as pessoas que Florian tinha encontrado. Embora eu tenha desmerecido um pouquinho a cidade até esse momento da coletiva, agora vou ficar todo sentimental e dizer que ela mora num lugar especial do meu coração".

5. Um dos motivos de Jarvis ter saído de Sheffield é que achava as pessoas de lá muito fechadas.
"Esse lugar tem um espírito próprio, é diferente dos outros lugares do Reino Unido. Sheffield tem uma atmosfera própria, e acho isso charmoso. Fiquei bastante impressionado de ver que Florian foi até lá e conseguiu fazer com que as pessoas se abrissem, e dissessem coisas que vinham do coração mesmo. Foi esse um dos motivos de eu ter ido embora, porque era impossível fazer as pessoas dizerem alguma coisa. O pessoal era bem fechadão. Para mim, essa é uma das alegrias do filme, mostrar que aquela atitude ainda está viva em Sheffield”.

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6. Jarvis tinha medo do free jazz quando criança.
"Tem uma loja de discos que aparece no filme [Rare & Racy Records] que está lá desde sempre. Lembro dela quando eu era criança. É um lugar interessante porque foi lá que tive meu primeiro contato com o free jazz. Porque o cara que é dono da loja fica ouvindo free jazz o dia inteiro, todos os dias. Quando criança isso me fascinava, porque você entrava naquele ruído assustador e o cara ficava só sentado lá, fumando um cigarro. A loja existe até hoje. Ele ainda está lá. Tenho que tirar o meu chapéu para isso".

7. A base do Pulp foi a amizade, não necessariamente o talento musical.
"O que acontece com o Pulp é que ninguém que esteve na banda foi escolhido por habilidade musical. Sei que isso parece meio absurdo, mas a decisão de criar o Pulp surgiu quando eu estava no colégio, e na verdade foi só uma maneira de não ter que fazer nenhum esporte, e ter alguma coisa que fosse nossa. Era uma banda de fantasia. Então, por exemplo, o nosso primeiro baixista – ele era ruim nos esportes, então pensava nas músicas como uma corrida. E é verdade, então a gente tentava tocar uma música, e ele ficava tipo, ‘faz faz faz – feito!’. Ele não tocava todas as notas, e parava e dizia que para ele estava pronto, então esse não ficou por muito tempo. Nunca foi uma banda de prodígios musicais, sempre foi um grupo de pessoas que gostavam de passar tempo juntas, e uma maneira de procurar algum jeito de nos fazer soar poderosos. Isso demoraria muito tempo. Quer dizer, a gente ensaiou mais ou menos um ano antes de começar a fazer shows, e por isso digo que é impressionante termos conseguido criar um som razoável”.

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8. Jarvis nunca tinha sacado que seus dentes eram beges até ver o filme; acha melhor não se ver numa tela.
"Enquanto a gente fazia shows, sempre resisti a ver qualquer coisa que fosse filmada, porque sempre tem uma diferença entre a realidade e o que está na sua cabeça, e eu quero continuar dentro do sonho o máximo possível. Depois de ver esse filme, você vê a realidade. O exemplo que sempre dou são os meus dentes. Até eu que fosse num dentista, meus dentes eram muito beges. Não me toquei disso até ver o filme. Então eu talvez devesse ter dado uma olhada nos vídeos antes. Mas acho de verdade que a autoconsciência é a antítese da criatividade. A nossa mensagem é: prefira o sonho à realidade".

9. Ainda que Jarvis seja uma das pessoas que melhor escrevem sobre sexo no mundo, provavelmente não escreverá o próximo Cinquenta Tons de Cinza.
"Se posso escrever uma nova versão de Cinquenta Tons de Cinza? É uma pergunta muito interessante. Acho que o lance é que eu sempre quis abordar a questão do sexo nas músicas – acho que isso é fundamental na música. É difícil escrever sobre sexo, porque é uma coisa que na mesma hora as pessoas dão risadinhas ou ficam vermelhas quando surge o assunto. O sexo é o motor de todas as criaturas. E a gente se preocupa se está fazendo direito, ou do jeito errado, muito pouco ou demais. O fascínio de tentar entender essa coisa é interminável. Eu ainda não entendi. Mas, não, eu escrevi livros de poesia. Posso escrever alguma coisa que tenha umas duas páginas, e isso para mim já é longo demais. Gosto de histórias e de narrativa, mas também sou muito preguiçoso”.

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10. Jarvis e o naturalista inglês Sir David Attenborough certa vez tiveram uma conversa franca sobre como tudo na vida se resume a comer e foder.
"Já ouviu falar de um cara chamado Sir David Attenborough? Ele fez um monte de programas [na BBC] e eu o conheci não muito tempo atrás, no rádio, e estava conversando com ele sobre música e canções e de onde elas vêm. Ele diz que tudo tem a ver com sexo; é tudo demonstração de sexualidade. E eu disse: 'Tudinho mesmo?'. De uma certa maneira, a gente gosta de pensar que a música vai além do reino material, e nos leva a um lugar mais elevado, onde nem tudo se resume a sexo e comida. Mas ele achou que não, que é tudo só sexo e comida mesmo”.

11. As filmagens do último show em Sheffield talvez sejam lançadas num projeto separado.
"Ouvi o áudio e cheguei à conclusão de que a gente fez um som razoável. Então não sei, tem muita filmagem para olhar. Isso agora já é tipo um outro filme, não? Na minha cabeça é como… The Last Waltz".

12. Este talvez não seja o fim do Pulp.
"Como acontece em qualquer bom filme de Hollywood, você tem sempre que deixar a porta aberta. O motivo da gente se reunir e fazer esses shows não foi nenhum aniversário, tipo [faz uma voz grave], '20 anos após o lançamento do disco…'. Tenho orgulho disso. Foi só um tipo de necessidade interna, então essas circunstâncias teriam que se repetir outra vez. Se fizéssemos alguma outra coisa, teríamos que fazer umas jams. Não sei muito bem como se faz uma coisa dessas, mas estou disposto a aprender. Porém, a resposta verdadeira é que não sei. É uma pergunta que fazem muito. Alguém disse: 'É um ponto de interrogação?'. Eu digo que é uma vírgula. Então a gente vai ver o quanto dura essa pausa de agora”.

Marissa quer muito, muito que o Pulp volte mais uma vez. Ela está no Twitter - @marissagmuller.

Tradução: Marcio Stockler.