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Música

A História Oral da Lendária Série de Rock-Docs "The Decline of Western Civilization", Parte I

Falamos com os deuses vivos do punk de Los Angeles sobre a histórica série de documentários.

Todas as imagens são cortesia da Shout! Factory.

Ninguém que faça por merecer suas correntes e spikes pode negar a importância de The Decline of Western Civilization. O documentário de 1981 dirigido por Penelope Spheeris mostrou em detalhes a cena punk de Los Angeles, na época em que se transformava de um perigoso playground escalafobético de zoeira bêbada ao marco zero da gênese sinistra e cheia de testosterona do hardcore punk americano.

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Por muito tempo, o filme estava disponível apenas no velho e enferrujado formato VHS, em DVDs amadores, ou em trechinhos no YouTube. Mas, no dia 30 de junho, a Shout! Factory lançou The Decline of Western Civilization Collection, uma caixa contendo não só o esquivo documentário punk mas os outros dois filmes da série The Decline of Western Civilization, de Spheeris: o filme confuso mas altamente divertido de 1988, The Decline of Western Civilization Part II: The Metal Years e The Decline of Western Civilization III, de 1998, que cobre a cena gutter punk de LA da época, com trechos ao vivo do Naked Aggression e do Final Conflict.

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Junto disso tudo está uma quantidade monstra de extras, como uma entrevista sem cortes com o Black Flag, mais trechos ao vivo de The Germs e Fear, e também um vídeo até o momento desaparecido da incrível, porém pouco reconhecida, banda punk de LA, o The Gears. Para falar a verdade, o excesso de filmagens e informações nessa caixa é tão inebriante que quase chega a ser mais do que o cérebro nerd de meninos ou meninas é capaz de absorver. Isso, aliás, não é uma reclamação.

Empolgado com o lançamento da caixa, embarquei numa missão detetivesca – encontrar alguns dos principais personagens e agitadores responsáveis pelo filme, e também da antiga cena punk de LA, e montar uma história oral da produção do primeiro filme seminal da série Decline.

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O Noisey vai publicar essa história oral em partes, e a primeira se concentra na entrada de Penelope na cena punk de LA, na escolha das bandas que apareceriam no filme, e nos primeiros estrondos de um novo grupo de garotos das cidades praianas que chegaram para invadir a cena punk da cidade.

Penelope Spheeris (The Decline of Western Civilization, Partes Um, Dois e Três, Diretora): Nos anos 70, eu tinha uma empresa aqui em Los Angeles chamada Rock 'N Reel. Fazia clipes e acho que talvez tenhamos sido a primeira empresa daqui a fazer isso. Na época, a Warner Brothers e a CBS Records me encomendavam muita coisa. Também trabalhei com Albert Brooks e Jim Brooks e Mel Brooks. Todos os Brooks da cidade!

Lembro de estar um dia na fila, no setor de equipamentos, e algum cara disse alguma coisa sobre música para mim, e eu respondi: “Quer saber, cara? Saí fora da música já faz um tempo, porque tudo agora é ou disco ou The Doobie Brothers, e não curto essas coisas”. Ele respondeu: “Bem, você já foi ver os Sex Pistols?” E aí percebi que por toda Los Angeles havia um monte de shows punk acontecendo. Então, comecei a ir ver todos esses shows punk. Comecei a frequentar o The Masque, que foi a primeira casa noturna de punk rock em Hollywood.

Lee Ving (Fear, vocalista/guitarrista): Era 1977 ou 1978 quando fui ver pela primeira vez um show no The Masque, em Hollywood. E isso era na Los Palmas ou na Cherokee ou em uma daquelas ruas lá perto da Hollywood Boulevard, num porão velho e fodido.

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Penelope Spheeris: Estava trabalhando com vários comediantes; Billy Cristal e tal. Eles me diziam: “Vá na Warner Brothers! Você pode arranjar um trabalho, dirigir A Recruta Benjamin”. Ignorei isso e falei: “Vou fazer um documentário sobre o punk rock”.

Keith Morris (Black Flag, Circle Jerks, vocalista): Lembro de Penelope Spheeris me chamando com gestos em um estacionamento, na hora em que entrava no carro. Ela começou a falar de um documentário sobre a cena punk de LA que queria fazer.

Penelope Spheeris: Eu tinha um amigo da faculdade de cinema chamado Ron Hugo. Eu era monitora dele na UCLA. Ele disse que tinha um amigo do ensino médio que queria fazer um filme pornô, porque tinha se dado muito bem com seu serviço de contadoria e empresa de aluguel de carros. Falei: “Não vou fazer filme pornô nenhum, mas se for sobre punk rock eu tô dentro!” Então levei esse cara para um show dos Germs e ele ficou tipo: "Uau! Bizarro isso aqui!"

Nicole Panter (The Germs, empresária): Acho que foi Penelope ou Bob Biggs quem falou comigo sobre fazer o filme. Na época eram casados, ele tinha comprado a Slash Magazine [revista punk seminal de LA] e estava criando ou expandindo a Slash – começando uma gravadora. Ela e Biggs eram mais velhos que a gente, eles eram tipo adultos de verdade, e ela era uma profissional trabalhando.

John Doe (X, baixista): Tínhamos ouvido falar sobre esse filme bem no início, porque estávamos na Slash Records. Não foi como se alguém aparecesse num show com umas câmeras e ficamos tipo “ei, o que tá rolando aqui?”.

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Penelope Spheeris: Tem certas bandas que eu adorava e queria que estivessem no filme, mas a gente mal tinha como comprar um rolo de filme. Estava decidida a filmar as bandas só quando tivesse arranjado um equipamento com o dinheiro de uma grande gravadora. Se estivesse fazendo um clipe para o The Staple Singers, terminava o trabalho rapidão e corria para filmar o Black Flag, porque ainda estava com o equipamento em mãos.

Keith Morris: Eu tinha saído do Black Flag porque havia uma ausência de humor e de sarcasmo dentro da banda naquela época, e queria tomar distância disso. Ela queria filmar o Black Flag para o documentário comigo de vocalista. Eu estava coçando a cabeça e dizendo a ela que aquilo me colocava numa posição extremamente difícil, de voltar para a companhia daqueles caras que não gostavam de mim. Esse foi um tempo em que tinha saído do Black Flag e formado o Circle Jerks, e as vibes estavam todas indo na direção errada entre as duas bandas. Então agora me pedem que eu volte praqueles caras e diga: "Olha, a Penelope Spheeris está fazendo um filme sobre todas as bandas novas, e ela quer que eu cante com o Black Flag para a filmagem". Era tipo mergulhar na água fervente perto de um monte de canibais, entende? Cheguei e falei com o pessoal do Black Flag, e eles responderam tipo: “Puta merda, como você tem coragem? Tá falando sério?” É claro, eles acabaram sendo filmados mesmo assim, com o vocalista que tinham na época, o Ron Reyes.

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Alice Bag (The Bags, vocalista): Um dia cheguei para o ensaio e meu guitarrista, Craig Lee, disse que tinha uma diretora que ia passar no estúdio para conversar conosco sobre participar de um documentário punk. Realmente não sabia o que esperar, mas confiava no Craig… até um certo ponto.

Chuck Dukowski (Black Flag, baixista): No que dizia respeito a nós, acho que ela falou com o Black Flag porque queria documentar essa coisa nova e empolgante que vinha das praias. Isso foi justo na época em que a polícia começou a assediar a banda sem trégua. Como Ron diz na intro de "Revenge", no filme, eles tinham confiscado nosso equipamento algumas noites antes, numa casa noturna chamada Blackie's. Passei aquela noite inteira antes da filmagem pensando se o meu equipamento estaria disponível para sermos filmados.

Keith Morris: Ela queria o Black Flag no filme porque a porra da polícia estava sempre aparecendo nos shows deles, e havia sempre um tumulto, e sempre tinha alguma comoção rolando em torno deles. O lance todo do Black Flag na época era: "Bora estourar essa porra de lugar!", e com o Circle Jerks era tipo: "Bora farrear! Bora todo mundo se divertir!" A gente não tinha qualquer objetivo de zoar com a polícia. A gente queria usar drogas e transar; as coisas todas que em tese interessam os homens nessa época da vida.

Chuck Dukowski: Vou dizer o seguinte: a Penelope era uma pessoa muito agradável de conviver. Ela criava um clima ótimo para a gente se exprimir abertamente.

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Alice Brag: Quando conheci a Penelope, não confiei nela de imediato. Já a tinha visto em alguns shows, mas não conhecia a história dela, ou os motivos para estar fazendo o filme. Aos meus olhos, era uma estranha à cena. Minha primeira impressão dela foi de que era uma pessoa muito assertiva; pão, pão, queijo, queijo, quase áspera. Logo de cara nos disse que ela teria a palavra final sobre o que entraria no filme. A ideia toda de ceder a uma completa desconhecida o controle de como a nossa banda pareceria e soaria me deixou incomodada. Eu não estava acostumada a ser dirigida, estava acostumada a criar minhas próprias

Nicole Panter: Darby [Crash, vocalista do The Germs] não queria participar do filme – ele me disse: “Todo mundo vai achar que queremos ser astros do rock”, o que, naquela época, era a pior coisa que se podia dizer de alguém. "Astro do rock" era um insulto terrível, terrível. Eu de algum modo sabia que o filme seria um documento importante sobre o que estava acontecendo, e insisti que ele participasse do filme, ou eu cairia fora.

Alice Brag: Penelope também contou para a gente o fato de que havia originalmente abordado as Go-Go's a respeito de participar do filme, mas que a conversa com o empresário delas tinha emperrado por causa de negociações a respeito de pontos e outros detalhes financeiros.

Penelope Spheeris: Era para as Go-Go's entrarem no filme, mas deram para trás no último segundo, o que agora meio que me deixa contente, porque elas acabaram ficando muito pop.

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Keith Morris: O The Go-Go's, no início, era uma banda tosca e caótica. Elas eram melhores do que bandas como The Shaggs, mas com certeza estavam tentando descobrir que caminho tomar. Naquela época elas estavam aprendendo a tocar ainda.

Alice Brag: Penelope disse que para ela havia poucas mulheres no filme, e acho que foi esse o motivo do interesse no The Bags. Tive a impressão de que ela não necessariamente era fã do The Bags, e que talvez a gente simplesmente se encaixasse na ideia de filme que ela tinha na cabeça.

John Doe: A banda Catholic Discipline ser escolhida para aparecer no filme foi uma coisa muito estranha. Eles talvez tenham tocado no máximo uns 12 shows, mas a influência do Claude Bessy [editor da revista Slash e vocalista do Catholic Discipline] era imensa.

Keith Morris: O Claude poderia ter sido o Lester Bangs de LA. Porra, eu idolatrava o chão que Claude pisava.

Lisa Fancher (Frontier Records:, proprietária): Nem me falem de Claude Bessey! O Catholic Discipline não era uma banda de verdade, e o som deles era podre. Ele era um cara que tinha escrito para revistas de reggae e tinha começado a editar a Slash para informar a todos do que eles podiam gostar e como deviam agir. Eu não suportava o sujeito! Estava sempre dizendo aos outros o que era cool e o que não era cool, e isso me incomodava demais. Todos se davam bem uns com os outros até que houve um grande cisma causado por ele, em que não se podia gostar de uma banda como The Quick, porque o Kickboy os considerava uma “galera errada”.

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John Doe: Claude com certeza não ficava pagando de fodão. Conseguia ser bastante humilde, caçoava de si mesmo, mas isso não significa que não tivesse um monte de opiniões ultrajantes. A autodepreciação e as opiniões insanas muitas vezes vêm no mesmo pacote, quando se trata de pessoas realmente talentosas.

Lisa Fancher: Nesses anos todos, me esforcei muito para entender o que é o The Decline, porque ele pode parecer só uma gigantesca propaganda da Slash Records, já que X, Fear e The Germs estavam na capa, e tem também o longo trecho em que eles estão nos escritórios da revista Slash.

Penelope Spheeris: Foda-se a Slash! O tema não era a Slash, cara! É um palpite bem ousado da sua parte, mas não! Passei muito tempo com o pessoal da Slash e dediquei uma grande parte do filme a eles porque eram uma parte essencial da cena.

Alice Bag: Depois da reunião com Penelope, a banda se encontrou para trocar impressões. Eu não queria participar. Imaginei que as Go-Go's tinham uma boa equipe de empresários cuidando delas, e que deviam ter um bom motivo para não entrar no filme. Patricia e Craig sempre tiveram muito mais tino para os negócios do que eu, e Terry e Rob costumavam ser bastante tranquilos. A banda achou que participar do filme nos traria um destaque maior. Fui a única voz de oposição, então concordamos em participar das filmagens.

Keith Morris: No filme, tem The Germs, Black Flag e Fear. Não esqueçam do Fear! The Germs, Black Flag e Fear eram bandas extremamente agressivas, mas o Fear era do vale, portanto eles foram essenciais para trazer aquele elemento suburbano para dentro da cena.

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Lee Ving: A gente já estava na cena fazia cerca de um ano quando topamos com Penelope. Estávamos grampeando folhetos em Laurel Canyon com uma pistola de grampos que eu tinha acabado de comprar, na esperança de fazer muita gente ir ao The Starwood ver um dos nossos shows. E ela [Penelope] chega num carro peidorreiro em Laurel Canyon, pisa no freio, dá ré e diz: “Ei, vocês querem entrar no meu filme?”

Keith Morris: Tem um monte de bandas que não foram filmadas para o Decline, mas deveriam ter sido, como The Weirdos, The Plugz e The Alleycats. Até mesmo os The Adolescents podiam ter sido incluídos. Eles teriam mostrado o que estava rolando por trás da cortina laranja de Orange County na época.

Penelope Spheeris: Queria ter podido filmar o The Screamers porque adorava de paixão o Tomata Du Plenty.

Keith Morris: Sim! Essa é outra banda que devia ter sido incluída, The Screamers! Mas o lance com os Screamers era que eles meio que faziam questão de ser misteriosos. Nunca lançaram nenhuma música no tempo deles.

Nicole Panter: Os Screamers – que talvez não tenham sido chamados – provavelmente teriam se recusado a participar, porque não estavam nem soltando discos como o resto do pessoal estava, e eles tinham um lance de ter controle absoluto sobre como eram vistos, em termos do que mostravam para o mundo. O que priva os jovens de ver uma banda incrível, exceto por um ou outro vídeo de péssima qualidade.

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O The Weirdos com certeza devia ter aparecido naquele filme, e rolavam todos os tipos de boatos sobre o motivo de não participarem. Sem qualquer discussão, os Weirdos eram a melhor banda de Los Angeles, e hoje ninguém sabe quem são eles, porque não entraram naquele filme, o que é uma tragédia cultural.

Penelope Spheeris: Também queria ter podido incluir os The Mau Mau's, porque adoro de paixão o Rick Wilder, até hoje.

Keith Morris: Tive um papel no acerto com as bandas para o show que o The Circle Jerks fez e que acabou entrando no filme. As bandas eram Fear, The Alice Bag Band, The Circle Jerks, The Gun Club, The Urinals e The Gears. Soube que a filmagem do The Gears naquela noite está nos extras do DVD. Adoro The Gears, mas o The Gun Club devia muito ter entrado. No que diz respeito à produção gravada deles, e da influência que tiveram, o The Gun Club influenciou todo mundo, desde The Cramps até Nick Cave e The Bad Seeds e The Scientists; é uma coisa impressionante. Poderiam ter colocado o The Middle Class também… a lista não acaba! Consigo pensar ainda em mais vinte ou trinta bandas que podiam ter entrado no filme.

John Doe: Quando o filme foi feito, o punk rock de LA estava em transição, de uma coisa muito artística, aberta, livre, cheia de diversidade, para uma coisa mais movida a testosterona, com muito mais violência. No início, era uma coisa muito mais cheia de diversidade, livre, artística. Essa é a palavra que quero enfatizar: artística.

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Chuck Dukowski: Acho que a Penelope fez um ótimo trabalho capturando o que estava rolando bem naquele momento com o Black Flag, e os garotos que chegavam das cidades praianas, e com as bandas mais maduras ainda em atividade, que tocavam no The Masque.

Keith Morris: Gosto da justaposição de bandas no filme. Acho que Penelope fez um trabalho excelente com isso. É isso que The Decline of Western Civilization tem de extraordinário: é um banquete. Não é um McDonalds em que você está limitado ao que pode pedir. Tem um monte de coisas diferentes no menu, e tudo está acontecendo ao mesmo tempo. Isso foi antes que se escrevesse o livro das regras do punk rock. Acho que ela deliberadamente tentou apresentar um monte de bandas de diferentes backgrounds.

Lisa Francher: Com certeza captaram um momento perfeito dessas duas culturas se encontrando.

Alice Bag: Não, não concordo. Embora o Decline inclua bandas dos primórdios da cena e também da cena hardcore que ia crescendo, não acho que o filme capture a essência da cena mais antiga. O hardcore domina o filme.

Chuck Dukowski: Bandas como The Plugz e The Alleycats foram muito importantes no início, mas, quando chegamos naquela época em que o filme estava sendo feito, não tinham tanta relevância assim.

Alice Bag: É verdade que a diretora fez o filme durante um período de transição, em que as bandas da Masque estavam começando a sumir, e as bandas praianas estavam em ascensão, mas ainda havia muitos shows que poderiam ter sido filmados, em que as bandas punks originais de LA destruíam no som e faziam o público entrar em frenesi.

Keith Morris: Nos primórdios da cena punk de LA, a galera era basicamente um monte de estudantes de arte, de cinema e de moda. Eram mentes criativas que prestavam atenção no Sid Vicious e liam a Melody Maker. Eram anglófilos que davam crédito a tudo o que os críticos britânicos diziam sobre as bandas lá do outro lado. Era a festa deles, e caras como nós, vindos de South Bay, não eram bem-vindos à festa deles. Durante anos e anos, Greg Ginn, Chuck Dukowski e eu fomos à Masque, e nunca nos sentimos em casa lá dentro. Talvez porque parecíamos ter acabado de sair de uma van cheia de fumaça de maconha no estacionamento de um show do Grateful Dead.

Chuck Dukowski: Pessoalmente eu me sentia à vontade no The Masque. Curtia os shows e nunca senti que minha presença incomodava o pessoal. Mas, um pouco depois disso, houve uma reação contra as pessoas que vinham da praia para os shows punk. Lembro de ir ver o The Germs no Club 88, depois do trabalho. Tinha uma moldura em volta da placa do meu carro que dizia Hermosa Beach. Tirei um cochilo no carro antes do show, porque estava cansado do trabalho, e fui acordado por um pessoal perto do carro, olhando para a minha placa e dizendo muito alto como achavam horrível que o pessoal da praia estivesse se infiltrando na cena deles. Não sabiam que eu estava lá dentro, e vandalizaram meu carro, arrancaram totalmente a moldura da placa. Essa foi a primeira dose de reação que experimentei pelo fato de vir de fora.

Lisa Fancher: Eu já costumava ver música ao vivo desde a era dos Screamers e dos Weirdos, e, para ser bem sincera, a cena punk mais antiga de LA macaqueava muita coisa do que rolava em Londres. Quando os garotos das praias chegaram, houve com certeza um sentimento, da parte dos mais velhos, que era tipo: "Putz, esses adolescentes horríveis!". Escrevi sobre isso tudo como correspondente de LA para a New York Rocker, na época em que estava acontecendo. Achava tudo isso fascinante. Tomei o lado daqueles garotos mais novos, porque eles irritavam muito os mais velhos, e adoravam zoar os policiais e causar confusão. Eu curtia!

Os garotos de Orange County estavam tentando fazer a parada deles, o que não era pouca merda, se você comparasse com os mais velhos, que estavam seguindo uma outra cena que ficava a milhares de quilômetros de distância. Aquilo ali não era gente colando fita isolante na roupa para copiar o The Clash.

John Doe: Pessoalmente, sinto que o filme se foca bastante no estilo de música que estava começando a entrar na cena, um estilo fúria e poder, no qual predominavam adolescentes do sexo masculino. Não sei, talvez o filme não teria acontecido se Penelope não se concentrasse naquele lado sensacionalista das coisas.

Alice Bag: Tinha muitas bandas maravilhosas na cena punk antiga de LA que merecem reconhecimento, e ainda tenho esperanças de que, algum dia, alguém vá fazer um documentário e incluir todas aquelas bandas bem antigas, pitorescas e ecléticas que deram início à cena.

Todas as citações de Lee Ving contidas nesse artigo foram usadas com a devida permissão, e aparecem no altamente essencial – embora, infelizmente, fora do prelo – "Destroy All Movies!: The Complete Guide To Punks On Film."

Tradução: Marcio Stockler