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Música

A História do Hardcore Brasileiro Contada pelas Coletâneas do Nenê Altro, parte I

Descolamos downloads e streaming das sete primeiras compilações feitas pelo Nenê, de 96 a 2003.

Nesta terça (18) continuamos a série Nenê Altro Coletas resgatando o comecinho da luta do Nenê contra o establishment da indústria fonográfica. Descolamos o streaming e o download das primeiras sete coletâneas que ele compilou. Abaixo você lê o papo que nosso intrépido repórter do underground hardcore paulistano Eduardo Ribeiro teve com o Nenê sobre o planejamento, feitura e consequência dessas compilações, que, sem sombra de dúvida, são parte essencial da história recente da música independente do Brasil.

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1996. A cena hardcore de São Paulo vivia um de seus capítulos mais prolíficos e qualitativos até então. Uma geração de bandas que procurava fazer um som pra além do punk xixi de três acordes e gravações sofríveis começava a aparecer, inclusive cantando em inglês. Naquele ano, porém, a cena já estava subdividida em diversas células e nem todas as galeras dialogavam entre sí. Eram os melódicos de um lado, os straight edges do outro e várias fitas do gênero. Nessa época, o Nenê Altro cantava no Personal Choice e era uma das figuras que mantinha contatos por todos os segmentos do hardcore paulista - as rixas mais tensas ainda não haviam eclodido. Foi quando pintou a ideia de fazer uma coletânea capaz de registrar o substrato do que havia de mais firmeza rolando naquela explosão criativa hardcoreana. O projeto recebeu o nome de Monday Isn't a Bad Day at All, e tornou-se um clássico instantâneo.

"Eu trampava numa loja de skate na Galeria do Rock que também importava CDs. Em uma de suas visitas à loja, o André Maleronka [n.e.: que hoje é o editor da VICE Brasil], primeiro vocalista e um dos fundadores do Againe, começou a conversar comigo sobre os CDs que tinham lá, e tivemos a ideia de que poderíamos fazer um disco em formato de coletânea unindo 10 bandas com duas músicas cada. Aí o Carlinhos, também do Againe, abraçou a ideia, agregamos mais pessoas que poderiam ajudar em coisas específicas como editoração, conhecimento gráfico e tal, e fizemos uma reunião com as 10 bandas interessadas no Centro Cultural Vergueiro e decidimos como ia ser. Orçamos os custos, enfim, dividimos tudo", relembra Nenê Altro. Como naquele período não era nada comum bandas punk/hc independentes lançarem CDs - o pessoal ainda estava na onda das demos prensadas com capinha em xerox colorida -, o pessoal não tinha conhecimento de como fazer um CD. Mas, como punk é correria, eles foram atrás, encontraram a MCK, que era uma assessoria fonográfica, e mandaram bala.

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"Quando o CD saiu, ficaram 100 cópias para cada banda e todo mundo vendia nos shows e diretamente para os amigos. Foi um marco", comenta ele. "Dali em diante, a cena ganhou uma atmosfera de que era possível fazer um disco sem um selo, e isso mudou o curso de tudo", conclui.

Seguindo com a série Nenê Altro Coletas, que o Noisey começou na semana passada pegando o gancho do lançamento da compilação Frequência Alternativa, chegamos ao segundo post para levar até vocês os sons que integram essa primeira fase da empreitada do Nenê na missão coletâneas. Os discos dispostos aqui em streaming pegam os inaugurais passos dos selos capitaneados por ele entre 1996 e 2003, tempo da Teenager in a Box e da Antimídia Records.

Essas iniciativas revelaram nomes que fizeram história ou que acabaram conquistando públicos enormes para os parâmetros do underground: "Na The Gig Tomorow Is Too Far, de 1999, abri com Dead Fish, com duas faixas do CD que eles tinham acabado de lançar, o Sonho Médio. Aí já vinha Noção de Nada, Street Bulldogs… Na segunda, Ataque de Nervos, de 2000, entraram duas faixas inéditas do Dominatrix, que por muito tempo ficaram só nesse disco, além de Os Pedrero, Riverboys e Out of Season. Na terceira, Fall From the Stars, de 2002, entrou o Contraponto, o Stranded (que depois virou Aditive), o Milidux (que depois virou Glória), o Smalls…", destaca Nenê.

Um monte de outras bandas legais aparece também na Something.Nothing.Everything., de 2003, que já abria com Polara e Ludovic e tinha o Biônica, o M.Knox e, mais lá pro meio, duas bandas que mandaram faixas de seus primeiros discos, o Fresno, com "Mais Um Soldado", e o NX Zero, com "Gritos do Silêncio", ainda com o Yuri do Vowe cantando. Já na quinta e última da Antimídia, o Nenê lançou a primeira gravação de "Suaves Lembranças do Outono Passado", do Envydust, além do Thee Butcher's Orchestra, Hateen e Isosceles Kramer, entre outros. "Fico muito feliz em ter ajudado e feito parte da história de tantas bandas que seguiram adiante e traçaram seus próprios caminhos", disse ele a respeito da experiência.

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Aqui embaixo estão os players das sete compilações. As tracklists e datas e etc estão lá no Bandcamp do Nenê Altro. Dá para ouvir, baixar grátis, ou, se você tiver numas, paga uma grana qualquer pelo download também. Aí é contigo:

Monday Isn't a Bad Day at All (1996)

The Fire Beneath the Machine (1999)

The Gig Tomorrow Is Too Far (1999)

Ataque de Nervos (2000)

Fall from the Stars (2002)

Something. Nothing. Everything. (2002/2003)

Dance to the Radio (2003)