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Música

Hayley Williams Redefiniu o que É Ser uma Celebridade do Sexo Feminino

Desde que começou a cantar no Paramore, Hayley atrai um nível de atenção que foi crescendo como uma bola de neve, até transformar-se numa inesperada adoração global.
Emma Garland
London, GB

É impossível falar sobre o Paramore sem falar de Hayley Williams. Quando os fundadores Zac e Josh Farro saíram da banda, em 2010, após uma briga feia em público, eles publicaram uma declaração reclamando de que "agora tudo gira em torno de Hayley". Não dá para dizer que era viagem deles. É só dar uma olhada em todas as capas de revista, todas as entrevistas, todos os clipes: ela é o ponto central; os outros integrantes desaparecem no pano de fundo, ou simplesmente não estão presentes. Ainda assim, é inegável que, para muitos, Williams continua sendo o aspecto mais inspirador da banda – mas por razões muito maiores que a paleta de cores Pantone com que ela tinge os cabelos.

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Ela é mais do que somente uma frontwoman. Desde que começou a cantar no Paramore, aos 15 anos de idade, Hayley atrai um nível de atenção que, daquela época até hoje, foi crescendo como uma bola de neve, até transformar-se numa inesperada adoração global. Atraindo todo tipo de gente, desde crianças à procura de um ídolo até adultos com excedente de renda disponível para gastar em porcarias como esta, o Paramore rapidamente se tornou uma das maiores bandas alternativas do planeta. Em algum ponto entre ser a banda mais jovem a tocar na Warped Tour e esgotar em dez minutos os ingressos para um show na Wembley Arena, ela deixou de ser apenas uma vocalista em uma banda, se transformando numa usina nuclear de uma mulher só, em uma escala que a música alternativa não vê desde que Gwen Stefani apareceu pela primeira vez, usando calças folgadonas e aparelho nos dentes. Confirmando aquilo que já sabíamos, em novembro foi anunciado que ela seria a primeira vencedora do novo prêmio Trailblazer Award, no Women in Music Awards deste ano, premiação promovida pela Billboard. Mas como foi exatamente que uma menina pop-punk, com cabelos cuidadosamente desarrumados, conseguiu chegar a um estágio da carreira em que recebe prêmios ao lado de Taylor Swift e Ariana Grande?

No início, Hayley Williams representava o esquisito e o desajeitado; as garotas que usam camisetas de banda nos dias em que o colégio não exige o uso do uniforme, que raspam aleatoriamente parte dos cabelos, e passam os finais de semana chorando no deviantArt. Ela é basicamente a Avril Lavigne da geração Angry Birds, mas em vez de, na medida em que ficava mais velha, entrar numa espetacular queda livre em direção a uma decepção sem fim, Hayley evoluiu junto com seu público, e começou a atrair faixas demográficas além do grupo nuclear dos defensores do pop-punk.

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Com o lançamento de Paramore, o quarto disco da banda, Williams colocou pela primeira vez um pé no pop comercial, mas manteve firmemente enraizado seu outro pé no punk comercial; e plantou-se em cima do muro que separa os dois de um jeito que mulher alguma chegou a conseguir – pelo menos, não fazendo tanto sucesso. Nas raras ocasiões em que uma banda de rock por acaso liderada por uma mulher consegue estourar, ela pena para conseguir vencer em uma arena tão dominada pelo sexo masculino, e tende a se sair melhor quando imita as convenções dessa arena. Pense em The Distillers ou – até certo ponto – no Hole, em que tanto Brody Dalle quanto Courtney Love eram (e ainda são) consideradas inerentemente "masculinas", porque estragam coisas em cima do palco, se embebedam e têm um estilo assertivo. Cê sabe: o jeitinho consagrado dos homens.

A indústria do rock ainda é bastante duas caras, com um lado dizendo "é desse jeito que você precisa ser para ter sucesso" e o outro fazendo a ressalva de que "mas também vamos te julgar pra caralho por isso, caso você seja mulher". E, não importa quanto sucesso consigam, tanto Brody quanto Courtney normalmente são pintadas como "porra loucas", ao passo que alguém como Billie Joel Armstrong ou Patrick Stump seriam considerados cool por agir da mesma maneira. E talvez isso seja ao mesmo tempo causa e efeito de existirem poucas mulheres na indústria da música alternativa. Apesar de neste ano as mulheres estarem liderando as listas dos mais vendidos no pop, no hip-hop e no R&B, no rock, e em todos os seus subgêneros, ainda há um gigantesco problema de mulheres – o problema sendo o de que não há nenhuma, e aquelas que defendem o último reduto o fazem sofrendo imensa pressão e sendo tremendamente estigmatizadas.

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A indústria do entretenimento sempre selecionará com muito cuidado as pessoas de que mais gosta, para tentar transformá-las em personalidades do entretenimento. Portanto, pouco importa se você é uma Courtney Love, uma Nicki Minaj ou uma Hayley Williams: o mais provável é que, sendo você uma mulher de destaque na música, vá terminar na capa de uma revista feminina, cercada por manchetes sobre exatamente até onde é preciso se curvar para agradar o seu homem.

Por mais que se tente evitar, e por mais legítima que a entrevista possa ter parecido à época, ela sempre será editada e manipulada da maneira mais conformista e facilmente digerível (e portanto fácil de vender), e que muitas vezes funciona como um aparte às carreiras que de fato têm como artistas. Mas, no geral, Hayley conseguiu navegar pela indústria de um modo em que raramente perde o controle das rédeas. Ela conseguiu até mesmo se antecipar ao inevitável, fazendo piadas sobre os próprios seios, antes que um hacker vazasse fotos dela de topless, lidando ao mesmo tempo com a má sorte de ser a única mulher do rock alternativo a ter de enfrentar esse aspecto da fama.

Já que Hayley, até um certo ponto, se permitiu entrar na região da cultura de celebridades que envolve tirar fotos para capas de revistas e participar de eventos de tapete vermelho, ela também se viu inserida em uma arena de exposição às massas que geralmente é ocupada por pessoas como Kim Kardashian e Paris Hilton; pessoas para as quais capas de revista e eventos de tapete vermelho são toda a razão de existir, em vez de serem coisas que acontecem paralelamente, das quais não se pode fugir. O fato de ter sido sujeitada à mesma horrível invasão da privacidade pessoal que geralmente é reservada a quem tem uma estrela em Hollywood é incrivelmente bizarro (e obviamente triste), mas também muito revelador da posição que ela ocupa na escala dos interesses do público.

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Por mais que pareça contraproducente dedicar atenção demais ao fato de que ela é uma cantora do sexo feminino em um mundo dominado por homens, também seria injusto menosprezar o feito de Hayley ter conseguido fazer sucesso sendo uma mulher num mundo dominado por homens. Seria de imaginar que, em uma turnê gigantesca, que no ano passado vendeu mais de meio milhão de ingressos somente nos Estados Unidos e no Canadá, e cujo público teve uma gigantesca proporção de mulheres, a representação do sexo feminino em cima do palco na Warped Tour ultrapassaria os 6%, mas na verdade a música alternativa ainda é esmagadoramente dominada pelo sexo masculino – e isso pode criar um ambiente difícil para mulheres jovens que esperam cruzar as barreiras de público e ser consideradas artistas de verdade. No início de sua carreira, Hayley teve de enfrentar o assédio de músicos dez anos mais velhos do que ela, escrever posts de blog corrigindo matérias de capa que se focavam no fato dela ter poucas curvas e sugeriam que os outros integrantes do Paramore eram "seus paus mandados". Ela teve de suar para ser levada a sério por membros do público que estavam tão desacostumados a ver uma mulher no palco que não sabiam o que fazer além de gritar "tira a blusa!" para ela dez vezes. Ela tem lidado com tudo isso desde quando tinha 16 anos, e até hoje continua a falar abertamente sobre o sexismo no mundo da música.

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Basicamente, todo o destaque comercial que ela obteve é um gigantesco foda-se para as convenções. Numa cena em que se espera que as mulheres ocupem o mínimo de espaço possível, ela está gritando mais alto do que todo mundo, com uma amplitude vocal que abrange três oitavas. Ela é a pessoa que disse: foda-se, eu vou ser a única pessoa do mundo que tocou na Warped Tour e tem a própria linha de cosméticos, porque colocar mulheres em categorias fechadas é estupidez, e gostar de moda e de música pesada não são coisas mutuamente excludentes. Vou chegar para a filmagem de um clipe vestindo neon pastel e uma camiseta com DWEEB escrito no peito e de algum modo parecer o contrário, seja lá qual for, de um DWEEB, que é outra palavra para "nerd", porque isso inspira os jovens a ter a confiança de vestir o que bem entenderem, mesmo que seja uma meia-calça ridícula com uma imitação de tinta amarela escorrendo pelas coxas. E não estou nem aí se os ex-integrantes da banda dizem que o Paramore é um "produto manufaturado", porque a gente vai soltar um disco com o nome da banda, que vai ganhar disco de ouro em três países, e vamos fazer uma turnê do disco na porra de um cruzeiro. E daí vou ganhar um prêmio Trailblazer, por causa dessas coisas todas que eu fiz.

Superando todos os obstáculos, Hayley Williams conseguiu navegar por uma indústria que tentou de tudo para transformá-la em um veículo para vender produtos, fossem eles revistas, música ou maquiagem. E ela pode ter vendido todas essas coisas em algum momento, mas o fez de um modo em que criou uma voz para os jovens que sentem que não se encaixam. Melhor ainda, abriu um caminho para as mulheres jovens entrarem numa cena da música alternativa que sempre costumou mantê-las à distância, observando tudo das laterais.

Siga a Emma no Twitter: @emmaggarland

Tradução: Marcio Stockler