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Música

Fui Entrevistar o MC Guimê e Acabei Virando Figurante no Novo Clipe Dele

O tédio da espera foi o suficiente para me convencer a escovar o cabelo e sensualizar no fundo de um videoclipe. Então vesti a roupa mais swag chavosa que eu encontrei e fui fazer a maquiagem.

Algumas semanas atrás fui convidada por Fred Ouro Preto e Maihara Marjorie – casal que já produziu vídeos fodíssimos para artistas como a musa Valesca e o rapper Emicida – para acompanhar as gravações do clipe de “Vim pra Ficar”, o som “EDM”/pop radiofônico do MC Guimê. Achei a oportunidade incrível e topei na hora. Sempre quis saber o que realmente rolava por trás daquela zoeira toda nos vídeos de funk. Eles ainda disseram que, se eu quisesse, poderia aparecer como figurante no fundo do vídeo. Na hora fiquei animada. Pensei que seria uma história engraçada pra contar, mas em poucos segundos lembrei que meu potencial para parecer uma mina gostosona era bem próximo de zero.

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Cheguei no local combinado às 14 horas. Era no 25º andar do Edifício Planalto, no centro de São Paulo. Me sentei ao lado das figurantes e fiquei lá, analisando tudo e pensando em como seria a produção. Esperava ver meninas em roupas curtíssimas, dançando em meio a garrafas de champanhe, uísque ou alguma coisa mais absurda que isso. Guimê se atrasou para as gravações no primeiro local, o que significou que eu tive cerca de quatro horas para ficar imaginando o que ia acontecer.

Eventualmente, chegou o pessoal da maquiagem – uma equipe formada por mãe, pai, filha – com um estojo composto por uma dúzia de sombras luminosas. Olhei para o make verde esfumaçado de uma das meninas, para o babyliss e topete da outra, e pensei “por que não?”. O tédio da espera foi o suficiente para me convencer a escovar o cabelo e sensualizar no fundo de um videoclipe. Então vesti a roupa mais swag chavosa que eu encontrei e fui fazer a maquiagem. “O que fazer com esse cabelo, meu Deus?”, disse a moça assustada com as minhas mechas massarocadas. Vi de perto o verdadeiro drama da montagem de figurino. Guimê era fácil, difícil era lidar com todas aquelas meninas e suas preferências próprias, e ainda atender todas e quaisquer exigências impostas por atrizes da Malhação – de repente, meio centímetro a menos de pano deixava o look vulgar demais para os fãs leitores da Atrevidinha.

Só fui me dar conta que tinha me metido numa roubada quando Guimê chegou. Correr atrás dele foi uma tarefa incrivelmente mais difícil de salto alto e roupa de balada. Tentei abstrair o fato e comecei a perseguir os agentes do funkeiro na esperança de que alguém me levasse a sério. Enquanto isso, Guimê fazia uma cena após a outra, sem muita cerimônia. Tudo surpreendentemente simples, sem exageros ou coisas absurdas. A cena em quer participei correu bem e rápido. No momento em que acabou fui correndo tentar falar com Guimê. Queria saber onde diabos tinham parado os relógios de ouro, os Porshes e as Hornets.

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Mesmo sem tempo, Guimê foi atencioso, fofo e com respostas na ponta da língua. Se eu cheguei esperando ver meninas rebolando de biquíni e garrafas de Red Label, descobri que Guilherme trocou as camisas da Oakley por streewear cara, e o Nike Shox, citado em “Tá Patrão”, virou um modelo de Air Jordan 6 Infrared. Talvez o funkeiro tenha chegado no momento em que finalmente se reconheça como popstar.

Noisey: Percebi que seus vídeos mudaram bastante desde “Plaquê de 100”. Sei que o trabalho do Fred é bem diferente do KondZilla, mas toda a sua estética também mudou bastante, não é?
Guimê: Ah com certeza mudou bastante desde que eu comecei levar a sério a parada. Eu comecei a cantar funk faz uns seis anos, meus primeiros vídeos eram totalmente caseiros, filmava com as câmeras digitais do lugar onde meu pai trabalhava ou mesmo com o celular. Então pô, a gente começou a aumentar a qualidade. O Kondzilla, que é um grande parceiro meu, começou a melhorar os clipes. Hoje eu tô com Fred Ouro Preto, que é ótimo. A gente tá sempre buscando novas coisas, levando o trabalho mais além

Mas toda aquela onda da ostentação. Você acha que já deu pra você?
Ah sim, porque a gente acaba amadurecendo bastante e é consequência da caminhada. A gente começa a ter uma condição financeira bem melhor e o trabalho acaba trazendo essas mudanças. Essa realidade que a gente fala é a que a gente tira onda mesmo, mas a gente tem que ir além disso.

Você diria que hoje você é um artista pop, como a Anitta, ou você ainda faz funk para os funkeiros?
Olha, eu vou falar pra você que eu me vejo fazendo música. Eu sou de origem muito humilde, eu sempre fui fã do rap underground, do funk underground. Então foi uma parada totalmente underground. O que eu sempre sonhei em atingir era estar na televisão e conquistar novos horizontes. Só com o funk talvez eu não conseguiria, então eu quis meio que lapidar esses diamantes. Eu comecei fazer um trabalho capaz de atingir todos os públicos, e graças a Deus tem atingido. Tipo assim, eu não me vejo fazendo nada de muito pop, e nem muito underground. O que eu sei é que independente da condição que a gente vem, a gente pode chegar onde a gente quiser chegar, tá ligado?