FYI.

This story is over 5 years old.

Música

Fomos na Rave of Thrones, uma Rave Inspirada em ‘Game of Thrones’

Foi uma festa no meio do centro comercial, cheia de neon, golas V, gente sendo pouco sexy e fazendo cosplay de Game of Thrones.

Fotos: NV CONCEPTS

Se alguém reparou num cavalheiro grandão trajando uma capa preta forrada com peles – indicando que ele faz parte da Patrulha da Noite – saindo da minivan de seu pai para a boate Prime, em Boston, na noite de domingo (12), deve ter imaginado que estava rolando um torneio de Magic: The Gathering ou qualquer um desses eventos de gente com capas-e-espadas lá dentro. Essa pessoa estaria quase certa. Antes de seu pai voltar pra lhe buscar por volta das 2 da manhã, o mesmo patrulheiro noturno dançou mal, tentou negociar com seguranças que expulsaram seu amigo da balada e passou a mão em uma moça baseada em suas escolhas de vestimenta (presumo que ele não conhecia ela antes). Então era quase um torneio de Magic mesmo, só que com dança. E ninguém jogava cartas.

Publicidade

Na verdade, a Prime serviu de anfitriã para um evento chamado Rave of Thrones, um arrasta-pé itinerante de EDM com Hodor como atração principal, um irlandês de 2 metros de altura que poderia trabalhar como atração especial da WWE ou como Papai Noel se lhe sobrasse tempo pra isso. Em Game of Thrones, Hodor serve como protetor e melhor amigo da criança mística Bran, um dos poucos rebentos remanescentes da família Stark. Um rapaz simplório, Hodor só consegue falar seu próprio nome, de forma similar a Groot, que só consegue dizer “eu sou Groot”. Coincidentemente, Groot e Hodor já transaram.

Na vida real, Hodor finge ser Kristian Nairn, que consegue falar diversas palavras e conseguiu desenvolver uma carreira respeitável como DJ de deep house em Belfast bem antes de entrar nesse lance com o GoT. Na maior parte do tempo, os atores têm predileções musicais previsíveis. Ninguém se impressionou com Bruce Willis tentando dar uma de Huey Lewis nos anos 1980. Jared Leto já era emo e um cagalhão antes do Thirty Seconds to Mars. E é claro que Zooey Deschanel tocaria pop mela-cueca, dã. Daí espera-se que o elenco do GoT toque metal melódico fantasioso horrendo, mas eles não o fazem. Ao invés disso, Hodor é DJ de deep house e um experiente, senão oportunista, gênio do marketing. Ao promover turnês sob a égide de Rave of Thrones, ele atrai fãs da série e a comunidade raver – um cruzamento pop que gera uma bem-vinda falha na Matrix.

Publicidade

Trechos de uma Rave of Thrones em Sidney me fizeram esperar um Caminhante Branco, uma go-go dancer sósia de Daenerys Targaryen, e um modelo do Trono de Ferro. Ou porque o Prime não tem palco ou porque o orçamento de Hodor para turnês é meio apertado, não vi nenhuma loucura dessas. O local em si também não contava com zumbis azuis enormes nem poltronas feitas de espadas antigas, mas estava lotado de Daenerysies, Melisandres, e Jon Snows. Um cara lá claramente havia deixado de fazer a barba por umas semanas pra surgir como um Drogo meio fofolete.

O evento encoraja que seus frequentadores se fantasiem (“façam cosplay”, se você preferir) como cidadãos de Westeros. À esquerda, uma espécie de Feira da Renascença de baixo orçamento era iluminada pelos holofotes verdes e vermelhos balançantes da Prime, criando uma atmosfera um tanto quanto incongruente no quarto andar do ostentoso complexo noturno do Distrito Financeiro. O Prime é um desses lugares com espelhos espalhados por cima do bar e em colunas, além de monitores piscando com seu nome e logo caso alguém esqueça onde está. Aqui estamos nós, em uma boate que se esforça para ser sensual, meio cheia de clientes que – com a exceção de uma mulher levando sua fantasia de “dragoa sexy” de Halloween para um test drive – que não estão tentando mesmo serem sensuais. Daí mais ou menos uma hora depois começam a aparecer as camisetas de neon, as golas V, as moças que estão usando roupas de menos para a estação do ano, bastões de luz e aquela galera que vive de selfies, porque nerds são mais pontuais que ravers. Por volta das 23h30 era impossível distinguir quem tinha vindo ver Hodor, o personagem de Game of Thrones, e Hodor, o DJ. A “Rave” eclipsou sozinha o aspecto “Of Thrones” do evento. Além disso, apareceram uns caras usando máscaras de caveira e lucha libre, que não tem nada a ver com GoT. Talvez eles tivessem ouvido falar que era uma rave à fantasia e que qualquer coisa valia, ou talvez sempre usem máscaras quando saem.

Publicidade

Enquanto isso, Hodor tocava após os DJs locais Tao e Dudenguy, girando alavancas e discos na cabine, mexendo sua cabeça de forma ritmada, ocasionalmente cantando junto com as letras, e recusando o ocasional “toca aqui” de baladeiros intrusivos, como DJs estão acostumados a fazer.

Eu não sei qual a diferença entre house e dubstep (existe uma diferença entre house e dubstep?), e não vou insultar a inteligência de ninguém ao fingir entender o suficiente de EDM para criticar a música de Hodor. Até achei que algumas coisas que ele tocou foram divertidas! As outras pessoas pareceram curtir, então acho que era bom, né? Me incomodou um pouco que ele ficava reaproveitando aquelas batidas genéricas que todo DJ usa, mas como todos eles fazem isso, talvez seja uma necessidade técnica, vai saber. Em se tratando de DJs celebridades, posso chutar sem medo que ele soa bem melhor que Paris Hilton e Pauly D, porque estes dois são horríveis em tudo que fazem, e Hodor não.

Imagens futuristas reminiscentes de Tron ficavam passando nos monitores. Exceto pelo ocasional lembrete de que “O Inverno Está Vindo” e questionamentos como “Quem Irá Sobreviver?” e “O Que Acontece Depois?” e assim por adiante, a parte visual não tinha nada a ver com Game of Thrones.

E diferentemente de GoT, era fácil prever quem não chegaria ao fim do episódio. Por qualquer motivo que seja, os caras com camisas quadriculadas tinham essa tendência desproporcional para fazer alguma besteira e assim atraírem a ira dos seguranças. Umas garotas que pareciam ter completado 21 anos semana passada e aparentemente passavam por uma fase experimental em termos sexuais saíram correndo bem no meio do set de Hodor. Mas fale o que quiser sobre a molecada que faz a dança da “bola invisível” com suas joias de plástico que brilham e brinquedos que se acendem. Eles podem ser estereótipos ambulantes em pernas de pau, mas mãe do céu, eles conseguem dançar por um tempão. Não tem como isso rolar por causa das drogas. É uma resistência cardiovascular admirável, além do possível uso de drogas. Se Stannis Baratheon criasse um exército de ravers ao invés de trogloditas burros com espadas, talvez ele não tivesse tomado no bumbum na Batalha de Blackwater, mas ele não fez isso e se fodeu, porque Stannis é um cara burro mesmo.

Publicidade

Barry Thompson vestiu-se acidentalmente de Legolas. Siga-o no Twitter – @barelytomson

Tradução: Thiago “Índio” Silva