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Música

FKA Twigs É a Única Estrela Pop Britânica Mudando os Conceitos de Sexualidade

Para os britânicos, sexo é uma coisa que acontece com os outros pra que eles possam fazer piadas. Então, um disco de "40 minutos de sexo e carícias" só pode ser um lançamento significativo.
Emma Garland
London, GB

As palavras “britânico” e “sexual” dificilmente são vistas lado a lado, com exceção de panfletos encomendados pelo sistema de saúde do país. A hipótese de que qualquer um no Reino Unido mesmo saiba o que é sexo é fomentada pela nossa rotatividade absurda de vloggers fúteis e por apresentadores do Channel 4 para quem o sexo é algo que acontece com outras pessoas para que eles possam fazer piadas. Então quando alguém como FKA Twigs chega junto e lança um disco comparado com “40 minutos de sexo e carícias”, isso significa mais para a indústria musical do que você imagina.

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Mesmo que você não o tenha escutado, é muito improvável que o début de FKA Twigs, LP1, tenha passado batido. A capa impressionante destaca seus dentes desajeitados e olhos geometricamente improváveis e foi ampliada à exaustão em outdoors e vitrines de lojas de discos pela Inglaterra durante meses, além de ser uma das imagens mais reconhecíveis na internet. A capa é fora do comum não só em termos visuais, mas também porque não dá indicação nenhuma de seu conteúdo. Na superfície, LP1 tem o surrealismo brincalhão de uma arte feita por Tim Burton, mas o que se encontra lá dentro é mais quente que a sauna do próprio Satanás.

“Coisas esquisitas podem ser sexy”, disse Twigs em entrevista concedida ao The Guardian no último mês, com a noção de que ela é provavelmente a mais esquisita e sensual artista a sair do Reino Unido desde que a virilha de David Bowie co-estrelou Labirinto – A Magia do Tempo. Com uma vibe meio Aaliyah da época de Rainha dos Condenados, meio Tumblr, a música de Twigs é uma lufada de brisa fresca na sexualidade após uma década de Adele, Coldplay e Ben Howard nos oferecendo o erotismo de uma festa na piscina na casa de Michael Barrymore.

É só reparar nas letras para ver que o esquema de Twigs é outro. O trecho de Adele “I heard that your dreams came true / Guess she gave you things I didn’t give to you” [Ouvi dizer que seus sonhos viraram realidade/ Acho que ela te deu coisas que não dei] ou de Sam Smith “Your touch, your skin / Where do I begin?” [Seu toque, sua pele/ Onde eu começo?] jásão sensuais como um colete de lã, mas em comparação com Twigs, que diz “Harder / ‘Till you fill it with me / Harder / Am I suited to fit all of your needs?” [Mais forte/ Até preencher comigo/ Mais forte/ Sou o suficiente para atender todas suas necessidades?], eles parecem risivelmente recatados. Enquanto todos no Brit Awards ficam trocando olhares pecaminosos entre si, depois voltam para casa e escrevem uma balada sobre “aquele belho estranho” durante uma sessão de masturbação chorosa, a FKA Twigs vai com tudo, seduzindo geral.

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Por seja lá qual for o motivo, o Reino Unido raramente produz uma estrela pop cuja energia sexual é a força motriz de sua carreira. E na rara ocasião em que alguém desponta, geralmente é um homem (pense em David Bowie, Freddy Mercury ou Mick Jagger). Twigs é inacreditavelmente sexy, o que não é estranho só para um artista britânico, mas uma artista, mulher, britânica.

Claro que ela não é a primeira cantora na história das cantoras a tratar de sexo; uma olhadela rápida no estado das paradas norte-americanas atuais mostrará que o pop daquele país tem como base o sexo que tende a identificar as mulheres como um amálgama de partes do corpo e músculos pélvicos. O que diferencia Twigs das Mileys e Minajs do mundo (além do fato de que sua sonoridade é implacável) é que ela entende a sexualidade do sexo, e isso transparece no que ela diz e como diz.

LP1 consegue ser descarado sem ser exatamente explícito. Tem todo aquele feeling sensualesco de House of Baloons, do The Weeknd, mas com uma sutileza que nenhum artista pop conseguiu empregar desde que as Spice Girls botaram crianças de oito anos pra cantar “I want a man, not a boy who thinks he can”. [Eu quero um homem, não um menino que acha que consegue]. De alguma forma, Twigs consegue sussurrar coisas como “My thighs are apart for when you're ready to breathe in” [Minhas coxas estão abertas para quando você estiver pronto para mergulhar] no som do carro em que você está com seus pais sem você ter que mudar de estação mais rápido que um moleque de 14 anos pego assistindo Cine Privé. Ela entende a diferença entre sentar em um trono, de pernas abertas, se tocando, e sentar em um trono com os joelhos juntos, cantando sobre o quanto alguém quer tocar você.Ambas são expressões de dominação, mas expressadas de formas muito diferentes, e é importante que tenhamos as duas.

A música de Twigs é um jogo constante de resistência e soltura – bem acima do esfregar na câmera literal de Rihanna ou da imagem de menina comum de Taylor Swift. Sua abordagem do sexo surge com uma rara inteligência e curiosidade natural que altera não só a identidade sexual das mulheres no pop britânico, mas no pop como um todo.

Siga Emma no Twitter: @SickBae

Tradução: Thiago “Índio” Silva