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Música

Falamos Com o Stuart Murdoch, do Belle & Sebastian, Sobre Sua Estreia Como Diretor Cinematográfico em ‘God Help the Girl’

God Help the Girl é altamente contagiante e sincero até doer o coração. Fãs da banda não se desapontarão com a tentativa de Murdoch de traduzir o valioso panorama de sua imaginação em um musical.

Se você anda pensando no que Stuart Murdoch tem feito desde que sua banda, Belle & Sebastian, lançou seu disco de 2010 Write About Love, a resposta é: escrevendo e dirigindo um musical baseado nos personagens e canções do disco de 2009 God Help the Girl. O filme homônimo é uma viagem pelo mundo de melancolia melódica de Eve, uma ninfa da moda que foge de um hospital em busca de músicos de mentalidade parecida com a sua em Glasgow, enredo este que compartilha sutis similaridades com a própria história do Belle & Sebastian. (A banda começou quando, após anos sofrendo com fibromialgia, Murdoch despontou pro mundo com um punhado de canções e um desejo de encontrar gente com quem poderia trabalhar para lhes conferir vida.)

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Mesmo em seu nível mais básico – a manifestação cinemática de uma música de Belle & Sebastian – God Help the Girl é altamente contagiante e sincero até doer o coração. Fãs da banda não se desapontarão com a tentativa de Murdoch de traduzir o valioso panorama de sua imaginação em um musical. God Help the Girl já foi exibido em Nova York e Los Angeles hoje e estreia no resto dos EUA na sexta (12), então batemos um papo com Stuart sobre como foi sair do microfone rumo à cadeira de diretor.

Você sempre deixou bem claro seu gosto por livros, discos e filmes, mas acho que nunca te vi falar sobre musicais. Você é fã deste formato?
Stuart: Eu não diria que sou um puta fã, mas há momentos em que aquilo que não é familiar pode te inspirar. Já tinha estas músicas comigo e a personagem surgiu, e pensei “uau, isso poderia ser um filme, poderia ser um musical”. Não gosto tanto assim de musicais, então talvez devesse fazer um musical que eu gostasse. A arrogância de ser um artista sempre serve de força motriz para você fazer algo.

Você se esforçou bastante para capturar a beleza de Glasgow e apresentar esta cidade ao mundo, e ainda assim os personagens nem são escoceses – dois são ingleses e um australiano. Por que você não escreveu a história em torno de um trio de escoceses?
Tem gente na Escócia me perguntando o mesmo, alguns muito putos. O fato é que nós tentamos. Originalmente os personagens eram escoceses, mas Cassie era uma outsider – ela seria inglesa ou norte-americana. Passamos por um longo casting, tendo observado cerca de 2000 pessoas só para o papel [principal] de Eve. Todas tinham que cantar. Então garanto que não foi por falta de esforço.

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Exaurimos todas as nossas opções e acabamos ficando com quem pensamos serem as melhores opções, e é melhor escolher os melhores ao invés de tentar enfiar os sapatos de Cinderela nos pés das irmãs feias. Tem que ser alguém que se encaixe. Ainda mais pra mim, estreante na direção, tinha que encontrar gente que se desse bem e parecesse natural. E foi o que conseguimos.

Muitas vezes quando alguém tenta ilustrar a cultura alternativa em um musical acaba dando errado, porque musicais são exagerados, enquanto a cultura indie é bem mais sutil. Isso passou pela sua cabeça ao levar adiante este projeto?
Bem, não me interessa fazer um estardalhaço, ainda mais neste tópico, porque é algo pequeno. É sobre três pessoas que se encontram em Glasgow em um longo verão quente. Elas não fazem parte do mundo adulto. São só três jovens que gostam de falar de coisas do cotidiano. Esse filme não vai parar na Broadway – foi feito para ser um filme. E, com um filme, pode-se capturar todo esse intimismo.

O filme explora ideias a respeito de carreirismo e auto-expressão; um dos personagens, James, não se importa com ganhar dinheiro ou se qualquer um ouve suas músicas, contanto que ele componha o que quer. Essa parece ser a história do Belle & Sebastian: fazer música para si, em primeiro lugar. Tem sido difícil manter-se assim diante do sucesso?
Provavelmente é meio o oposto no mundo de Belle & Sebastian. O que James dizia ali provavelmente ecoava o sentimento que eu tive em 1993, 1994. Aquele foi o período em que tentei me inspirar e descrever aquele mundo insular. Nossa banda deixou isso pra trás, de certa forma. Agora somos quase que o oposto: temos um público, um público ótimo. E a ideia é escrever canções para animar todo o público, músicas que todos irão adorar. Então sou diferente do James, nesse sentido.

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Pessoalmente, quando penso nas minhas bandas favoritas – de Beatles a Abba a Hall & Oates – tudo era música que todo mundo amava. Não é nada que o Belle & Sebastian tenha abordado. Nossa trajetória é mais próxima da do Velvet Underground. Logo, é bem interessante pra gente tentar fazer música popular.

Mas, ao contrário do Velvet Underground, vocês obtiveram sucesso no seu tempo. E também tem aquilo comentado logo no início do filme, quando dois DJs conversam sobre Ian Curtis e Nick Drake e como a inacessibilidade é importante para a criação de um mito. E este parece ser o caminho que o Belle & Sebastian escolheu nos anos 1990, com pouquíssimas entrevistas e fotos. Desde que isso mudou você acha que de alguma forma isso alterou a trajetória da banda em relação ao público?

Claro. Apesar de que uma banda nunca se percebe; você a faz. O que fazemos mesmo é seguir em frente. Isso não pode ser exagerado: nos anos 90 o correto era nos mantermos insulares, porque éramos apaixonados por nossa música, e se entrássemos no mundo da mídia, isso nos destruiria. Éramos delicados. Não éramos como a molecada no filme.

As pessoas mudam se lhes é permitido mudar. Nós mudamos. Tornamo-nos uma banda que queria sair e fazer shows, porque tínhamos um público – e também porque era a coisa certa a se fazer. Abraçamos o mundo. Gosto de conversar com as pessoas – gosto de conversar com você agora. Eu não sou mais tão tímido assim, o que é uma mudança em relação aos anos anteriores. E isso é aceitável. Ninguém tem um plano de 20 anos – talvez Stalin, mas não sou ele.

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Por falar em timidez, nos últimos dez anos surgiram um monte de filmes indie sobre amadurecimento com trilhas sonoras espertinhas e jovens que mantem sua identidade diante de um mundo adulto sem graça. Foi uma preocupação sua ao fazer este filme que ele acabaria sendo jogado na mesma vala que Juno ou Hora de Voltar? Você fez algo para diferenciá-lo deste gênero?

Bom, nós fizemos um musical. A música é a coluna vertebral do filme. O roteiro é escrito em torno das músicas, e não acho que existam muitos filmes indies deprêzinhos que sejam feitos assim. Não é Hora de Voltar, nem As Vantagens de Ser Invisível, apesar de que devo mencionar que gostei de todos esses filmes. Não sei se algum deles em especial influenciou God Help the Girl. Tenho trabalhado em cima deste projeto desde que Hora de Voltar foi lançado. É algo verdadeiro com o qual convivi por oito ou nove anos. Todos os dias eu acordava e sentia Eve cantando e os personagens junto de mim. Essa é a influência, é isso que te move a criar algo.

Com o sucesso desses filmes e a popularização de bandas como a sua, as pessoas não parecem mais tão cínicas quanto à estética e aos ideais românticos como nos anos 90, quando você era um músico em processo de amadurecimento assim como os personagens de God Help the Girl. Você sente que este filme está sendo apresentado em um mundo diferente do daquela época?

Novamente, isso é mais uma questão de percepção. Devo admitir que não estava na lista de coisas das quais penso. É difícil pra mim pensar se as pessoas são mais gentis com este tipo de coisa agora, eu não sei. Eu sempre fui… precioso assim, por falta de termo melhor, porque é como sou mesmo.

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Eu era uma pessoa problemática, precisava que a arte refletisse meus sentimentos. Sempre fiz isso. Por muitos anos fui criticado [por isso]. É mais aceitável agora? Não tenho tanta certeza. O importante é criar algo sincero. Quando você faz algo sincero e mantém-se firme, eventualmente as pessoas entenderão aquilo.

Neste filme, [o produtor] Barry Mendel (Os Excêntricos Tenembaums, O Sexto Sentido) e eu fomos criticados pelo roteiro, pela delicadeza do filme, sobre filmar em Glasgow, tudo. Mas dissemos para nós mesmos: “Queremos fazer algo que ainda gostaremos daqui a dez anos”. E se tiver um grupo de pessoas que ainda goste do filme em dez anos, então cumprimos nosso papel. Não estamos tentando capturar o Zeitgeist. Não estamos atrás de apelo popular. Estávamos tentando fazer algo sincero. Estávamos tentando fazer algo bonito.

God Help the Girl está em exibição nos Estados Unidos, mas também está disponível no iTunes e Vimeo On Demand.

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