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Música

Exclusivo: Comemore o Dia do Ufomammut com Um Combo de Música Inédita e Entrevista

Esse feriado aí acaba de ser inventado aqui no Brasil porque, bem, esses italianos merecem

Foto por Andrea Tomas Prato. O senso comum nunca foi aplicável aos italianos do Ufomammut. Uma vez alojados no rótulo de psicodélicos do metal, avançaram sobre as já conhecidas bases vertiginosas e mergulharam numa espiral de efeitos abrasivos e massa ruidosa, numa espécie de abordagem hiperbólica do doom, mas com tintas improváveis. Na discografia, o inesperado veio com um álbum de uma faixa só (Eve), um disco dividido em dois (Oro: Opus Primum e Oro: Opus Alter), e na escolha por personagens relegados a uma imagem injusta, como Eva e a deusa Hécate, que dá nome ao próximo disco do trio. Ecate tem lançamento marcado para dia 30 de março pela Neurot Recordings.

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No novo álbum, Poia, Vita e Urlo extraem das profundezas de Sarezzano um paisagismo sonoro de arestas não aparadas e galhos tão pontiagudos que dificilmente um merthiolate aliviaria os ferimentos, como a gente já tinha percebido em “Temple”. O trio acaba de liberar uma faixa nova e exclusiva pro Noisey, "Plouton", e você pode apreciá-la junto com nossa entrevista exclusiva. É isso. Feliz dia de lançamento do Ufomammut.

Noisey: Vocês já gravaram um disco falando sobre Eva, depois um álbum duplo sobre ouro e agora é a vez de Ecate. Qual o conceito por trás dele?
Poia: Ecate foi batizado em homenagem à deusa do período pré-helenístico Hécate, uma controversa e simbólica figura feminina da Antiguidade que atravessou diferentes mitologias, desde os primórdios da civilização até o passar dos séculos.
Urlo: Se você pensar nos nossos discos anteriores, você descobrirá que eles estão conectados por uma ideia de rebelião e de conhecimento. Todos os nossos álbuns de alguma forma são dedicados a personagens negativos que foram transformados em vilões após séculos de ignorância…

Em “Temple”, que parece ser uma canção que foge das músicas anteriores, os vocais aparecem mais incisivos e com mais clareza. Essa será uma característica de Ecate? Quais outras diferenças podemos esperar neste novo disco?
Poia: Tentamos focar mais no desenvolvimento das canções, equilibrando o aumento do peso com uma abordagem diferente da psicodelia. Neste disco, trabalhamos mais no som e nas camadas de efeitos, com o objetivo de nos aproximarmos mais do que o Ufomammut deve soar, evitando as partes desnecessárias e tentando ser mais concisos e diretos.
Vita: Ecate é mais pesado que nossos discos anteriores e um pouco mais elaborado. É também um pouco mais metal.
Urlo: Ecate é um disco diferente dos anteriores, e como o Vita disse, é mais elaborado. As estruturas criam vários caminhos que levam a campos diferentes do som, e exploramos isso de uma maneira nova. Quanto aos vocais, trabalhei muito neles para esse disco. Fico feliz que você tenha percebido.

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Os discos de vocês têm um conceito lírico e musical muito bem definido, sem contar que cada elemento das canções é carregado de grandiosidade. Vocês usam o perfeccionismo e muita atenção aos detalhes para chegar à ousadia que ouvimos nos álbuns? Ou preferem conduzir tudo com leveza, deixando rolar?
Vita: Sempre prestamos muita atenção ao som. Com frequência mudamos batidas ou riffs durante as gravações.
Urlo: O som é fundamental pra gente desde que montamos a banda. Ao longo do caminho, conhecemos algumas pessoas que nos ajudaram muito nesse processo.
Poia: Cuidamos de cada aspecto do Ufomammut. Certamente somos perfeccionistas… mas ao nosso modo. Não queremos ser assépticos, ou precisamente científicos… Deixamos várias coisas indizíveis e espaços abertos para mudanças, improvisação, feedbacks mais livres e ruído branco.
Urlo: Somos os perfeccionistas mais bagunçados que conheço, mas certamente somos bem focados no que desejamos ter como resultado final. Gostamos de criar nossa música de uma maneira em que ela é considerada finalizada apenas quando o disco está pronto, mas, ao mesmo tempo, está aberta a variações quando formos executá-la ao vivo.

Vocês costumam se inspirar em sons cotidianos para criar os riffs? Algo inusitado já serviu de inspiração?
Poia: Não temos regras e há muitas influências vindo da música e de formas artísticas, como filmes, livros…
Vita: Eu geralmente não tenho nenhuma inspiração específica quando estamos compondo um novo disco. Ao mesmo tempo, nos inspiramos em nossas vidas e no que está ao nosso redor.
Urlo: Claro que há várias inspirações nos levando até aqui. Quando é a hora de compor, eu começo a pensar em uma ideia a ser desenvolvida, mas a música sempre vem antes.

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Suas músicas chegam a se inspirar no que ocorre de cotidiano na Itália? Ou preferem focar em temas atemporais?
Poia: Moramos na Itália e é claro que isso afeta nossa música, talvez de uma maneira mais inconsciente ou como uma simples reação. Não sei dizer. Mas não estamos interessados em retratar momentos específicos dentro de um tempo definido. Preferimos mirar o céu e a mente humana.
Urlo: Há algumas poucas referências à vida cotidiana e ao que ocorre ao nosso redor, mas nada específico. Tentamos pensar em toda a história, na mente humana e no que há dentro e em torno dela.

Para que o Ecate soasse tão abrasivo quanto o que ouvimos em “Temple”, como vocês gravararam o som e as camadas dos instrumentos?
Poia: Graças ao nosso engenheiro de som favorito, Lorenzo [Stecconi], experimentos posicionamentos diferentes nos microfones e um uso diferente do espaço e do eco no local onde gravamos a bateria e os demais instrumentos, além de cabines e efeitos diversos.
Urlo: Gravamos no mesmo local em que fizemos o ORO, mas como o Poia mesmo disse, usamos equipamentos diferentes e também outra maneira de gravar os instrumentos, principalmente a guitarra e o baixo. Também dedicamos uma atenção extra à mixagem com o Lorenzo. Tenho a impressão de que vocês se beneficiam bastante com as experimentações nas jams. Rola isso mesmo? E vocês ensaiam com regularidade?
Vita: O segredo são essas jams. A gente só consegue compor quando está junto, na nossa sala de ensaio. Improvisamos e, quando aparecem bons riffs e batidas, trabalhamos em cima deles. É difícil planejarmos alguma coisa.
Poia: Claro que ensaiar é fundamental no processo de composição, no sentido de construir uma ideia sobre um riff esqueletado…e também é muito importante gravar nossos ensaios. Assim podemos saber se algo que foi legal de tocar ficará bom na hora de ouvir. No caso do Ecate, fizemos uma gravação de pré-produção antes de entrar no estúdio, colocando depois as linhas de vocal e os sintetizadores.

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Vocês têm escutado alguma novidade no metal? Que discos recomendariam?
Poia: Há boas bandas na cena metal de hoje, mas nada que tenha me arrebatado, na verdade. Acabo tendo que voltar ao Blackjazz, do Shining… e, olha, é um disco de 2010.
Urlo: Pra mim vale isso também… há várias bandas legais por aí, mas não sei, não escuto só metal e as coisas mais interessantes que têm aparecido recentemente são de outro gênero. Pelo menos pra mim.

O que tem de legal na cena italiana hoje? Poderiam mencionar algumas bandas?
Vita: A Itália tem algumas bandas, mas não é uma cena muito forte. Ainda que tenhamos tido boas bandas de rock, especialmente nos anos 70, ainda não existe uma cultura roqueira aqui. A maioria das pessoas ouve pop lixo ou música italiana ruim.
Poia: Nós conhecemos pessoalmente algumas bandas boas, interessantes e originais aqui na Itália, como The Secret, Ovo, Lento, Zu, Morkobot, I.C.O… e muitas outras. Estou falando do underground, e não de um movimento organizado de pessoas que gostam de ditar como deve ser a real atitude na música.
Urlo: Tivemos boas bandas no passado e ainda temos algumas. Basta sair da superfície e chegar ao underground, onde você encontra The Secret, Zolle, Lento, Zu, Ovo, ICO, Morkobot, Runi e muitas outras que vão aparecer.

Vocês escutam alguma banda brasileira? O metal é bem prestigiado por aqui…
Poia: O Sepultura é o principal nome pra mim, que conheço e da qual gosto. Principalmente o disco Roots.
Vita: Gosto de Sepultura, Ratos de Porão, Soulfly, Angra
Uro: Vixe… Sepultura é o nome…

Li que vocês são admiradores de capas de discos, o que explica a importância que dão à arte visual do Ufomammut. Quais são as capas favoritas de vocês?
Poia: Todas as capas do Ufomammut são pensadas como um conceito gráfico… Adoro desenhar e gosto de capas ilustradas como a do In the Court of the Crimson King, do King Crimson, ou do In Search of Space, do Hawkwind. Mas, pessoalmente, se eu tiver de escolher, seria o trabalho fotográfico do Storm Thorgerson. Minha capa preferida de todos os tempos é a do Atom Earth Mother, do Pink Floyd.
Urlo: Poia e eu, juntamento com a Lu (responsável pelas artes visuais do Ufomammut), formamos o coletivo Malleus, dedicado a fazer pôsteres. Começamos a banda e os pôsteres ao mesmo tempo, ambos crescerm juntos e sempre cuidamos da parte visual do Ufomammut. Você pode conhecer nosso trabalho no malleusdelic.com. Pessoalmente, adoro Jack Kirby e Mike Mignola, desenhos aparentemente simples e vários artistas ao redor do mundo. Quanto às capas dos discos, adoro a do Meddle, do Pink Floyd. Já existe pré-venda do Ecate e ele pode adquirido aqui e aqui. Aproveite pra seguir o Ufomammut nas redes:
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