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Ex-advogada do Public Enemy Fala Sobre Apropriação Cultural e Direitos Autorais no Hip-Hop

Perguntamos às várias original gangsters sobre gênero dentro do hip-hop e sobre o impacto do chamado “branqueamento” da cultura. Tivemos uma conversa bastante prática com uma das advogadas de entretenimento mais bem-sucedidas do jogo, Lisa Davis.

Fotos por Lexi Tannenholtz. 

É fácil esquecer que antes de Iggy Azalea e Nicki Minaj, antes de Missy Elliott, Eve e Gangsta Boo, mesmo antes de Lil Kim definir um certo tipo de ícone norte-americano, MCs pioneiras lutaram para transformar o hip-hop num espaço seguro, um lugar em que as mulheres podiam se expressar através das rimas.

Em agosto, essas fundadoras do hip-hop e algumas das mulheres mais importantes da indústria do rap norte-americana se reuniram em Martha's Vineyard para o segundo festival de música e para a conferência Summer Madness. Com uma lista de convidadas que ia de Monie Love a MC Lyte, o festival deste ano tinha o tema "Ladies First". De acordo com Sean Porter, um dos cofundadores, o evento era uma "celebração de todos os gêneros de música negra", visando a "contrabalancear toda a imagem negativa que cerca as mulheres afro-americanas".

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E essa parecia ser a hora certa. Há muito que celebrar e discutir quando se trata de mulheres, raça e hip-hop hoje. Em 2013, nenhum artista desse estilo musical ficou no topo das 100 Mais da Billboard; enquanto isso, um músico branco como Macklemore levava o Grammy de Melhor Disco de Rap. Neste ano, as revistas dizem que a novata australiana Iggy Azalea, com sua interpretação do sotaque negro do sul dos Estados Unidos, "comanda o hip-hop". Isso sem mencionar que as muitas bundas brancas na capa da Sports Illustrated são celebradas enquanto uma capa de disco com uma única bunda preta numa tanga rosa causa polêmica e escândalo na internet.

Então, em vez de parabenizar todo mundo na conferência por quão incrível o hip-hop é hoje, achei melhor perguntar às várias original gangsters presentes sobre gênero dentro do estilo musical e sobre o impacto do chamado "branqueamento" da cultura. Tivemos uma conversa bastante prática com uma das advogadas de entretenimento mais bem-sucedidas do jogo, Lisa Davis.

Durante o painel de discussão, você disse que era "como uma advogada de direitos civis para negros com dinheiro". O que você quis dizer?
Lisa Davis: Eu quis dizer que um dos únicos meios que os afro-americanos têm de criar riqueza neste país é através da criação de propriedade intelectual: música, prosa, arte, coisas dessa natureza. Historicamente, particularmente na indústria do entretenimento, há muitas pessoas que não entendem o lado do negócio disso e, portanto, não maximizam sua riqueza. Seja Jimi Hendrix e a maneira como um empresário roubou todos os direitos dele ou músicos de jazz que não estão no controle de seus direitos autorais. Sinto que essa é uma área em que os negros criam riqueza. Se eles forem bem aconselhados e protegidos, talvez eles consigam ficar com isso.

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Apropriação cultural tem um papel nisso?
Ah, bom, [risos] esse é um tópico muito discutido hoje. Isso é algo que eu, como advogada, infelizmente não posso proteger - isso é uma dinâmica cultural que tem a ver com uma dinâmica maior na nossa sociedade. Então como isso funciona? Vou dar um exemplo. Vamos dizer que você é uma compositora afro-americana que escreveu algumas das primeiras músicas de rock. Se você não controlasse a publicação, quando Pat Boone fez um cover e Elvis fez um cover, você não ganharia nada com isso. No entanto, se você retém seus direitos autorais, mesmo que fique puto com a apropriação cultural, pelo menos você está lucrando com isso. A verdade é que a versão do Elvis de alguma coisa sempre vai vender mais. Como com "Hound Dog", que [Big Mama Thornton] cantou primeiro. Se tivesse retido os direitos de publicação, ela pelo menos teria continuado a lucrar com isso.

Agora, como o rock e o blues antes, muitos artistas brancos estão fazendo hip-hop.
Iggy Azalea.

Exatamente. Como você explica o potencial monetário perdido de jovens artistas negros se outros parecem ter mais apelo comercial?
Não sei como explicar isso. Primeiro: no hip-hop, os maiores consumidores são garotos suburbanos que não são afro-americanos. Então se há uma artista que não é afro-americana, eles não vão dizer: "Isso não é o que a gente gosta". Eles vão dizer: "Bom, isso é divertido e interessante também". Acho que isso é mais sobre proteger colegas. É uma época desafiadora para todo mundo no negócio musical, como você já deve ter ouvido. Mas devemos proteger as pessoas juntamente com o progresso, para que elas possam ficar com o dinheiro que está sendo feito.

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Como é possível proteger artistas do hip-hop?
Gêneros musicais não são propriedade, diferentemente de composições individuais, então não há um mecanismo legal para proteger artistas do rap de apropriação cultural. A melhor "proteção" é ter uma diversidade de vozes críticas opinando sobre o mérito artístico da música e também garantir que aqueles que têm acesso a uma plataforma estejam bem informados sobre a história do gênero que estão criticando. Em termos da habilidade de artistas de hip-hop de proteger seus recursos, isso é ter o time certo de advogados, gerentes e empresários, pessoas que vão tomar ações afirmativas para salvaguardar esses recursos e maximizar seu potencial de lucro. Ninguém é imune às forças do mercado, então não há como "garantir" uma certa quantidade de lucro. Mas gerentes criativos podem procurar maneiras de expandir as oportunidades comerciais, e advogados e empresários experientes vão procurar ajudar o artista a ficar com esse dinheiro. Um exemplo, mas não do hip-hop, é o fundo de capital de risco criado por Carmelo Anthony para investir em start-ups de tecnologia.

Como advogada de entretenimento, você notou uma falta de oportunidades para artistas afro-americanos?
Acho que isso é sempre um problema. Trabalho com cinema, televisão e teatro e acho que sempre há menos oportunidade para pessoas de cor do que para outros artistas. Esse tem sido sempre o caso. Mas de alguma maneira, porque a demografia do país está mudando, isso pode mudar para melhor.

Como?
Acho que há um pequeno poder de compra entre negros e latinos, particularmente se você combinar negros, latinos e asiáticos, que são cerca de 35, 37% da população. Quando pensamos em menores de 18 anos, isso é uma minoria maioria. O que atrair esse grupo pode potencialmente vender, tipo, platina dupla.

Você trabalhou com artistas como Public Enemy e Redman. Eles chegaram a falar com você sobre isso?
Ah, sim, meu Deus. Mas isso foi há muito tempo, então não vou comentar. Acho que é como você disse: não um artista em particular, mas lendo o Black Twitter você vê como nos sentimos sobre apropriação cultural. As pessoas colocam tudo lá.

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Tradução: Marina Schnoor