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Música

“Eu Temia Que Chegássemos Tarde Demais”: Death From Above 1979 Comenta Seu Hiato de Uma Década

Em 2004, o Death From Above era uma alternativa poderosa. Eles uniam indie, metal e hardcore, abrindo pro Anthrax em uma semana e pro Yeah Yeah Yeahs na outra. Eles eram foda assim.

Conheci o Death From Above 1979 em uma cozinha suburbana em West Norwood, Zona Sul de Londres. O ano era 2004 e uma fã de 15 anos tinha ganhado um concurso em que a banda tocaria em sua casa, e eu estava cobrindo a história pro NME. “Crianças têm um certo cheiro”, lembra Sebastien Grainger ao falar de suas memórias daquela tarde, uma década depois, no ambiente um tanto mais profissional do ACE Hotel de Londres. “Tipo geleia e fezes”. Jesse Keeler acena com a cabeça, concordando: “Você meio que sente a puberdade delas acontecendo”.

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A dupla não parecia com nada da época – não só porque eles estavam bem na minha frente descarregando seus equipamentos em uma casa com uma cerquinha e quintal com grama bem aparada. Num mar de indie de delineador e rock molecote de calça apertada – que contava com bandas como The Libertines, Kaiser Chiefs, The Killers e Kings Of Leon inspirando uma geração de garotos com cabelos esvoaçantes –, o Death From Above era uma alternativa poderosa. Eles uniam indie, metal e hardcore, abrindo pro Anthrax em uma semana e pro Yeah Yeah Yeahs na outra. Eles me fizeram querer usar mais couro, entrar em moshs e dar uma marretada no saco do Brandon Flowers. Eles eram foda assim.

Após os pais da menina terem servido chá com leite e biscoitos à banda, a dupla mandou ver um set brutal bem no meio da sala: um pastiche bizarro dos shows que haviam feito em casas de Toronto quando eram integrantes da cena punk canadense. Além de faixas de seu recém-lançado début, You’re A Woman, I’m a Machine, o show teve um cover de “Mother”, do Danzig, que fez a dezena de fãs presentes pular, alegremente, do sofá para umas almofadas florais. “Costumávamos tocar aquilo quando achávamos que não tínhamos músicas o suficiente”, disse Jesse a respeito de sua versão estarrecedora do clássico metálico de 1988. “Agora temos músicas demais”, afirmou Sebastien.

O que é meio que uma estimativa exagerada. A dupla – Sebastien nos vocais rosnados e na bateria ruidosa, Jesse no baixo feroz – lançou seu primeiro disco em 2004, se separou em 2006, voltou para uma série de shows em 2011, e se separou de novo. E é só agora, dez anos depois, que eles finalmente estão prontos para lançar algo novo – seu segundo disco, The Physical World, saiu na terça (9).

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Mesmo assim, devemos ficar gratos por existir um segundo disco. É difícil determinar a razão exata da separação da banda – o mais próximo que chegamos hoje é um superficial “não nos gostamos por um bom tempo” de Sebastien – mas foi ele quem rompeu o silêncio de cinco anos. “Nunca que seria por minha causa!” diz o relaxado Jesse, com um riso de menino, pedindo então um croissant. “Estava pensando na minha carreira, dizendo ‘o que quero fazer depois?’”, explica Sebastien enquanto bota pra dentro o que Jesse chama de “café da manhã de tira” – café e uma rosquinha – com uma tatuagem forte de um 1979 em seu braço.

“Eu tinha estas músicas solo e todas tinham um som meio de sintetizador, meio pop, e então comecei a compor uns rocks e pensei ‘porra, rock é um lance divertido!’”. Sebastien, que havia lançado composições solo com sua banda The Mountains, decidiu entrar de cabeça no lado mais rock’n’roll de suas composições. “Dei uma olhada na minha carteira e achei um cupom que dizia ‘uma banda de rock grátis – Death From Above’. Não tinha data de validade ali. E eu pensei, porra, tenho esse cupom, já tenho uma banda, acho que ainda tá valendo!”. Animado com a ideia de que fazer um disco punk fodão ainda era possível, ele começou a planejar tudo. Bem, quase tudo. “Eu estava ali no meio do processo [de voltar com o DFA] – daí me liguei ‘com quem tenho que falar? Porra, o outro cara da banda!’”. Ao lembrar-se da peça primordial do quebra-cabeça, ele então enviou um e-mail a Jesse, que respondeu no outro dia, dizendo que topava dar uma chance.

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O show de volta do Death From Above 1979 rolou no SXSW em 2011, no quintal do Beauty Bar de Austin, por trás de uma frágil cerca de arame a qual a banda tinha a impressão de que seria derrubada assim que eles começassem a tocar. Não foi. “Tinha 20 vezes mais gente fora do que dentro”, lembra Jesse, sem contar a polícia. “Dava pra ouvir os tasers e a galera gritando de dor. Os tiras perderam a noção”. A banda então foi acusada de incitar um tumulto. O próximo show agendado era no Coachella, na Califórnia, mas dali em diante seu futuro seria um mistério tanto para os fãs quanto para a própria banda. “No começo a gente pensava em fazer dez shows e era isso”, explica Sebastien. “Então começamos a expandir essa ideia – contanto que nos sentíssemos bem tocando as coisas antigas e as pessoas continuassem empolgadas, ficaríamos felizes em tocar – mas chegamos a um ponto em que não sabíamos se deveríamos continuar tocando sem nenhuma música nova”.

A decisão de gravar um segundo disco foi tomada há mais de três anos e meio atrás. Por que demorou tanto pra sair? “Não nos custou mais três anos!”, ri Jesse. “A indústria musical e toda a papelada e burocracia que estão além da gente que demoraram”. Eles começaram a trabalhar em The Physical World em 2012 e finalizaram o disco em outubro de 2013, gravando demos no Canadá e o álbum em si em Los Angeles, depois que Sebastien se mudou para lá. Antes de entrar em estúdio, os rapazes testaram as novas músicas ao vivo na surdina, algo que presume-se ser quase impossível na era do iPhone e do upload instantâneo.

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“A porção leste do Canadá ouviu quase todo esse disco em 2012”, revela Jesse. “Mas antes de sairmos tocando ele por aí, Sebastien fez um post muito simpático em nosso site falando ‘vamos tocar algumas músicas novas pra vocês e elas ainda não estão prontas, então se vocês puderem só curtir as músicas, não mexam nos seus celulares nem nada’ – e a galera respeitou”. Os fãs acabaram se policiando com relação aos pedidos da banda, pedindo uns aos outros que removessem os vídeos se caíssem na internet. “Só teve uma ocasião em que tivemos que falar algo, quando os fãs viram um outro moleque filmando e o atacaram”, adiciona Jesse, desajeitadamente. “Vocês não precisam machucá-lo!”

A dupla tratou sua volta à composição com um misto de empolgação e medo. “Eu temia que chegássemos tarde demais”, admite Sebastien. “Observávamos o panorama musical e pensávamos ‘não tá rolando nada nem próximo do que fazemos. Tudo que rola agora é tão presunçoso e esquisito’”. Quando eles estavam se preparando para lançar o segundo disco no cenário contemporâneo musical, este estava dominado pela nova escola de folk de grupos como Mumford & Sons e Bon Iver, dance music para universitários e Drake, Frank Ocean, e The Weeknd e outros tipos de soul hipster. “R’n’B, música com banjos, EDM, EDM com banjos”, segue Sebastien. “Vimos aquilo e pensamos ‘alguém vai chegar e encostar nessa bolha e ela vai estourar. Precisamos ser essa banda!’”.

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A sonoridade do Death From Above 1979 sempre deixou estupefato quem tentava categorizá-los. De disco-metal à grind-punk, a banda teve gêneros criados inteiramente em sua honra. “Achamos que a forma como nossa banda é descrita é hilariantemente imprecisa”, lamenta Jesse. “As pessoas tentam mesmo nos arrumar um rótulo. Nos vemos como uma banda punk, o que significa um monte de coisa desde Dead Kennedys a Pop Group e Wire e tudo que é tipo de som diferente”. Qual o pior rótulo que já ouviram? “Disco-metal acho que é o mais estúpido – essas coisas não podem coexistir”. As influências da banda vão bem além do punk, porém. Em certo momento de nossa entrevista, Sebastien acaba falando sobre um conhecido seu que fez um disco conceitual inteiro sobre DSTs. Sebastien tomou ácido com ele certa vez, enquanto se vestia de drag e tocava música obscura de Quebec e a trilha sonora de Jesus Cristo Superstar simultaneamente. “Fui musicalmente molestado naquela noite por um maníaco – mas o modelo desta banda na minha mente é aquele disco”, diz. Jesse sorri, elogiando o frontman do Deep Purple que cantava a parte de Jesus no disco original. “Ian Gillan, bicho!”, comemora.

The Physical World faz barulho com uma fúria modorrenta, com sons como “Right On Frankestein” tecendo os matadores riffs de baixo de Jesse junto ao ataque percussivo de Sebastien, tudo com letras dignas dos Ramones (“I don’t wanna die /But I wanna be buried /Meet me at the gates at cemetery” [Não quero morrer /Mas quero ser enterrado /Me encontre nos portões do cemitério]).Surge uma pegada Black Sabbath, cortesia de “Virgins”, enquanto “White Is Red” é cool como Springsteen tocando um cover do Suicide e “Gemini” é uma canção de amor diferente de qualquer outra. Neste disco a banda trabalhou com o gabaritado produtor Dave Sardy (Noel Gallagher, Nine Inch Nails, The Walkmen), algo que parece ter sido ponto de discordância entre a dupla.

“Quando estamos ali com um terceiro produtor, lhes damos o benefício da dúvida, mas não confiamos nele 100%, porque também somos produtores”, afirma Jesse, que também faz música eletrônica sob a alcunha MSTRKRFT. “Muitas vezes eu e Sebastien vamos contra o produtor”. Sardy fez o que podia, tentando fazê-los retornar às raízes de hardcore rudimentar da década anterior, fazendo com que Sebastien reescrevesse e cantasse seus trechos diversas vezes. “Ele queria me derrubar”, explica Sebastien. “Dizia: ‘Esqueça que você aprendeu a cantar desde que entrou nessa banda e vá fundo nas raízes disso’” O resultado são 11 faixas que têm o mesmo tom ameaçador de You’re A Woman, I’m A Machine, mas com um quê de pop nas melodias. Nos resta então uma pergunta – teremos que esperar mais 10 anos pelo próximo álbum? “Você vai gostar mais se pensar que não vai rolar mais nada!”, diz Jesse, com uma piscadela.

Siga Leonie no Twitter: @LeonieMayCooper