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Música

Entrevistando o Exhale the Chaos Metalpunk: Wojczech

A banda alemã é referência do grindcore e não está nem aí para cena nenhuma.

Uma coisa que eu sempre achei peculiar na postura dos integrantes do Wojczech é que, apesar de se tratar de uma banda que é referência no grindcore, eles nunca foram aqueles sujeitos que ficam discorrendo sobre políticas de cena. E é muito louco isso, porque tem uma galera do punk e do metal que gosta de pensar que o grupo levanta uma suposta bandeira de um tal movimento. Mas para os componentes dessa máquina de barulho alemã, que faz uma sonzeira de sangrar o nariz desde 1995, o compromisso de representar qualquer conjunto de valores seria puro escoamento de energia. Tendo pela primeira vez a oportunidade de conversar com os caras para uma matéria, não pude evitar esse assunto.

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E a letra dada é essa mesmo: "Eu nunca me interessei verdadeiramente pela cena punk/hardcore/grind como um movimento em si. Na real só quero fazer música, me expressar dizendo o que penso e sinto", justifica o baterista Heinrich von Blastbeat na entrevista concedida. Eles nunca vão trair sua cartilha de valores, porque não estão nem aí pra isso em primeira instância. As letras abordam as costumeiras críticas à sociedade, porém de um ponto de vista bem pessoal, metafórico e poético. A única "cena" que reconhecem é formada pelos amigos que fizeram nesses anos todos viajando de um continente a outro no esquema DIY.

O mais recente disco de estúdio dos caras é de 2010, o Pulsus Letalis. Fora isso, esses insanos egressos da cidade de Rostock já soltaram uma porção de splits e EPs, um long-play em 2009 contendo seleção de faixas ao vivo chamado Grinding The Ruins, e um álbum oficial que é de 2005, o espetacular Sedimente. Banda familiar do público brasileiro, o Wojczech sempre incluiu o país em suas rotas pela America Latina. Dessa vez, eles vêm com sangue nos olhos para quebrar tudo no festival Exhale The Chaos Metalpunk, que acontece sábado agora, 8, em Belo Horizonte.

Ao lado dos comparsas do Who's My Savyour, o Wojczech é headliner do evento que rola no palco do Espaço Rock Bar. O festival também tem as bandas brasileiras Meant to Suffer, Gracias Por Nada, Metraliator e Mortifer Rage, todas apropriadamente desvendadas pelo Noisey numa série de entrevistas publicadas ao longo do mês de janeiro.

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Noisey: Bem, a última notícia que tive de vocês foi quando lançaram o LP Pulsus Letalis, mas isso já vai fazer quatro anos. A vinda de vocês ao Brasil vai dar ênfase neste trabalho mais recente?
Heinrich von Blastbeat: Na real a gente não é o tipo de banda que faz shows para promover esse ou aquele trabalho. Apenas tocamos as músicas mais cabíveis a cada apresentação, daí entram algumas faixas do Pulsus Letalis no apanhado.

Legal. Mas vai ser um show nostálgico ou vocês estão trazendo músicas inéditas pra mostrar ao público daqui?
Sim, nós vamos mostrar ao público brasileiro algumas músicas que não foram lançadas e que temos tocado nos shows já há dois anos. Mas também estamos levando músicas totalmente inéditas, que acabamos de compor. Será uma apresentação que vai varrer toda a nossa carreira, com sons antigos e novos.

Vocês já são uma banda querida pelos punks e headbangers daqui, até pelo tempo de estrada e a boa repercussão em passagens anteriores pelo país. Me recordo de ter visto vocês tocarem com No Violence e Cut Your Har, acho que em 1999…
Depois de todos esses anos na estrada, fizemos um monte de amigos no Brasil, como o Borella, Alex, Mendigo, Mané, Ricardo, Marcelo, Joquinha e outros. E isso é o que conta. Não me importa muito se somos populares na cena. Já faz um tempão que estivemos no Brasil pela última vez e imagino que a cena tenha mudado bastante. Somos o tipo de banda que não se vincula muito a cenários ou movimentos, o que nos importa é a amizade que desenvolvemos com as pessoas, uma amizade baseada em interesses comuns por músicas e ideias. Estamos muito felizes de poder voltar. Isso jamais seria possível sem o suporte de nossos amigos brasileiros. Cenas e estilos, preferências musicais, pontos de vista políticos, essas coisas podem mudar, mas os verdadeiros amigos permanecem amigos, mesmo que todo mundo fique gordo, velho, grisalho e tenha uma prole gigante pra cuidar ou mesmo se divorciado.

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Na ativa desde 1995, imagino que vocês já tenham visto de tudo rolar no meio punk/hardcore/grind, uma vez que cultivam ouvintes de diferentes gerações. Qual a avaliação que você faz do movimento hoje, olhando em retrospecto?
Não sei se tenho base para responder esta pergunta porque eu nunca me interessei verdadeiramente pela cena punk/hardcore/grind como um movimento em si. Na real só quero fazer música, me expressar dizendo o que penso e sinto nas composições que escrevemos e interpretamos juntos. Acho super importante quando as pessoas de outras cidades e países dão suporte e organizam shows onde somos chamados pra tocar. É uma galera com interesses e ideias similares às nossas, então acaba sendo natural que esse povo todo saia junto e estabeleça uma rede de comunicação própria. Acho que a tão chamada "cena" mudou demais dos anos 90 para cá, devido às reviravoltas sociais mesmo. Você pode interpretar o que estou tentando dizer da maneira que preferir: do meu ponto de vista, punk, hardcore, grindcore, metal ou qualquer outro movimento/cena são produtos de um contexto social, uma resposta ao sistema corrente que depende de como as pessoas interagem com ele.

Suas letras transmitem mensagens que me parecem carregadas de um tipo de niilismo misantropo. Isso é porque vocês perderam toda a fé na humanidade?
Nossas letras brotam de percepções pessoais sobre as coisas que rondam nossas mentes. Pontos de vista particulares concebidos num invólucro de metáforas, ilustrações abstratas dos sentimentos mais intrínsecos. A maioria delas traz mensagens niilistas, sarcásticas, às vezes até auto-reflexões irônicas. Algumas são descrições pessimistas da percepção que temos das coisas que acontecem à nossa volta. Eu gosto da ideia de letras que não são muito pontuais, para que elas possam dar margem a interpretações livres nos ouvintes na hora que eles vão ler. As vejo mais como poemas. Nossas músicas são construções que conjugam arranjos de guitarra, timbres de contrabaixo, linhas de bateria e palavras conduzidas pela voz. As letras são apenas um quebra-cabeça dessas construções, uma fração da nossa expressão pessoal, daquilo que pensamos e sentimos. Tentamos conceber tudo com unicidade, combinando sonoridade e letras, uma coisa completa a outra.

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Atualmente, vocês parecem mais preocupados com a execução técnica das músicas, tanto nos shows como nas gravações. Como foi que rolou esse processo de começar a buscar a sonoridade mais coesa possível?
Pois é, hoje em dia nós prestamos mais atenção a essas coisas. Eu pessoalmente posso dizer que ando me preocupando muito mais com os aspectos técnicos de gravação e execução musical. Talvez até além da conta. Quero atingir a perfeição. Meu desejo é criar uma simbiose igualitária entre aptidão e paixão. Penso que de nada adianta um sujeito ser exímio em seu instrumento se ele não souber veicular sua paixão nos acordes. Por outro lado, as habilidades técnicas são uma ótima ferramenta para garantir às ideias/pensamentos/sentimentos que você quer expressar o esqueleto desejado. Para nós é importante que seja possível reproduzir ao vivo aquilo que concebemos em estúdio. Eu diria que somos uma banda que quer ser indefectível nas apresentações ao vivo. Quando vamos gravar, tentamos conservar essa energia das músicas da mesma forma que elas soam no palco. Às vezes incrementamos com camadas extras de guitarras ou efeitos para temperar o som. Durante as gravações, todos temos voz ativa em definir o formato do som. É um processo por meio do qual todos nós transportamos ideias, imaginação, visões, concepções.

Pegando esse gancho, e considerando que o Wojczech já passou por diferentes formações em sua trajetória, você diria que o presente line-up comporta a melhor química que já tiveram?
Nunca paramos pra divagar sobre isso. Pelo menos eu, não. A formação está perfeita. Somos melhores amigos. Todos os ex-integrantes também são camaradas e eu diria que a banda sempre teve uma formação legal, salvas as peculiaridades de cada fase. Eu diria que atualmente a formação é frutífera porque ela está sólida já há um tempo considerável e conseguimos formar um time. Nos conhecemos há tanto tempo que isso configura uma ótima qualidade no palco, especialmente a interação entre o Andy (baixo), o Danilo (vocal) e o Stephan (guitarra). Depois de todos esses anos eles já se acostumaram com meus ocasionais apagões de memória durante os shows.

Vocês são aquele tipo de banda que se divide em funções para fazer as coisas rolarem? Digo, um cara que faz as artes, outro que cuida de marcar shows, outro que é o cabeça das composições…
Quando digo que todos na banda são uma peça fundamental no processo de composição, estou querendo dizer que todos também escrevemos as letras juntos. Geralmente o Andy ou o Stephan aparecem com um riff. Daí eu tento elaborar um compasso na bateria. Vamos lapidando as bases e a linha de batera até ficar legal pra todo mundo. Então o Danilo e o Andy desenvolvem o vocal. O Stephan e eu fazemos sugestões às linhas de voz. Com relação a essa parte de marcar shows, quem assume a maior responsabilidade é o Stephan (menos no caso dessa turnê brasileira, que ficou nas mãos do Borella e do Alex), às vezes com uma força do Andy, que é o cara que agiliza as turnês que fazemos de van. O Danilo estampa as camisetas e eu faço o design gráfico das roupas e layouts em geral.

Exhale the Chaos Metalpunk
8 de fevereiro @ Espaço Rock Bar
Rua Hoffman, 723, Barreiro, Belo Horizonte/MG
R$ 15, a partir das 16h.