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Música

O Jerry A Garante que o Novo Disco do Poison Idea É Tão Pesado Quanto os Anteriores

‘Confuse & Conquer’ é o primeiro álbum desde 2006 e uma superação diante da morte do guitarrista “Pig Champion”.

O Poison Idea "só" influenciou o Nirvana, o Pantera e o Napalm Death. Foto por Jason Charles. Eu cresci em Portland, Oregon, por mais que tenha sido deportado pelo FBI por Depravação-Corrupção Moral e envolvimento no crime organizado. Sou um rapaz bonzinho agora, aqui na Escócia ordenhando vacas, transando com ovelhas e atrás desse tal de haggis, um prato tradicional daqui. Ok, falando sério: ou todos nós implodimos, acabamos enterrados ou cremados ou então fazemos os ajustes necessários em nossas vidas para ao menos aumentar as chances de vivermos mais. Somos meio que uma espécie em extinção. A galera com quem cresci em Portland buscava se expressar por meio da música punk, com gente como Jerry A (Poison Idea), Kat Bjelland (Babes in Toyland), Mish Bondage (Sado Nation) e Courtney Love (Hole) no meio.

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Lembro de Jerry A como um cara articulado que gostava de subir no palco e pirar, com bebedeira e risadas. Quando estive sob custódia do FBI, o Poison Idea estava em turnê. O ano era 1988, e Jerry me disse que “Quando voltamos pra Portland, você e o Eugene (meu irmão) tinham sumido, e nunca mais vi vocês!”. Então, pra mim foi meio tocante falar com Jerry no telefone depois de 27 anos, por conta dessa entrevista para o Noisey. Depois de colocarmos a conversa em dia, começamos a falar sobre o Poison Idea, sobre o disco Confuse & Conquer (que será lançado no dia 7 de abril, pela Southern Lord), e foi isso aqui que rolou.

Ouça a nova música do Poison Idea, "Rhythms of Insanity", que vai estar no novo álbum da banda, Confuse and Conquer, a ser lançado em 7 de abril.

Noisey: Como que dá pra de repente se ver sem o grande cara que foi Tom “Pig Champion” e seguir relevante mesmo sem ele?Jerry A: Bem, você sabe, o Tom era meu grande amigo e era foda tocar sem ele, mas de verdade, quem conhecia mesmo Tom, tipo, umas cinco pessoas, sabia que ele NÃO curtia tocar ao vivo. Era doloroso, ele era muito grande. Era complicado pra ele subir no palco, ficar de pé por mais do que alguns minutos, as pessoas viam o cara na rua e achavam que era personagem de algum desenho animado. Zoavam o Tom, tentavam subir nas costas dele, cutucavam, e ele só queria ficar na dele. Ele NÃO gostava disso. Tocamos na Alemanha e pediram bis, daí saímos do palco e não deixaram o Pig sair. A galera o segurava. Formavam um paredão e o botavam de volta no palco, e ele ali, se sentindo mal fisicamente, e o viam sofrendo, adoravam isso. Ele detestava. Uma vez ele me disse: “Nunca mais vou fazer turnês. Não vou tocar. Vou no estúdio e gravo, componho, mas não vou mais fazer shows – não é pra mim essa merda!”. Teve uma época em que ele até curtia, e perguntavam “Como que o Black Flag toca em tudo que é canto, dirigindo pra tudo que é lugar, e a gente fica aqui?”. Mesmo naquela época, tínhamos tudo de que precisávamos aqui em Portland. Ficávamos em casa, bebíamos umas cervejas, ouvíamos nossos discos, rolavam festas e a gente se divertia. Pra que ir pra outro lugar, se tínhamos tudo aqui? Então é foda, agora que Tom se foi, mas se ele estivesse vivo, não estaríamos tocando, ele não estaria fazendo isso. De certa forma, estamos fazendo uma espécie de tributo a ele, seguindo em frente e espalhando nossa história.

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Não é segredo pra ninguém que vocês passaram por um monte de coisa, como todo mundo. Você poderia me falar um pouco sobre isso e o que te mantém aqui?
Quando começamos, curtíamos tocar e farrear, e as farras acabaram virando prioridade, mais que qualquer outra coisa. Não éramos músicos que gostavam de chapar, mas acabamos virando gente que precisava ficar transtornada e que, por acaso, tocava algo. Era essa nossa prioridade. Acordávamos pela manhã, e a primeira coisa que fazíamos era pirar! Digo, éramos viciados mesmo. Foi assim até a morte de Tom, o que contribuiu para a forma como ele morreu. Quando as pessoas falam “Ah, foi falência renal e tal”, eu estava lá naquela manhã pra levar o cara pra tomar metadona. Eu só pensava “Pô, o Tom morreu e eu sou o próximo, e o Steve tá na cadeia por ter assaltado uma farmácia, o Charlie tá quase morto e rachou a cabeça, e a porra do olho dele saltou da órbita”. Estávamos todos nesse mesmo caminho. Tinha gente que curtia demais o Poison Idea e nós não estávamos sendo justos com essas pessoas. Esse aí da direita sou eu novinho em Portland. Foto de arquivo pessoal.

Então entre Last Will & Testament (2006), o último disco de Tom, e Confuse & Conquer (2015), quanto essas experiências que você acaba de descrever influenciaram o novo material do Poison Idea?
Bom, a gente sempre escreveu sobre o que conhecia, seja viver como uns loucos do skate, ou adultos fodidos que vão parar na cadeia, ou sermos uns velhos arruinados. É isso que sabemos e é disso que falamos. O mundo não precisa de outra canção sobre meu amigo que está morrendo, tem coisa demais, muito “Me and Bobby McGee” rolando mundo afora, que porra é essa? Sempre tentamos ser engraçados. Nós não somos os Bad Seeds. Não é a porra do Murder Ballads, somos o Poison Idea. Sempre tivemos meio que uma temática e sempre tentamos colocar humor nela, na música também. Por mais que ela sempre tenha sido obscura, sempre nos divertimos. Entre o último disco e este, há temas que vêm e vão, e escrevemos sobre eles. Eu poderia compor um disco sobre o que rolou ontem, tudo que rolou numa porra de um dia. Você acorda e tem merda acontecendo em toda parte.

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Quanto das guitarrinhas típicas de Eric Olson estão em Confuse & Conquer?
Nós cinco compomos este disco. Estou muito feliz com todos que participaram. Finalmente consegui uma banda em que todo mundo queria fazer isso. Queriam fazer tours, um disco novo, compor e tocar. Eric está lá dando tudo o que pode e é ótimo tê-lo de volta. Tom foi meio que nosso primeiro guitarrista de verdade depois de Christ Tense, aí veio o Eric e ele foi meio que nosso primeiro guitarrista-solo. O Poison Idea nunca teve dois guitarristas. Então ele foi o primeiro, segundo guitarrista, e depois disso tivemos que manter duas guitarras. Ele sabe o que faz e eu não estou me gabando, mas eu meio que boto o Eric contra todo mundo e ele é humildão com isso. Ele sabe que merda está fazendo e é ótimo. Ele está lá e isso me faz feliz. Confuse & Conquer muito provavelmente vai chegar rasgando nossos ouvidos.

Qual seria sua reação diante de gente na imprensa que poderia dizer que esta é uma versão light do Poison Idea?
Isso é loucura, nunca pensaria nisso! Se alguém o fizer é porque nunca ouviu a gente antes. É tão pesado quanto qualquer outra coisa que já tocamos. Tem coisas em Feel the Darkness, Feel the Vacant, War All the Time, We Must Burn muito mais leves que neste disco. Se alguém falar merda, acho que é por preguiça mesmo.

Quando penso em niilismo e gente niilista, penso em você, Tom e meu eu no passado. E você ainda está aqui. Você se sente como um Gandalf punk depois de ter caído no pau com o Balrog?
Me sinto como um Gandalf punk depois de ter brigado com… Eu chamo minha cueca de Ball-rag [Trapo de saco]. Então sou um velho lutando pra colocar as cuecas de manhã, e assim me sinto como um Gandalf punk depois do esforço com a minha Ball-rag [Gargalhadas]. Se for muito rápido, eu caio! O tempo não espera por ninguém!

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Quais são suas lembranças do começo dos anos 80 em Portland e quanto a cena mudou?
Era como um playground pra todos nós. A cidade fica em um porto que vivia à base de escravos e da venda de gente, drogas e coisas. Então a cidade toda, da prefeitura à polícia, é totalmente corrupta. Nos anos 80 eles tinham coisas mais importantes pra fazer do que se preocupar com uns moleques como a gente, pichando e fazendo merda por aí. Então era meio que um libera-geral muito louco – prédios abandonados, West Hills… Havia lugares que dava pra ir e acampar numa boa, tipo a Disney. Era lindo, saca? As bandas vinham de lugares como Vancouver, até Seattle e San Francisco. Portland ficava no meio do caminho. Sempre tinha banda parando aqui, e a gente fazia uma festinha, era tranquilo, era ótimo. Agora todo mundo sabe que é assim e fodeu. San Francisco é muito cara, Seattle é uma merda e chove sempre, mas Portland é o meio-termo. É tipo aqueles três ursos da historinha lá; “este mingau está muito quente, este mingau está muito frio, este mingau está perfeito!”. Agora não está tudo perfeito, o mingau tá quente demais! O trânsito continua a mesma coisa, as ruas, os quarteirões. Agora o lugar cresce pra cima, porque não tem mais espaço. Tá parecendo Tóquio, de repente. Você vai num show e não tem ninguém de Portland lá. Tem um monte de expatriado de trocentos lugares. Não é mais a mesma coisa mesmo. Todos nos conhecíamos, tipo, intimamente. Talvez a gente não se desse bem com todo mundo, mas conhecíamos. Isso foi o que mudou. Chama-se progresso. As pessoas destroem tudo, sempre o fizeram e sempre o farão.

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O que você gostaria de falar a respeito de seu novo disco, Confuse & Conquer?
Ele é coerente. Se você estivesse lendo um livro, ele seria o próximo capítulo, sem nada de estranho ou novo, e não uma versão nova de um disco velho. Estou bem feliz com ele. Se a banda acabasse amanhã, estaria feliz em deixá-lo como legado. Ao contrário do que rolou com Last Will and Testament, o último disco com Pig, que era uma demo e lançaram de qualquer jeito, e eu pensei tipo “Esse é o nosso último disco?”, é uma porra duma demo. Então a gente correu com esse aqui e estou muito feliz com ele. Quer saber? Estamos compondo coisas novas – terminamos uma música ontem de noite.

Foi massa falar contigo…

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A pré-compra de Confuse & Conquer está disponível aqui e aqui.

Tradução: Thiago “Índio” Silva