FYI.

This story is over 5 years old.

Música

Vida Após o Sonho: Como a Grimes Quase Enjoou de Si Mesma

Uma entrevista com Claire Boucher sobre sua evolução, 'Art Angels', e como a mídia quase acabou com a Grimes.
Emma Garland
London, GB

"Ai, meu Deus", grita Claire Boucher, de 27 anos, se inclinando para a frente em uma poltrona chique no canto de um quarto de hotel em Londres, gesticulando com mãos que ela mesma tatuou. Está me contando sobre um de seus podcasts favoritos, Hardcore History, de Dan Carlin, que reexamina eventos históricos através de lentes pouco convencionais – questionando se Alexandre, o Grande, foi tão do mal quanto Hitler, ou a que preço o Khan dos mongóis deu início à era moderna. "Acabei de ouvir um que era sobre as guerras púnicas, que são as do Aníbal – tipo, basicamente o império tunisiano invadindo toda a Itália, em, tipo, sei lá que ano foi… Eu devia saber, já que é tipo um podcast de oito horas, mas enfim, são paradas maneiríssimas desse tipo. Antes desse, ouvi um outro que era sobre a Segunda Guerra Mundial pela perspectiva dos soviéticos. Desculpa, não preciso entrar em tangentes sobre isso…"

Publicidade

Grimes tem estado meio que numa tangente nos últimos três anos. Embora seu novo disco Art Angels seja seu primeiro projeto completo nesse período, ela tem sido uma onipresença constante desde que seu primeiro disco de grande sucesso, Visions, de 2012, a colocou no mapa como uma das novas vozes mais interessantes da cultura pop. No ano passado, em especial, ela saiu em capas de revistas e foi citada em notícias com uma frequência feroz, e isso causou certos problemas.

Nos perfis que escrevem sobre ela, Grimes costuma ser erroneamente representada como a típica menina sonhadora feliz cabeça-de-vento – uma "ex-bailarina gótica" que pronuncia "fairy" com um "e" no final, que provavelmente tinha uma conta no DeviantArt, e que tem os cabelos pintados de três cores diferentes a cada vez que você olha; uma ávida usuária do Tumblr que rebloga gifs da Sailor Moon e se veste como se estivesse prestes a ir num show do My Chemical Romance em Westeros; uma excêntrica cuja música existe nos reinos etéreos do "bonitinho" e do "esquisitinho".

No caso de Boucher, porém, as aparências e a realidade conhecidamente não são a mesma coisa. Olhe um pouco mais de perto, e verá que o estado de devaneio em que o mundo de Grimes parece existir tem suas raízes em realidades duras que a própria Boucher enfrenta com valentia e uma mente analítica. No mínimo, é mais exato descrevê-la como visionária do que como sonhadora.

Publicidade

Não surpreende, portanto, que ela pareça gastar grande parte do seu tempo corrigindo o que os outros dizem a respeito dela, quer seja sobre o infame "disco jogado no lixo" – o que foi por muitos erroneamente noticiado como resultado das reações negativas dos fãs ao single "Go", de 2014, um batidão EDM que ela lançou sozinha depois que a música foi rejeitada por Rihanna – ou o papel que as anfetaminas tiveram na gravação do primeiro disco de sucesso, Visions, de 2012 ("Não quero que isso faça parte da minha narrativa, e, se tiver que ser assim, quero que as pessoas saibam que eu odeio drogas pesadas", ela escreveu em um post no Tumblr que depois viria a deletar). Talvez por conta disso, ela consegue prever com rapidez as possíveis manchetes e equilibrar as coisas. Então, depois de derramar-se sobre o podcast de Dan Carlin, ela imediatamente tenta balancear o saldo:

"Eu não, tipo, amo a violência, não fico tipo 'ahhh, violência!'", diz, emulando com a voz um entusiasmo sedento de sangue, "é só um lado muito interessante da humanidade. A maior parte do tempo você fica tipo 'uau, essa guerra simplesmente não precisava acontecer', mas é nas guerras também que muitas tecnologias são criadas, e a humanidade muitas vezes dá grandes saltos para a frente durante as guerras ou logo depois delas."

A batalha mais dura enfrentada por Boucher é a luta para ser reconhecida tanto como a pop star que se apresenta para o público, Grimes, e a mentora técnica nos bastidores. Uma arquiteta das próprias ilusões, ela sempre lidou com todos os aspectos da produção e da apresentação de seus trabalhos, e o mesmo vale para o novo disco. Boucher compôs, produziu, tocou e foi a engenheira de tudo, desenhou a arte de capa – e Art Angels também dá as boas-vindas a um novo leque de instrumentos no repertório de Grimes, incluindo guitarra, teclado, bateria, ukelele e violino, que ela aprendeu a tocar para o disco, e mais 14 ilustrações especiais acompanhando cada uma das faixas.

Publicidade

O controle criativo que ela tem sobre a própria arte é não só impressionante a ponto de fazer você se sentir um lixo por nem sequer conseguir comparecer a todas as aulas de flauta doce da quinta série – é também essencial para ela, e não só num nível criativo. "É horrível pra caralho entrar numa sala e todo mundo lá achar que você não faz a própria arte", diz ela. "Uma parte muito grande da minha autoestima vem do fato de que fico pensando tipo 'sim, sou eu que faço as minhas paradas', e o fato dos outros me perguntarem quase que diariamente quem fez as minhas paradas – isso, tipo, é emocionalmente muito difícil. Você começa a duvidar de si mesma."

Depois de trabalhar por muito tempo no mato da Colúmbia Britânica, esforçando-se para compor o disco que seguiria Visions, um sucesso de crítica e público, Boucher mudou-se para Los Angeles com o namorado, James Brooks (cujos projetos musicais incluem Elite Gymnastics e Default Genders). "Com certeza tem vezes em que você fica pensando: 'eu não sou uma máquina'", explica ela, "fiquei tipo, foda-se, vamos nos mudar para LA e curtir a vida com os nossos amigos." No fim, Art Angels acabou sendo feito em um ano, na casa que os dois têm na cidade. "Só passei uma semana tipo indo a restaurantes e à praia, e aí ficou muito mais fácil trabalhar depois disso, depois que eu meio que tinha desistido de, tipo…"

Nesse ponto, ela começa e abandona várias frases sobre a arte ser talvez "mais fácil" ou "certa" quando é algo que vem sem muito esforço, mas hesita em comprometer-se com o sentimento. Em vez disso, faz uma comparação com sua própria ética de trabalho em termos mais amplos. "Durante a maior parte da minha vida, e na maioria das coisas que fiz na minha vida, é tipo, se você fizer esse tanto de esforço, conseguirá o resultado, e a arte não funciona desse jeito. Então fico muito frustrada. Fico tipo, mas já estou aqui faz tipo um ano! Por quê?!"

Publicidade

A frustração que Boucher sente pelo fato de que uma boa ética de trabalho nem sempre significa arte de qualidade tem raízes profundas – seu background é constituído por uma família hiper-atlética, que conta com campeões olímpicos de patinação no gelo em sua árvore genealógica, anos de treinamento pré-profissional em balé, ensino básico num colégio católico. Ela se mudou de Vancouver para Montreal em 2006 para frequentar a McGill University, pensando em se especializar em astrofísica, mas acabou fazendo uma graduação dupla em filosofia e neurociência, cursando optativas de línguas russas e eletroacústica (quando o projeto Grimes começou a decolar, contudo, ela acabou sendo expulsa por faltar a quase um ano inteiro de aulas). Esse puxa-empurra entre ter sido educada em um ambiente definido pela disciplina em conjunto com uma tendência natural ao escapismo funciona como a espinha dorsal de sua identidade artística: o primeiro fator impulsionando sua estrita ética de trabalho e o segundo caracterizando o surrealismo de sua obra. Grande parte dos conteúdos líricos e visuais aparentemente bizarros ou aleatórios da música de Grimes são resultado de como Boucher processa as influências recebidas em sua vida pessoal e familiar. Sentimentos de medo e ansiedade estão várias vezes presentes em suas músicas, camuflados pela natureza brincalhona e convidativa do prato em que essas emoções nos são servidas. "Oblivion", por exemplo – uma música atordoante que não falha em pôr todo mundo para dançar, e que atualmente conta com mais de 19 milhões de visualizações no YouTube – é baseada em sua própria experiência de sofrer agressão sexual, e de sentir medo dos homens por causa disso.

Publicidade

Quanto ao catolicismo, Boucher encontrou nele seus próprios buracos quando ainda bem nova ("E isso me rendeu muitos problemas também. Eu estava tipo na segunda ou terceira série, falando tipo: 'como é que você sabe?' e eles dizendo "NÃO PERGUNTE ISSO" e eu: "Ah… isso parece meio… abusivo."), mas as imagens religiosas continuam a ser um fato presente em suas obras. "Meus primeiros contatos com a música, e até mesmo meus primeiros contatos com as artes visuais, se deram na igreja. Tipo, quando eu estava no jardim de infância e na pré-escola, a igreja que eu frequentava tinha uma porrada de imagens aterrorizantes pra caralho tipo de Cristo sendo torturado e de demônios matando pessoas. Era muito perturbador quando criança sentir que alguém pode ler os seus pensamentos."

Art Angels é um óbvio trocadilho com a palavra arcanjo (um anjo de alta patente), embora o título talvez seja onde os paralelos acabem. "Não sou uma pessoa religiosa hoje em dia, mas a religião me conforta muito", diz ela. "A iconografia e as imagens religiosas são meio que o meu lugar de paz." Da mesma forma, sua família está mais tranquila nesse campo atualmente. "Minha mãe acabou se casando com um sujeito hinduísta, e sim, eles ficaram bem tranquilões, o que acho meio chocante, mas também maravilhoso. Acho que eu talvez tenha tipo destruído neles a…". Ela abandona a frase mais uma vez, rindo.

Como eu e muitas outras adolescentes, Boucher passou também por uma fase Wicca mais ou menos na época da sétima série. Pergunto se ela tem alguma teoria sobre por que isso acontece. "Acho que é só o oposto do patriarcado cristão branco. Especialmente se você foi criada em um ambiente distintamente religioso, é meio que a antítese daquilo com que você cresceu. Acho que é meio sedutora essa ideia de que você talvez seja mais poderosa do que um homem adulto." Ela logo começa a me contar sobre As Brumas de Avalon, um romance de Marion Zimmer Bradley que relata as lendas arturianas pela perspectiva das personagens femininas, como Morgana Le Fay e Guinevere. Mas todas as indicações de Boucher vêm com algum tipo de advertência, e nesse caso não faltou: "A mulher que escreveu acabou estuprando a própria filha ou coisa assim, parada insana mesmo [a filha de Marion Zimmer Bradley a acusou de abuso infantil em 2014, quinze anos após a morte da mãe], então não quero que você procure no Google e fique tipo: 'ah, a Claire mandou eu ler isso aqui…' mas ainda assim você deve ler."

Publicidade

Ser Grimes parece uma coisa estressante – ter sempre que se editar enquanto fala, ansiosa para compartilhar aquilo que a apaixona, e ao mesmo tempo estar totalmente conectada ao volátil mundo das críticas online, que pode entender tudo errado. Por muito tempo, ela usou o Tumblr como a principal plataforma para expressar suas opiniões sobre tudo, de bruxaria a sexismo, política, pornografia, o meio ambiente e direitos dos animais. Extraindo um exemplo dos abundantes arquivos, eu menciono a vez que ela fez upload de uma foto de si mesma comendo um pote do sorvete Ben and Jerry’s Scotchy Scotch Scotch (um sabor edição limitada para acompanhar o lançamento de Tudo por um Furo, continuação de O Âncora) com a legenda "folga de um dia do veganismo está rolando a partir de AGORA". Apesar dos melhores esforços e boas intenções, a polícia vegana apareceu para realizar uma revista corporal pesada em Boucher – até a banda DIIV lançou seu petardo no Twitter. Enquanto repasso essa série de eventos lamentáveis, Boucher está rindo. "Estava só tentando ilustrar uma questão", diz ela. "Acho que no veganismo tem muito policiamento do corpo e policiamento da alimentação, e sinto que – especialmente como alguém com uma presença tão grande de mulheres jovens no meu público – só estava tentando falar tipo… Acho que é importante tornar a coisa mais saudável e convidativa do que só ficar falando ‘vai se foder se alguma vez na vida você comeu alguma porra com manteiga em cima!’"

Publicidade

Quando os veículos da mídia começaram a usar seus posts como matéria prima de notícias, o que ela classifica como tirar as suas palavras do contexto, Boucher deletou pencas de posts do Tumblr e ameaçou remover a página inteira. Ela diz que, quando os outros perceberam que ela tinha opiniões, ficaram esperando que soltasse frases citáveis.

"Todo mundo pergunta sempre tipo 'o que você acha do feminismo? o que você acha do feminismo?'", começa ela, " e é tipo, talvez eu não queira falar de feminismo, porra, talvez eu só queira ser uma produtora, porque é tipo, mesmo isso de ser mulher e produtora é tão raro que as pessoas perdem a porra da cabeça. É tipo como se o simples fato de eu existir fosse um ato político, acho, para muita gente. Para mim não é." A respeito de sempre ter seu gênero mencionado, sempre colocarem a palavra "female" na frente da palavra "producer", como se uma coisa tivesse a ver com a outra, ela diz: "É tipo, talvez o motivo de não haver muitas outras pessoas além de homens sentindo que são capazes de produzir seja as pessoas se comportarem como se isso fosse uma porra de uma bomba explodindo."

Para Boucher, Grimes começou tanto como um alter ego escapista quanto como uma persona com a qual se apresentar para o público, mas a criação de Visions a impeliu a passar de um escudo de fantasia para uma realidade, uma realidade que ficou carregada de expectativas. Agora, Grimes é um de vários alter egos que aparecem em Art Angels. Outros incluem uma "maluca estilo Harley Quinn", que, explica ela, é essencialmente sua persona de palco, e uma vampira mafiosa, que surgiu de uma obsessão por O Poderoso Chefão. "Vi o filme várias vezes, mas não conseguia parar de pensar que tipo, a única coisa que deixaria esse filme melhor seria se eles fossem vampiros", diz Boucher, antes de entrar em detalhes sobre como ela queria fazer um filme sobre vampiros mafiosos abrangendo milhares de anos de história, antes de admitir que ela "provavelmente só conseguiria dinheiro da 4AD para fazer um clipe com esse tema."

Publicidade

"É só que a mídia meio que arruinou a Grimes", ela diz quando perguntada sobre seus motivos para introduzir novas personagens. "A Grimes que existe na mídia é muito irreconhecível para mim, então foi uma coisa mais livre escrever a partir de outra perspectiva." Qual é a diferença entre a interpretação que ela faz de Grimes e a representação de Grimes na mídia? "É só que a Grimes não é uma babaca."

Chegando três anos depois de Visions, e um ano depois do anúncio de que ela jogara no lixo um disco inteiro porque "estava uma merda", esse novo disco não só teve que estar à altura do anterior como também ser bom o suficiente para justificar o descarte de um álbum totalmente inédito. Mas Visions foi feito em circunstâncias extremas. Uma combinação entre estar em uma situação ruim com seus empresários e literalmente precisar soltar o disco para conseguir pagar o aluguel significou que a coisa toda foi composta e gravada em uma solitária maratona de três semanas. Sem essas pressões, Art Angels foi um projeto muito diferente. "Nunca foi meu plano fazer coisa alguma. Acho que essa é uma das coisas que percebi sobre mim mesma", diz ela. "Tem um monte de músicas em que eu passava tipo dois dias trabalhando, tipo essa música é 'para o disco', e aí eu ficava tipo, beleza, agora só vou fazer um pouco de música para mim mesma, e eu acabava fazendo em metade do tempo, mas eram sempre essas que eu acabava colocando no disco."

Contudo, Boucher é uma perfeccionista, e afirma que recomeçar do zero valeu a pena. Quando soltou "SCREAM" – com a participação da rapper taiwanesa Aristophanes, e a primeira faixa produzida por Grimes em que ela não é a vocalista principal (aqui, sua presença é sentida nos gritos metálicos belamente aterrorizantes por trás dos compassos de Aristophanes) – ela encorajou as pessoas a ouvirem a faixa "num bom aparelho, ou seja, não em alto-falantes de notebook", porque "foi exaustivo aperfeiçoar o baixo". É nesse campo – o trabalho técnico que entra na produção das músicas de Grimes, e sobre qual parcela desse trabalho ela tem autoria – que Boucher é mais comumente, e de maneira mais crucial, subestimada. "Houve um momento no ano passado em que eu fiquei tipo, talvez eu seja uma merda mesmo, talvez todo mundo pergunte quem vai fazer o meu disco só porque não sou boa o bastante para o trabalho", diz ela, enfatizando a palavra "merda" como se estivesse há eras presa atrás de seus dentes. "Isso começa a afetar a sua cabeça. Acho que uma coisa que a sociedade precisa trabalhar mais como um todo é entender que as mulheres podem usar a tecnologia e que isso não é esquisito."

Do tempo que passamos juntas em uma sala, conversando, posso contar para você que Claire Boucher é alguém que fica mais animada quando está discutindo algo que a apaixona. Ela solta os “porras” com mais frequência quando está falando de algum assunto que considera frustrante, e começa suas respostas com "sim e não…", num esforço de garantir que, seja lá a quem couber o trabalho de ouvir, essa pessoa não se apegue a um só um lado e ignore o outro. Posso contar que ela odeia "num grau extremo" ir ao médico, e lê muita não-ficção sobre a Mongólia medieval, o que ela admite com cautela antes de decidir que é algo constrangedor e troca para coisas mais "descoladas" (nesse caso, a autobiografia de Ronda Rousey). Para além disso, é difícil dizer. Mas, com uma artista como Boucher, a diversão está menos em poder dizer "sim, agora eu saquei", e mais em abrir mão da necessidade de definições. E, em vez disso, submergir completamente na improvável combinação de influência e imaginação que compõem parte dos seus mundos, partes que eles escolheram disponibilizar para você. Alguma ambição não-realizada para Art Angels? "Tinha tanta coisa que eu queria fazer nesse disco que não consegui", ela diz. "Acabei não fazendo nenhum tipo de reggaeton celta ou nada nesse estilo. Mas tem os próximos discos ainda, acho."

Em princípio, o mundo de Grimes não é diferente do mundo de Alice no País das Maravilhas, de Lewis Carroll – que é tanto uma sátira sobre os avanços da matemática no século XIX quanto uma história infantil sobre a jornada de uma menina em um universo feito sob medida para ser tão frustrante quanto possível. Carroll, tanto um lógico e um matemático quanto um escritor, era fã da boa e velha álgebra e da geometria euclidiana, e a introdução da abstração lhe parecia o resultado de as pessoas dificultarem deliberadamente as coisas; então ele foi e as alfinetou na ficção. A maioria das leituras, contudo, se deleita com o nonsense de uma lagarta que fuma narguilé, e presume que tudo não passa de uma gigantesca metáfora para o uso de drogas. Da mesma forma, a Grimes com quem estou me encontrando hoje está longe de ser o Dom Quixote do pop experimental, como é várias vezes retratada. A natureza brincalhona de sua música, num nível imediato, pode às vezes ocultar a seriedade de fundo, mas Grimes – junto com seus alter egos recém-descobertos – não são apenas fábulas aleatórias saídas da imaginação de Boucher. São personagens de posse cuidadosamente construídas, nas quais ela derramou elementos de biografia, perícia técnica e pesquisa. Art Angels é o palco em que elas dançam com a realidade.

Siga a Emma no Twitter.

Art Angels está à venda agora pela 4AD e a Eerie Organization.