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Música

O Perfeccionismo do Doug Martsch Fica Evidente no Disco Novo do Built to Spill, ‘Untethered Moon’

Durante uma caminhada, o músico falou sobre a troca de integrantes e sobre a surpreendente relação de 20 anos da banda com uma grande gravadora.

Foto por Travis Shinn

Quando chego para visitar o Doug Martsch, numa tarde de sexta do início de março, ele está dando uma caminhada por Boise, Idaho, junto com sua mulher, o que é exatamente o tipo de coisa que se esperaria de Doug Martsch em uma tarde de sexta do início de março. "Eu não sabia dessa entrevista, mas por mim está totalmente de boa", ele diz, elegante, enquanto continua sua caminhada, ficando um pouco para trás da mulher enquanto vou lhe fazendo perguntas irritantes sobre o novo disco do Built to Spill, Untethered Moon, que você pode ouvir na íntegra e por tempo limitado aqui. O disco é o primeiro de Martsch em quase seis anos, e seu primeiro com a cozinha nova em folha. O baixista das antigas, Brett Nelson, e o baterista, Scott Plouf, deixaram a banda em 2012, e foram facilmente substituídos por Jason Albertini e Stephen Gere, que vinham saindo em turnê com a banda como membros da equipe técnica. É como se Doug Martsch se cercasse apenas de potenciais futuros membros do Built to Spill. "É legal ter uns caras mais novos, que talvez tenham um pouco mais de entusiasmo", ele diz sobre a nova formação. O mais novo disco do Built to Spill soa, bem… como um disco do Built to Spill. Há várias faixas pop oníricas, melódicas, de ritmo nem muito lento nem muito rápido, algumas faixas de rock mais rápidas que meditam sobre temas incomuns e quase filosóficos (neste caso, zoológicos e proteínas de DNA), e há, é claro, a obrigatória piração na guitarra de oito minutos de duração. Talvez por Doug Martsch ser ele mesmo o seu crítico mais severo, e por se recusar a concluir alguma coisa a menos que esteja totalmente satisfeito com o resultado (o Built to Spill alguns anos atrás jogou no lixo um disco completamente finalizado), a banda nunca chega a soltar discos abaixo da média, e Untethered Moon é tão bom quanto qualquer coisa que a banda fez na última década. No decorrer dos últimos poucos anos, Martsch falou com regularidade sobre as flutuações entre sentir-se ou não inspirado pela música, mas ele está atualmente em meio a um período de criatividade. Sua banda, com a nova configuração, vai começar a ensaiar as músicas do Untethered Moon (a ser lançado no dia 21 de abril) dentro de algumas semanas, e Martsch já está nos estágios iniciais da composição de novas músicas, para aquele que mais à frente pode virar o próximo disco com a banda, que improvavelmente (e miraculosamente) vem lançando um indie rock sóbrio por uma grande gravadora pelos últimos 20 anos. Doug e eu conversamos sobre alguns dos destaques de seu novo disco, a relação do grupo com a Warner Brothers, e sobre porque ele atualmente (mas não sempre) sente que a música é uma coisa "boa".

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Veja abaixo o novo vídeo do Built to Spill para "Living Zoo".

Noisey: Adorei isso de que os novos membros da banda eram uns caras que antes basicamente iam junto com vocês nas turnês, como roadies.
Doug Martsch: Sim, a coisa toda se deu de um jeito muito legal, foi meio que uma coisa mágica. Não acho que eles chegaram a ser verbalmente convidados para se juntar à banda, eles só meio que sabiam que era isso que iam fazer. Os dois são multi-instrumentistas, então foi só uma questão de decidir quem tocaria o baixo e quem ficaria na bateria. São dois músicos com os quais sempre quis tocar. A transição foi muito legal.

As pessoas ficam surpresas ao ouvir que vocês ainda estão com uma grande gravadora, e na mesma, há 20 anos?
Sim, meio que me surpreende que esteja dando certo há tanto tempo, mas meio que é uma rotina também. Eu não poderia ter imaginado, quando assinamos com a Warner Brothers, que íamos durar tanto tempo. Acho que eu esperava que seria muito mais difícil, ou que seria uma relação mais conturbada. Eles nos deram liberdade para fazer o que quisermos. Ao mesmo tempo, talvez não nos promovam tanto assim. Então, é uma benção e uma maldição ao mesmo tempo. Realmente não sei. Não tenho nenhuma noção da indústria da música. Não sei o que está rolando. Vou tentar dedicar minha atenção à indústria da música nesse próximo ano, e descobrir o que vamos fazer a seguir. Continua abaixo

Por que você quer voltar para a indústria da música esse ano? Só com o novo lançamento e tal?
Vou te dizer, acho que com o próximo disco talvez façamos algo diferente. Esse foi o último disco que estávamos obrigados a fazer com a Warner Brothers. Então talvez pesquisemos por aí, para ver quais são as outras opções.

Sua banda parece ser a exceção à regra: um grupo alternativo que tem uma relação bastante saudável com uma grande gravadora há duas décadas. É meio que o completo oposto de tudo que se esperaria ouvir sobre esse tipo de relacionamento.
Sim, você está certo. E sabe, é também uma dessas coisas em que a situação é complexa. A Warner Brothers é uma empresa, cheia de pessoas diferentes. Não entendo de verdade quais são as verdadeiras motivações da Warner Brothers, ou qual é a verdadeira a atitude da Warner Brothers em relação ao Built to Spill, entende? Só sei que gosto muito das pessoas com quem converso e das pessoas com quem trabalho, e elas realmente são prestativas e legais. É difícil saber qual é a sua verdadeira importância para a corporação como um todo.

Você falou sobre ter dificuldades em compor novas músicas e manter a inspiração com o passar dos anos. É uma coisa que vai e volta? Você disse que está compondo muita coisa nova nesse momento.
Como posso explicar? Às vezes, as outras músicas que ouço não me inspiram muito. Então, minha praia tem sido mais o soul e o reggae, e não ligo muito para grande parte da música moderna. De vez em quando aparece alguma coisa de que eu gosto. Fiquei um pouquinho desiludido com a música, e quando pegava a guitarra e começava a tocar alguma coisa, me parecia um negócio idiota. Pareciam aquelas coisas que as outras pessoas estavam fazendo. Aí eu ouvi o [obscuro grupo canadense de indie-rock] Slam Dunk, e o Slam Dunk era muito bom, tudo deles era simplesmente maravilhoso, e meio que senti que era aquela atitude que eu devia ter em relação à música. A música é uma coisa boa, não ruim. O Slam Dunk me inspirou a pegar no batente. Nesse momento, estou fazendo muita coisa, não sei se são coisas de qualidade, e vou demorar um tempo para selecionar o que houver de melhor e criar mais algumas coisas, mas nesse momento estou numa vibe em que meio que sinto que a música é uma coisa boa.

Tradução: Marcio Stockler