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Música

A Nova Banda do Dennis Lyxzén, do Refused, É um Pós-Punk Cheio de Bonitas Melodias

Entrevistamos o INVSN, conjunto sueco que tem à frente o vocalista Dennis Lyxzén e que acaba de encerrar uma turnê de 110 shows pelo mundo.

O Dennis Lyxzén, conhecido vocalista, dançarino e ideólogo das políticas radicais que resultavam nas letras e na estética dos conjuntos suecos Refused e The (International) Noise Conspiracy, montou uma banda nova. Quer dizer, mais ou menos nova. É o INVSN, que lançou seu autointitulado primeiro álbum em 2013 e acaba de encerrar uma intensa turnê pelo mundo – não o mundo todo, porque, no Brasil, por exemplo, eles nunca pisaram. Diferentemente do Refused, que tinha uma pegada mais metal/hardcore, e do Noise Conspiracy, que seguia uma linha meio garage, o INVSN chega apostando numa climática, melodiosa e envolvente equação new wave/pós-punk. A formação também conta com a Sara Almgren, que fez parte do Noise Conspiracy como tecladista.

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Aqui, a Sara toca baixo e canta, mas ela também foi guitarrista de uma importante banda punk metaleira de meninas nos anos 90, o Doughnuts. O time se completa com Anders Stenberg (guitarra; teclados), Andre Sandström (bateria; percussão), Kajsa Bergsten (guitarra; voz), Christina Karlsson (teclado; voz) e Richard Österman (guitarra; teclado). Aproveitei o respiro do fim da turnê, enquanto o Dennis não embarca novamente numa série de shows de revival do Refused, para bater um papo com ele sobre esse projeto e outras coisas que eu tinha curiosidade. Acompanhe:

Noisey: Vamos começar falando das letras. Qual é a principal diferença entre a temática ou as preocupações do INVSN em relação às suas bandas anteriores, como o Refused, o T(I)NC, Ac4, Lost Patrol…? Qual é o discurso aqui?
Dennis Lyxzén: A maior diferença é que eu começo a escrever a maioria das músicas em sueco. O que significa melodias e estruturas diferentes. Os versos são um pouco mais pessoais, mas ainda seguem lidando com os mesmos tópicos que venho abordando a minha vida inteira. Acho que desde que comecei a escrever em sueco a perspectiva ficou ainda mais próxima de como eu penso e falo. Tenho uma boa fluência em inglês, mas não é o meu idioma original. E também, quando você amadurece, a visão que se tem das coisas muda e descobre-se muitas novas formas de se redigir a mesma mensagem.

O INVSN tem sido frequentemente comparado aos pioneiros do pós-punk. Você sempre gostou desse tipo de música? Quero dizer, quando você se envolveu com a cena hardcore nas antigas, já curtia bandas nessa linha?
Quando eu era um jovem punk, estava mais ligado em bandas que tocassem um hardcore punk rápido e furioso, mas isso foi há muito tempo. Sempre me fascinaram as bandas que buscaram evoluir e que tentaram coisas diferentes, e muitos dos expoentes pós-punk se empenharam bastante para desenvolver as ideias do punk. Para mim, o punk sempre foi sobre ampliar as possibilidades, e não fomentar rígidas estruturas e padrões.

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Depois que o Refused acabou, à exceção do Ac4, que era um hardcore bem selvagem meio old school, seus projetos musicais foram seguindo uma pegada menos agressiva ou pesadas. Percebe-se uma busca por sons mais econômicos na distorção e linhas de vocal mais melodiosas. Por que isso? Você ficou estafado de som barulhento?
Fora o Ac4, tenho me interessado cada vez mais em testar meus limites e experimentar coisas novas na minha vida. O que aprendi na minha juventude punk ainda carrego comigo nos dias de hoje. E, mesmo que a música seja diferente, a energia é na maior parte das vezes a mesma, e a maneira como lidamos com as coisas ainda segue a ética de trabalho do punk. Se você acompanhar a trajetória do INVSN, vai perceber que somos obviamente crias do punk rock/hardcore, ainda que o som tenha outra estética. Curto música agressiva, mas não acho que sejam os gritos e a distorção os fatores que definem esse conceito. Agressão é mais a abordagem que você vai dar para aquilo que está produzindo.

Tomando por base a mensagem contida na letra de “Down in the Shadows”, qual é a melhor e pior parte de passar da adolescência para a fase adulta sendo um cara com ideias revolucionárias numa sociedade ainda toda fodida?
Bem, a melhor parte é que com toda a explosão hardcore em Umeå nos anos 1990 eu pude participar de algo que de fato mudou a produção cultural do nosso país. Daí fica a certeza de que se as pessoas estão unidas, elas são capazes de realizar grandes coisas. Esse é também o aspecto mais frustrante de ficar mais velho. O fato de que você fazia parte de algo que realmente significava tanto para nós e que, conforme as pessoas vão ficando mais velhas, você percebe que para a maioria delas as ideias que compartilhávamos vão perdendo muito do significado.

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Criatividade, música e arte em geral podem funcionar como uma ameaça ao sistema atualmente? Algum dia o rock’n’roll ou o punk realmente significaram uma ameaça?
Se você levar em conta algo como o Pussy Riot, dá pra notar que as ideias ainda podem inspirar mudança ou revolta. E isso é obviamente algo pelo que nós lutamos quando estamos escrevendo. Ideias e a consumação de qualquer tipo de mudança radical concreta. No entanto, a música como um movimento da cultura de massa interpreta o seu papel. O mundo está tão fragmentado e abstrato. Mas existem momentos na história em que a música realmente desafiou as convenções, e isso foi instrumental em muitas mudanças radicais que aconteceram ao longo dos últimos 50 anos.

Como tem sido tocar com a Sara novamente? Vocês não tocavam juntos desde que ela deixou o Noise Conspiracy, não é?
Tem sido fantástico. Ela é uma artista incrível e também minha melhor amiga, então é ótimo poder criar algo em parceria e dividir o palco com ela novamente!

A Suécia é um lugar daora pra viver? Como é a cena daí hoje em dia? As bandas são integradas? Quero dizer, gente como Hellacopters, Satanic Surfers e vocês vieram do mesmo círculo social?
É um lugar ok para se viver. Tem lá os seus pontos negativos, mas ainda somos um país progressista. O problema é que temos enfrentado uma governança de direita nos últimos oito anos, e também tem rolado uma adesão muito grande a um partido racista, que nas eleições mais recentes conseguiu 13% dos votos. Então nós ainda temos coisas para resolver por aqui. Sobre a cena, é um país pequeno, logo, se você toca rock, acaba conhecendo praticamente todo mundo do rolê.

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Você ainda é drug free? Nunca usou drogas, em nenhuma fase da vida? O que pensa do straight edge atualmente?
Não, não sou. Mas não uso drogas e não sou de beber, mas não posso afirmar que sou drug free. Nunca tive interesse nas drogas, ainda não tenho, e não me sinto atraído pela cultura do álcool sob a qual vivemos. Acho zoado que essa tenha se tornado a única forma de interação entre as pessoas. Hoje não fico mais refletindo sobre o straight edge porque como uma subcultura isso não é mais importante na minha vida. Porém, eu ainda valorizo as ideias e tudo aquilo que aprendi. E o SSD ainda mexe comigo!

Sabe, quando eu descobri o Refused e, consequentemente, o Noise Conspiracy, foi na mesma época em que eu estava lendo Guy Debord, Raoul Vaneigem e a história do Provos. Tudo aquilo junto fez muito sentido para mim, afinal eram ideias muito alinhadas com o discurso das suas bandas. No caso do INVSN, existem autores ou referências de qualquer tipo que combinem com o espírito do grupo e que as pessoas possam ir atrás?
Olha, na real eu ainda leio muito dessas mesmas coisas. Porém, levando-se em conta que no INVSN os primeiros rascunhos das letras são feitos em sueco, acabo tirando muita inspiração dos autores locais que abordam as condições de vida que enfrentamos e que fazem isso em nosso idioma. Alguns deles são desconhecidos fora da Suécia, mas vou citar alguns nomes: Sara Lidman, PO Enqvist e Torgny Lindgren. Gosto da ideia de buscar inspiração naquilo que está à minha volta.

Já li umas entrevistas em que te tacham de marxista. O que há de errado com o bakuninismo? Você acha que as teorias anarquistas são mais românticas do que algo em que possamos concretamente apostar?
[Risos] Eu mesmo me intitulo como um pouco de tudo. Geralmente me refiro a Marx como uma espécie de entendimento básico das estruturas econômicas e sociais em que vivemos. No entanto, acho que não há um modelo político que possa ser aplicado a tudo, por isso é preciso ser flexível e manter a mente aberta. Roubar e emprestar-se de qualquer coisa que você ache interessante e desafiadora e não se limitar a esta ou aquela agenda ou ideia.

Pra terminar, quais são os planos do INVSN para 2015? Alguma novidade que possa adiantar aos leitores? Vocês tinham que vir tocar no Brasil, cara, seria muito daora!
Eu ADORARIA conhecer o Brasil. Marca uns shows pra gente aí que aparecemos! 2015 é como um ano de recuperar o fôlego para nós. Ano passado fizemos 110 shows em todo o mundo e agora estamos no processo de compor um novo álbum. Nessa temporada vou fazer uns shows com o Refused e o INVSN vai gravar seu próximo trabalho no final da maratona! Estou me sentindo muito animado com tudo isso.