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Música

Chelsea Wolfe Encontra o Equilíbrio em 'Abyss'

Falamos com a rainha gótica sobre o novo disco, a influência do cinema em suas músicas e seu lugar flexível na cena metal.

Foto por Shaina Hedlund

Chelsea Wolfe se aventurou por uma variedade de estilos nos seus discos anteriores, o que rendeu tentativas bizarras da imprensa de definir o seu som. Mas com o recém-lançado Abyss, seu quinto álbum de estúdio, a cantora parece ter encontrado um equilíbrio que não tinha mostrado até agora.

Misturando guitarras, batidas industriais pesadas e passagens acústicas, entremeados pela voz ora suave, ora hipnotizante da cantora, o novo trabalho é o mais pesado da artista de Los Angeles. Prova disso é que o ouvinte é levado (ou empurrado, talvez) em um mergulho pelo seu “abismo”, seja por meio de sons densos e arrastados, como os três primeiros do disco, ou com músicas mais calmas e bonitas, como "Survive" e "Crazy Love", que nos fazem lembrar do seu ótimo disco acústico Unknown Rooms.

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Não à toa, a cantora revelou que o seu objetivo com Abyss era “fazer um álbum cru, vulnerável, emocional e pesado”, o que conseguiu com maestria e coloca o trabalho, para mim, numa briga feia com o último do Steve Von Till como um dos melhores discos de 2015.

Na entrevista abaixo, também falamos sobre as músicas que mudaram a sua vida, seus diretores de cinema, sua relação com bandas de metal, e como foi cair na estrada com Russian Circles e Queens of the Stone Age, entre outras coisas.

Noisey: Você acabou de lançar seu quinto disco de estúdio, Abyss. Pensa que esse é o seu álbum mais pesado até o momento? Não apenas pelo lado do som, mas também na vibe, já que é um trabalho muito dark, digamos. Especialmente nas três ou quatro primeiras músicas, parece que estou literalmente caindo em um abismo.
Chelsea Wolfe: Penso que é um disco pesado sim. O objetivo era fazer um álbum cru, vulnerável, emocional, pesado. Queria que as músicas se traduzissem bem ao vivo e que pudesse me perder nelas.

Falando nisso. As músicas mais pesadas do disco, em termos de guitarras/distorção, como "Carrion Flowers", "Iron Moon" e "Dragged Out", foram de alguma forma influenciadas pelas turnês e colaborações que você fez recentemente com bandas como Russian Circles? Ou já era algo que você planejava fazer?
Foi algo inspirado por fazer turnês em geral, e especialmente por abrir para ótimas bandas ao vivo como Queens of the Stone Age e Russian Circles. Honestamente, parece que eles se divertem no palco, e queria fazer isso também. Me atormento tanto, e me atormentei para escrever essas músicas, cavando bem fundo em mim mesma, e disso saiu um peso no assunto e no som que preencheu o disco naturalmente.

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Foto por Ben Chisholm

Você dirigiu o vídeo da "Carrion Flowers". Essa foi a sua primeira experiência atrás das câmeras? E como teve a ideia para o clipe?
Dirigi o clipe com meu companheiro de banda Ben Chisholm, que filmou e editou o vídeo. Enquanto escrevia o Abyss, vivia em uma área de montanhas acima de Los Angeles, uma área devastada pela seca e por incêndios da floresta, mas que também é onde toda a água é bombeada para a cidade. É uma visão estranha, e decidi explorar e capturar isso para o vídeo.

Aliás, há algum diretor ou filme que te influencia na hora de compor suas músicas?
As visões de Werner Herzog, Lars von Trier, John Waters, Hayao Miyazaki – todos eles me inspiram a compor músicas.

Você já passou por diferentes estilos de música na sua carreira, incluindo uma direção mais folk no disco Unknown Rooms. Se sente mais exposta quando está tocando apenas seu violão, em vez de ter uma guitarra e uma banda atrás de você? Ou a experiência do palco é igual para você, independente do que você esteja tocando exatamente?
Para mim, é muito difícil ficar sozinha no palco. Desejo me tornar forte o bastante para fazer isso algum dia.

Você tem muitos fãs no metal e já tocou em festivais como Roadburn e Amplifest. Como vê sua relação com esses artistas de metal mais alternativo/underground, como Russian Circles, Deafheaven, Year of No Light, Helms Alee, entre outros? Pensa que vocês todos fazem parte da mesma cena/família de alguma maneira?
Sim, quero dizer…Russian Circles, Helms Alee, Deafheaven – todos compartilhamos a mesma empresária (a incrível Cathy Pellow) e somos meio que uma grande família – amo todos eles. Musicalmente, obviamente eu “brinco” com vários gêneros diferentes, por isso me sinto sortuda pelo fato de as pessoas estarem aceitando isso e sinto amor a partir de muitas comunidades musicais diferentes. Minha banda viaja pelas mesmas estradas das bandas de metal, mas é óbvio que não somos uma banda de metal especificamente. Mas tenho muita afinidade com o metal.

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Apesar de você não ser uma artista de metal, sua música tem uma forte ligação com esse universo, que é considerado machista por muita gente. Como você vê isso? E já teve alguma experiência negativa nesse sentido?
Pessoalmente nunca experimentei nada desse tipo na comunidade metal. Mas penso em mim e na minha música como sendo algo andrógino, então talvez nem perceba isso. Mas machismo em qualquer indústria ou gênero é uma merda, e penso que muita gente está percebendo isso, até mesmo as pessoas que costumavam ser sexistas. A indústria musical de forma geral por ser machista com muita frequência – é uma das razões pelas quais me esforço para manter minha vida pessoal longe da minha vida musical. Se você é um músico homem e está saindo com alguém ou tirou sua camisa, então isso não é notícia. Mas se você é uma mulher e a imprensa descobre com quem você está saindo ou que você possa ter uma foto de topless, então com certeza vão focar nisso em vez da sua música. Foda-se isso.

Foto por Ben Chisholm

Por favor, me diga três (ou mais) discos que mudaram a sua vida e por que eles fizeram isso.
Para mim, são mais as músicas: "Caprichous Horses" de Vladimir Vysotsky pela bonita honestidade estoica. O cover dos Fugees para "Killing Me Softly"… porque na primeira vez que a ouvi na rádio, quando era criança, a voz da Lauryn Hill atingiu em cheio o meu coração. E "The Chain", do Fleetwood Mac, porque aprendi sobre harmonias e performance ao vivo com eles enquanto crescia os ouvindo e assistindo pelos meus pais.

Quantos anos você tinha quando começou a cantar e tocar e quais eram suas influências na época?
Comecei escrevendo, gravando e cantando primeiro. Quando tinha nove anos meu pai me ensinou a gravar em um Tascam de oito canais e a fazer músicas usando batidas simples com um teclado Casio. E também algumas coisas na guitarra, por isso estava sempre escrevendo e cantando a partir dessa época. Mas não aprendi a tocar guitarra realmente até quando estava quase saindo do colegial. Acho que a Joni Mitchell e a Bonnie Raitt tiveram uma grande influência em mim – elas eram as favoritas da minha mãe na época, por isso desde pequena fui exposta a mulheres na música, tocando guitarra e liderando bandas.

O que te inspira a fazer música? E isso é algo que muda a cada disco?
Lembro de escrever meu primeiro poema aos sete anos de idade. Lembro dos sons à minha volta e da sensação do ar após ter começado a chover. Tudo se juntou de uma maneira que as coisas apenas fizeram muito sentido, como algum tipo de epifania… Continuei escrevendo poemas e tentando capturar momentos, e eventualmente queria colocá-los em músicas. Ainda é assim que funciona. Coisas que me “contaminam”, sejam boas ou ruins, bonitas ou feias, preciso tirá-las da minha cabeça e a música é o caminho para fazer isso.

Essa é a última. Do que você tem mais orgulho na sua carreira?
Sinto orgulho por eu e a minha banda termos chegado a um ponto em que estamos no nosso quinto disco, conseguimos tocar pelo mundo e temos um público incrível… Não consigo acreditar às vezes. Me sinto muito sortuda.