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Música

Buscando a Eternidade num Loop de Guitarra com o Battles

Com o novo álbum 'La Di Da Di', o trio volta ao som instrumental que definiu os primeiros EPs.

O Battles dispensa apresentação. Formado em 2002 pelo guitarrista/tecladista Ian Williams (Don Caballero/Storm & Stress), pelo guitarrista/baixista Dave Konopka (Lynx) e completada pelo baterista John Stainer (Helmet), o grupo vale-se de loops para criar um dos rocks experimentais mais cabeçudos e técnicos existentes. A banda também é incrivelmente ponderada, e por isso seu terceiro disco La Di Da Di, lançado na semana passada, chega quase quatro anos depois de Gloss Drop, de 2011. Enquanto os dois últimos discos do Battles contavam com vocais, La Di Da Di é um retorno ao som instrumental de seus primeiros EPs. Mas mesmo sem letras, estas 12 novas composições são absurdamente cativantes. Batemos um papo com Williams na manhã que chegava à Carolina do Norte vindo de Praga, falando sobre o novo disco, a estética da banda e como se pode viver pra sempre por meio de loops – se você curtir esse tipo de coisa, claro.

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Noisey: O clipe de “The Yabba” é performático de certa forma, mas não de um jeito tradicional. Quanto do visual do Battles é pensado?
Ian Williams: Muito disso é pensado, com certeza. Dave, nosso guitarrista, é designer gráfico, então nem tenho como lançar algo com uma fonte feia [risos]. Tocamos na Sicília no começo de agosto e paramos em Barcelona na volta, filmamos ali pela Espanha.

E todos aqueles figurantes?
Fizeram uma convocação para os fãs espanhóis de Battles aparecerem no dia das filmagens e eles ficaram andando ao nosso redor.

Vocês claramente estão tocando a música, que é bem complexa, mas nenhum dos equipamentos está ligado. Não é estranho para uma banda como vocês?
É nada. O maior desafio é que é chato mesmo ficar ali o dia inteiro fazendo diversas tomadas; levamos três dias filmando porque a música tem mais de sete minutos. O maior problema é tentar se manter inspirado pela música quando ela é tocada tantas vezes. Mas foi legal ter os figurantes, porque eles também passaram dois dias ali.

E por falar em tédio, vocês acabam de começar a divulgação de La Di Da Di. Você já não está de saco cheio de falar por que este disco é instrumental?
[Risos] Por algum motivo, sinto que deveria ser melhor nisso de responder perguntas do que eu sou, porque muitas vezes nos perguntam as mesmas coisas e eu ainda dou uma travada. É tipo a 12ª vez que escuto tal pergunta no dia e eu fico meio “putz, nem sei o que falar”. Mas num dia como hoje em que estou fazendo um monte de entrevistas, lá pela terceira ou quarta já sei o que dizer. Estou aquecido!

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Como você soube que o disco estava pronto? Parece que vocês podiam tocar pra sempre.
Essa é meio que a minha piada: se um de nós morrer no palco o loop continuará rolando. Daí vai ser tipo “não desliga! É a última expressão de vida dele!” Mas nem sei, você tem que aprender a se editar. Os loops podem ajudar e atrapalhar; ficam chatos se você ouvir aquilo tocando sempre, o que cria um fardo extra na hora de manter as coisas interessantes. Você tem que fazer esse monte de coisas pra deixar tudo atraente, mas ainda rola aquela noção de quando acabou mesmo.

Quanto das músicas deste disco surgiram da improvisação versus, digamos, falhas mecânicas?
​Você sempre aprende com seus erros, então tem que se manter aberto a quando essas aleatoriedades acontecem. No decorrer de um ano, ia pro nosso estúdio de ensaio e Dave trabalhava de casa e todo dia eu me forçava a fazer sons e criar diferentes loops de ritmos. Muitas vezes nada demais acontecia, mas o lance é que, pelo menos a cada quatro dias, algo massa rolava e era tipo “epa, uma música”. É aquela coisa de artista – não tanto sobre inspiração quanto sobre dar duro todo dia porque não se sabe quando algo de bom vai acontecer, então quanto mais tempo você dedica àquilo, mais fácil fica de surgir algo que valha o esforço. Trabalhamos como um comitê e todo mundo tem que curtir algo, daí você lança 30 ideias diferentes pros colegas de banda e talvez rolem só umas dez que todo mundo goste. Tem que deixar o ego de lado, “beleza, achei que aquilo era brilhante, mas ninguém mais achou”, e então tentar fazer músicas inteiras que todo mundo se empolgue.

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Toco em uma banda que tem muitos power chords e tem vezes que me perco. Você em algum momento se vê em meio a uma música de nove minutos pensando “mas que diabos eu faço aqui?”
Sim. Tenho essa sensação de cara e, logo depois, com toda a repetição isso não rola mais. Não sei o que estou fazendo, mas sei que logo o baterista tocará algo e eu terei que tocar outra coisa. Tento fazer com que isso não aconteça; tocar ao vivo vale por uns dez ensaios, você não acha? Então se tocamos alguns shows seguidos, eu tendo a entrar de cabeça naquele momento e saber o que estou fazendo.

Como você acha que os fãs de Battles reagirão ao disco?
Acho que o lance técnico que trabalhamos aqui foi um grande salto de muitas formas. Mas é engraçado que, para quem está de fora, não sei se soa diferente. Consigo até ver como você poderia pensar que é só mais do mesmo porque na maior parte do tempo somos uma banda instrumental e isso é música instrumental, rítmica e com umas bizarrices rolando. Talvez pra quem esteja de fora seja o mesmo. Não sei o que os outros vão achar, mas pra nós soa muito diferente.

Não é meio louco pensar que a banda existe há 13 anos?
É doideira pensar que esse número é tão grande [risos]. Como isso aconteceu? A gente é lerdo nesse negócio de fazer disco. Geralmente gravamos um a cada quatro anos. Então parece que só existem três discos, mas na ponta do lápis já fazemos isso há um tempão. Algumas pessoas começaram bandas, lançaram um disco, terminaram e montaram outra banda nesse tempo todo. Acho que nós seguimos nosso próprio cronograma mesmo.

Jonah Bayer também segue seu próprio cronograma, que inclui assistir a todos os 100 episódios de Roseanne no Netflix enquanto deveria trabalhar. Siga-o no Twitter.

Tradução: Thiago “Índio” Silva