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Música

Adriano Cintra Fala Sobre Álbum Solo, Inspirações, Memórias e Encrencas

O Adriano falou com a gente sobre como é se sentir o Rogério Flausino, como eram as brigas antes da internet e, inevitável, lembrou um pouco das tretas com o Cansei.

Para quem acompanha a cena musical de São Paulo, o Adriano Cintra já era uma figura conhecida muito antes de ser alçado à fama internacional com o Cansei de Ser Sexy em meados dos 2000. Desde os anos 90 – quando ele era o roqueiro Adriano Butcher do Thee Butchers Orchestra – até as crônicas eletrônicas do caxabaxa, ele sempre esteve em alguma banda, projeto, ou simplesmente andando por aí, pela noite, juntando as experiências que usa para fazer as músicas.

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Em agosto deste ano ele aproveitou a pausa nas atividades de sua banda atual, o Madrid, e lançou Animal, seu primeiro disco solo. Para falar sobre esse disco, e também sobre inspirações, memórias e encrencas, o Noisey foi ao seu estúdio na zona oeste de São Paulo em uma sexta-feira à tarde. Na ampla sala de estar da casa fomos recebidos pelo pessoal e pelo cachorro do estúdio, o Milk, que interagiu bastante durante toda a conversa. O Adriano logo surgiu dos fundos do estúdio, risonho, tranquilão, e falou com a gente sobre como é se sentir o Rogério Flausino, como eram as brigas antes da internet e, inevitável, lembrou um pouco das tretas com o Cansei.

Noisey: Vamos começar falando desse disco novo, o Animal. Ele é repleto de parcerias. Tudo saiu como você planejava?
Adriano Cintra: Pra falar a verdade quando fiz essas músicas eu não tinha nem pretensão de lançar. Foi assim: eu sempre tenho banda, estou sempre tocando com alguma banda. Inclusive eu tenho o Madrid até hoje, só que a Marina [Gasolina, parceira no Madrid] quando morava em Londres vinha bastante pra São Paulo. Aí ela se mudou pra Paris e acabou arrumando um emprego lá, e não podia mais ficar vindo pro Brasil. Fiquei sem banda de novo – a gente tinha até gravado o segundo disco do Madrid – e pensei “putz sem banda de novo”, aí comecei a fazer essas músicas. Isso foi no fim de 2012.
Daí eu desencanei, deixei lá essas músicas. Então participei de uma coletânea de tributo à Ângela Rô Rô chamada Coitadinha Bem Feito (inclusive a capa do disco é essa tatuagem bonita minha [risos]). Aí teve o lançamento desse disco no Sesc Vila Mariana e foi um show bizarro porque era eu, o Otto, o Lirinha, o Gui Amabis, o Pélico. Só tinha esses caras que já têm uma carreira, um nome, vários discos lançados, coisa e tal. Cada um cantava três músicas, e quando eu cantei foi um alvoroço, as pessoas aplaudiram de pé, gritaram, e começou essa história de “você tem que fazer um disco”. Um dos que diziam isso era um amigo meu, o jornalista Marcus Preto. Aí eu disse “ó, tá aqui meu disco, já tem essas músicas prontas”. Eu nem sabia, mas já tinha feito um disco. Só que ele era todo em inglês, e o Marcus virou e falou “mas você não pode lançar um disco em inglês”, e eu disse “pô, tem razão”. De fato eu não estava animado com isso, eu não via propósito em lançar um disco em inglês aqui no Brasil. Aí ele falou “posso fazer uma coisa?”, eu falei “pode, eu não ia fazer nada com essas músicas, pode fazer o que você quiser com elas”.

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Eu não sabia o que ele iria fazer, se ele ia pegar e fazer ele mesmo as versões, enfim… Mas o que ele fez foi ouvir as músicas e escolher pra quem mandaria cada uma, do tipo “ah essa aqui tem a cara do Guilherme Arantes”, e mandou pro Guilherme Arantes; “ah essa aqui tem cara de não sei quem”, mandou. Foi ele que escolheu as pessoas que fariam cada versão em português. Um negócio meio Jovem Guarda, tipo pegar “I Wanna Hold Your Hand” dos Beatles e fazer “a cabra brigou com o bode”, sabe essas coisas? [risos]
Aí essas pessoas fizeram as versões, e as versões deles não necessariamente têm a ver com a versão em inglês, eles fizeram muito da cabeça deles mesmos, e achei isso muito legal. E o resultado final você não exatamente esperava, mas gostou?
Pô, pra caramba. Eram músicas que eu gostava muito mas não via motivo pra lançar elas aqui, em inglês, de novo, aí eu ia ter que montar uma banda e as pessoas iam ficar falando “ah, mostra pra alguém lá fora”. Você acha que é assim que funciona? Ah eu sou amigo de todas as pessoas da Sub Pop e vou ficar “ei, ôu, ouve meu disco”. Não faço essas coisas, gente. Quando a gente lançou o Madrid inclusive foi muito engraçado, porque lancei o disco e não avisei ninguém, assim, eu não fiz… eu detesto networking, sabe esse negócio aí de ‘ôu ouve meu disco aí’? Eu sei que não é assim que funciona.

E esses parceiros todos do disco, você lidou pessoalmente com eles em algum momento?
Não lidei. Eu nem conhecia eles. Foi assim: o Marcus Preto fez a ponte com esses artistas todos, quando eu recebi todas as versões ainda faltavam três músicas pra fazer versão em português. Aí eu mesmo fiz. E foi engraçado que, quando eu vi como as pessoas fizeram, na minha cabeça deu um clique eu pensei “caralho, é fácil”.

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Bom, eu já escrevi músicas em português, o caxabaxa por exemplo, e até no Cansei tinha coisa em português, mas sai mais fácil em inglês, sabe como é. Tudo bem, quando criança eu ouvia Blitz, Ultraje a Rigor, essas bandas de criança [risos], mas eu cresci ouvindo música americana e inglesa, então pra mim era mais fácil. Só que eu peguei e fiz a versão de três músicas, daí em uma delas, quando eu fui colocar a minha voz, eu ficava “nossa, isso tá igual o Jota Quest”. “Mano, eu fiz uma música do Jota Quest!” [risos]. E a essa altura a parceria do Rogério Flausino ainda não tinha entrado?
Então, não. Eu já conhecia eles porque eu produzi três faixas do último disco deles. Fui lá pra BH ano retrasado e conheci eles, trabalhei com eles.

Então a ideia da participação do Flausino…
Foi minha! Essa fui eu mesmo. Era uma música assim meio funk, tinha algo meio new wave, mas ela era mais dançante, e o jeito que escrevi a letra, umas palavra meio comprida, eu cantei e “caramba, isso tá parecendo Jota Quest”. Daí pensei “o que eu vou fazer? Será que eu gravo em inglês? Porque tá muito parecido com Jota Quest, eu não vou cantar isso em português, vai ficar estranho”. Pensei “mano quer saber? Vou ligar pro Flausino, agora vou levar isso até o fim”. Eu mesmo escrevi pro Flausino, falei “Rogério, ó, eu fiz essa música aqui pro meu disco mas tá muito parecida com Jota Quest, e acho que ia ficar do caralho com você cantando”. Ele respondeu “pô, que legal!”, e dois dias depois ele mandou a voz e ficou.
E como eu acho que é um disco meu, assim, de “arrrtista”, mas também um disco de produtor, porque, eu produzi, toquei tudo… Teve três faixas que eu não estava contente com o resultado que tinha conseguido, e como eu tava trabalhando com essas músicas já fazia um ano e meio, quase dois, já tinha chegado num ponto em que não conseguia mais espremer elas, daí chamei o Péricles, do Boss in Drama. Ele é um amigão meu, curto muito as coisas dele, acho que ele tem uma visão de música pop muito clara. Falei “Péricles, me salva aqui, arruma pra mim isso” [risos], aí ele participou também. Então na verdade eu chamei o Péricles e o Flausino e o Marcus Preto chamou todo o resto.

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E a Naná Rizzini?
Ah sim, a Naná é minha amiga, e já desde a época das músicas em inglês…

Ela foi parceira em várias, né? Eu vi inclusive um show seu no Neu com ela na bateria.
Sim, ela é batera. A Naná desde a época das músicas em inglês ela já cantava e fez umas músicas comigo, então ela simplesmente continuou. Amo a Naná, produzi o disco dela, a gente foi lá gravar em Chicago com o Steve Albini, foi mó legal. E você acha que os letristas quando fizeram as versões em português encarnaram bem o seu espírito? Você se sentiu nessas letras?
Alguns deles eu acho que já sabiam mais ou menos de alguma coisa… Por exemplo, o Kiko Dinucci fez a música “Boneca do Posto”, e tem uma das mina lá do Cansei que eu xingo… que eu chamo de boneca do posto, daí ele botou essa, mas eu não tenho nada a ver com isso [risos].

Musicalmente, nesse álbum, você mantém um estilo electro que já aparecia no caxabaxa e especialmente no Cansei de Ser Sexy. Isso é mais consciente, como uma afirmação de identidade, ou a coisa fluiu dessa forma sem pensar demais?
Comecei a fazer música com esses elementos mais eletrônicos um pouco antes do Cansei, e foi no Cansei que eu aprendi, entendi o que queria fazer. E acho que esse trabalho é uma espécie de continuação do que eu estaria fazendo se seguisse com o Cansei. Assim, eu tive que ficar dois anos meio afastado disso. De novembro de 2011 até o final de 2012, mais ou menos, fiquei sem fazer nada nesse estilo. Foi quando fiz as coisas do Madrid. Eu precisava fazer outra coisa, meio que perdi o tesão na hora que rolou a treta. Depois passou e fiquei mais à vontade pra fazer isso de novo. Veio naturalmente, não foi uma coisa que eu pensei.
Até porque quando eu tava fazendo música sozinho – que no Cansei eu fazia música tudo sozinho né – tinha que ser uma coisa mais eletrônica, porque era eu, eu sentava na frente do computador e começava a montar as músicas. Começava do zero. Geralmente faço uma batida e um baixo, começa assim, depois vou colocando as outras coisas em cima. E essas músicas foi assim que eu fiz.

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E como tem sido essa experiência de, agora na carreira solo, atuar como um cantor, um crooner com o microfone na mão? Isso é novo pra você?
Bom, mais ou menos. Eu sempre cantava nas outras bandas. Esse show que você viu do Neu foi o primeiro, primeiro mesmo, e eu não estava tocando nada. Fiz mais um ou dois shows só cantando, aí vi que precisava tocar alguma coisa, porque a banda só com uma guitarra, baixo e bateria, [o som] ficava muito cru. Daí agora eu toco guitarra, e eu tava tocando teclado mas o teclado quebrou e não tenho dinheiro pra comprar outro [risos]. Fui viajar e, tá vendo aquele case ali? [aponta], é um case muito velho mas cabia o meu teclado, só que não abria ele há muito tempo. Botei o teclado nele e a espuma começou a desfazer e virou um pó – você abre aquilo ali sai um monte de pó preto – e acho que entrou tudo dentro do teclado e ele quebrou, aí agora eu não toco mais teclado [risos]. Toco guitarra e canto.

Uma coisa que eu sempre quis fazer no show e espero que dê certo são as projeções. Eu sempre quis fazer show com projeções, fiz pra todas as músicas, várias estão no YouTube.

Você mesmo que fez?
Eu mesmo [risos]. Fiquei pensando que é muito mala virar pra um amigo – porque tenho um monte de amigos que são videomakers, cineastas, etc – e falar “ôu, faz 13 projeções pra mim”. Aí o que eu fiz? Arrumei uma câmera, descolei o programa lá, o Final Cut, aprendi. Foi muito legal que eu fui pra Curitiba fazer um clipe com a Marina do Subburbia, conhece essa banda?

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Não conheço.
É uma banda muito bizarra de Curitiba, que é um casal, e eles são muito esquisitos, fazem uma música muito esquisita, e a Marina faz todos os videoclipes da banda. E, assim, é muito bizarro e muito legal, porque você bate o olho assim, tem muita identidade e não é nada publicitário, sabe assim? É uma coisa muito… punk mesmo.

Autêntico? Essa palavra que parece que a gente não liga mais.
Isso, muito autêntico. Ela aprendeu a fazer tudo sozinha, aprendeu a fazer cromaqui, aí fui lá e vi como que faz, então eu vim e coloquei um cromaqui ali na salinha onde a gente almoçava e fiz todas as projeções com cromaqui eu mesmo. Pensei “pô, é assim que faz, é mó fácil”.

Nas suas músicas você fala bastante de experiências pessoais, de relações pessoais, da noite. Muitas vezes como um desabafo, liberação e até como pedidos de desculpas, confissões.
[Risos] É, é verdade.

Elas costumam ser mais sobre acontecimentos, casos específicos, ou sobre um sentimento mais geral, que vai tomando forma?
É engraçado, porque quando fiz as músicas em inglês, tinha me desafiado a não fazer música desse tipo… confessional. Falei “vou fazer um disco todo de ficção”. As letras eram super bizarras, uma letra falava de uma mulher que era astronauta e foi pro espaço, aí ficou presa lá e ficava usando droga… era só coisa assim, coisa bizarra, do tipo eu lia uma coisa e fazia uma música. Nunca sobre mim, sobre experiência pessoal.

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Quando as pessoas fizeram as versões em português, principalmente a “Boneca do Posto” e a “Abduzida”, que é do Tim Bernardes [O Terno], todo mundo acha que fui eu que escrevi pra Lovefoxxx. Daí vi que era muito bizarro, que não tinha como fugir disso. As letras que eu fiz em português voltaram a ser confessionais e sobre experiências próprias. Como se você mesmo voltasse pra te cobrar…
Putz, eu pedi pras pessoas fazerem versão e elas me fazem versões que parece que sou eu que estou falando. Falei “ah então foda-se, então vou fazer isso mesmo” [risos]. Tanto em músicas como em, digamos, declarações públicas, quando você aparece falando algo na internet por exemplo…
[Risos] É, apareço às vezes…

…você parece ser uma pessoa sensível no sentido de que sente as coisas, as intenções das pessoas (nem sempre boas), e não consegue deixar pra lá. Faz sentido isso? É por aí?
Faz sim, mas quem é que consegue deixar pra lá? Isso é hipocrisia. Tem gente que finge que não liga…
Então, exatamente, tem gente hipócrita que finge que “ai, eu sou melhor do que isso, eu não vou me envolver”. Gente, é claro que não. Que adianta você fingir que não tá ligando pra uma coisa sendo que por dentro você dorme e sonha com aquilo. Tudo bem, acho que tem pessoas que fazem terapia quatro vezes por semana que conseguem passar por cima das coisas mais fácil, mas eu não tenho nem esse dinheiro todo [risos], prefiro pagar meu personal trainer na academia, ir lá puxar ferro e lidar de outro jeito com isso.

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O que na verdade as pessoas não sabem é que quando saí do Cansei eu tentei… Bom, no dia que eu saí fiquei puto, xinguei todo mundo, mandei todo mundo tomar no cu, porque sou assim mesmo, mas depois falei “ah tá bom vai, acabou, era isso mesmo, acho que é o que eu queria, então vamos entrar em um acordo”. Eu tentei, chamei advogado, gastei uma grana com advogado, fazendo contrato. Meu, elas não quiseram. “Não, nós não vamos assinar, nós não precisamos”. E eu “ah vocês não precisam assinar isso, é isso?”, e assim, não conversavam comigo, não falam comigo até hoje. Eu saí em novembro [de 2011], e fui escrever aquele negócio no blog três ou quatro meses depois, depois que vi que não tinha conversa mesmo. Apesar de tudo eu tentei conversar, tentei reaproximar, não que quisesse voltar, mas tentei conversar. Não quiseram, aí eu falei “ah não quer? Bom, então a gente vai jogar bosta no ventilador mesmo”.

É justamente essa a diferença a que me refiro, entre quem se acha superior à discussão e aquele que vai lá, enfrenta e resolve, do jeito que for, que seja brigando…
Porque é assim: não era a minha intenção brigar e nem expor ninguém, só que eu fazia tudo naquela banda ali, eu escrevia todas as músicas, todos os arranjos, ensinava elas a tocar, escrevia letra, arrumava letra, corrigia inglês, fazia um monte de coisa e aí “nhénhénhénhé”, então fia “pápápá”. E hoje a gente não se fala, assim, pra mim tá tudo bem.

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Até pra além do Cansei, por essa sua coisa de sentir e falar, quando você entra em alguma encrenca, algum bate-boca, como você se sente com isso? Você se arrepende de ter entrado nessa ou não? Ou acha que foi uma boa oportunidade de esclarecer as coisas?
Ah não, não tem dessa de ter ressaca moral. Se faço alguma coisa da qual me arrependo, e chego a ficar envergonhado do negócio é porque é muito grave. Mas é muito raro isso acontecer hoje em dia.

Se ficar você vai lá e… confessa…
Eu vou lá e falo “olha, foi mal.. eu fui ridículo..e não sei o que”, mas de resto, assim…

Inclusive às vezes você dá uma sumida né? Tranca os perfis de internet, essas coisas. Isso é pra se purificar um pouco do excesso de contato com os outros? Fazer um contato mais consigo mesmo, algo assim?
Hmm, não, a única vez que eu saí foi logo depois do Cansei, que apaguei tudo, mas logo depois voltei. Tentei ficar sem [internet], foi horrível. Fiquei acho que seis meses sem Facebook e perdi todos os amigos [risos]. Perdi mesmo, meus amigos começaram a ir em outros lugares, não me avisaram e… … e você nem ficava sabendo.
É, e é bizarro mas hoje em dia eu converso mais com os meus amigos pelo chat do Facebook do que por Whatsapp ou telefone, e se você se priva disso…Tenho três amigos que não usam Whatsapp porque eles ficam bêbados aí ficam mandando mensagem pra ex-namorada [risos]. Aí eles apagam o Whatsapp e só têm o Facebook, mas eu falo “gente, e no Facebook cê não faz isso? Não? Então não faz no Whatsapp também ora”.

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Você está na cena desde os anos 90, desde quando ainda não existia a internet. O que acha desse excesso de contato com os outros que a internet possibilita? Ajuda no estresse? Vale a pena pelo lado bom?
Sei lá, tenho mó preguiça desse tipo de interação tão… fácil, sabe? Porque tem muita gente sem noção, ela quer aparecer e vai lá e te xinga. Você pensa “ain.. [preguiça]”, e o pior é que você lê né, porque o negócio tá lá na sua fanpage, você vai lá e lê. Mas acho isso super desnecessário, eu só tenho fanpage mesmo porque tem que ter né, é o jeito que você acaba divulgando.

E na era pré-internet, pelo fato de não ter essa facilidade toda a gente ficava mais tranquilo, né? Muita coisa a gente nem via…
Ficava mais tranquilo, e a treta era boca-a-boca, você ia em um show e arrumava briga com alguém…

E se arrumasse a briga você resolvia ali mesmo…
É, a Lê do Pin Ups ia lá e te batia, sabe essas coisas? [risos] A Silvana ia e te dava uma cadeirada. Aí você fazia um zine e xingava ela, só que dava o maior trabalho pra fazer um zine, tinha que escrever, tirar xerox, daí tinha que dar o zine pra pessoa! [risos]

Criava até um respeito pela pessoa que te xingava né? Ela tinha tanto trabalho…
É, tinha que ter muito mais coragem. Mas assim, eu tento, com as minhas coisas, quando coloco vídeos no YouTube, por exemplo, e nem permito comentário. Eu não quero saber, entendeu? Se tá com vontade de falar liga no CVV [risos]. Quer conversar? Conversa com o CVV.

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Uma curiosidade: a música “Lembra”, do caxabaxa, é sobre um distanciamento causado pelo tempo ou por desentendimento?
Acho que é os dois. E é engraçado porque essa música foi super profética. A gente brinca, naquela época tinha várias tretas já… [brinca com o cachorro] e foi engraçado isso. Eu até queria tocar ela no show, falei com o Carlos, deve rolar.

Sobre memórias agora. Você é um notório frequentador da noite paulistana, assistiu a ascensão e queda de vários clubes, de várias modas e épocas. De quais você se lembra com mais afeição?
Lembro bem do começo dos anos 90, era muito legal. Porque tinha tudo. Tinha muitos lugares que tinha show, apesar de não ter tantas bandas quanto veio a ter logo depois. Estou falando bem do começo dos anos 90, tinha o Der Tempel, o Superbacana, o Matrix do Giggio, tinha esses lugares, e logo depois veio a ter o Hell’s Clube no Columbia, que era muito legal porque era logo depois do Sub Club, que era o lugar do rap, onde todo mundo ia também. E acho que era uma época muito efervescente. Foi o começo de uma, como se diz? Uma universalização, digamos assim, do tipo as pessoas iam em um show de rock, depois iam ouvir um rap no Sub Club, depois ficavam pra ouvir a música eletrônica no Hell’s, que na época nem chamava Hell’s ainda, chamava Velvet Underground, e era uma época muito legal. Não tinha internet também, era tudo na base da vida.. da vida ao vivo [risos]. É uma época da qual sinto saudades.

Acho que esse foi um período que fomentou várias coisas, várias bandas e vários clubes também, a Torre do Dr. Zero por exemplo abriu logo depois dessa época.

E o período logo depois foi bem legal também, que foi a época que começou a surgir a cena de bandas… bandas indie né, de São Paulo, que foi 96, 97, que teve o Butchers e toda aquela galera, era muito legal.

Você tem frequentado algum lugar hoje em dia? Alguma cena?
Hmm, não. Tenho ido em shows. Antes de lançar o disco eu tava assim “ah, não tem onde tocar, São Paulo acabou”, mas depois vi que tem sim, tem bastante lugar legal, tem o Puxadinho, tem a Casa do Mancha, que é o lugar que eu mais vou. Quando saio pra ver show normalmente vou lá. Acho o lugar mais legal, mais à vontade, tem os drinks gostosos, não é caro, sempre tem banda legal. O som não é o melhor som do mundo mas, né, pra a gente que veio dos anos 90 já é um avanço que não dá nem pra explicar. O som da Casa do Mancha comparado com o som que tinha no Juke Joint, sabe?

[Risos] Sim, eu fui lá algumas vezes.
Então, era puxado o Juke Joint né [risos], você ligava TODAS as coisas em um benjamin na mesma tomada, 30 coisas ligadas lá…

Às vezes pintavam até uns ratos…
Sim, pintava rato, o teto era baixo, você pulava e batia a cabeça, o Flávio do Forgotten [Boys] te dava uma microfonada, era horrível [risos].

Quando ouvi falar de você pela primeira vez, lá pro fim dos anos 90, você era o Adriano Butcher, um roqueiro, de barbão, guitarrista de blues sujo.
Era mó legal.

Esse roqueiro ainda existe?
Super. Converso com o Marquinho até hoje. Uns dois anos atrás a gente fez show com o Butchers, só que assim, o Marquinho agora mora fora, mora nos Estados Unidos, e ele toca com um monte de gente, aí é super complicado. Tava super falando com ele que eu queria gravar um disco novo do Butchers, só que ele nunca tá aqui, e quando tá ele toca com 500 bandas, aí nunca tem tempo. Mas eu super queria fazer um disco do Butchers.

Pra encerrar: quais são os seus planos agora? Seguir focado na carreira solo? Ressuscitar algum projeto?
Agora é fazer show. Quero fazer muitos shows desse disco. E shows, assim, com a minha projeção, com a boneca do posto que tá ali, e aí ver, sei lá, daqui a um ano e meio quem sabe fazer outro [disco]. Mas o que eu quero agora é fazer show, que é o que eu mais tenho gostado de fazer.