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Música

Adanowsky Faz Sexo Poético com a Atriz Pornô Stoya em seu Novo Clipe, “Would You Be Mine”

Para o músico, filho do cineasta e psicomago Alejandro Jodorowsky, a arte é uma ferramenta curativa e o sexo pode nos transportar para uma nova dimensão: “Somos o produto de uma grande transa.”

"Woud You Be Mine", o novo clipe de Adanowsky, é uma tentativa do artista em ilustrar aquilo que ele chama de sexo poético. No vídeo, ele atua como protagonista de uma cena de sexo surreal rodeada de elementos intrigantes com a atriz pornô e colaboradora da VICE Stoya. Basicamente, a mensagem é que nos acostumamos a nos relacionar como animais selvagens e que seria mais legal se buscássemos ascender a uma nova dimensão tendo o sexo como um canal para isso. Além de músico, Adan também é ator, diretor de cinema e compositor de trilhas sonoras. Sua carreira de ator começou muito cedo, aos oito anos, no longa Santa Sangre, um dos brilhantes feitos de seu pai, o cineasta, roteirista de quadrinhos, ator, escritor, mestre do tarô, um dos ideólogos do lendário coletivo de teatro Grupo Pánico e psicomago Alejandro Jodorowsky.

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Em comum com a filosofia de seu pai, Adan compartilha o sentido surreal da criação, o discurso de que somos apenas um sopro de poeira cósmica, que a Terra é um cocôzinho na imensidão do universo, e que a arte, a atuação, pode ser um ritual de cura. Tudo isso está impresso no vídeo, em sua persona multifacetada, em sua produção musical e no recente curta-metragem que dirigiu, The Voice Thief. Na entrevista que tivemos, ele falou dessas coisas e também de sua paixão por gatos, do seu papel no próximo filme do Jodorowsky, Poesía Sin Fin, de religião vs. espiritualidade e, entre outras coisas mais, da figura que ele encarna nas performances do álbum que promove atualmente, Ada, nome da faceta feminina que ele vai assassinar no palco para se livrar de uma sombra da infância que o persegue.

(O vídeo abaixo é obviamente NSFW)

Noisey: A respeito de seu novo videoclipe, "Would You Be Mine", quais são os principais elementos simbólicos presentes no cenário e a mensagem que você quer passar com eles?
Adanowsky: Estou apenas experimentando. Explorando. Sempre sonhei em me tornar diretor, se um dia eu fizer um longa, quero incluir nele uma cena de sexo, então esse vídeo é um treinamento para meus projetos futuros. Não queria fazer uma cena de sexo comum. O sexo está em tantos lugares que virou um negócio chato. Por isso eu apenas tentei fazer de um jeito diferente. No pornô, estamos acostumados a assistir cenas de sexo vulgares. Com este vídeo, eu tentei atribuir um pouco de poética ao sexo. Nós precisamos disso. Precisamos aprender a fazer amor como poetas, não como animais.

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Mas me explica a simbologia de alguns elementos, como o ovo explodindo, por exemplo, a carne crua…
O ovo é uma libertação para ela. Ela abre o seu coração e o seu amor pelo homem começa. A carne crua é porque o meu personagem age como um animal no começou e, aos pouquinhos, ele vai mudando. Ao final do vídeo ele flutua com a Stoya, eles se transformam em anjos enquanto fazem amor.

Por que o seu personagem e o da Stoya se transformam em felinos e as garotas nipônicas cortam a cruz de couro com uma tesoura?
Você quer detalhes. Beleza, então. Como eu disse, no começo do clipe eles são como animais. Daí eles começam a se sentir como realmente são e atingem o orgasmo. É uma mensagem que eu gostaria de passar para esse mundo. Para encontrar a nossa beleza interna, temos que aceitar quem realmente somos, ao invés de aceitar o papel que os outros querem nos impor. Acho que ninguém entendeu a minha mensagem, por isso fico contente que você tenha mostrado interesse em saber [risos].

Qual é o lance da família Jodorowsky com os gatos? Tô ligado que você tem um gato leopardo, o seu pai também tem um gato e o seu irmão, o Cristóbal, escreveu um livro chamado El Collar del Tigre
E a Stoya também pira em gatos. Cresci junto com sete gatos. Fui criado no meio deles. Eles são parte da minha família, meus irmãos. Também gosto de gatos porque eles são curandeiros. Quando estou doente, meu gato dorme no meu peito, e isso me faz melhorar.

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Parece haver uma reflexão sobre a religião no vídeo. Com a cruz e a santa coberta por um manto azul. Você é contra a religião e suas leis governando a moralidade e o amor?
Não, eu não sou contra a religião. Existe uma beleza nela. Mas não sou religioso. Acredito na energia vital do universo. Existe um cérebro na eternidade, eu sinto algo, mas não acredito em um Deus louco e puritano. Acredito em um Deus bondoso e de mente aberta. Cristo nunca afirmou que ele era uma cruz. Os homens criaram as cruzes e a religião, e não Deus. Se eu fosse Cristo, não me sentiria feliz em ser representado como um defunto numa cruz. Eu preferiria ser representado sorrindo, feliz e dançando! A imagem de Cristo é a imagem de um homem morto. Aquilo é horrível! Pessoas matam as outras só porque elas pensam diferente, mas deuses não são assassinos. As pessoas ainda têm a mesma cabeça que tinham há três mil anos, com a mesma moral. A humanidade evoluiu. Nós mudamos. Temos que pensar com as ideias novas! O mundo precisa mudar! Estou cansado de ser reprimido por uma velha e insana ideia do que é ou não aceitável. Precisamos criar nossas próprias ideias. Cada cérebro deveria ser independente. O problema é que alguns humanos não acreditam em si mesmos. A Bíblia diz que o sexo é sagrado, então sacralizei o sexo em meu vídeo, é só isso. Depois dessa cena, a Stoya aparece cuspindo um líquido branco. Ela cospe a sua pureza. Sexo não é pecado, bundas não são obscenas, o prazer é positivo. Somos todos produto de uma grande transa.

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Por que você escolheu a Stoya para interpretar o papel da mulher no vídeo? Você já tinha lido os artigos dela sobre sexualidade antes disso?
A Stoya é perfeita para o papel porque ela tem uma aparência humana e não de uma Barbie. Quando assisto pornô eu vejo dois animais vulgares vendendo uma triste imagem do sexo ao mundo. O sexo é belo. E era isso o que eu queria mostrar. Ela não tem problemas em mostrar o seu corpo, acho que seria mais difícil convencer uma atriz comum. Conheci a Stoya no Twitter. Mandei uma mensagem pra ela com o link do trailer do meu curta, The Voice Thief, e ela me retornou dizendo que achava interessante. Então ela me passou seu e-mail. E ela foi muito gente fina. Ela concordou com todas as minhas ideias malucas no set, até mesmo as mais intensas…

Uma vez que o vídeo retrata um tipo de orgasmo surreal, queria saber se você acredita na relação sexual como uma forma de alcançar uma nova dimensão. E o que é essa nova dimensão, na sua perspectiva?
Sim! Uma nova dimensão! Quando você está fazendo sexo você cruza a sua energia com a de outra pessoa, criando uma terceira alma. Não estou falando de criar um bebê. É mais do que isso! Estou falando sobre alcançar uma dimensão por meio do sexo onde o casal pode se abrigar e ser feliz. Fugindo de si mesmos, da realidade, do dinheiro, da política e dos problemas. Eles se tornam livres. Livres dessa realidade falsa, livre de suas mentes!

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Ainda que o seu clipe venha com o selo de "desaconselhável para menores", as cenas que a Stoya faz nos pornôs são muito mais embaçadas. Já o clipe, por sua vez, traz uma espécie de poética explícita, se pudermos chamar assim. Então, por que você acha que algumas pessoas ficaram chocadas quando assistiram e o consideraram tão polêmico?
Eu não faço ideia. Para mim, o vídeo não é nem um pouco chocante. O problema é a família e a sociedade. Desde a infância escutamos as pessoas se referindo ao sexo como algo profano. E por quê? Religiões. Mesmo que você não seja religioso, está no inconsciente coletivo. Não estou querendo gerar polêmica, apenas gostaria de abrir algumas mentes. E estou fazendo isso de um jeito bem suave, pode crer.

Como é a experiência de participar como ator e diretor em seu próprio videoclipe? Quanto do estilo de captação, edição e narrativa do seu pai você absorveu?
É muito difícil atuar e dirigir ao mesmo tempo, mas amo fazer isso. Você tem que ter consciência do que está fazendo. No meu caso, antes de filmar eu mesmo desenho todas as tomadas para me sentir confortável no set. Sabe, para mim isso é um jogo. Apenas isso. Eu me divirto. Daí as pessoas podem enxergar o que quiserem depois. E sobre o meu pai, vamos lá: eu atuei num filme dele, Santa Sangre, quando tinha oito anos. Essa foi a minha primeira introdução ao cinema. Então tive uma apresentação e uma estreia surrealista. Fora isso eu amo Luís Bruñel, e também o Salvador Dalí. Meu pai me deu uma belíssima educação artística e humana. Ele me mostrou os filmes do Buster Keaton, os filmes japoneses de samurai, as coisas do Bruce Lee, John Ford, John Waters… Ele me presenteou com muita cultura. E não apenas arte de bom gosto, mas também de mau gosto. No meio da feiura existe beleza. E o mundo também é feio! Então por que fingir que tudo é sempre bonito? Os artistas que buscam sempre somente pela beleza são mentirosos!

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Você vai participar do próximo filme do Alejandro, Poesía Sin Fin?
Sim, vou encarnar o protagonista, que é o papel do meu pai quando ele era jovem nos anos 1950. As filmagens vão acontecer no Chile em julho e agosto. Então o lançamento está previsto para o ano que vem.

É sua a trilha sonora do mais recente filme dele, né? A Dança da Realidade. Aquela trilha ficou muito boa. Como foi essa experiência?
Essa foi a minha primeira trilha sonora. Foi maravilhoso fazê-la. Não tenho dicas para dar, você apenas precisa ter sensibilidade e sentir as imagens. Não sou um profissional, eu tenho experiência, é diferente. Também vou assinar a trilha de Poesía Sin Fin. Logo minha participação nesse filme vai ser grande. Tenho um monte de coisas para começar a agilizar, então precisamos terminar logo essa entrevista!

Sua carreira musical não segue uma rota linear. Você teve uma fase mais Elvis e outra mais folk, entre outras investidas que te garantiram uma reputação de artista multifacetado. Como você define a sua onda atual e quais são as suas principais influências de todos os tempos?
A maioria dos músicos explora apenas um estilo musical em cada álbum. Eu me sentiria muito entediado com isso! Tenho escutado muitas coisas, de Caetano Veloso a James Brown, passando por Elvis, Neil Young, Ima Sumac, AC/DC. Logo, meu gosto é bem eclético. Para mim, música também é imagem. É como um filme. Tudo dialoga com a imagem, por isso precisamos oferecer às pessoas aquilo que elas precisam: sonhos. Vivemos no meio de um mundo decadente, nosso objetivo é dar o nosso melhor, a mais bela de nossas facetas. Estamos cansados de pensamentos negativos. Estamos cansados dos políticos. Deveríamos ter santos como presidentes, não marionetes! Esse mundo precisa se tocar que nós estamos flutuando no meio do universo! O mundo não é o centro. Temos que nos conectar com o infinito. Aí, sim, teremos uma mudança.

Qual é a sua memória musical mais antiga?
A vez que eu enterrei o piano da minha mãe no jardim. Eu juro que é verdade. Ela tinha o costume de tocar piano. Um dia, quando ela saiu, eu tomei essa atitude porque eu queria tomar contato com alguma novidade na música.

Tem um aspecto singular no seu personagem artístico que é o fato de você apresentar uma figura meio masculina meio feminina, pelo que se pode perceber na maquiagem que você às vezes usa e também pelo nome de seu recente álbum, Ada. Por que você criou esta figura e como você enxerga a questão dos gêneros que interpretamos no palco da sociedade do espetáculo?
Todos somos meio mulher e meio homem – porque somos fruto de um pai e uma mãe. Quando eu estava para vir ao mundo, meus pais acharam que estavam grávidos de uma menina, e o plano deles era me dar o nome de Ada. Senti que precisava matar a Ada em mim. Por conta disso eu usei a minha neurose e me tornei Ada para matá-la no palco, durante um show. E é o que eu ainda vou fazer. Com isso, estarei livre e pronto para ser quem eu realmente sou. A arte tem o poder de nos curar.

Existe um tema em comum que conecta todas as músicas desse seu disco?
Felicidade! Siga o Adanowsky nas redes: YouTube | Facebook | Twitter

El Volcán Música: @volcanmusica