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Música

Por que duas mil pessoas querem passar o Carnaval no encontro gótico de Paranapiacaba?

A mais londrina e neblinosa vilinha de SP vai, neste sábado (6), finalmente voltar a ser palco de muitas trevas, maquiagem pesada, vinho barato e synth-pop.

A tatuagem do Diego é uma Vegvísir (bússola viking), que significa "seguir sempre em frente" (e não é um indicativo de que ele é fã da Björk). Todas as fotos por Guilherme Santana.

Foi numa dessas várias horas de procrastinação diária que eu gasto rolando meu feed de notícias do Facebook que me deparei com evento “Primeiro Encontro Gótico em Paranapiacaba”. Como não é uma coisa que se vê todo dia, resolvi dar aquela fuçada. O rolê vai acontecer no próximo sábado (6), primeiro dia oficial do Carnaval de 2016, e, o que chamou mais a minha atenção: mais de DOIS mil góticos já confirmaram presença. A pergunta que me bateu mais forte foi: por que caralhos essas pessoas vão trocar as cores, confetes, o "Baile de Favela" e o "Tá Tranquilo, Tá Favorável" dos bloquinhos paulistanos para ouvir The Cure e curtir a névoa cinzenta desta cidadezinha?

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Pra tentar entender qual é a do fetiche da internet em torno desse encontro, bati um papo com dois dos dez organizadores, que se conheceram na internet por causa do evento: Gulberg Borges e Diego Le Fey, os dois jovens góticos de 23 anos. Marcamos de nos encontrar num shopping na Avenida Paulista, na região central de São Paulo. O termômetro oscilava entre 30ºC e 32ºC. Mesmo assim, os dois estavam vestindo preto da cabeça aos pés (o que me fez facilmente reconhecê-los no meio dos passantes). Eles chamam atenção pra caralho. Só nesse meio tempo em que os avistei e fui cumprimentá-los, uma velhinha os olhou e soltou um “Ave Maria” e uma outra mulher que a acompanhava comentou de lado “Nossa, mas nesse calor?”. É, esses aí são os góticos nada suave, pensei.

Gulberg Borges e Diego Le Fey morrendo de calor em plena Avenida Paulista.

“Acho que muita gente confirmou presença e se interessou porque ficou curiosa e quer sair da rotina”, me disse Gulberg. A real que a cidade de Paranapiacaba, a 48 quilômetros de São Paulo, é um ponto turístico do interior paulista bem conhecido pela neblina que surge "do nada" pela manhã e no final da tarde e já foi o reduto de várias raves góticas no passado. Só basta saber se, em pleno verão, o nevoeiro vai dar o ar da graça para dar o toque gotiqueira ao rolê dos nossos jovens trevosos tropicais.

A página organizadora do evento é a Encontro gótico SP, que o próprio Gulberg criou sozinho pra arrebanhar cada vez mais paulistanos fãs do darkwave melancólico do Sopor Æternus & the Ensemble of Shadows e que curtem uns gifs da Elvira. "Eu conheci o mundo gótico através do Facebook, quando tinha mais ou menos uns 16 anos. Esse primeiro evento é mais para conhecermos gente nova, além das que já estamos acostumados a ver no Madame (balada gótica de São Paulo) de sempre".

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Ele me contou que tinha convidado apenas 200 pessoas. "Foram chamando cada vez mais gente. Nunca esperávamos que a nossa festinha chegaria a essas proporções". São mais de 300 compartilhamentos e 7,2 mil convidados. Na descrição do Facebook, eles explicam que se trata apenas de um encontro, sem fins lucrativos. "Pedimos a todos que levem bebidas e alimentos. Não nos responsabilizamos por objetos perdidos no local, nem por danos materiais e físicos". Também falam que não precisa "ir de gótico". "Mas seria bom, né? Vai colar muito fotógrafo", disse Diego.

Apesar do boom repentino do encontro trevoso, Diego não acha que isso signifique o retorno daquele gótico que lê Álvares de Azevedo enquanto toma vinho no cemitério. "O que tá em alta é o tal do gótico suave. E não vejo muitos deles usando nem espartilho, nem couro ou maquiagens realmente pesadas", disse. "E também, a maioria dessas pessoas não curte som gótico de verdade. Quem é a rainha do gótico suave, a Lana Del Rey?”.

E o que vai rolar no sábado vai ser uma espécie do que eles estão "acostumados a fazer no cemitério do Araçá ou na frente do Theatro Municipal sempre": beber vinho e conversar. "Como o evento cresceu muito — e pra não ficar um tédio puta chato lá —, pensamos em chamar um DJ pra tocar, mas não conseguimos o aval da prefeitura", disse Diego. Mais pra frente, se esta primeira festa acontecer sem maiores problemas, a intenção é organizar uma balada mesmo. "Se todo mundo respeitar a cidade e os moradores, com certeza rolar uma segunda edição mais bem elaborada". E, desta vez, com som garantido para eles botarem os Nightwish, Depeche Mode e Evanescence deles.

Para mais informações sobre esse evento para "seres noturnos e das trevas", confirme presença aqui.

Beatriz Moura não é uma gótica suave, mas curte dormir ao som de Lana Del Rey. Siga-a no Twitter.

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