FYI.

This story is over 5 years old.

Música

DJ Kri fala sobre o Região Abissal, primeiro grupo de rap brasileiro a lançar um disco

Nos tempos áureos da São Bento e do início da cena hip hop nacional, uns moleques da Bela Vista gravaram o clássico empoeirado 'Hip Rap Hop' — e curtiam Racionais "antes da coqueluche".

Foto por Felipe Larozza

A Bela Vista fica no centro de São Paulo, mas tem ares de quebrada. Lá na esquina da Major Diogo com a Brigadeiro Luís Antônio nasceu o Clube do Rap, espaço contemporâneo à Estação São Bento muito importante para a primeira geração do hip-hop. Lá também era a morada do Região Abissal, primeiro grupo brasileiro a gravar um disco de rap. Dispensado das coletâneas Som das Ruas, com Ndee Naldinho, Sampa Crew e Os Metralhas, e Hip-Hop Cultura de Rua, que lançou Thaíde & Dj Hum, Código 13 e MC Jack, o Região Abissal resolveu botar na rua o álbum Hip Rap Hop, com hinos do alto-astral como "Litoral" e "Alô Papai". O grupo se desmembrou e virou posteriormente o também clássico Athalyba e a Firma. Trocamos uma ideiona com Delclécio Marques, o DJ Kri, que foi da equipe da Zimbabwe, fez parte da primeira bateria mirim do Vai-Vai e é um dos líderes e fundadores do Região Abissal. Falamos sobre hip-hop nacional, gravadoras e outras tretas. Ouve aí o álbum completo pra embalar:

Publicidade

Noisey: Você nasceu na Bela Vista?
DJ Kri: Nasci aqui na Bela Vista.

É Bela Vista ou Bixiga?
É que Bixiga é um apelido carinhoso na verdade. No começo da população do bairro existia uma doença de pele que dava aqui na parte baixa do bairro. A galera nobre morava na parte de cima ali, Rua dos Franceses, Rua dos Ingleses, e a galera mais humilde morava mais aqui pra baixo. O pessoal aqui embaixo pegou essa doença de pele que dava umas pipoquinhas pelo corpo. Aí o pessoal lá de cima começou a chamar o povo daqui de "bexiguento". Entendeu? Aqui na verdade era assim. Um bairro de descendência italiana com negros. Aí a partir dos anos 80 começou a chegar o pessoal do Nordeste.

E quais são suas memórias musicais dessa época?
Comecei a tocar aqui, né? Tive esse privilégio de ser um bairro central e boêmio. Sempre teve casa noturna, sempre teve boate. Quer dizer, a gente sempre teve contato com pessoas do teatro principalmente, porque aqui sempre rolou esse movimento teatral. A música também sempre esteve presente, principalmente ali nos barzinhos da Santo Antônio. Eu vi o Benito di Paula ali, vi o Wilson Simonal. Esse pessoal tocava no III Whisky, era aquela boate que o pessoal saía das outras e ia cair lá. O samba sempre esteve presente por causa da Escola de Samba, mas tem também as músicas brasileiras misturadas com o internacional black. Aquele pessoal tipo The Supremes, Four Tops que eram as músicas que rolavam nas festas da minha família. Então eu vim naquela batida mesmo de Jorge Ben, Tim Maia.

Leia o restante da matéria na VICE.