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Música

Ouça ‘Assim que Nóis Trabalha’, segundo disco do grupo de rap paulistana Hó Mon Tchain

Com influências que vão de A$AP Mob a Hiatus Kaiyote (rolou até sample da Björk), o coletivo da Zona Leste chega no segundo álbum com upgrade na produção sem perder o rap nacional de vista.

O Noisey lança com exclusividade nesta segunda‐feira (11) o quentíssimo novo disco do Hó Mon Tchain, o jovem coletivo de rap que tem representado a zona leste de São Paulo na cena hip hop. Assim que Nóis Trabalha é o segundo álbum do grupo, que é formado pelos rappers Amiltex, Diham, Falcon Mc, Mud, JG‐Mano e Plano B.

Os primeiros raps do HMT surgiram lá em 2009. Pouco a pouco, o coletivo foi tomando forma e reunindo o necessário para lançar o primeiro trabalho oficial, o disco Ascensão, que foi pra rua em 2012. Agora, com mais tempo de estrada e um processo mais elaborado (“O Ascensão foi mixado no 3 em 1 véio de casa”, lembra Mud, emendando que o novo trampo tá “ABSURDAMENTE superior” em termos de produção), o Hó Mon Tchain traz mais referências de “rap de banca”, como diz o produtor do grupo, e espera aproveitar o momento em que o hip hop chega cada vez mais ao mainstream.

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O AQNT tem 14 faixas (uma delas, “Malandrão”, você já viu aqui, na época da estreia do clipe) e participações especiais de D‐Cazz, Jimmy Luv e Yunei Rosa. Atente para o sample de Björk em “Amo os que me Odeiam” e confira a entrevista a seguir com Mud, produtor e rapper do HMT.

Ouça Assim que Nóis Trabalha no player abaixo, ou dê uma compartilhadinha nas redes sociais para baixar o disco inteiro neste link.

Primeiro, acho legal vocês darem uma apresentada geral do Hó MonTchain, bem em linhas gerais mesmo. O coletivo surgiu lá em 2009, certo? Como vocês começaram, decidiram se juntar pra começar a parada, e o que rolou nesses três anos até vocês lançarem o Ascensão, em 2012?
A ideia foi do Amiltex, e lembro que toda vez que eu colava na casa dele, ele comentava que queria ter um grupo de rap com vários maluco cantando, tipo um Wu Tang da vida. Aí, ele decidiu voltar a cantar rap como um grupo e chamou isso de Hó Mon Tchain, gravando o primeiro som em 2009 com o Falcon. A parada tomou forma de maneira natural, e pra falar a verdade, foi a coisa mais despretensiosa de que se pode ter notícia. A gente na época não tinha ideia da dimensão, nem da proporção, que a coisa tomaria… tudo se resumia a fazer um som que nós mesmos escutaríamos. E estamos até hoje aí, eu, Amiltex, Plano B, Diham, Falcon e J.G‐Mano. Eu acabei aprendendo a fazer batidas e dei início ao Lodo Studio, aí começamos a por em prática vários sons, mas sem pretensão, até reunirmos várias músicas legais. O Ascensão foi meio que um compilado desse time, que surgiu praticamente do nada e aprendeu às próprias custas como fazer música.

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Em “Ostentação Interior”, tem uma passagem que diz: "Nóis caminha devagar, mas é melhor que quem para". Isso aí tem a ver com esse intervalo de 2012 pra cá? Enfim, vocês continuaram trabalhando, mas como foi essa produção do AQNT?
Tem e não tem tanto a ver. Tem mais pelo fato de o do it yourself ser um lema, e por tudo ser mais difícil pra gente por conta da falta de grana, normal. Sempre rolam uns imprevistos, principalmente quando se tem um grupo relativamente grande. Só pra você ter noção, era pra ser um EP de seis faixas, mas acabamos tendo varias ideias que não poderíamos simplesmente descartar, e aí virou disco.

Do Ascensão pro Assim que Nóis Trabalha, dá pra sacar que existem uns pontos comuns, a temática da cidade, do dia a dia de vocês mesmo, tudo bem direto, mas onde você, enquanto produtor, enxerga melhor as diferenças entre um trabalho e outro?
É, na real, a parada sai sempre a síntese do que é nosso dia a dia e do que a gente vivencia. Acho que, em essência, isso nunca mudará. Em questão de produção, modéstia à parte, a parada tá ABSURDAMENTE superior. O Ascensão foi mixado no 3 em 1 véio de casa. Hoje em dia, a situação não é a ideal, mas tá melhorzinha e isso influencia no resultado final.

Que caminho você costuma fazer pra chegar nos seus beats? O que você tem escutado? E fora isso, o HMT tem ouvido coisa fora do rap? O quê?
A gente ouve rap, muito rap mesmo. O Falcon já tem um conhecimento vasto em reggae, mas em suma é rap que a gente respira, principalmente rap de banca tipo Wu Tang, Boot Camp Clik, Hieroglyphics… a gente pira na banca do A$AP, na TDE, na ProEra, e nos lances da DuckDown e da Stones Throw.

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Sobre as batidas, não tem uma fórmula, não. Eu gosto mesmo é de tirar onda fazendo os beats. O lance é usar coisas improváveis de sample e se divertir, até porquê ouvimos várias vertentes de rap e gostamos de todas. Pra você ver, uma das músicas mais antigas ali é "Largados na Liberdade", e ela é um sample do Mayer Hawthorne; daí, tem “Gueto Árabe”, que é uma das primeiras que fizemos também, e soa algo meio A$AP Ferg… quer dizer, era isso que eu queria fazer né? Então, dá pra sacar que a gente tenta sintetizar tudo o que a gente gosta pra fazer o som, e é isso, explorar possibilidades: eu cortei Cher pra chegar no resultado da "Malandrão". Pra você ter noção, acabo ouvindo mais música diferente pra cortar mesmo e faço figas e acendo velas pra não ter um processo nas costas. E pra não dizer que nada fora do rap tem feito minha mente, eu me amarrei no último trampo do The Internet e ando apaixonado também por uma banda da Nova Zelândia chamada Hiatus Kaiyote, essa banda é foda!

Num plano ideal, onde vocês gostariam que o AQNT chegasse agora? Vocês acham que o Hó Mon Tchain poderia extrapolar um pouco mais o nicho do rap, ou melhor, vocês gostariam que isso acontecesse?
A gente acredita que vai ser bem aceito, afinal, tá gostoso de ouvir, tá de fácil degustação, e na real a gente quer mesmo que mais e mais pessoas consumam o nosso rap. Na época do Ascensão, mesmo sendo um disco de rap extremamente underground e nada comercial, eu achava louco quando chegava uma pessoa que não era do rap e falava que era fã. Aconteceu algumas vezes e eu vejo isso como uma conquista enorme!

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Como vocês enxergam a cena hoje?
Pelo que eu sei, em comparação com uns anos atrás, tá a melhor de todos os tempos, e se alguém disser que não, vai estar mentindo. Existem muitos artistas bons, inclusive indo pro mainstream, e isso só faz com que mais e mais pessoas consumam o rap nacional. O hip hop no Brasil tá aí desde os anos 80, e o ideal MESMO seria se tivesse uma concessão de rádio pública que tocasse SÓ RAP, esse seria o panorama de cena ideal, rap como música popular — o tiozão dono do boteco ouvindo rap na rádio, na TV e etc. A gente chega lá ainda.

Acham que tem rolado uma abertura maior pra dialogar com outros sons, com outra galera?
Em partes sim. Lá na gringa acho que isso acaba sendo mais natural, você vê a rapaziada do rap colando com a rapeize do rock, por exemplo, e lá isso é normal. Aqui seria louco ter o rap conquistando espaço em festivais grandes. Aliás, tem conquistado: você vê um ConeCrew ou um Marcelo D2 tocando no mesmo festival que várias bandas pop ou de outras vertentes musicais, e isso é ótimo! Seria legal se mais nomes conseguissem o mesmo espaço, o rap nacional tá a mais no que diz respeito a conteúdo, e isso merece ser mostrado pro maior numero de pessoas possível.

Pra fechar, em paralelo, todos vocês têm uns trabalhos próprios também, né? De que forma isso ajuda o HMT, e quais as perspectivas desses trampos solos pra cada um de vocês?
Sim, cara, o HMT é união de vários talentos individuais e no intervalo do Ascensão pro AQNT saiu o disco do Plano B, inclusive, que se chama Montanha Russa, e o cara já tá escrevendo uma outra mixtape. Cada um tem pretensão ainda de explorar mais esse lado. O J.G‐Mano tem um disco escrito, o Amiltex também, já tá metade feito no que diz respeito a batidas, e provavelmente sai este ano, mas tudo em seu tempo. Por ora, a prioridade é focar no Hó Mon Tchain mesmo e o que posso dizer é que vão rolar vários clipes bacanas do trampo!

Na terça (12), o Hó Mon Tchain se apresenta no Estúdio Showlivre, com transmissão ao vivo a partir das 17h aqui, e no dia 17 acontece o show de lançamento do trabalho na NEU Club, com entrada na faixa.

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