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Música

Dez Anos Depois: Classificando ‘Destiny Fullfiled’, das Destiny’s Child

Será que Destiny Fulfilled resistiu ao teste do tempo?

Já se passaram dez anos desde que o Destiny’s Child lançou um novo disco. Vai fazer uma década neste mês, na verdade – não podemos nos esquecer. Muita coisa aconteceu durante esse período. A saber, a Beyoncé se tornou a pessoa mais poderosa do planeta. (Muitas outras coisas aconteceram entre 2004 e este exato segundo, mas não vamos falar sobre isso de jeito nenhum porque não tem nada a ver com esta matéria. Namastê.) Certo, Kelly também andou ocupada: ela apareceu no ano passado com a música “Kisses Down Love” (quem não ama uma ode ao cunnilingus?). Quanto à Michelle, ela andou fazendo musicais no teatro, umas paradas gospel e, neste ano, foi porta-voz da linha de absorventes da Playtex. Então, a missão dela é “promover os produtos de higiene feminina da marca e empoderar mulheres para que lidem com as dificuldades da vida com elegância”. Ainda não ficou claro para mim como a Playtex vai me ajudar a ser uma mulher elegante em 2014, mas é bom ver que as três continuam a fazer a sua parte em prol das mulheres em geral.

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Dito isso, será que Destiny Fulfilled resistiu ao teste do tempo? A beleza do Destiny’s Child é que elas nunca se submeteram às modas e técnicas musicais que associamos àquele período em particular. Não faziam mashups e não usavam Auto-Tune e, de modo geral, samples. As meninas utilizavam apenas as suas vozes, ganchos e batidas tão incríveis que nem a Taylor Swift poderia cantar sobre eles. (Levantem as mãos se pescaram essa referência, fãs de 1989!). O Destiny’s Child evocava o melhor do R&B, do soul e do pop mainstream sem soar como um produto dos anos 2000.

Ou ao menos essa é a linha de argumentação com que vou começar isso. Abaixo, vamos ouvir, classificar e julgar Destiny Fulfilled para definir de uma vez por todas se elas são tão boas quanto pensamos*.

*Alerta de spoiler: elas são. Adoro classificar coisas.

1. “LOSE MY BREATH”
NOTA: 10

É assim que se começa um disco. Você ouviu esses tambores? Esse grito de “hit me!” (algo como “manda ver!”), como se estivéssemos na banda marcial mais legal da face da Terra? É claro que você ouviu. Você tem ouvidos e memória, e você se lembra como era incrível quando essa música tocava no bar e você engolia o seu Amaretto Sour para rebolar como uma louca? (sim, eu disse “rebolar”, entrem na onda.)

Agora, misture aí um gancho e um refrão grudentos pra caralho, e como Beyoncé, Kelly e Michelle desafiam o alvo da música sem o menor pudor. Isso é o Destiny’s Child na sua melhor forma. É por isso que ligamos tanto para o retorno delas no Super Bowl no ano passado.

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2. “SOLDIER”

NOTA: 9

Eu só não vou dar nota dez para esta música porque recém dei nota dez para a música acima e gosto de variar (e de não ser xingada nos comentários). Mas isto – e Destiny Fulfilled como um todo – é o melhor exemplo de como escolher a sequência das músicas de um disco. Num minuto, estamos dançando loucamente e entornando drinques (ver: como era 2004), e, em seguida, dançando no sentido “Partition” da palavra, cantando junto com elas como se a letra fosse nosso manifesto pessoal. Enquanto “Lose My Breath” era uns 40% sobre desafiar um cara a conseguir te acompanhar (e 60% sobre como a música soava), “Soldier” inverte esses números, permitindo que a gente recupere o fôlego (hã, hã?), sem nos deixar paradas ou entediadas. Você ainda pode se mexer, ouvir e cantar, mas é uma pausa empoderadora.

3. “CATER 2 U”

NOTA: 3

Desculpem, mas odeio esta música. Acho que é minha culpa por escutar a Beyoncé o dia inteiro, todos os dias até hoje, mas a Beyoncé (e provavelmente a Michelle e a Kelly também) de 2014 não pensariam de jeito nenhum em cantar uma música sobre “servir um jantar” para um cara. Quero dizer, faça isso o quanto quiser, legal. Ou peça para alguém servir, que seja. Eu entendo: se você ama alguém, quer fazer coisas legais por essa pessoa porque bem, dã. Mas, diferentemente do resto das músicas delas (e da Beyoncé, especificamente), “Cater 2 U” indica um desequilíbrio de poder. Sim, elas dizem “esta é a minha carta de amor”, mas depois vem “o seu desejo é uma ordem”, e… Quero dizer, seja você mesma. Talvez seja uma história de uma noite. Talvez eu não goste é dos termos. Eu amo vocês, meninas, mas essa música eu PASSO. Uma observação: este clipe é involuntariamente engraçadíssimo, dos caras usando roupas de inverno no deserto ao monólitos esquisitos de metal que ninguém percebe, passando pela Kelly se contorcendo em volta daquele carro como um gato pulguento se esfregando num poste. DROGA, GAROTA, VOCÊ SABE DANÇAR. Que diabos?

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4. “T-SHIRT”

NOTA: 7

É hora de sensualizar! E sensualizar no estilo de “Let’s Do It Again”, do TLC, de CrazySexyCool que, só para constar, é muito sexy. Então, esta é uma música sobre dormir usando ou agarrada na camiseta de um cara quando ele não está por perto. E sexo. É uma música sobre sexo. Sexo bom. Sexo ótimo – você espera. (Apesar que, por mais que eu adore esta música, adoraria se o clipe fosse sobre um caso entre as meninas e a camiseta e acabasse com tipo, o cara fazendo as malas e se mudando. Então adoraria se fosse uma espécie de comercial bizarro da Fruit of the Loom, é isso o que estou dizendo.)

5. “IS SHE THE REASON”

NOTA: 6

Esta música é ok. Não é ruim, não é ótima, mas é boa! Quero dizer, três cantoras talentosas cantam sobre uma relação que está prestes a entrar em colapso e depois perguntam se é por causa de outra mulher. Ei, elas fazem um bom trabalho. Se o trabalho delas era cantar isso, então, meus parabéns: o cheque foi merecido. Não é nenhuma “If I Were a Boy”, mas o que chega aos pés dessa? Exatamente. Nada.

6. “GIRL”

NOTA: AHN, 10, ÓBVIO

AHHHHHH! Você já quis saber como seria se tudo na sua vida desse errado e, em vez de sentar no seu carro chorando e ouvindo “All Too Well”, da Taylor Swift, no repeat – eu faria uma piada para esconder que fiz isso, mas já fiz e vou fazer de novo, tô nem aí – a Michelle, a Kelly e a Beyoncé te convidassem para falar sobre o seu dia? Você consegue imaginar? Esta música é literalmente um discurso das três mulheres mais poderosas do planeta, e nele elas dizem para você deixar o idiota que está namorando e ficar sozinha, de cabeça erguida, como uma vencedora. Assustada? É claro que você está. Mas tudo bem, porque depois de te dizerem umas verdades duras, elas prometem ficar do seu lado porque estão com você desde que tinham dez anos de idade.

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Tipo, podemos falar de irmandade feminina em 2014 até que a vaca tussa, mas isto – isto – é puro apoio feminista. É um manual para como manter pessoas que você ama na sua vida. É o jeito de dizer a uma amiga que o namorado dela é o pior de todos. Ou, mais especificamente, de como dizer a alguém: “Eu te amo e estou do seu lado, mas pelo amor de Deus, se liga. Não se preocupe, vou te ajudar”.

Uma observação: Vocês também podiam fazer um favor à sua amiga e falar para a Bey jogar no lixo esse sobretudo verde limão que ela usa por cima dessa saia tie-dye com estampa de círculos. Ela está emulando a Tina Knowles aqui, e esse visual tem que ir.

7. “BAD HABIT”

NOTA: 6

Qualquer coisa depois de “Girl” é anticlimática, mas especialmente uma música sobre o tipo de namorado bosta que elas acabaram de mandar a menina de “Girl” chutar para escanteio. Sei que essas músicas não são particularmente autobiográficas, mas tipo, pessoal, qual é, sigam os seus próprios conselhos. Vamos conversar de novo como fizemos na faixa seis.

8. “IF”

NOTA: 7

Aqui está uma música da qual nunca falamos porque, bem, tem muitas outras músicas no mundo e a oitava faixa de um disco do Destiny’s Child não é exatamente uma prioridade. Mas hoje vamos prestar a devida atenção à ela. CONFIRMADO: pular essa faixa anos atrás foi a porra de um erro colossal. Por quê? Porque é uma ótima faixa! É sutil, e entra no grupo daquelas que vão na linha “é, sou eu em primeiro lugar, então vá se foder” – um gênero fundado e curado pelas Destiny’s Child, e devemos agradecer por isso. Além disso, esta música mostra bem as vozes delas. A Santa Trindade funcionava por um motivo, e músicas como esta mostram bem isso.

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9. “FREE”

NOTA: 7

Como esta música não aparece em todo filme cujo roteiro seja na linha de “acabei com um idiota e agora minha vida está maravilhosa” eu não faço ideia. Além disso, também é 75% Beyoncé, então ela é assim graças a isso e à suavidade da melodia. É uma música que facilmente poderia ter se sustentado no repertório solo dela também. Enfim, pense em uma versão de 2004 de “Me Myself and I”. Porque eles podem nos tirar os nossos grupos de R&B, mas nunca vão tirar a nossa liberdade.

10. “THROUGH WITH LOVE”

NOTA: 7

Apresentando: um piano, declarações fortes e um amplo alcance vocal. Qualquer nota abaixo de sete seria triste e vergonhosa para todos nós, mas algo mais do que sete seria estranho, porque a música é sobre Deus – eu acho. Este é o problema: isso não fica claro. “Achei um novo amor / Achei um novo amor, achei um novo amor / Eu o achei em Deus”. Tipo, nada contra Deus, não julgo músicas baseada nas suas convicções religiosas, obrigada, mas o que me confunde é que a primeira parte da música parece um hino ao fim de um relacionamento, e a segunda metade é: “Conheci outra pessoa, e adivinhe só? Você conhece Ele”. É esse o ponto? É uma faixa gospel? Se sim, então legal, o grupo nunca se afastou das suas raízes gospel. Mas se não, bem, não sei o que te dizer. Provavelmente que esta música não é “Lose My Breath”, o que todas as músicas deveriam ser.

11. “LOVE”

NOTA: 6

Não com um assobio, mas também não com uma explosão. “Love” – uma música sobre encontrar o amor e agradecer a Deus por este amor – é o equivalente musical de um abraço gentil de boa noite. É agradável, não causa comoção e não precisamos escrever 500 palavras sobre o que ela significa. Sabemos o significado de “Love”: é uma música sobre se apaixonar de novo, o que é importante porque foi lançado na época que a Beyoncé e o Jay Z começaram a namorar.

Então talvez até seja sobre ele. Mas também: provavelmente não.

Mas este disco, o último disco delas [soluço] resistiu ao teste do tempo? Como você ousa duvidar. As Destiny’s Child mudaram as regras do jogo. Elas foram pioneiras. Elas nos deram “Bootylicious” e samplearam a Stevie Knicks porque elas mostravam (e sempre vão mostrar) respeito. As músicas “medianas” delas ainda são melhores do que muitos dos “melhores hits” de hoje. E a mensagem delas – de modo geral – gera empoderamento, força e um sentimento de “ninguém mexe comigo”. Então eu diria que sim, ele resistiu.

Anne T. Donahue é unfuckwithable. Ela está no Twitter.

Tradução: Fernanda Botta