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Música

Depois da Prisão do Tim Lambesis, o As I Lay Dying Volta à Vida como Wovenwar

Tim Lambesis está vendo o sol nascer quadrado, mas o resto da banda não. Afinal, a vida segue.

Tim Lambesis um dia foi o vocalista principal da banda de metalcore As I Lay Dying, de San Diego. Mas atualmente ele é mais conhecido como o detento nº AU0886. Em maio, o músico de 33 anos foi condenado a seis anos de prisão por declarar-se culpado da acusação de tentar contratar um matador profissional para assassinar sua esposa, que se separara dele. Ele agora está trancafiado no Sierra Conservation Center, uma penitenciária no norte da Califórnia, a vida pessoal e a carreira no heavy-metal em ruínas.

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Quanto aos seus antigos companheiros de banda? Nas imortais palavras de Boyz II Men, eles estão indo muito bem.

Nos meses que se passaram desde a dramática audiência que determinou a sentença de Lambesis, os guitarristas Phil Sgrosso e Nick Hipa, o baixista/vocalista Josh Gilbert e o baterista Jordan Mancino apresentaram ao mundo uma nova banda, a Wovenwar. Eles têm um novo cantor, Shane Blay (que canta de verdade, e também toca guitarra), e em julho embarcaram numa turnê de estreia pelos EUA, para promover o disco que estão lançando, que tem o mesmo nome da banda, saiu pela Metal Blade Records em 5 de agosto, e recentemente chegou à posição 36 no ranking da Billboard 200.

Além disso, Hipa, Mancino, Sgrosso e sua esposa Shannon agora são também os donos de uma boate em San Diego chamada Brick by Brick. Numa noite de sexta-feira em agosto, cerca de 250 amigos e parentes apareceram lá para uma festa em comemoração do primeiro show da banda na cidade, que aconteceu naquela noite em uma boate para todas as idades.

"Estou nas nuvens nesse momento", Sgrosso me diz na noite da festa, sentado no escritório dos fundos da Brick by Brick, enquanto o disco do Wovenwar estoura na caixa de som da sala ao lado. "Acabei de fazer o melhor show da minha vida. Estou empolgado de fazer música com esses caras." Ele toma um gole de uma Miller Lite enfiada num suporte térmico com a marca da Brick by Brick. "Para mim é desse jeito que uma banda deve funcionar."

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O ano passado foi dureza para eles. O caso de Lambesis criou ondas de choque pela comunidade do metal, e atraiu atenção da imprensa em nível nacional, com muitos veículos se aproveitando do cristianismo declarado de Lambesis como uma suculenta isca para gerar notícias. A provação atingiu seus ex-companheiros de banda com força ainda maior, tanto pessoalmente quanto profissionalmente. O As I Lay Dying (que atualmente está em "hiato", sendo Lambesis e Mancino os únicos membros "oficiais" remanescentes) foi outrora um dos clássicos do circuito internacional de turnês. Hoje, o Wovenwar está de volta à estaca zero. Eles dormiram no chão entre as paradas da turnê, tiveram que lidar com defeitos do motorhome, e estão de dedos cruzados à espera do sucesso.

Não há, é claro, garantia alguma de que obterão a mesma glória do passado. Ainda assim, parecem totalmente eufóricos com a situação atual. O disco novo é como um turducken hiper-recheado, estourando com as ideias que eles nunca puderam explorar dentro da rígida fórmula metalcore do As I Lay Dying: a guitarra solo ao estilo Iron Maiden, texturas oníricas à la Deftones, harmonias vocais limpas e melodias em escala maior.

"Pusemos tudo aquilo que nos aconteceu ano passado nas nossas canções, transformamos em música", me conta Hipa no Brick by Brick, o rosto radiante, com um sorriso de menino. "Ver isso tomar vida, e as pessoas aceitarem e curtirem, significa tudo para nós."

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Embora a banda pareça ansiosa por se distanciar de Lambesis, é difícil ouvir a música do Wovenwar sem que a história por trás dela vá se insinuando furtivamente. O nome da banda vem da ideia de que os humanos nascem inocentes, mas crescem enfrentando o conflito entre amor e ódio, entre certo e errado – uma óbvia alusão à derrocada de Lambesis. O single principal do disco, "All Rise", é um hino bombástico ao renascimento e ao rejuvenescimento, com as melodias altivas de Blay fazendo oposição direta ao estilo vocal agressivo e rosnado de Lambesis.

Numa entrevista de uma hora com o Noisey, Sgrosso, de 28 anos – cabelos pretos longos de roqueiro e uma camiseta do Obey – é mais diplomático que outra coisa ao falar de seu ex-companheiro de banda. Mas fica claro o alívio que sente com a saída de Lambesis. Ele diz que a provação do As I Lay Dying, por mais horrível que tenha sido, revelou uma "luz no fim do túnel", libertando o restante da banda para começar de novo.

"Parecia que cedo ou tarde teria que haver algum tipo de mudança. A banda estava ficando um pouco estagnada", diz Sgrosso. "A gente estava tão preso ao nosso som, e era sempre tipo, 'cara, se a gente pudesse aplicar só cinquenta por cento dessa ideia. Cem por cento é muito fora do nosso padrão. Se a gente pudesse aplicar só metade dessa ideia, seria excelente… Ah, mas tem os gritos.' No final das contas você ficava tipo 'ah, legal, dá pra colocar cinco por cento daquela ideia.'"

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O alívio de Sgrosso, contudo, não tem a ver só com a estética. Segundo ele, nos meses anteriores à prisão, era evidente que Lambesis estava prestes a perder as estribeiras. O cantor estava cheio de esteroides, se divorciando, e com comichão de entrar em altercações físicas. Quando Sgrosso finalmente recebeu a notícia – no primeiro dia da tão esperada lua de mel com Shannon, os dois acordando em um lindo bangalô sobre a água no litoral de Sepang, na Malásia – ele supôs que Lambesis havia simplesmente socado a cara de alguém.

"Nós todos meio que esperávamos que ele arrumasse briga. Mas aí foi tipo: 'ah, não… tentativa de assassinato. Ele tentou matar a Meggan", diz, se referindo a Meggan Murphy, ex-esposa de Lambesis e amiga íntima de Sgrossos. "Você fica de cara no chão. Simplesmente não consegue acreditar. Mas sente muita gratidão por ele ter sido preso e por Meggan estar bem. E pensa nas crianças, e fica tipo 'está todo mundo bem?' Nesse momento, não me importa o Tim. As crianças e Meggan estão bem."

De acordo com Sgrosso, ele e seus companheiros de banda levaram apenas um mês para decidir que seguiriam em frente sem Lambesis. A Metal Blade se comprometera a continuar trabalhando com eles, os empresários da banda idem. Só faltava de um novo cantor – desta vez um cantor de verdade, não um gritador como Lambesis – e eles o encontraram em Blay, um velho camarada de Hipa que faz parte de um grupo de metalcore chamado Oh, Sleeper, em Fort Worth, no Texas.

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"Encontrar alguém como o Shane foi, tipo, tudo o que a gente queria. Não tinha mais ninguém no mundo", diz Sgrosso. "Nós o respeitamos como compositor, como cantor, como guitarrista, e ele se encaixou perfeitamente desde o início."

Para uma banda novinha em folha, o Wovenwar está se saindo muito bem até aqui. Brian Slagel, o fundador e CEO da Metal Blade, diz que as vendas do disco estão melhores do que o esperado. Ele chegou ao nº 1 no ranking de downloads do iTunes na categoria metal nos EUA, Canadá, Alemanha, Reino Unido e Austrália, e a banda também está recebendo muitas ofertas de turnês para 2014 e 2015. Em setembro, partem para a Europa numa turnê de seis semanas com o In Flames.

"É claro que ainda estamos na fase de testes, e nada está cem por cento decidido, mas eles vão estar em turnê basicamente pelo próximo ano inteiro", diz Slagel. "Esses caras fizeram muitas amizades com várias bandas no decorrer dos anos, e acho que há muita gente torcendo por eles."

Não surpreendentemente, Lambesis talvez esteja ressentido com o novo arranjo. Em uma entrevista exclusiva de seis páginas com a Alternative Press, publicada na internet no dia em que ele recebeu a sentença, o frontman acusou seus ex-companheiros de banda de usá-lo como um "vale-refeição" enquanto ele participava do As I Lay Dying, e de jogá-lo fora depois de sua prisão – alegações que Hipa descartou, classificando-as como "difamação total" em uma declaração que postou na sua página do Facebook, respondendo à entrevista.

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Na entrevista, Lambesis também pareceu ávido por distribuir culpas e dar algumas bordoadas. Em uma parte infame – na qual revelou que fingira ser cristão para continuar tirando dinheiro de fãs religiosos, mesmo depois de se afastar da fé –, afirmou que somente "talvez uma em cada dez" bandas cristãs com que fizera turnês eram cristãs de verdade, e que alguns de seus companheiros de banda também haviam se afastado da fé durante a existência do As I Lay Dying, mas ainda assim escolheram fazer lucrativos shows em festivais cristãos.

Quando puxo o assunto dessa entrevista com Sgrosso, ele revira os olhos e diz que aquilo tudo não passa de "um monte de baboseira".

"O Tim não tem nenhum direito de nos colocar como farinha do mesmo saco em nada do que ele diz. Esse é o Tim. É o estilo dele. Porque alguns membros da banda muitas vezes disseram: 'sentimos que não estamos sendo sinceros'", conta Sgrosso, observando que ele e outros membros reconheceram publicamente que haviam se afastado da fé cristã, e que não se sentiam confortáveis tocando em shows religiosos. "Ele está tentando levar a gente junto. Esse é o lance. Está só tentando falsificar a situação de modo que ele não apareça tão mal. E, sabe, acho que ficou evidente para muitas pessoas o que ele estava tentando fazer."

Intrépidos, eles seguem em frente. Na noite da festa na Brick by Brick, fizeram seu primeiro show em San Diego, na SOMA, um espaço badalado para bandas metalcore e screamo. Porém, em vez de tocar para dois mil garotos ou mais no "palco principal" – o lugar de costume do As I Lay Dying – o quinteto foi colocado no "palco lateral", muito menor, onde a iluminação era de segunda, o isolamento acústico de espuma descascava das paredes, e o público foi bom, mas passou longe de lotar a casa.

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Pouco importa. A banda ainda assim se divertiu muito. Sgrosso e Hipa fizeram excelentes solos de guitarra. Blay e Gilbert vociferaram melodias melodramáticas que duelavam. Mancino, sacudindo suas costeletas vitorianas, trouxe a força com suas batidas violentas e fills em cascata. Quando o Wovenwar tocou a última música, "Prophets" – abrindo com um trecho acústico antes de se lançar em um riff triunfante e violento – as pessoas na plateia acompanhavam a batida quatro por quatro, batendo palmas com os braços erguidos, se movendo como se estivessem num show do Styx.

Especular sobre o futuro do Wovenwar é inútil: como o destino de suas antigas bandas deixa claro, o negócio da música é cheio de armadilhas inesperadas. Se esses caras conseguirem fazer as pessoas baterem palma em uníssono nos shows, contudo, o caminho a ser percorrido talvez seja mesmo próspero.

Peter Holslin é um jornalista de música que mora em L.A. Ele está no Twitter - @peterholslin.

Tradução: Marcio Stockler

Lembra das tretas do Tim Lambesis?

Tim Lambesis, do As I Lay Dying, foi Sentenciado a Seis Anos de Prisão por Tentar Contratar um Matador de Aluguel para Assassinar sua Esposa