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Música

Damon Che Fala Sobre o Passado, o Futuro, e os Longos Títulos de Músicas do Don Caballero

Trombamos o Che em sua casa em Pittsburgh e o metralhamos com toda a merda que você sempre quis saber.

Quase 25 anos após o baterista de braços de polvo Damon Che ter cagado uma caralhada de movimentos definitivos no underground – incluindo o math-rock, post-jazz, post-rock e prog-metal – com a sua cerebral banda instrumental Don Caballero, o forasteiro de Pittsburgh segue como uma corajosa força a ser reconhecida.

Ao longo de sete discos pioneiros, começando com For Respect em 1993, Che tem guiado o Don Caballero com aprumo, cercado por um vai-e-vem de membros que já contou com Ian Williams (Battles), Eric Emm (Tanlines) e Jon Fine (Bitch Magnet) como comparsas. Mas ao passo em que a banda ganhou um status de lenda e créditos sem fim por seus lançamentos na Touch & Go nos anos 90, foi a atitude “tô pouco me fudendo” de Che que ganhou a ira da indiesfera quando ele reformou sua própria banda – sem Williams e Emm – com novos integrantes. Ah, o sacrilégio!

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Essa nova encarnação do Don Cab lançou dois discos criminosamente subestimados (World Class Listening Problem em 2003 e Punkgasm em 2008) e um ao vivo (Gangbanged With A Headache, and Live, em 2012). Os dois últimos, possivelmente, com os melhores títulos da história, criados por um cara cujo catálogo é marcado por canções com nomes hilariamente prolixos – como “I’m Goofballs for Bozzo Jazz” (algo como “Sou Retardado Por Jazz Entediante” em português) ou “You Drink A Lot Of Coffee For A Teenager” (“Você Bebe Muito Café para um Adolescente”).

Por mais que não tenhamos carne nova desde Punkgasm, podemos nos reconfortar em saber que Henry Owings, da Chunklet Magazine, desenterrou de seus tesouros a gravação mais antiga conhecida do Don Cab, de dezembro de 1991. Mais um lançamento com os títulos típicos de Che, Five Pairs of Crazy Pants. Wear’em: Early Caballero reúne parte do material destes titânicos riffadores matemáticos que apareceriam futuramente em seu marco de 1993, For Respect, dentre outras miudezas.

Era o presságio da “formação clássica do Don Cab” – Che, o guitarrista Mike Banfield e o baixista Patrick Morris – como um trio em ascensão de pensadores a frente de seu tempo na ponta da dominação Amerindie.

Ligamos pro Che em Pittsburgh pra falar sobre a história da banda e seus futuros passos.

Noisey: Então o império Chunklet de Henry está lançando a mais antiga gravação conhecida do Don Caballero, além do segundo show da banda como download-bônus, junto ao disco. Você já ouviu? Está feliz com ele?

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Damon Che: Sim sim, ouvi. Nunca fiquei muito empolgado com as gravações no rádio desde o início. Mas entendo que será algo divertido pros fãs mais hardcore, e sempre curti a gravação ao vivo. De fato, duas dessas faixas foram lançadas antes pelo Henry em um 7” há um tempão atrás, junto com um fanzine. De certa forma, o disco não é completamente inédito – duas faixas já foram lançadas antes, tecnicamente.

O que vem a sua mente agora a respeito daquelas músicas? Já fazem quase 25 anos.

Faz um bom tempo. O que penso quando o escuto, e é o que eu não curtia antes, é que eu não sabia como afinar minha caixa naquela época e não usei uma pele muito boa. Acho que era uma lona esquisita, meio abafada. E os toms tinham listras. Com o tempo aprendi a respirar detrás da bateria, as coisas foram ficando mais fáceis e parei de usar peles horrorosas e sem graça dos anos 70. Você acaba obtendo uma textura mais arejada, mais jazz. Você quer que aquilo ressoe. E quando se é jovem e bobo, você pega o que há de mais barato na loja de instrumentos sem pensar direito. É nisso que acabo pensando, mas faz parte daquela dor de crescer, então foda-se.

Quantos anos você tinha em 1991?
Acho que uns… 23? 22, talvez.

Quando você começou a tocar bateria?
Não tive minha primeira bateria até os 14 anos, acredite se quiser.

Rapaz!

Mas me metia na banda da escola e coisas assim, sabe. Por volta dos onze ou doze anos que comecei a me empolgar com rock’n’roll, e percebi que a bateria provavelmente seria o que eu tocaria melhor.

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O que você ouvia naquela época?
Kiss. Era o que todo moleque de onze anos ouvia em 1979. Era assim que funcionava.

Como você juntou com a formação original do Don Cab, o trio, com Mike (Banfield) e Patrick (Morris)? Eles eram seus amigos de infância?

Patrick não era um amigo de infância mas definitivamente um amigo da minha juventude. Conhecia o Mike por meio de sua antiga banda, Slag, e ele voltou pra São Francisco pra trabalhar como mensageiro e não curtia nada daquilo, apesar de não entender como ele não curtia andar de bicicleta em São Francisco, com todas as ladeiras. Ele voltou e disse: “Quer fazer alguma coisa?”, e acho que era agosto de 1991, entramos em um lugar pra ensaiar pra ver no que dava. Só chamamos o Pat umas semanas depois.

Agora se você quer falar sobre o começo do Don Caballero, tem um detalhe importante.

Manda.

Nunca nos sentimos prontos pra fazer qualquer coisa, mas as oportunidades continuavam surgindo, e nós não podíamos deixa-las passar. Não achávamos nem que éramos uma banda direito. Nós teríamos que ter um bom vocalista, originalmente, e talvez outro guitarrista que soubesse solar um pouco melhor que Mike. Mas aí surgiam todas essas oportunidades e não dava pra negar. Então de repente fomos enfiados em um palco como uma banda underground instrumental meio que progressiva. Foi como a história fez tudo acontecer.

E vocês ficaram numa boa com isso?

Bem, nós tivemos que ficar, não dava pra deixar a coisa passar. Se alguém dissesse: “Ei, querem abrir pro Head of David?” , “Ei, querem tocar junto com o Tar?”, nós não negaríamos nada disso. Parte de nós dizia: “Não estamos prontos, não somos uma banda ainda, não temos um vocalista, nossas músicas são só rascunhos”. E de repente você tá ali em cima do tapete mágico e é basicamente o que acontece. Estávamos ali pensando “ainda não somos uma banda de verdade, temos essas coisinhas que tocamos nos ensaios”, mas não dava pra dizer que não. E logo estávamos fazendo tudo o que podíamos, e era isso que éramos. E praticamente tudo isso está capturado nessas duas coisinhas que Henry irá lançar.

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Foi uma virada rápida, já que a banda se formou em agosto de 1991 e o material que Henry está lançado é de dezembro do mesmo ano e aquelas músicas já estão completas.

Sim, demais. Essa gravação ao vivo foi o nosso segundo show!

Você compôs tudo ou foi um esforço colaborativo?

Bom, até onde eu sei ninguém mais as criou.

Quando surgiu o nome Don Caballero? Já era esse o nome da banda em agosto de 1991?

Não. Estávamos atrás de nomes a torto e a direito, até cheguei a perguntar pro meu pai: “O que você acha do nome Don Caballero?” e ele respondeu: “Horrível. Não usem esse”. E não foi por isso que o escolhemos, mas sim porque todo mundo da banda tinha gostado e foi o melhor que conseguimos.

Você canta no Thee Speaking Canaries e também cantou em material mais recente do Don Cab. Você queria ser vocalista e baterista?

Os vocais nas gravações mais recentes são resultado pura e simplesmente de estarmos cagando pro que os outros pensam e simplesmente fazermos o que queremos. Não foi uma decisão consciente de chegar e falar “vamos gravar um disco do Don Caballero com vocais pela primeira vez”. Não foi assim, não mesmo. Foi mais tipo “é isso que a gente vai fazer, é isso que estamos curtindo, e estamos gostando de como está ficando”. Gravamos, não ouvimos nada de errado no resultado. Logo, há sim um pouco de instrumentação vocal no último álbum. Mas não posso prometer nada para o futuro.

Mas vocês queriam vocais nos primeiros discos do Don Cab?

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Queríamos, mas sempre deixávamos de lado. Havia uma música no For Respect que deveria ter tido vozes, mas eu cantei muito mal. Não tivemos nem que votar pra decidir, apenas disse: “Se vocês querem jogar as vozes no lixo, eu entendo completamente”, e os caras responderam “é, queremos jogar as vozes fora”, e foi o que aconteceu.

Como você diria que se sai o trio original em comparação com as diferentes formações ao longo dos anos?

Tento não comparar nenhuma das formações da banda, pra falar a verdade, porque senão esperam que eu justifique tudo isso. Todo mundo tem uma opinião estética diferente do que é apropriado e do que não é em termos do que é uma banda e o que não é uma banda. Gosto de pensar nisso como… bem, como todas as gravadoras com as quais trabalhei. Muitas mudanças nesses anos, em cada uma delas. Agora elas teriam que mudar de nome por conta disso? Muitos desses puristas ficam ligados demais em uma banda e um baixista que não pode fazer mais parte dela, aí esses caras pensam que a banda deveria mudar de nome para algo novo. Eu entendo e prefiro não fazer parte disso. Mas agora que você mencionou, não acho que nunca tenha comparado uma formação da banda com a outra.

É mesmo?

Agora que você mencionou, acho que não.

E por falar em gravadoras, esse ao vivo que o Henry está lançando é de 1991 e For Respect foi lançado em 1993. Como rolou o contrato com a Touch and Go?

Íamos lançar o For Respect com Steve Snyder, que lançou alguns de nossos primeiros singles, esse era o plano. Aí a Touch and Go apareceu, muito interessada, e nós não queríamos decepcionar tanto o Steve, mas acho que fizemos a escolha certa.

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Acabou que a Touch and Go lançou a maioria dos seus discos. Você quem deu o título de “Five Pairs of Crazy Pants. Wear ‘Em” e o registro ao vivo “Lookit Them Elly May Wrists Go” que o acompanha?

Eu mesmo.

Massa. For Respect tinha títulos mais curtos. Você começou a pensar mais nos nomes das músicas depois do primeiro disco?

Acho que isso fica evidente na progressão, e nem sempre os títulos são só meus. Alguns dos nomes em American Don são do Eric Emm e eles são ótimos também. Foi assim que eles foram ficando desse jeito. Ele tinha umas sacadas muitas boas. Nem tudo é de minha autoria, a maioria sim, mas não tudo. E voltando ao lance dos vocais no último disco… Não são todos meus também. Quem canta em muitas delas são Gene e Jason.

No Punkgasm?

Só tem uma que eu canto inteira, e em outra faço uma introduçãozinha. O resto é com o Gene ou Jason, então a coisa toda não é só sobre mim.

Depois de Punkgasm, lançado em 2008, veio o disco ao vivo Gangbanged With A Headache, and Live em 2012. Em que pé está o Don Caballero agora?

Adoro discos de vinil. Ainda os escuto no melhor equipamento em que consiga pôr as minhas mãos. E eu estava quase pensando no que deveríamos começar a fazer agora – já que os vinis continuam sendo o que sempre foram mas de alguma forma agora mais especiais do que nunca – em termos do mundo de processos digitais homogeneizados em que vivemos. Estava pensando que seria uma boa hora para lançar os singles em discos de 12”. E aí juntamos singles o suficiente pra lançar um álbum que poderia se chamar Singles Breaking Up, Volume 2.

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Uma puta ideia.

É meio que a única ideia de verdade que tenho no momento. Tem música saindo pelos meus ouvidos mas todos agora temos compromissos e empregos. Estou falando de famílias e esposas e vidas que não existiam nos primeiros vinte anos e que agora existem. Não posso prometer nada… Mas como dizem em Mad Max mesmo? “Não me conte como morto até ver o caixão entrar na terra” [risos]

Pode crer. Então vocês não têm mais tempo para turnês?

Se gravássemos outro disco não haveria porque não tirarmos uma ou duas semanas, costa leste e costa oeste, uma de cada vez, por exemplo.

Como as viagens de fins de semana que as bandas fazem agora.

Ah, isso sempre foi comum se tratando de bandas que não são de tempo integral – aproveitar ao máximo os fins de semana.

O lançamento do disco pela Chunklet está empolgando vocês pra cair na estrada?

Vou ter que esperar um pouquinho pra te responder essa. Vamos ver.

Brad Cohan tem um punkgasmo todo dia quando acorda, o que talvez explique porque ele não usa Twitter.

Tradução: Thiago “Índio” Silva