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Música

O Dallas Green Está Surpreso em Saber que Existem Fãs do City & Colour No Brasil

Entrevistamos o cantor canadense sobre fama, o revival emo e sobre a sua surpresa de conseguir se sustentar fazendo música.

Crédito da foto: Divulgação.

Todo mundo que era fã de Alexisonfire provavelmente deve lembrar quando o Dallas Green, vocalista e compositor de St. Catherine (Canadá) que dividia o microfone com George Pettit, lançou seu projeto solo City & Colour em 2005, no espaço entre o ótimo segundo álbum Watch Out! e o não-tão-legal Crisis. Estou trazendo essa lembrança à tona porque, além de dar mais credibilidade para o talento musical do Dallas, também foi o começo do fim para a banda de hardcore que anunciou a separação em 2011.

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Em 2012, o Alexisonfire agitou uma turnê de despedida por países onde pouco ou nunca haviam tocado, e São Paulo pode ver um dos shows mais explosivos daquele ano, enquanto a banda dava um olá e um adeus para os fãs de brasileiros que inundaram o Cine Joia com suor e muitas lágrimas de moleque com pescoço tatuado.

Na época da turnê de despedida, a carreira solo de Dallas Green já estava consolidada o suficiente com três álbuns e com o gostinho a mais do sucesso mainstream, que trouxe muito mais holofotes para seu projeto folk. Além do seu solo, Dallas lançou em 2014 uma parceria água-com-açúcar com Alecia Moore (mais conhecida como Pink) chamada You+Me. Algo bastante diferente para quem já havia gravado ao lado de bandas como Everytime I Die.

Sejamos bastante honestos: é fácil gostar de Dallas Green. Sua voz é universalmente simpática aos ouvidos, e acompanha um conjunto de letras bonitas e tristes, dignas de escutar olhando para o horizonte com uma mão segurando seu queixo. Tipo assim. Além disso, a grande maioria das entrevistas com ele não deixam de frisar que ele é um cara legal, humildão, que só quer fazer um som e ainda está surpreso com o fato de ganhar a vida fazendo isso.

O Dallas Green parece aquele seu amigo talentoso que fica encabulado quando você fala que gosta das coisas dele. Dallas também ficou meio constrangido com o fato de muitos fãs terem destrinchado a World Wide Web na época do Alexisonfire e acharem algumas músicas perdidas da primeira banda dele, Helicon Blue.

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Aproveitando as quatro datas marcadas no Brasil em março – três em São Paulo e uma no Rio de Janeiro – para divulgar seu quarto álbum The Hurry and the Harm, corremos atrás dele para trocar uma ideia com ele sobre sua carreira.

Noisey: Uma coisa que sempre quis confirmar é se o título do seu segundo álbum Bring Me Your Love foi tirado do livro de poesias do Bukowski.
Dallas Green: Sim, ele vem de lá mesmo.

Você gosta de inserir referências literárias nas suas músicas?
Leio bastante e acho que, quando você faz isso, te faz pensar em diferentes palavras para dizer e como gostaria de dizer as coisas também. Por exemplo, eu vinha tentando achar as palavras certas para cantar na faixa “As Much I Ever Could” e eu estava em uma livraria, achei o livro e tudo se encaixou na melodia e ficou perfeito. Então posso dizer que as coisas aparecem se você está aberto para elas.

Recentemente vi a notícia que você relançou as músicas da sua primeira banda, Helicon Blue, em vinil. Fiquei obviamente feliz, porque sofri muito para achá-las no SoulSeek na época que descobri a banda. O que te fez relançá-las?
Bom, o Joel, meu produtor e também gerente do selo em que estou [Dine Alone Records], queria muito relançá-las. Era o aniversário de dez anos do selo e essa foi, acredito eu, a primeira coisa em que trabalhamos juntos. Mesmo com o som gravado em baixa qualidade e também do fato ser minha primeira banda, acho que isso era importante para ele também. As pessoas se mostraram interessadas em ter uma cópia disso. Por mim, posso dizer que fico um pouco constrangido, porque foi o meu primeiro trabalho. Se você não olhar para trás e analisar as coisas que você fez e não ficar um pouco aflito com isso, significa que você não está evoluindo para melhor. Porém, sabia que teriam pessoas interessadas em ter uma cópia disso para elas, por isso que fiz.

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Você soa um pouco surpreso em saber que existem pessoas que gostam das músicas da sua primeira banda. Você acha que elas não traduzem nada do que você é neste exato momento?
É que foram 20 anos atrás que escrevi e gravei essas músicas, então nunca imaginei que alguém iria querer escutá-las tanto tempo depois que elas foram feitas. É surpreendente, aliás eu fico surpreso de conseguir ganhar a minha vida fazendo isso [risos].

Não dá para não perguntar: quais são as suas expectativas para tocar de novo aqui no Brasil? Você ficou chocado quando viu que tinha muitos fãs do AOF e do City and Colour?
Sim, já sabia que havia algumas pessoas interessadas no som da banda porque quando fomos praí com o Alexis foi um show ótimo, mas não sabia que as pessoas também estavam realmente entusiasmadas com o show do City & Colour. É realmente uma sensação maravilhosa saber que existem pessoas de todos os lugares animadas com minhas músicas, de saber que são pessoas de lugares que nunca fui. Sim, é ótimo, estou felizão.

Sua jornada musical é recheada de participações especiais com cantores (como a Pink, no projeto You+Me) e também outras parcerias musicais. Você acha que fechar colaborações com outros artistas é uma parte importante para seu crescimento musical?
Sim, com certeza. Especialmente por ser compositor acredito que seja muito importante você se condicionar a ouvir e também a escrever músicas diferentes. Se você ficar sempre na mesma coisa está também se fechando para a criatividade que pode aparecer em ângulos diferentes. Quando tive a oportunidade de fazer o disco com a Alecia [Moore, a Pink] apenas pareceu perfeito. Ela é uma cantora e compositora, assim como eu, então por que não dar uma chance para isso? Talvez as pessoas até estranharam Sabe, sou um cara que tocava em uma banda de hardcore e agora comecei outra coisa. Mas isso é uma das partes maravilhosas da música, se você quiser fazer algo ou tocar alguma coisa, apenas faça. Não se importe com o que as pessoas vão falar. No final do dia, o que importa de verdade é o que você gosta e o que você pensa. Sabe o que eu quero dizer?

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Com certeza. E já que estamos mais ou menos nesse assunto, é impossível negar que você atingiu um sucesso mais mainstream com o City & Colour. Como você lida com a fama e todos os seus aspectos positivos e negativos?
Ah sim, acho que lido bem com isso. Claro que às vezes você pode ficar um pouco sobrecarregado com essas coisas. Quero apenas fazer discos, música e é isso. Algumas pessoas não querem fazer isso. Se alguém quiser colar para conversar sobre minha música ou meus discos vou gostar. Só fico um pouco frustrado quando as pessoas só querem tirar uma foto e não ter uma conversa de verdade.

O que você anda escutando agora?
Agora estou escutando o novo álbum do D’Angelo e também o…você conhece o cara do Pedro The Lion, David Bazan?

Sim, sou muito fã inclusive.
Amo as coisas dele também. Nos últimos meses ele tem lançado umas duas músicas por mês, o que forma basicamente um álbum novo. Achei muito bom, ando escutando isso.

Bom, já que você mencionou o Pedro The Lion, o que você tem achado desse revival emo que tem rolado recentemente?
Acho que tudo vai, volta. E acho isso bem legal, ver bandas que terminaram anos atrás se reunindo para fazer música. Acredito que isso deva ser feito pelos motivos certos, você nunca vai querer ver uma banda voltando ou fazendo shows só por causa do dinheiro. Se as pessoas estão a fim de ver isso, acho ótimo.

City & Colour no Brasil:

São Paulo
Datas: 11, 12 e 13/03, 22h
Valor: R$ 180
Local: Cine Joia
Endereço: Praça Carlos Gomes, 82
Ingressos aqui

Rio de Janeiro
Data: 14/03, 22h
Valor: R$ 200 (valor da inteira do primeiro lote)
Local: Sacadura 154
Endereço: Rua Sacadura Cabral, 154
Ingressos aqui

Marie Declercq adora City & Colour e prefere muito mais a coletânea ‘You Get So Alone at Times That It Just Makes Sense’. Siga ela no Tumblr.