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Música

Uma investigação sobre o que é ser “descolado” em 2016

Fui no Field Day em Londres — o festival mais cool dentre os festivais cool — para tentar entender o que é ser trendy em meio a esta realidade pós-hipster, pós-irônica de internet.

Artigo publicado originalmente no Noisey UK.

O hipster morreu. Ele se engasgou com um hambúrguer de cânhamo após recusar a manobra de Heimlich ao ler em algum lugar que o próprio Dr. Heimlich não era vegan. Desde lá, várias tendências diferentes entre si surgiram para preencher o vazio. Nu-bros, normcore, góticos suaves, health goths, yuccies, cutesters e muitas outras tribos surgiram e cresceram, todas aparentemente sob uma ideia muito vaga do que é ser descolado. Mas se cada uma difere completamente da outra, e todas se acham cool, como se define o que é cool ou não? O que é “descolado”? Eu sou descolado? Você é descolado? O Noisey é descolado? Meu pai é descolado? Há uma pequena pomba comendo restos do lado de fora da cafeteria de onde escrevo tudo isso — ela é descolada? Ou a ideia de descolado finalmente escapou das definições por completo em 2016? Seria um tipo de força invisível da natureza, como a física quântica ou Kevin Bacon em O Homem sem Sombra?

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Irrelevante, desesperado e descolado da realidade, era o que significava ser “descolado” pra mim quando era mais novo. Era Vince LaSalle mandando uma bola pro espaço, Joey Jordison no pedal duplo, Duke Nukem de óculos escuros e arma na mão. Ser descolado era algo tão puro, tão honesto; não dependia de quantos cactos e suculentas você tinha ou a frequência com que compartilhava fotos em um aplicativo. Sendo assim, como descrever o ato de ser descolado em meio a esta realidade pós-hipster, pós-irônica de editoriais do Guardian, guias de tendências do Evening Standard, e mercados de capital social prontos para serem escalonados? O que é “tendência” hoje?

A única forma de descobrir isso seria me inserir no encontro anual da cultura jovem londrina, o festival Field Day — conhecido por ditar tendências que executivos de publicidade dedicam todo seu marketing para tentar compreender. Um lugar em que sonhos nascem e são publicados no Snapchat em segundos, o festival é o lugar ideal pra entrar em uma missão para descobrir o que é cool. Assim sendo, coloquei minhas piores meias e fui pro pântano que é o Field Day para perguntar aos jovens de hoje a maior e mais importante pergunta que pode ser feita. Vamos lá, povo descolado do descoladíssimo Field Day, me digam: que caralhos é ser descolado hoje?!

Noisey: Cara, o que é descolado hoje em dia?
Centro, à direita: Calças curtas.

Ah, saquei. Hobbits estão em alta?
Só use o que quiser, né?

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Se você tivesse que apontar uma pessoa definitivamente descolada e antenada nas tendências, quem seria?
Eu mesmo.

O que te faz descolado?
Originalidade.

Massa.

Ei! O que é ser descolado?
Centro, à esquerda: Quando eu tinha 12 anos, li na Times que bolar seus próprios cigarros era o máximo do descolado. Aí comecei a fumar. Sempre que bolo um, lembro daquele artigo e o quão descoladona eu sou.

Essa é a coisa mais descolada que você consegue fazer?
Não é a coisa mais legal que consigo fazer, mas me lembro dela enquanto conceito de descolado.

A julgar pelo seu vestuário doidão pós-integrante do Disney CRUJ, você parece versada no que é ser descolada. Como se tornar uma pessoa descolada?
Esquerda: Use coisas à frente do seu tempo. Isso é ser descolado.

Centro, à esquerda: Bacana mesmo foi quando comprei um par de Adidas no ensino médio e fiquei tão envergonhada que os joguei fora. Agora eles são tendência! Eu já fui descolada antes mesmo de todo mundo saber.

Direita: Ela não era descolada, estudamos biologia juntas. Confirmo que não era nada descolada. Ser descolado é não se importar, então pare de se importar com o que os outros dizem, tire o glitter da cara e se divirta.

E aí, caras? Em meio à constante mudança deste nosso universo, quem é a pessoa mais descolada que vem à cabeça de vocês?
Namorada: Meu namorado.

Namorado: Andre 3000.

Namorada: O que?!

Sempre pensei no Bubble do Big Brother 2 como um cara descolado. O que vocês acham da palavra ‘hipster’ hoje em dia? Somos pós-hipsters?
B: Chegou a ponto de saturação. Lembro quando disseram que jeans skinny eram bacanas. Mas hoje ninguém quer andar no visu Hollyoaks.

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G: Costumava ser underground, bacana — algo de nicho.

Qual o próximo passo, então?
B: Pra mim, descolados são nomes como King Krule, Jessie James, Rejjie Snow e outros nessa pegada. Death Grips e tal, saca? A ponte pro underground.

Então o underground é descolado?
O underground é descolado.

Então pessoas-toupeira são descoladas?
G: O que são pessoas-toupeira?

Elas vivem no underground, no subterrâneo.
B: Sou de Cornwall e nós mineramos carvão nas cavernas, então claro que acho isso bem bacana. cool.

E aí, o que é descolado?
Garota: Filmes! Nós estávamos conversando sobre filmes, inclusive.

Qual o filme mais descolado que você já viu?
Pulp Fiction.

O que faz Pulp Fiction ser tão cool?
É estilizado, feito por um diretor bastante envolvido com o cânone. Ele produziu algo original e que ainda assim referencia muitos outros grandes diretores. É bastante sensacionalista e sangrento.

Como você traria esse filme para o cotidiano de forma a ser mais descolado aqui no Field Day?
Cada personagem ali é um indivíduo. Acho que a partir disso dá pra interpretar que você deve ser você mesmo, um ser humano completo.

Garoto: Todo mundo aqui, no fundo, se acha descolado. E objetivamente, se você acha que é descolado, se você está tentando ser descolado, você não é.

Você se importa em ser descolado?
Com certeza. Mas acho que ter ciência de si, como num filme de Tarantino, isso é bacana. Mas na vida real não, nunca.

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Então uma bola de tênis, sem noção de nada, viajando pelo ar, é bacana?
Bastante.

O que vocês estão fazendo?
Direita: Tamo suave, cara.

Ficar de boa é o novo cool?
Não sei. Não tanto, talvez, acho. É, é bacana, é tranquilo.

A Antártica é cool [gelada]?
Depende do contexto, né? Em termos de temperatura, sim. Mas falando de coisas pra fazer, não é não.

Então passar frio não é cool?
Você pode ficar no frio porque é cool, mas ficar com frio não é.

Amigo: Porra, demais isso, bicho.

Você é bem alto, e se tem algo que a vida me ensinou, é que gente alta é descolada.
Homem alto: Bom, há duas percepções do que é descolado. O que as pessoas pensam e o que é pra você. Eu, por exemplo: sou um puta tonto. Mas amo ser tonto, então pra mim tá tranquilo, mas quem não me conhece vê e pensa “Aquele cara é tão alto. Ele deve ser descolado”.

Mas você deve ser. Gente alta é bom demais.
Que nada. Só acordei um dia e foi tipo “Uau, surto de crescimento”. Daí fiquei alto pra caralho. Mas nem me fala de ser descolado, porque eu não sou! Vai atrás do Skepta, ele sim é o auge do descolado. Apesar de ter um irmão nerdão YouTuber de Fifa, ele é bem massa. Se você faz algo que ama, você é bacana.

Um cara empurrando um carrinho feito doido no mercado, é bacana?
Não sei se isso é bacana ou coisa de psicótico. Por que alguém faria isso?

Ele é obcecado com o programa Super Market.
Ah, aí sim. É demais.

Então Super Market é legal?
E alguém duvida disso?

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Acho que não.

Onde posso encontrar o que há de descolado no Field Day?
Moça de cabelo rosa: O Dean Blunt já vai tocar, ele é cool.

Que outras bandas são bacanas?
O DIIV foi bom. O Skepta foi foda, mas o som tava uma merda. Vamos lá tentar ver o Dean Blunt.

Qual é a coisa massa de se fazer ao ver uma banda?
Ficar lá, ouvir, começar a dançar se curtir. Talvez dançar break? Não sei, eu não sou cool.

Mas se você não é descolada, nem quer ser, isso não te faz descolada?
Isso não faz sentido, por que você tá perguntando isso da gente?

Achei que vocês pareciam descoladas e poderiam me explicar como ser assim nesta nova era de modernidade.
Não, e quer saber, cansei dessa mentalidade. Todo mundo diz ‘você é hipster!’ e eu não sou uma hipster porra nenhuma! Eu só uso o que quero e sei o que quero fazer e faço. Ninguém está tentando ser descolado, só seja quem você é! Quem liga, bicho?

Amigo de moletom: Acho que era isso que eles queriam.

Moça de cabelo rosa: Nem ligo tô bem loca.

Onde que encontro o que há de mais descolado no Field Day?
No teu cu.

Ok, acho que deu.

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Tradução: Thiago “Índio” Silva

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