FYI.

This story is over 5 years old.

Música

Como Namorar Alguém Com um Gosto Musical Totalmente Diferente do Seu

Será que é possível sentir atração por alguém com quem não dá pra discutir com profundidade sobre as pérolas desconhecidas do Nas?
Emma Garland
London, GB

Existe alguma coisa pior do que estar viajandona na sua música favorita, sabendo que a parte mais foda está quase começando, e logo antes de chegar ao ponto de gritar "cara, tou me sentindo uma mulher" a plenos pulmões, algum escroto chega e desliga o som? E se esse escroto é o seu querido? E se você não tem outra opção a não ser abrir a porta e jogar ele para fora do carro, e tentar ser convincente ao informar à família do cretino que foi um acidente fatal, ao estilo Brian Harvey? Certo, certo, é melhor não matar. Mas sério, como é que se mantém um relacionamento no qual vocês não gostam das mesmas músicas? Será que é possível sentir atração por alguém com quem não dá pra discutir com profundidade sobre as pérolas desconhecidas do Nas?

Publicidade

Estou prestes a defender a hipótese de que sim; na verdade, há muitos motivos para namorar alguém com um gosto musical totalmente diferente do seu. Na verdade, namorar alguém com um gosto musical idêntico ao seu pode gerar efeitos colaterais no seu ventre. Você alguma vez já esteve em uma sala com dois fãs do Radiohead discutindo qual é a maior obra-prima deles, Amnesiac ou Kid A? É mais seco que uma reprodução em gesso de uma vagina na menopausa numa exposição da Tracey Emin.

É sempre bom sair da bolha das coisas em que você costuma prestar atenção, porque é saindo dela que você vai ter algumas das experiências mais empolgantes da sua vida; a menos que você seja o tipo de pessoa que simplesmente se recusa a ouvir qualquer outra coisa que não seja Insane Clown Posse (nesse caso, dirija-se ao JuggaLove para encontrar alguém com quem compartilhar sua machadinha pela vida toda). Tendo isso em mente, aqui vão alguns motivos pelos quais você totalmente não deve recuar horrorizado diante da ideia de sair com alguém que não compartilha do seu amplo conhecimento sobre os samples na obra de Childish Gambino.

Você Tem Passe Livre Para Tagarelar Sobre Suas Músicas Favoritas

É muito tênue a linha que separa, por um lado, falar sobre música obsessivamente até que todos à sua volta queiram enfiar o punho na sua boca e, por outro, apresentar com êxito o seu artista favorito de todos os tempos à sua nova pessoa favorita. Tendo em mente o objetivo de conseguir fazer a segunda coisa em vez da primeira, aqui vai uma listinha do que é bom evitar:

Publicidade

- Pensar na pessoa com quem você está saindo como um receptáculo vazio no qual despejar todos os fatos inúteis sobre o Pavement que você foi acumulando com o passar dos anos, e que todo mundo ao seu redor já não aguenta mais ouvir.

- Ser o cara que trata alguém como um idiota só por nunca ter ouvido falar naquela banda obscura que você adora.

- Ser o cara que entrega um pen drive contendo os seus 50 discos favoritos no início de um relacionamento, como se aquilo fosse um dever de casa que a pessoa tem que fazer.

- Ser o cara que não dá atenção às recomendações da outra pessoa.

- Dizer a uma pessoa que ela está errada por não gostar das coisas que você gosta. Na moral, isso faz você parecer um babaca.

Em vez disso tudo, seja mais tipo: "ei, eu bem que gostaria de te emprestar Tango In The Night, porque tem a sua música predileta do Fleetwood Mac, e também acho que você ia gostar das outras", ou: "ah, você não ouviu Gorky's Zygotic Mynci? Deixa eu te mostrar essa faixa mais fácil da qual você talvez goste, mas se não gostar também não tem problema". E não chegar todo "The Story So Far é uma merda, quem inventou o pop punk foram os The Descendents. Aqui estão todos os discos deles. Venha falar comigo quando tiver aprendido alguma coisa", a menos que você queira ser largado mais rápido do que uma caixa com cobras num incêndio.

Você Fica Parecendo Mais Sexy e Mais Inteligente

Quer saber o que é realmente atraente? Ouvir alguém falando de maneira apaixonada sobre algo de que gosta. Pode ser que a pessoa tenha zero noção daquilo que está falando, e talvez esteja confundindo quem escreveu qual verso em "Protect Ya Neck", mas, nesse ponto, você não faz ideia, de modo que não pode deslindar o que ela diz mais rápido do que um novelo de lã feito de teorias da conspiração, como poderia se estivesse por dentro de tudo. Embora ele tenha um ânus no lugar da boca, existe um motivo para a enorme popularidade de Russell Brand e de sua revolução, e esse motivo é: convicção. E cabelos bonitos. Mas principalmente convicção. Se existe alguma coisa que você pode aprender com ele, é como parecer atraente falando, falando, sem dizer nada.

Publicidade

Vocês Não Vão Destruir a Vida Um do Outro Discutindo Sobre um Mesmo Artista

Se alguém não gosta da sua música favorita do Elliott Smith porque não gosta do Elliott Smith, então você tem que aceitar o fato, porque, pela lógica, ele é razoável. Se alguém não gosta da sua música favorita do Elliott Smith mas é super fã de Elliott Smith, então como caralhos se deve lidar com uma coisa dessas? Como assim "Between The Bars" não é a melhor coisa que ele já fez? Você tá louco? Nem consigo contar o número de vezes em que me meti em discussões nas quais eletrodomésticos foram empunhados como armas, discussões causadas por conflitos de perspectiva a respeito de informações biográficas de Kurt Cobain. Melhor evitar por completo situações assim, saindo com alguém cujo conhecimento sobre o grunge começa e termina com Puddle of Mudd.

Mas e se todos os seus artistas favoritos são alguns dos maiores do planeta? Impossível existir alguém que nunca tenha ouvido o Yeezus, certo? Errado. Não faz muito tempo, pude apresentar Drake a uma pessoa. Sim, eu sei. Pare um minuto e imagine uma vida sem Drake. Agora pare um outro minuto e imagine ouvir Drake pela primeira vez. Agora imagine a gratidão que você teria pela pessoa que trouxe Drake para a sua vida. Sendo eu uma dessas pessoas, posso dizer que é excelente estar nessa posição. Sinto como se eu fosse um Jesus da vida real que milagrosamente transformou música em música de mais qualidade ainda.

Publicidade

Mixtapes!!!

Você já fez uma mixtape alguma vez na vida? É muito divertido. Os inícios dos relacionamentos são excelentes porque incluem aquela parte em que vocês podem trocar todas as suas músicas favoritas, e depois conversar longamente sobre elas. Você gasta tempo e esforço escolhendo um monte de músicas que revelam aspectos da sua personalidade que a outra pessoa ainda não começou a odiar, e ao mesmo tempo informa de maneira não muito sutil o quanto deseja dar uns pegas ao som de Mallrats no mudo. Você aprende um pouquinho sobre o outro, ele aprende um pouquinho sobre você, todo mundo cresce e evolui como ser humano, e todo mundo dá mais um passo em direção à paz mundial.

Por outro lado, não há nada mais desanimador do que entregar uma mix para alguém e:

"Ei, toma isso aqui, fiz pra você, tem a minha música favorita, de uma banda chamada Throwing Mus-"

"Sim, eu ouvi Throwing Muses quando tinha tipo uns cinco anos de idade."

"Ah, tá certo então, deixa eu ir jogar essa coisa aqui no LIXO."

Você Precisa de Alguém que te Desafie

Existe gente por aí que vai ser completamente tolerante com o seu ridículo gosto musical, e gente que não vai ser tolerante. Por mais que a sua coleção de vinis seja consagrada pela crítica, posso garantir que vai haver ali um punhado de músicas ou artistas que você adora, apesar de eles representarem tudo aquilo que você detesta. Para cada Dilla, haverá uma Danzig. Para cada Teenage Fanclub, haverá uma Right Said Fred. Não acho que ninguém deve sentir culpa por gostar do que gosta, mas, para mim, o poder de atração de um disco do Justin Bieber é muito superior ao de qualquer episódio de Breaking Bad, e por causa disso eu às vezes perco todo o senso de perspectiva. Deixada sozinha, eu não teria problema em ficar ouvindo Journals no repeat, sentada, na maior preguiça, enquanto minha personalidade gradualmente se transforma até que eu vire alguém que só namora homens que usam colete.

Cada Seth Cohen precisa de uma Summer Roberts que de vez em quando o faça lembrar que Death Cab For Cutie não passa de "uma guitarra e muito mimimi". Você precisa de um crítico na sua vida para que não acabe virando uma Mariah Carey, só que sem nenhuma das qualidades que fazem com que seja perfeitamente aceitável que Mariah Carey seja Mariah Carey. Precisa de alguém que conteste as suas escolhas – no mínimo para obrigá-la a justificar de forma coerente o fato de possuir cinco cópias de "Boys Boys Boys", de Sabrina.

Leia outras dicas de diplomacia sentimental no Twitter de Emma: @emmaggarland

Tradução: Marcio Stockler