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Música

Coice, Na Sua Cara!

Escute o rockão cru, contagiante e sem firulas do quarteto paulistano influenciado por bandas como Olho Seco, Replicantes e Cólera, às voltas com o lançamento de seu primeiro álbum.

O Coice é um quarteto formado em abril de 2013 com a proposta de fazer um rockão cru e sem firulas. Quando o vocalista Marcão me mostrou as primeiras músicas, achei que tinha um espírito muito punk no bagulho. Daí ele me alertou que a ideia, na real, é investir nos sons que derem na telha, independente do estilo. Estão claras, porém, tanto no jeito berrado de cantar como nas letras, as determinantes influências de nomes como Olho Seco, Ratos de Porão, Garotos Podres, Inocentes, Replicantes e Cólera. Na parte instrumental, imprimem-se as alusões ao blues,Sabbath, Ramones e Stooges. Os integrantes do Coice têm um histórico de passagem por bandas cover de classic rock e são trutas das antigas, desde moleques, crescidos no bairro Parque São Domingos, onde, nos anos 1990, rolava uma ceninha da qual faziam parte grupos como Abravanel, Totally Wrong e Fast Rotten.

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A formação original começou com o Marco de Castro (voz), Diego Zubrycky (guitarra), Paulo Damas (baixo) e Leandro Pitote (bateria). Depois de participar dos primeiros shows e da composição e gravação do primeiro álbum, o Paulo deixou a banda e se mudou para a Austrália. Entrou no lugar dele o Marcus Betioli. Isso rolou não faz muito e o Coice acaba de finalizar a gravação do seu auto-intitulado trampo de estreia. Enquanto a obra, com 11 músicas, segue sob o processo de mixagens finais e masterização, eles liberaram uma palhinha pra gente embedar aqui e vocês se ligarem em como está ficando. Peguei carona na deixa e fiz a entrevista abaixo, no intuito de perguntar aquelas coisas que se quer saber de uma banda em começo de carreira. Cola na grade:

Vocês todos já eram amigos de longa data antes da formação do Coice? Como pintou a ideia de montar uma banda de rock?
Marco: Eu, o Diego e o Leandro nos conhecemos desde moleques, da região do bairro Parque São Domingos. Conheci o Diego quando tinha uns dez anos e passei mais ou menos um ano estudando violão num conservatório do bairro, onde ele estudava saxofone. Eu desisti, ele continuou. Uns cinco anos depois, voltamos a nos trombar numa época em que tinha mó molecada do bairro montando banda. Lá por 1993, 94. Eu cantava numa banda chamada Abravanel. O Leandro e o Diego tocavam noutra chamada Totally Wrong. Tinha também outra, de amigos nossos, o Fast Rotten. As bandas sempre armavam showzinhos juntas. Eu parei com o lance de banda em 1997, 98, mais ou menos. Tava estudando jornalismo e trampando pra cacete. Só em 2012 voltei a cantar, numa banda cover de Metallica, o Metallurgica. Na época, eu trampava junto com o Paulão Plevnia no jornal Agora. Sabia que ele curtia um som e tocava baixo. Precisávamos de baixista, e chamei ele pra tocar no Metallurgica. Depois de um tempo, eu e ele resolvemos montar uma banda pra tocar som próprio. Falei com o Leandro, que tinha reencontrado no Facebook naquela mesma época. Ele tava afim. Depois de um tempinho procurando guitarrista, resolvemos perguntar pro Diego, que toca baixo numa banda cover de Black Sabbath, o Kings of Hell, se topava tocar guitarra. Ele topou na hora. Com a saída do Paulão, no início deste ano, chamamos o Marcus pra tocar baixo. Eu já conhecia ele faz tempo graças a amigões que temos em comum e sabia que ele tocava baixo.

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Diego: Nos últimos anos, conversei muito com o Leandro a respeito de montarmos uma banda de punk rock juntos, mas o projeto só começou a se materializar com o reencontro dele com o Marco. Como o Paulo seria o baixista, acabei assumindo, pela primeira vez na vida, o posto de guitarrista de uma banda. Até aquele ponto da minha vida, eu era apenas um baixista… Mas, como um autêntico punk rocker, peguei a guitarra e me ensinei a tocá-la. Do It Yourself, literalmente.

Leandro: Comecei em 1993 com o Diegão no Totally Wrong, que era uma banda que a gente nem sabia direito qual era o estilo dela, mas eram músicas rápidas e pesadas! Fiquei até a segunda demo, a Nuclear Milkshakes, depois saí e fiquei parado por um bom tempo, até que o Diegão me chamou pra fazer um som, era o Café Expresso, que tinha uma proposta de fazer rock com letras próprias. Em certo momento, o Café Expresso se tornou o Plataforma36, que fazia cover de grandes bandas de classic rock, como Doors, Creedence, Pink Floyd, etc. Aí, acho que em 2006 a banda acabou. Eu fiquei parado desde então, até que o Marco me chamou pra fazer um som. Nem sabia que tipo de som era, mas eu tava muito afim de tocar, pois desde 2006 não tocava em banda nenhuma, só fazia uma ponta aqui, outra ponta ali, me chamavam pra substituir bateristas que faltavam nos shows… Uma vez toquei para seis bandas num festival que aconteceu no Pico do Jaraguá. Seis bandas no sábado e seis bandas no domingo. Nesse meio tempo, aprendi a tocar outros ritmos, como reggae, MPB, bossa nova…

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A primeira música que vocês fizeram foi a autointitulada "Coice"?
Marco: No primeiro ensaio, o Diego logo mostrou quatro músicas que ele tinha feito, e a gente tirou. Eram "Tudo Está Tão Bem", "15 Minutos", "Marcas" e "Uma Nova Melodia", se não me engano. Continuamos ensaiando e compondo sons. No comecinho, as letras eram só do Diego. Depois me empolguei e comecei a escrever também. Fizemos vários sons. Aliás, uma coisa foda no Coice é a produtividade. A gente compõe música nova em quase todo ensaio. A música "Coice" veio só depois que a gente decidiu que o nome da banda ia ser Coice [risos].

As letras da banda tocam naturalmente em questões sociais. O Coice assume alguma postura política? O que pensam do anarquismo?
Marco: A gente, na real, nunca parou pra pensar na postura política da banda. Muitas de nossas letras acabam tocando em questões sociais porque a gente fala do que nos incomoda. Violência da polícia, a passividade do povo diante da corrupção no governo, a situação degradante dos moradores de rua, etc. São mais crônicas e desabafos sobre o que a gente acha que está errado, coisas que a gente vê na rua no dia a dia.

Diego: Somos artistas e, como tal, nosso único compromisso ideológico é com a nossa própria arte, com a nossa honestidade. Abordamos qualquer tema que nos inspire. Sobre as questões sociais que inspiram as nossas músicas, bom, somos cronistas de nosso tempo. E quanto ao anarquismo, eu o acho um tema vasto, complexo e fascinante.

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Vocês já fizeram/fazem parte do rolê/movimento punk em São Paulo? Qual é a relação de vocês com esta subcultura?
Marco: Depois do Abravanel, tive uma banda de hardcore, mais estilo Bad Religion, que era o Varial Six, que rendeu só uma demo e um show (risos). Depois, de tempos em tempos, tive várias daquelas bandas que duram, no máximo, alguns ensaios. O Coice é a minha primeira que chega a gravar um disco. Sobre o rolê do movimento punk, sempre que posso vou nos shows do Cólera, do Inocentes, do Ratos e de todas essas bandas. Os caras tão aí, tocando há 30 anos, e fazendo shows incríveis, geralmente melhores do que as bandas gringas que vêm tocar com ingressos a mais de R$ 200. E os shows das bandas punks clássicas brasileiras, geralmente, custam R$ 10.

Até aqui vocês já fizeram muitos shows? Qual o circuito por onde vocês têm tocado?
Marco: Até agora, fizemos só cinco shows. É difícil para uma banda nova, de música própria, conseguir espaço pra tocar em São Paulo. Nosso primeiro show foi no Espaço Walden, que ficava perto da Praça da República e fechou pouco tempo depois. Tocamos duas vezes, também, na Gruta, um barzinho lá na Bela Vista, mas porque o dono é nosso amigo e cedeu o espaço pra gente tocar. Também tocamos num pub, o Deep Bar, na Barra Funda, outro lugar cujos donos são nossos amigos. Geralmente, nos juntamos com bandas de camaradas como o Combover, o Monocelha, o Capim Maluco, o Bloodbuzz, o Japanese Bondage e outras. Organizamos festivaizinhos com nossas bandas em qualquer lugar que abra as portas pra gente. Quando o Coice resolveu correr atrás da gravação do CD, decidimos nos dedicar mais a isso e acabamos não batalhando tanto atrás de shows. Mas agora que tamos pra lançar o disco, vamos voltar a procurar lugar pra tocar, inclusive fora de São Paulo. Aliás, se alguém se interessar e quiser chamar a gente, é só entrar em contato via Facebook: facebook.com/CoiceOficial.

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O primeiro álbum do Coice vai ser lançado nos formatos físico e digital? É um trampo independente? Quantas músicas terá?
Marco: O primeiro álbum se chamará Coice, mesmo, e terá 11 músicas próprias. Vai sair em formato físico e digital. É totalmente independente. Resolvemos gravar porque já tínhamos um monte de músicas que queríamos registrar, e eu conhecia o Paulo Penov, que tocava guitarra no Metallurgica e é um puta produtor musical. Falamos com ele e decidimos fazer o disco. Ele também produziu o disco do Combover, que tá pra ser lançado.

Como foi o processo de gravação do álbum? Vocês pegaram muitas horas em estúdio, gravaram tudo ao vivo ou separado?
Marco: O disco foi gravado no estúdio Doze, em Cotia, por sugestão do Paulo Penov, que coordenou tudo e também cuidou da mixagem. Gravamos a base ao vivo em um fim de semana, depois voltamos ao estúdio para gravar só vocal, backing vocals e solos de guitarra, o que foi feito em uma tarde. No total, deve ter sido um pouco mais de 24 horas de estúdio.

Diego: A gravação foi rápida. Estávamos bem ensaiados, sabíamos o que queríamos e tivemos a ajuda de pessoas competentes o suficiente para que tudo desse certo. Tudo foi gravado ao vivo, com todo mundo tocando junto. Foi como tocar em um show. Quisemos capturar aquela energia. Os instrumentos foram registrados em canais separados e os únicos overdubs que fizemos foram feitos na segunda e última sessão de gravação, quando gravamos as vozes definitivas, os vocais de apoio, os solos de guitarra e um dos solos de baixo.

O baixista novo participou da composição de alguma música que faz parte do disco? Ou ele chegou já para gravar o repertório redondo
Marco: Quem gravou o baixo no disco foi o Paulão, o baixista antigo. Esse também foi um fator que acelerou o processo de gravação. Porque, antes de a gente começar a ensaiar, ele já tinha planos de ir morar no exterior, já tinha até comprado a passagem. Então precisávamos gravar antes que ele fosse embora. Terminamos o álbum às vésperas de ele ir viajar. Hoje tá morando na Austrália com a mulher. O baixista novo, Marcus Betioli, entrou faz pouquíssimo tempo, mas já tá na linha de produção do Coice. Como eu disse, a gente faz um monte de música nova, sempre.

Diego: O Marcus entrou para o time há pouco tempo, mas ele é parte da família Coice. Graças a ele a banda conseguiu não só sobreviver à perda de um de seus membros originais como também conseguiu se manter produtiva.

Eu fico pensando em como ninguém nunca teve a ideia de dar o nome pra uma banda de "Coice". Foi uma boa sacada. Esse nome veio na cabeça de vocês em alguma ocasião em especial? Tipo, todo mundo junto ali falando várias sugestões de nomes, e de repente alguém lançou "Coice"? Vocês pensaram em outras ideias antes que foram descartadas?
Marco: Foi isso mesmo. A banda já tinha várias músicas e tava ensaiando todo fim de semana. Precisava de um nome. Nos juntamos no bate-papo do Facebook e começamos a lançar ideias, tipo brainstorming [risos]. Foram surgindo vários. Soco, murro, faca. Até que surgiu Coice, e todo o mundo concordou que seria esse. Pouco depois, inspirado pelo nome, cheguei em casa, peguei o violão e compus a base do que seria a música "Coice". A letra resume bem o que o nome significa pra gente. Porque coice, além de ser o chute que o cavalo dá, é o impacto da arma no momento do tiro e é também aquela resposta agressiva, quando você dá um "coice" em alguém.