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Música

Jason Black, do Hot Water Music, Explica Por que ‘Forever And Counting’ É o Pior Disco Deles

O baixista relembra a vibe separatista que tomou conta de algumas gravações.

Em Julgando Meus Discos, falamos com membros de bandas que acumularam uma discografia substancial ao longo dos anos e pedimos a eles que classifiquem seus discos por ordem de preferência.

Não resta dúvida de que a maioria dos fãs de longa data do Hot Water Music já passou algum tempo classificando os discos da banda. Mas, quando você faz parte de uma, geralmente está mais preocupado em ir em frente do que em olhar para trás. E se você for integrante há mais de duas décadas (salvo por alguns breves rompimentos), é muita coisa para relembrar.

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Essencialmente, o Hot Water Music se divide em três eras – embora a formação original, com os guitarristas/vocalistas Chuck Ragan e Chris Wollard, o baixista Jason Black e o baterista George Rebelo, não tenha mudado. Tem os primeiros discos da banda, mais crus, do seu tempo no selo No Idea Records, as gravações mais polidas do seu tempo na Epitaph Records e o último capítulo da história da banda, que inclui Exister, de 2012, o primeiro disco de estúdio inédito em oito anos.

Conversamos com o Jason Black – cujas linhas de baixo instantaneamente reconhecíveis foram uma constante ao longo da carreira do Hot Water Music – alguns meses antes da Rise Records, sua gravadora atual, lançar um LP quádruplo com uma retrospectiva dos 20 anos da banda – para discutir os seus sete discos de estúdio. Achamos que você vai aprender alguma coisa, mesmo que seja um super fã – e mesmo que discorde da classificação do Black (o que provavelmente vai acontecer).

7. FOREVER AND COUNTING

Noisey: Então, qual é o disco do Hot Water Music de que você menos gosta?
Jason Black: O que eu menos gosto com certeza é Forever and Counting. Soa tão mal, não consigo lidar com ele.

Isso é surpreendente, porque acho que ele é um dos favoritos dos fãs.
É, é assim que funciona. Acho que tem umas músicas legais, com certeza é um disco que pensamos muito em regravar, mas não regravamos porque as pessoas gostam muito dele. Só que soa terrível.

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Toda vez que escutamos essas músicas de novo, pensamos: “Caralho! Isso soa terrível! Como é que isso pode soar como as nossas primeiras demos?”. Todo disco tem algumas músicas que eu acho ruins, e esse com certeza tem algumas que você ouve e meio que ri. Não é tipo: “Ah, isso é divertido, gosto de vocês, caras, é legal que a gente tenha feito isso durante 20 anos.” É tipo: “Isso é vergonhoso. Não acredito que fizemos isso.”

6. NO DIVISION

Certo. Vamos para o segundo disco de que você menos gosta, ou para o seu sexto favorito, dependendo do ponto de vista.

É meio que um empate entre

Exister

e

No Division

.

No Division

foi incrível, gravamos esse disco em Richmond, em um estúdio bacana, com produção do

Walter Schreifels

. Toda a experiência de fazê-lo foi incrível. Ele é provavelmente o segundo disco de que menos gosto não pela maneira como ele soa, mas por causa das performances nele. Queria que pudéssemos fazer “Rooftops” de novo, porque não estava completamente pronta e mesmo assim a gravamos. Não desgosto da música de jeito nenhum, quero dizer, sei que as pessoas gostam muito dela e entendo o porquê. Só senti que podíamos tê-la feito melhor.

É engraçado você dizer que não gosta das performances, porque acho que “Radio Free Gainesville” tem uma das suas linhas de baixo mais impressionantes e memoráveis.
Gosto muito de tocar essa música, e os outros caras da banda ficam tipo: “Cara, essa porra é chata”. Para você ver como tudo é questão de perspectiva. Tem muita coisa que eu adoro nesse disco, e acho que ele soa muito bem, considerando a situação, a tecnologia e a época, e levando em conta que todo mundo que estava fazendo o disco sabia que era uma sensação de “estamos quase fazendo um disco de verdade”. Ah, e “Driving Home”, também. Acho que podíamos tê-la feito melhor, ou talvez ela não devesse mesmo ter entrado no disco. Não estava totalmente pronta, e não sabíamos como finalizar as coisas naquela época.

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5. EXISTER

Exister é o próximo?
Sim, esse disco foi esquisito porque, por mais estranho que pareça, fizemos as composições em grupos de três, não quatro – então era eu, George e Chuck, ou eu, George e Chris. Então fomos para Fort Collins, ensaiamos lá por três dias para acertar as músicas e depois gravamos. Não acho que esse disco poderia ter sido melhor do que foi, mas ele está nessa posição no ranking porque fizemos as coisas em grupos de três e não quatro, e a gente estava meio no automático no que diz respeito à composição. Isso não é dizer de jeito nenhum que fomos preguiçosos, todo mundo fez o melhor que podia com o material que tínhamos – e levando em conta o fato de que passamos literalmente quatro dias no mesmo quarto até terminá-lo. Acho que é bom pra caralho, mas podemos fazer melhor.

Hoje em dia, a logística para reunir vocês quatro no mesmo lugar é um pesadelo completo?
É uma merda em muitos níveis e por muitas razões. A banda é de Gainesville, é lá onde fica todo o nosso equipamento e onde 50% da banda mora ainda. Então, sempre tem muito de: “Deveríamos ensaiar aqui, é a nossa casa”. E também tem muito de: “Cara, não moro lá, também tenho que trabalhar cinco vezes por semana”.

O que vocês aprenderam com essa experiência?
Acho que, se chegarmos a fazer outro disco, vamos nos esforçar mais para nos comunicar melhor. Com esse disco, foi tudo meio desorganizado. George e eu trabalhamos nas músicas com o Chuck, e George e eu trabalhamos nas músicas com o Chris. Mas o Chris e o Chuck não trabalharam juntos até a gente entrar em estúdio. Acho que, se conseguirmos resolver esse problema, vai ser meio caminho andado. Mas [logisticamente] é uma merda. É um pesadelo. Ninguém quer ficar longe de casa, e a casa de cada um, agora, é em literalmente quatro cantos diferentes do país. Acho que a maneira de fazer isso é ter bastante material quase pronto e passar alguns dias acertando tudo. E fazer isso antes de entrar no estúdio. [Risos]

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4. THE NEW WHAT NEXT

Acho que seria

The New What Next

. Na verdade, eu gosto muito de escutar esse disco, mais do que todos os outros, mas a banda estava num momento ruim quando o fizemos, e paramos de tocar logo depois de lançá-lo. Todo mundo meio que estava indo numa direção diferente, e definitivamente não estávamos funcionando como uma unidade. Não foi fácil gravá-lo, e foi quase impossível compor para ele. Definitivamente não o escrevemos como uma banda, então tem muita coisa nele que, para mim, parece meio que encaixada, de última hora. Sei que muita gente o acha muito esquisito e não gosta dele porque não se encaixa com o resto do que fizemos, mas acho que é porque não estávamos todos compondo aqui.

Neste momento, o que estava rolando na banda, internamente?
Foi o segundo disco que fizemos depois de o Chuck se mudar da Califórnia, e não conseguíamos nos organizar para reunir todo mundo no mesmo lugar. Não existia a tecnologia para ajudar nessa situação de banda remota, e ninguém saberia usá-la se existisse. Não tínhamos uma unidade fazendo esse disco – e quando você se tranca por três ou quatro semanas no estúdio, sem ser uma unidade, não é divertido. Sinto que é daí que vêm muitas das vibes ruins para todo mundo. Muitas das coisas estranhas deste disco são músicas que eu meio que joguei na mesa, e é por isso, provavelmente, que as pessoas não gostam dele. Da minha parte, acho que foi meio que um esforço consciente: “Este é o tipo de música que eu gosto, então, se o processo de composição está funcionando de um jeito um pouco mais fragmentado, vou por aí”. Isso foi no começo de uma dissolução maior da banda. Na segunda ou terceira vez, nos separamos. [Risos]

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3. A FLIGHT AND A CRASH

Que disco do Hot Water Music ganha a medalha de bronze?
Eu teria que dizer A Flight And A Crash. Foi quando a banda começou a ficar séria. Foi o primeiro disco que fizemos com o Brian McTernan, e estávamos prontos quando o fizemos. As músicas estavam praticamente acabadas. Acho que a única que não conseguíamos resolver era “She Takes It So Well”, e é por isso que ela acabou ganhando aquela programação esquisita. Não queríamos colocar uma música acústica no disco, porque o Chris e o Chuck estavam tocando o Rumbleseat, e foi meio que uma coisa que tentamos não fazer.

Fazia tempo que eu não lembrava do Rumbleseat.
Sim. Isso aconteceu muito tempo atrás porque o George e eu não queríamos tocar muitas das músicas que o Chris e o Chuck andavam compondo. Ficávamos tipo: “Essas não são bem o nosso estilo”.

Olhando em retrospectiva, é louco o que o Chuck está fazendo agora.
Ele só foi em frente. Firme no banjo.

2. FUEL FOR THE HATE GAME

E finalmente chegou a hora do vice-campeão.
Eu provavelmente elencaria Fuel For The Hate Game como o meu segundo disco favorito. Acho que ele ainda se mantém; soa datado, mas não soa mal. Reaprendemos muitas dessas músicas para esta última turnê, e foi tipo: “Essas são legais pra caralho”. Muitas coisas que tornaram o disco legal não fazem sentido e são totalmente supérfluas, não precisavam estar lá, mas acho que é isso mesmo que era legal nele, e na banda, quando ele saiu. Essas músicas soaram bem ao vivo também. Nós as tocamos pela primeira vez em não sei quanto tempo, e foi uma parte muito divertida do set. Eu definitivamente defendo esse disco. Ninguém gostava da gente. A gente não se enturmava com ninguém. Era uma época super séria. Muito agressiva. Éramos muito jovens quando fizemos isso.

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Que idade vocês tinham?
Fizemos o disco em 1996, então eu tinha o quê, 21 anos? Então, muito jovens para os padrões do meu cérebro, mas a molecada que tem banda hoje em dia tem tipo, 12 anos. Tenho orgulho de esse ter sido o nosso primeiro disco.

1. CAUTION

O que leva a…
Eu diria que Caution foi o melhor disco que fizemos. Acho que soa incrível. Foi divertido fazê-lo, não teve nada de ruim que eu possa dizer sobre ele. Toda a turnê dele foi incrível.

Você acha que esse foi o auge da sua popularidade?
Sim, como uma banda completamente funcional, esse foi o auge da nossa popularidade. Muitas coisas deram certo nesse disco: conseguimos boas turnês, a Epitaph fez um trabalho excelente com ele e acho que as músicas são boas. Nesta época ainda havia muitas sobras das coisas esquisitas, mas elas tinham se suavizado em músicas melhores, sem serem refinadas demais. Não que eu ache que os nossos dois discos seguintes tenham sido refinados demais. Ainda tem músicas idiotas e esquisitas [em Caution] que não faziam sentido do ponto de vista de um compositor, mas foi tipo: “Gostamos disso, então vamos fazer”.

Este também foi o disco em que o Chris e o Chuck começaram a cantar separadamente, em vez de sobrepor suas vozes.
Não sei por que eles começaram a fazer isso. É uma pergunta que faço seguidamente. Recebo a mesma resposta que você recebeu de mim. Eles não têm uma explicação para isso, e eu também não. Ouvi dizer que eles têm falado sobre tentar compor mais juntos se fizermos alguma coisa nova, então com sorte eles vão cantar juntos de novo. Quem sabe?

Johan Bayer achou bem massa aquele EP com o Alkaline Trio. Siga-o no Twitter - @mynameisjonah

Tradução: Fernanda Botta