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Música

Tijuana É a Capital Indie do México

Apesar de ser menosprezada com piadas sobre como é suja e miserável, a cidade está provando que existe o México tem música boa para além das fronteiras da capital

Vaya Futuro, em sua viagem para gravar na Islândia.

Este artigo foi originalmente publicado no Noisey México.

A Cidade do México não é o único lugar em que coisas interessantes estão acontecendo na cena de música independente mexicana. De fato, a capital está começando a ficar para trás em termos de novos movimentos e sons, ou de lançar coisas realmente grandiosas. Falemos a verdade: se analisássemos os nomes que compõem as playlists de "bandas mexicanas", veríamos que, mesmo que 90% delas tenha residência na capital, 85% não têm suas origens lá. São de cidades como Monterrey, Cancún, Zacatecas, Mérida e Guadalajara, entre muitas outras. Dentre essas outras cidades e regiões, há pelo menos uma que se destaca especialmente. Sua presença talvez ainda não seja tão forte quanto a da Cidade do México, mas vale a pena acompanhá-la de perto para não perder o que promete ser um futuro incrível.

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Estou falando, é claro, de Tijuana, uma quente cidade de fronteira cheia de lendas urbanas ("O Asno e a Noiva", alguém conhece?), uma cidade que muitas pessoas logo menosprezam com piadas sobre como é suja e miserável. Mas, se você conseguir ignorar as piadas velhas e tediosas, vai perceber que ela hoje é provavelmente uma das cenas mais relevantes do país, com bandas conhecidas como Dani Shivers e San Pedro El Cortéz – cada uma seguindo um caminho próprio e diferente, mas ambas tema de muita discussão – e também de um conjunto mais novo de bandas que estão só começando a fazer barulho.

Para entender por que a cena de Tijuana está passando por um revival, temos que mergulhar no início dos anos 90, quando uma banda local chamada Staura dava seus primeiros passos. Staura era composta de Gaby Spica, René Soberanis (mais conhecido pela Loopdrop, outra banda essencial da cena) e Omar Foglio, que mais tarde se tornaria o maior promoter independente de Tijuana e lançaria o Swenga Fest em 1995. Foi durante as carreiras de Staura e Loopdrop que o público local começou a voltar seus olhares e prestar atenção no que estava rolando nas poucas casas de espetáculo e bares que disponibilizavam espaços para que bandas se apresentassem naquela época. E foi através dessas iniciativas, e com esse apoio, que outras bandas, como Ibi Ego e Shantelle, começaram a ganhar vida no início dos anos 2000.

Assim como o Staura e o Loopdrop ajudaram a criar um terreno fértil para Ibi Ego e Shantelle, essas duas ajudam a explicar a chegada da onda seguinte de bandas, como Celofán (depois conhecida como Vaya Futuro), Mint Field, Policías y Ladrones, Grenda e até mesmo Dani Shivers. Ibi Ego e Shantelle não foram tanto uma influência direta sobre o som das bandas que apareceram a seguir – estavam mais para uma outra espécie de pioneiros. Além de, por seus próprios méritos, darem à música independente de Tijuana um segundo fôlego, inspiraram esses músicos novatos a não procurar influências só em bandas estrangeiras como The Strokes, e sim a seguir o exemplo de Ibi Ego e Shantelle e estourar na cena local soltando projetos de sua própria lavra.

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O resultado? Uma nova onda que – sem falar de bandas como San Pedro El Cortéz, que vêm fazendo coisas há anos – agitou os esquemas num curto espaço de tempo, em alguns casos já um ano depois da criação das bandas. Essas são as novas bandas que estão redefinindo Tijuana e provando que o México tem músicos em todos os lugares, trazendo coisas que são mil vezes melhores do que os americanos que tendemos a idolatrar:

Mint Field

No final de 2013, o shoegaze começou a varrer todo o México, com bandas como Bleak Boys, de Aguascalientes, Hexagrams, de León, Pure Morning, de Sinaloa, e Los Mundos, de Monterrey e Cidade do México. Contudo, o foco sonoro de todas essas bandas era soturno, tendendo para tons sombrios que se baseavam no punk e davam a impressão de que estavam interessadas em temas tristes e melancólicos. Talvez seja por isso que, com a chegada de uma banda como o Mint Field, as coisas começaram a ir para um lado mais alegre. Primeras Salidas, o EP de estreia do trio, cujos membros são Amor Amezcua, Estrella Sánchez e Andrés Corella, mostra um lado mais feliz e colorido desse gênero, e também acrescenta um toque de noise pop.

O Mint Field é uma banda jovem que está começando a se descobrir, mas o talento ali é grande. A direção que vão tomar no futuro está lentamente tomando forma, e 2016 será um ano importante para ver como o som deles muda, e como se transformarão em uma banda mais forte.

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Late Nite Howl

A música de Pablo Dodero, também conhecido como Late Nite Howl, passa a sensação de tristeza e nostalgia que vem ao final de uma festa, quando sua casa está cheia de amigos e todos eles começam a ir embora, criando um tipo de vácuo desolado e cinzento. Sua bonita música folk não se apoia em acordes felizes ou palavras adocicadas, e sim busca prestar homenagem à sua própria tristeza, e compreendê-la através de letras poéticas cantadas numa voz grave sobre arpejos suaves. Está se sentindo triste? Late Nite Howl é a melhor trilha sonora para sentir essa tristeza, dar vazão a ela, e seguir em frente.

Vaya Futuro

De todas as bandas que atualmente estão na Cidade do México e, ainda por cima, conseguindo verdadeiro sucesso nos níveis nacional e internacional, Vaya Futuro provavelmente é o ponto de referência mais importante para Tijuana.

Lembra de quando mencionei anteriormente a importância do Ibi Ego e do Shantelle? Luiz Aguilar, o vocalista do Vaya, foi um daqueles fãs mais antigos, que viram essas bandas ao vivo, e se sentiram inspirados a alcançar o mesmo patamar. Inspirado não só por bandas estrangeiras mas também por essas bandas locais queridas, o grupo, composto de Miguel Ahuage, Aldair Cerezo, Armando Aguilar e Lou Ross, desde então teve vários sucessos inesperados, incluindo uma viagem à Islândia para gravar no mesmo estúdio de Damon Albarn e Björk, com o incrível Ben H. Allen, o produtor de Fading Frontier, do Deerhunter.

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Vaya Futuro é uma banda que tem o potencial de acabar sendo mais do que um favorito cult. Eles poderiam estourar internacionalmente, algo no nível de Lorelle Meets The Obsolete. Enquanto isso não acontece, mergulhe no disco que eles lançaram há pouco tempo, Perro Verde y Triste, uma das melhores coisas a sair do México este ano.

Grenda

Outra coisa interessante sobre a nova onda de talento independente no México é a idade precoce com que muitos músicos e produtores estão começando não só a experimentar com a música, mas de fato a conseguir grandes feitos e se tornar conhecidos de um público considerável.

Grenda, cujo nome verdadeiro é Eduardo Amezcua, é um exemplo. Com apenas 17 anos, ele já conseguiu subir, de degrau em degrau, de shows pequenos na série audiovisual MEEP (Música en el Patio) para o show de aniversário do CyberWitches em Guadalajara, e depois até o festival MUTEK Mexico deste ano.

Sua música mescla uma gama de ritmos e sons que, embora não exatamente se encaixem em um conceito concreto, certamente sugerem um progresso em direção a um Grenda mais maduro. Ouvi-lo dá a sensação de fazer parte de sua jornada de autodescobrimento. Talvez o mais empolgante seja o fato de que ele oferece um show ao vivo totalmente profissional. Como acontece com artistas tipo Norbert Duke of Forecast In Rome, de Guadalajara, o show é imperdível para quem quiser entender plenamente o seu som.

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Policías y Ladrones

O estilo garage no México tem duas faces. Há a velha guarda de bandas como Los Explosivos, Los Chicos Problema, Mustang 66, e Los Monjes, que se firmaram como os ancestrais do gênero nos anos 60. E há a nova escola de bandas que se embrenham por milhares de ramos diferentes dentro do gênero, como Los Blenders, O Tortuga, Dinosaurios Surf Club e muitas outras.

Cerca de 70% do que faz o Policías y Ladrones está dentro dessa nova onda, mas nos outros 30 os vemos flutuar por aí à procura de um conceito melhor, que não é exatamente o toque clássico do Los Monjes ou do Los Explosivos, e tampouco é o estilo de dedilhar veloz e acelerado de Los Blenders e O Tortuga. A geografia talvez ajude a explicar: sua cidade lhes proveu de muitos sons que vieram do lado de lá da fronteira. Há uma vaga qualidade punk na maneira com que eles usam distorções pesadas; contudo, também não deixam de lado as nuances de um pop doce que fazem você querer colocar as músicas no repeat.

No final das contas, este grupo, composto por Alonzo, Iván, Luiz e Andrés Corella (que também é membro do Mint Field), oferece um retorno a um som punk mais sujo, pelo qual muitas das bandas da lista tendem a se interessar menos. Ao lado de grupos como San Pedro El Cortéz, eles carregam a responsabilidade de criar rodas punk e estourar os alto-falantes dos palcos improvisados de Tijuana.

Entre Desiertos

Do outro lado do espectro em relação a essas bandas com sons distorcidos (quer sejam de garage, noise ou shoegaze) está o Entre Desiertos, que tende mais para o lado do pop agradável. Mas isso não significa que devamos considerá-los menos experimentais.

Esse jovem grupo não está junto há muito tempo, e a música deles tende para o rock alternativo. Mas eles não se recusam a tocar diferentes instrumentos para dar vida às músicas um pouco mais conceituais. Lançaram há pouco seu primeiro disco gravado em estúdio, e ascenderam rapidamente no Bandcamp. Esse projeto nos mostrou como é o som do Entre Desiertos, mas também nos provocou a perguntar como poderia ser o som da banda. Cada música parecia sugerir um som distinto, que a banda poderia alcançar caso optasse por seguir aquele caminho, mas por enquanto temos só um gostinho de qual ele poderia ser. Tenho a impressão de que o Entre Desiertos tem muito mais coisas a provar, mas, em matéria de primeiros passos, eles não começaram mal.

Ramona

Reserve uma tarde para apertar o play e não preste muita atenção no que está rolando ao redor. O Ramona causa a sensação de estar ouvindo alguma coisa que você já ouviu em outro lugar, muito tempo atrás. Eles não necessariamente oferecem algo de muito novo, mas são mais um dos projetos notáveis de Tijuana que se mudaram para a Cidade do México e estão a caminho de se tornarem grandes.

Jesús Guerrero e companhia faziam parte de uma série de bandas como Jandro, do selo Discos Intolerancia, de Roberto Orozco, que conseguiram atrair alguma atenção da mídia. Não tenho certeza de por que, desde então, o Ramona não conseguiu estourar mais, exceto que parece claro que os gostos das pessoas da cena da capital tendem mais para projetos mais ruidosos. Suas músicas bobinhas não exatamente acertam na mosca com a opinião pública. Mas, ainda assim, como já disse, eles continuam a dar pequenos passos adiante, e não parece haver qualquer plano de parar.