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Música

Paguei um Show da Cat Power com Bilhete Único

A apresentação surpresa da Cat Power no metrô Paraíso foi boa/foi ruim.

C de Cat Power.

A Cat Power é daquele tipo de artista que você acompanha durante toda sua vida. Sabe (e copia) todos os cortes de cabelo, discute com os amigos qual o melhor disco (e acha que a escolha define quem a pessoa é), diferencia as turnês pelas roupas que ela usa e fica balançado toda vez que aquela música (aquela, sabe?) toca. Gostar de Cat Power implica se apaixonar por ela. Por isso a comoção das pessoas (e as várias notificações no Whatsapp e Facebook) com a notícia de que Chan Marshall faria um show surpresa às 17h30 de quinta (27), na estação Paraíso do metrô de São Paulo. O evento grátis – na verdade, custava os R$ 3 da passagem – foi promovido pelo Popload Festival, que rola sexta (28) e sábado (29), com apresentações da cantora nos dois dias.

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17h30 de uma quinta-feira é um horário meio cruel. Ainda assim, a estação estava abarrotada de gente que estava lá apenas para vê-la. Como tem vagabundo nesse mundo, você pode pensar. Ou, se for mais otimista, como tem chefe legal nesta cidade, que deixa seu funcionário sair mais cedo pra realizar um sonho indie. Eu voto no segundo.

Encostado ali está um segurança com camisa do Galo. Acho paia.

Como grande frequentadora da estação Paraíso, sei que lá tem um piano, e por um momento fiquei esperançosa que Cat Power usaria ele pra mostrar suas lindas canções. Mas na verdade ela saiu de uma portinha, sorridente e surpresa como se fosse estranho ter tantos fãs ali, e subiu em um pequeno palco montado pelo festival.

Ela tocou com uma guitarra e dois microfones, como já fez várias vezes. Não sei se foi algo específico desse show (só vi um outro, em que ela tocava com banda), não sei se eu sou uma ranzinza insensível, mas estranhamente esse formato desvaloriza a música dela. A voz de Cat Power é linda, suas músicas são tristes e sensíveis, mas ao vivo isso se perdeu num bolo de som em que tudo parecia a mesma coisa. A versão de “Fool”, que fechou o show de apenas 20 minutos, era quase irreconhecível.

Vejo uma conhecida soltando lágrimas de emoção e penso que sou coração gelado. Ou, na verdade, eu tenho um coração enorme e apaixonado pela Cat Power. Por isso que, quando a vejo com aquele cabelo do Moon Pix que eu tentei ter parecido, arrumando a roupa o tempo todo e fazendo um gesto de “não precisa aplaudir” no final, só consigo ficar preocupada. (Eu ainda odeio o Giovanni Ribisi).

Talvez eu esteja exagerando. Ela postou no Instagram que “tocou no metrô de São Paulo e foi muito divertido/foi muito bom”. Parece que ela disse, em um show em Istambul, que está grávida de um menino. Ela riu quando, no meio de uma música, surgiu um aviso do metrô pedindo para o funcionário comparecer à SSO.

Foram essas coisas, inclusive, que fizeram esse show especial. Quando ela subiu ao palco, todas as pessoas gritaram “senta, senta”, e o público realmente se sentou, naquele chão em que passam milhares de pés todos os dias, para que todos pudessem ver um pedacinho da Chan. Ela sorriu. Todos riram quando, após levantarem, um aviso do metrô anunciou que é proibido sentar na estação.

Foi um momento bonito. No meio de uma quinta-feira, eu vi um show da Cat Power. Eu encontrei amigos. Eu estranhei porque não me comovi com as músicas da Cat Power tocadas numa guitarra e voz amplificada por dois microfones. Mas eu tive certeza que sempre amarei a Chan Marshall.