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Música

Caras: Por Que Vocês Estão Idolatrando as Garotas que Gostam de Rap?

Se o fato de eu gostar de rap deixa a sua piroca dura, eu não preciso saber disso

Há umas semanas, me vi numa situação que normalmente evito a todo custo: estava num encontro com um cara, trocando ideia sobre música. Até aí tudo bem, com exceção de que sou uma mulher e ouço quase exclusivamente rap. Isso significa que a conversa invariavelmente vai de uma das duas maneiras: ou o cara com quem estou lidando é anti-rap, e neste caso, o melhor que posso fazer é torcer pra evitar que ele resolva me explicar sobre o quão péssimo e misógino é o gênero, ou então é um cara pró-rap, o que, em certas circunstâncias, pode ser até pior. E essa foi uma dessas ocasiões. “Uau! Que incrível!”, festejou o rapaz, depois que listei meus rappers favoritos, “Você realmente curte rap!”. Forcei um sorriso amarelo. “Você não é como a maioria das garotas”, ele continuou, e nesse ponto minha boca torceu e minha vagina secou. Percebi, então, que estava lidando com o mais sofrível tipo de macho pró-rap: aquele que acredita que o rap é um clube de garotos, e que mulheres que gostam de rap são fofas e raras anomalias.

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Aí está o lance: mulheres ouvem rap. Mulheres ouvem rap do bom, rap obscuro, cânones e/ou novatos que somente os verdadeiros fãs conhecem. AS MULHERES PODEM SER VERDADEIRAS FÃS DE RAP. Esta parece ser uma observação muito óbvia da minha parte (talvez porque eu ando com uma turma de moças amantes de rap cujas bibliotecas do iTunes fodem com a sua vida), e eu fico confusa quando me deparo com sujeitos que ainda acreditam que mulheres fãs de rap são seres especiais. Eu encontro sempre -- e talvez você também -- com os seguintes tipos: homens surpresos quando percebem que seu conhecimento de rap vai além das três primeiras rimas de “Pretin”; caras que pensam que é lisonjeiro dizer o quão impressionados estão por você já ter ouvido falar dos seus rappers favoritos; e caras que ficam de pau duro só de ouvirem o nome de um rapper relevante rolar pelos seus lábios.

Deixe-me ser clara: não estou falando sobre caras que estão apenas felizes por conhecerem pessoas que curtem os mesmos semi-nichos de rap que eles. Nunca vou ficar puta com um cara simplesmente por ele querer explorar um interesse que temos em comum, tipo “Ah, você curte Tree? Pô, eu também. Qual mixtape Sunday School você gosta mais?”. Não, estou falando do tipo de cara cuja boca espuma só de imaginar ter pra si próprio uma verdadeira gatinha gostosa do rap; aquele que imagina você pagando um boquetinho suave ao som da música do J. Cole que ele ama, mas tem vergonha de admitir pros amigos. O tipo de maluco que NÃO ACREDITA que você tem a DISCOGRAFIA INTEIRA DO DMX EM VINIL, tipo SÉRIÃO? AI. QUE. TESÃO. Sabe, é aquele tipo de cara que fica tão impressionado com os seus conhecimentos de rap (“em comparação às outras minas”), que a sua conversa chega a ser paternalista e incômoda de ouvir.

Aqui vai minha explicação sobre não concordar em absoluto em ser colocada num pedestal por caras assim, apesar de isso ser aparentemente um elogio. Em primeiro lugar, se um cara faz isso ele está delimitando meus interesses, como se eles girassem única e exclusivamente ao redor dele e do mundo de fantasia da cabeça dele, e pra isso tenho apenas a dizer: “Não, filho”. Em segundo lugar, a parada toda se alimenta da presunção de que as garotas são, por padrão, criaturas frouxas e desinteressantes que gostam de música pop e glitter, e que essas coisas são péssimas e inerentemente menores do que as coisas que os homens-de-verdade gostam. Mas não você. Você é diferente. Você foi eleita como a Gata Excepcionalmente Maneira, garantindo assim sua entrada no Clube Dos Caras Que Curtem Coisas Maneiras porque você gosta de um gênero popular de música que existe há quatro décadas e que está acessível ao mundo todo. E você ultrapassou a barreira ao demonstrar que gosta de coisas “sérias” e não-mainstream, provando que superou a tendência natural do seu gênero em ser uma conformista frágil, e talvez até mesmo inadvertidamente impressionando uns malucos podres pelo caminho: os caras que acreditam no Verdadeiro Hip Hop. Parabéns! Você conquistou a aprovação de pessoas que nunca lavam suas próprias roupas e batem punheta olhando pra fotos do Tupac e do Biggie coexistindo pacificamente.

Gatos, ouçam: se vocês estão tratando o público feminino do rap como se fossemos lendas preciosas e joias raras feitas pra casar, vocês precisam relaxar. Pra começar, ninguém está nem aí pros seus sonhos molhados com gatas do rap, mas, mais importante ainda, vocês precisam compreender que é uma vitória pírrica de merda, enquanto mulher, que alguém te diga que você é especial e merecedora de enaltecimento masculino porque você “não é como as outras garotas”. Esse sentimento traduz uma versão diminuída das mulheres em geral; nos põe em comparação umas com as outras e coloca os homens como o centro dos nossos universos. Nós não estamos navegando pelo DatPiff e vestindo jacos Dipset só pra impressionar vocês, fazemos isso porque somos completos e complexos seres humanos com nossos próprios interesses; interesses estes que vão ocasionalmente coincidir com os seus. Vamos combinar: mulheres são humanas, humanas que gostam de se divertir, e o rap é divertido pra caralho. Nossa devoção não é sobre vocês, e não nos importamos com quão duro isso possa deixar suas pirocas. Nos poupe.

Madeleine Holden ié uma advogada de dia e crítica de rolas à noite. Ela está no Twitter - @moscaddie