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Música

Canções Na Escala do Ódio

A Wesboro Baptist Church está fazendo paródias preconceituosas e homofóbicas pra espalhar o amor de Deus.

Após hostilizarem aqueles de luto por soldados mortos e vítimas de tiroteios em escolas, a Westboro Baptist Church recentemente mirou nos mais novos inimigos de Deus: os fãs adolescentes de bandas pós-emo. Eles atacaram o Panic! At The Disco com tudo em seu show em Kansas City, protestando na entrada do local.

Como sempre, o protesto saiu pela culatra. A banda doou mais de mil dólares para a campanha em prol dos direitos humanos e os holofotes se voltaram para os grupos que ainda lidam com a morte de seu líder, Fred Phelps.

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Por mais estrambólico que tenha sido o evento, a WBC sempre pareceu uma sátira mambembe de organizações mais sérias: pobre demais para conseguir sarin, provinciana demais para fugir para a Guiana, e desprezível demais para atrair qualquer coisa que não escárnio universal. Chame-os de Klansons.

À frente de seu grande protesto, membros da igreja tiraram um tempinho de suas existências finitas para gravar e lançar esta autoproclamada paródia. De fato, a WBC parece ser o único grupo no mundo que gravou mais paródias que Weird Al Yankovic. Separamos um punhado delas pra te deixar ainda mais perto do abismo.

"I Write Sins Not Tragedies"

Antes do P!ATD se tornar um pastiche completo das músicas dos Beatles compostas pelo Ringo, eles competiam com o My Chemical Romance pelo posto de queridinhos do emo de 2006. Enquanto um se valia de vampiros e esmalte, o outro vinha com cartolas e rímel, um inspirado em Irvine Welsh, o outro cedia às sátiras de relacionamento de nível sub-Smiths. O último aspecto foi o que a WBC escolheu abordar, denunciando um problema que só eles e aqueles dependentes de aposentadoria se importam: casamento gay. Baseado nisto e no uso inexplicável da tag ‘techno’, estes covers não são lá muito cerebrais.

Letra mais elaborada: "And the whole crowd has no shame, what a shame, they're all fags, fag pimps or whores" [E o povo inteiro não tem vergonha, que vergonha, são todos bichas, cafetões de bichas ou putas]

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"Superfreak"

Geralmente ouvido em conversas furtivas em pubs e com Sam Smith, a WBC finalmente mostra sua tentativa de imitar o sotaque dos negros, o que possivelmente faria o ativista da época dos direitos civis Fred Phelps pegar as armas. A confluência de sexo com sofrimento infernal é de encrespar os nervos, você consegue sentir o cheiro de álcool e vergonha emanando de seus genitais. Moralismo bíblico encontra R&B oitentista e uma piada de 2003 de Dave Chapelle – não dá pra dizer que não é um caldeirão de ideias.

Letra mais elaborada: "She liked the boys in Satan's band/ The devil was her all time favourite." [Ela gostava dos rapazes na banda de Satanás/ O diabo era o seu favorito]

"Pumped Up Kicks"

A religião no Ocidente parece passar por uma época tumultuada, mas multiplique isso trocentas vezes para um grupo que é contra qualquer transgressão e promove lentes de transição. Resumindo: a WBC precisa cativar o mercado jovem. Dá pra entender o pensamento deles já que se a música do Foster The People consegue vender tênis feios, então consegue qualquer coisa. Porém, todos aqueles gestos de boas vindas caem por terra com o verso introdutório; letras malevolentes ecoando através de um vocoder. Um potente lembrete do quão terrivelmente comprimidos são os vocais originais, flutuando sobre as trilhas como um narrador sinistro. O que é mais ou menos o objetivo, na real.

Letra mais elaborada: "All the other kids with the 666, you’d better run, better run, outrun God’s Son." [Toda a molecada com 666, melhor você correr, melhor correr, correr mais que o Filho de Deus]

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"Rolling In The Deep"

Por mais que o fundamentalismo possa surgir em qualquer canto, há algum distintamente americano na mistura de liberdade de expressão irrestrita, puritanismo e um senso de propósito individualista da WBC. Porém, com a sua apropriação de uma canção da londrina Adele, cantada por integrantes femininas da igreja, talvez eles tenham a mente mais aberta do que se pensa. Será que a WBC superou a complicada angústia do segundo disco de abraçar novas influências?

Letra mais elaborada: "Now your sorrow, we tell you loud and bold. It’s pay back from God in kind; you reap what you have sown." [Essa sua tristeza agora, te falamos alto e sério. É castigo de Deus em sua gentileza; você colhe o que planta]

"Poker Face"

Vamos encerrar com uma saída de armário discreta. Shirley Phelps-Roper, um dos pilares da WBC, aparece com suas filhas na Central Michigan University, por algum motivo, em uma aula de matemática. Após deixar o instrumental satânico pulsar por alguns segundos, Phelps-Roper e cia. aparecem para a glória das pregadoras e da música pop. Alguns pensamentos:

- Dedicação uniforme ao cabelo partido ao meio bem antes do revival 90s de agora.

- Os movimentos com as mãos vagamente ritmados e o gesto sobre os olhos. Mesmo que a mensagem de Gaga não mude suas mentes, dançarão mesmo assim.

- O quão volúvel é o clima ali. Variando desde a vergonha sentida pelas cantoras até o choque, humor, nojo e indiferença do público. Se não fosse cortado ao fim, poderíamos imaginar que elas acabariam sendo levantadas por ardentes novos fundamentalistas, pisoteadas até a morte, as mandariam embora com risadas ou simplesmente cairiam fora em silêncio. Eu aposto no silêncio.

A conta no Soundcloud da WBC é deprimente. 140 repetições do mesmo sentimento odioso, feito sabendo que é algo que ninguém aprova ou liga e sem noção de que existe a prática da trollagem. Os protestos barulhentos e infelizes, os cartazes de péssimo gosto, os debates na mídia, o desperdício de energia criativa neste gesto fútil, tudo parece ser feito para preencher suas vidas vazias. Há um niilismo esquisito e infernal nisso tudo.

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Tradução: Thiago “Índio” Silva