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Música

O Bob Moses Faz Música Eletrônica Pra Você Entrar Numas de Emo

Por mais que o nome da dupla sugira algo diferente, o Bob Moses oferece deep house hipnótico em infusão com instrumentação orgânica e vocais que causam felicidade, tristeza e tudo entre um e outro.

Há uma linha tênue que separa a tolice da emoção legítima. Canções tristes muitas vezes podem ser bregas demais para serem levadas a sério, não importando o quão sinceras sejam. Mas Jimmy Vallance e Tom Howie – vindos de Vancouver e que agora moram no Brooklyn – fazem cada uma de suas batidas emocionadas claras e precisas. E os títulos de suas músicas podem ser bem sentimentais: favor notar “I Ain’t Gonna Be The First To Cry” (abaixo) que foi lançada há menos de um mês e já foi ouvida mais de 100 mil vezes. Por mais que o nome da dupla sugira algo diferente, o Bob Moses oferece deep house hipnótico em infusão com instrumentação orgânica e vocais que causam felicidade, tristeza e tudo entre um e outro. Agora eles integram o cast animal da Domino Records e sentei com os caras pra falar um pouco sobre Burning Man, sentimentos e como passaram de nunca terem se falado durante o colegial até a amizade feita em um estacionamento da Lowe’s.

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Noisey: Vocês se encontraram de novo em um estacionamento da Lowe’s em Reed Hook, Brooklyn, certo?
Jimmy: Certíssimo!

Nem sabia que tinha uma loja dessas em Red Hook.
Jimmy: Ela é muito boa.

O que vocês foram comprar lá??
Tom: Nossos estúdios ficavam bem em frente à loja. O meu ficava de um lado e o do Jimmy do outro.

Jimmy: Pra pegar o trem G ali, você pode fazer a caminhada em 90 graus ou cortar caminho pelo estacionamento e economizar tipo 60% do seu tempo. Então nós estávamos passando por ali e nos esbarramos. Eu mandei algo tipo “Tom, que porra, que cê tá fazendo aqui?”.

Então, vocês se conhecem desde o ensino médio, vocês eram brothers naquela época?
Jimmy: Estávamos na mesma turma de arte, mas ele era um ano mais velho que eu. Daí ele disse “Precisamos andar juntos”. Tom era um músico bem-sucedido na escola, quando cantava e compunha. Vendia discos no porta-mala de seu carro, gravou um EP e era meio que uma celebridade da ceninha no ensino médio. Eu era DJ, mas nunca andamos juntos nem pensamos em fazer música.

Tom: Era sempre como se o Jimmy fosse o outro cara bacana da música na escola, mas estávamos em polos opostos.

A música de vocês tem muitas influências e detalhes diferentes. Alguns trechos são dançantes e pegam pesado no groove, mas as letras e vocais tem muita emoção crua por trás. É algo intencional, do tipo as letras são feitas antes?
Tom: Sempre começa com melodia e harmonia, então tanto faz a progressão dos acordes. Geralmente o que rola é que começo a cantar algo, e digo algo, mas não sei por que o faço. Por exemplo, nossa música “Hands to Hold”, em que começo a falar “Time, time, time is a poison” [Tempo, tempo, tempo é um veneno], e o Jimmy diz “Cara, isso é bom, trabalha em cima disso”. Não sei por que usei essas palavras. E aí ambos pensamos “O que isso significa?” e canto outras coisas e vamos ajeitando tudo. Certa vez ouvi um cara dizer “você tem que escrever pra entender sobre o que está escrevendo”.

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Jimmy:Nós nunca tipo escrevemos um poema e metemos em uma música, sempre temos que fazer do outro jeito. Deixar a música ser por si mesma e não ficar no caminho dela, ligar as anteninhas e deixar as ideias passarem pelo subconsciente.

Tom: Muitas vezes parece algo ligado a relacionamentos, e as pessoas pensam que é algo meio amoroso, mas tento pensar sobre outros tipos de relacionamentos.

Jimmy: Nós sempre temos que nos identificar com o que estamos criando. Temos que nos juntar e criar algo eclético. Ambos entendemos completamente o que é a obra como um todo.

Vocês acham que morar juntos ajuda nisso?
Jimmy: Com certeza ajuda; não fizemos de outra forma até então. Não nos separamos. Definitivamente compartilhamos o mesmo ambiente, viemos do mesmo lugar e passamos pelas mesmas experiências todos os dias.

Tom: Faz parte da química também. Acho que todas essas coisas contribuem. Mas pra responder à pergunta original, a crueza e tudo mais é o que fazemos. Não tentamos fazer letras seguindo um modelo específico. Um de nós pode escrever algo e pensar “meh, tá brega demais”. Provavelmente porque adoramos crescer naquela parte mais obscura dos anos 90, quando o Nirvana compunha melodias muito bonitas e as letras eram muito clima ruim. Eu gosto de belas melodias ou algo que seja acolhedor, mas que fale de algo escroto.

Jimmy: Ás vezes é legal compor coisas mais óbvias, e em outras vezes mais enigmáticas. Me empolgo mais quando é algo que faz as pessoas pensarem ou sentirem algo, porque música é isso.

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Tem que fazer valer.
Tom: Um monte de filho da puta deprimido e de mau-humor.[Risos]

Jimmy: Isso, não tem sol o suficiente no noroeste.

Uma das coisas que me deixou mais empolgado é que vocês tocaram no Burning Man. Como rolou isso?
Jimmy: Os caras do Robot Heart, tocamos pra eles aqui em uma festa em um armazém, e eles falaram “como a gente faz pra tirar vocês daqui?”. A gente ficou meio na dúvida, mas aí nos deram duas passagens e disseram que tocaríamos na Bus Burn Night. Então decidimos ir, compramos um controlador novo com seguro porque não sabíamos se nosso equipamento sobreviveria. Passamos fita isolante em tudo, tocamos, e foi divertido pra caralho. Eles fizeram o upload do set na internet e isso foi um tremendo ponto de virada pra nós. Acho que ele já tem uns 150 mil plays de uma época em que éramos relativamente desconhecidos, e isso foi demais.

O público era muito diferente do que vocês estavam acostumados?
Jimmy: Não muito! Pensa em um monte de gente que quer se divertir, reunida em um só lugar.

Tom: Somos dois moleques de Vancouver onde todo mundo vive chapadaço, então estávamos acostumados com esse lance hippie da Costa Oeste, e as festas em armazéns da Costa Leste, então não foi tão esquisito. Mas era como se tudo estivesse sob efeito de esteroides, com certeza.

Como se parece um fã do Bob Moses pra vocês? Muito de sua música é quase que anti-gênero, mas onde vocês se encaixam no grande panorama geral?
Tom: É meio que um mistério, nós só fazemos música e é legal que as pessoas estejam começando a gostar dela, mas eu não sei dizer o porquê. Você só tem que fazer o que acha que é foda, e provavelmente alguma outra pessoa no planeta acabará curtindo. É incrível poder viajar e conhecer gente que gosta da nossa música, e que conseguem criar uma conexão profunda com ela. Compor é algo muito pessoal, a ponto de ser algo quase confessional. De certa forma, é como meditar: é muito puro e nada forçado.

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Jimmy: Um dos grandes pontos que sempre falamos é de que nunca diríamos a ninguém como interpretar nossa música, ou o que ela significa pra nós. Quando escuto os caras que mais curto falando sobre o que a música deles significa, eu terei interpretado de outra forma, e isso meio que a estragará pra mim. Então gostamos de deixar isso em aberto, as pessoas vêm até nós e dizem o que as músicas significam pra elas, e achamos isso muito massa.

Tom: Penso que como a música é algo tão pessoal, as pessoas que você encontra que foram realmente afetadas por ela, acaba rolando uma conexão antes mesmo de conhecê-las. Você vê todas essas pessoas diferentes com diferentes histórias se ligando ao que você criou, e é incrível.

Jimmy: Em qualquer lugar que vamos é simplesmente surreal, do tipo de eu não acreditar que quando compomos uma música, as pessoas de todos os cantos ouviram, aí vamos até lá pra fazer shows. É do caralho. Tudo que queremos fazer é nos ligar com as pessoas. As bandas que amo se ligaram a mim, e se eu puder fazer isso por outra pessoa, é isso. Esse é o sonho.

John fica todo sentimental o tempo todo em seu Twitter. Siga-o - @JohnxHill

First to Cry está disponível agora via Domino

Traduzido por: Thiago “Índio” Silva