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Música

Conheça Bob Gruen: Tocador de Clarim do The Clash e Fotógrafo da Realeza do Rock

Ele ainda vai lançar um documentário sobre o New York Dolls em janeiro.

The Clash, 1979.

A primeira coisa importante a se saber do Bob Gruen é que ele tocou clarim no The Clash. A segunda coisa mais importante é que ele fotografou uma porrada de rockstars icônicos do século XX. O John Lennon contratou ele como seu fotógrafo pessoal, o que resultou na foto dele com a camiseta "New York City" que seu pai deve ter enquadrada em algum lugar da sua casa. Ele também fotografou o Sid Vicious sangrando -que provavelmente você não deve ter enquadrada- e em uma noite especial em 1975 ele tirou uma foto da pica monstruosa do Mick Jagger.

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Bob Dylan, 1975.

Gruen começou a se interessar por música nos anos 60 quando morava no Greenwich Village, em Nova York. Ele fez amizade com bandas que eram parte da cena folk em ascensão como o Lovin' Spoonful and the Magicians. Em 1965 ele fotografou seu primeiro show, que foi o Bob Dylan tocando no Newport Folk Festival. Logo depois, o Ike Turner selecionou Gruen para fotografar a Tina Turner e com isso sua carreira explodiu. Bob fotografou deuses do rock na sua época áurea como os Stones, o Bowie e o Led Zeppelin, mas foi atráves do Lennon e da Yoko Ono que ele acabou se envolvendo com um grupo de homens maquiados que se denominavam New York Dolls.

Ele foi o primeiro fotojornalista a documentar o Dolls de uma forma verdadeira. Ele tirou uma das primeiras fotos da bandas e em 1973 acompanhou os caras em uma turnê pela costa oeste. Hoje, Gruen está prestes a lançar um documentário chamado New York Dolls, All Dolled Out, que é sobre essa turnê que ele filmou. Eu chamei o Bob porque eu tenho inveja da sua vida e quis saber tudo sobre ela.

New York Dolls no programa Real Don Steele Show, 1973.

Como você conheceu o New York Dolls?
Bob: O John Lennon estava trabalhando com a banda Elephant's Memory e eles eram gerenciados pela mesma empresa dos Dolls. Eu estava trazendo umas fotos para o escritório e um dos caras que trabalhava lá falou: "Você precisa ver essa outra banda que nós gerenciamos."

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Eu fui até o Mercer Arts Center e fiquei chocado. Nas próximas semanas, tirei fotos e filmei algumas coisas deles. Nós trabalhos juntos por uns dois anos, eles são como família.

New York Dolls no Mercer Arts Center, 1972.

Qual foi o primeiro show deles que você viu?
Foi uma das performances mais malucas e caóticas que eu já vi. Eles tocaram em um lugar chamado "Sala do Oscar Wilde", onde uma das paredes tinha uma arquibancada. Eles estavam mais ou menos no meio do público, cercado de pessoas. A banda estava pulando muito, tocando versões rápidas e selvagens de rhythm and blues.

Foi chocante ver um bando de rockeiros cabeludos vestidos de drag queens?
Bom, deixe-me retificar isso. Primeiro, os Dolls não estavam vestidos de drag queen. Ser uma drag não é chocante em Nova York. Eles eram os caras mais machos que eu já conheci. Eles poderiam até comprar parte do vestuário na sessão feminina, mas quando eles usavam vestidos de mulher, não estavam vestidos de mulher -estavam vestidos de homem! E sério, eles nunca usaram vestidos, exceto para um show, que era em um clube de cross-dressing.

Veja bem, eles usavam maquiagem, mas não no sentido travesti da coisa. Isso explica parcialmente porque eles eram chamados de "Dolls". Eles usavam blush nas bochechas e roupas brilhantes, cheias de babados. Era mais uma questão de se parecer como bonecas porque as garotas gostavam de brincar com elas. Os New York Dolls eram um bando de caras muito machos que queriam que as garotas brincassem com eles.

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New York Dolls, 1974.

O documentário tem muitas cenas que mostram as pessoas olhando estranho para o palco. Alguém já tentou brigar com eles?
Provavelmente. Eles atraíam muita atenção. Muitos homens tinham medo daquele tipo de visual. Sempre quando entravam no palco as pessoas pulavam e trombavam entre si -metade corria para o palco e a outra metade estava correndo para fora do local. No começo dos anos 70 se vestir como mulher era ilegal e muita gente tinha medo disso.

Como que era o David Johassem [vocalista principal] na época?
David era um cara bem exagerado. Por exemplo, lembro que tinha uma pequena controvérsia porque o David Bowie disse que ele era bissexual e isso correu o mundo inteiro. Eles chegaram a entrevistar o David Johassem: "E aí, você é bissexual?" E ele respondeu: "Não, eu sou trissexual. Eu vou experimentar tudo pelo menos uma vez." Era uma ideia de liberdade e rebeldia de poder fazer o que você quiser.

Johnny Thunders, 1975.

E o Johhny Thunders (guitarrista)? Ele tinha uma reputação e tanto.
O Johnny era um personagem bem durão. Ele aprendeu a tocar guitarra sozinho, o que explica porque ele tinha um estilo tão único. Ele não soava como qualquer um porque ele não aprendeu a tocar com qualquer um. As pessoas não percebem que ele era um cara inteligente.

Quase no final do documentário tem uma cena onde a banda fala que sempre permanecerá unida. O que isso significa isso pra você agora?
Quando você é jovem sempre acha que o futuro será promissor. No caso do Dolls, foi o álcool e as drogas que ajudaram na separação. O Arthur se tornou uma pessoa incomunicável e impossível de funcionar direito por causa do álcool. O Johnny e o Jerry se afundaram na heroína. Realmente não dá pra trabalhar com pessoas nesse estado mental e eles praticamente acabaram com a banda para ficarem doidões. O David não quis viver desse jeito e foi fazer sua carreira solo.

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Você acha que o David tinha uma mentalidade melhor para uma carreira?
O David tinha um estilo de vida bem rock'n'roll também. Eles só não ficou tão viciado em drogas como o Johnny e o Jerry. Em tempo, o Johnny e o Jerry tiveram carreiras solos também bem-sucedidas, só que com mais problemas. O David não queria esses problemas -como ter que se preocupar em arranjar drogas antes de um show e viajar com pessoas que vão levar drogas.

The Clash, 1976.

Seu relacionamento com o Dolls permitiu que você visse o The Clash no começo da carreira deles, certo?
O Malcom McLaren veio para Nova York depois que os Dolls foram largados pela empresa que gerenciava eles. Ele tinha uma peças de roupas para os Dolls vestirem. Ele juntou a banda de novo, conseguindo que o Johnny e o Jerry ficassem limpos por um curto período para que eles pudessem tocar nos shows e vestir as roupas dele. Eu fiz amizade com o Malcom, e quando eu fui para a Inglaterra só tinha o número dele e mais um outro.

Eu nem sabia que uma cena punk estava se desenvolvendo na Inglaterra porque ainda era muito pequena. O Malcom me levou para uma balada chamada Club Louise, onde frequentava o núcleo do que iria se tornar o punk futuramente. Na primeira noite eu conheci a Siouxsie Sioux, a Sue Catwoman, o Billy Idol, o Sex Pistols, The Clash e todas as pessoas que estavam com eles.

Sid Vicious, 1978.

Durante a turnê americana do Sex Pistols você tirou aquela foto icônica do Sid Vicious com o peito todo cortado e sangrando. O que estava rolando nessa hora?
Um incidente bizarro levou a isso. Tinha uma garota que veio para a frente do palco e chamou o Sid. Ele veio, se abaixou e levou um soco no nariz. Ele levantou com muito sangue saindo do nariz e um sorriso enorme na cara. Como eu trabalhei com o Alice Cooper e o KISS antes de fazer essa turnê, pensei que o Sid estava usando aquelas cápsulas de sangue. Aí eu me dei conta que era de verdade. Ele cuspia sangue na garota, ela limpava e jogava nele de volta. Quando o sangue do nariz começou a secar, ele foi até o amplificador, pegou uma garrafa de cerveja que estava em cima, quebrou e cortou o seu peito. Ele se cortou uma ou duas vezes e o roadie apareceu e tirou a garrafa da mão dele e disse: "Sid, o que você está fazendo?" Ele parou e fez uma expressão tipo "Oh, me desculpe". Ele largou a garrafa de cerveja e voltou a tocar. Aí a banda começou a gritar falando que não estava ouvindo ele e era porque ele desligou o seu amplificador sem querer quando bateu com a garrafa.

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É, foi meio caótico. Você nunca sabe o que esperar. Ele era um cara maluco, impulsivo.

Sid Vicious, 1978.

O Sid Vicious é rodeado por muitos mitos. O que você achava dele como pessoa?
O Sid era realmente um cara legal. O Sid que eu conheci era um bom ator fazendo a parte do vilão. Ele não era mau de verdade e também admitia que não era um bom baixista. Não era ele tocando baixo nos álbuns do Sex Pistols e muito menos nos seus álbuns solo, mas o Malcom achava que ele era bom no palco. Ele não cresceu para ser músico. Ele cresceu para ser o Sid Vicious.

É verdade que você tocou clarim por um breve período no The Clash?
Eu aprendi a tocar trompete quando eu era moleque e aprendi a tocar algumas marchas de guerra no clarim quando era escoteiro. Um dia fui para casa do Paul Simonon (baixista do Clash) para pegar uma carona para o show. Percebi que tinha um clarim no canto, então eu peguei e comecei a assoprar naquilo como eu faço de vez em quando. Paul veio até mim e disse: "Nossa, você toca clarim?" Eu disse "Sim, nem é muito difícil na verdade, se você sabe o básico." Então ele disse "Bom, nós queremos alguém que abra o show com uma marcha de guerra." Eu disse: "É fácil, eu posso fazer isso."

Foi muito divertido porque foi a única vez que eu estive em uma banda e foi uma das melhores. Eu costumo tirar fotos de bandas no camarim e quando eu termino eles dizem "Ok, agora só fica a banda no camarim." Mas naquele dia eles disseram "Ok, nós vamos ter que conversar sobre isso" e de repente eu estava na banda. Eu toquei umas duas vezes na Inglaterra e no Bonds em Nova York. Foi uma das experiências mais legais que eu já tive, fora a de ser um fotógrafo.

New York Dolls, All Dolled Up, será lançado no dia 14 de janeiro pela MVD.