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Música

Bethany Cosentino, do Best Coast, Fala sobre Cristais, Auto-estima e Ser Ela Mesma

No novo disco, a cantora se mostra mais questionadora e também mais segura em relação ao seu corpo.

Desde a formação do Best Coast, em 2009, Bethany Cosentino percorreu um longo caminho: a cantora de surf rock californiano passou de escrever sobre o próprio gato e fumar maconha a escrever sobre o sentido da vida. Sim, os grandes temas. A cantora de 28 anos – que já lutou contra a ansiedade no passado – encontrou paz em California Nights, o terceiro disco da dupla, que saiu em maio. Inspirado por tudo, desde trilhas sonoras dos anos 90 (dando nome aos bois, a de 10 Coisas Que Odeio em Você) até Spiritualized, Sugar Ray e Gwen Stefani, o resultado é uma coleção na qual nos vemos passando para a estrada do pop e dirigindo rumo ao horizonte. Perfeito para os nostálgicos dos anos 90. Calce aquelas meias brancas que vão até os joelhos e finja que é Alicia Silverstone. Conversamos com Bethany sobre lidar com a ansiedade, seu amor pela Target e sentir barato com a vida e não só com drogas.

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Noisey: Como o seu estilo evoluiu desde a época em que começou a fazer música?
Bethany Cosentino: Acho que, quando comecei no Best Coast, eu era muito mais nova, e não me sentia muito segura em relação ao meu corpo, e nem sabia direito que coisas eu curtia em termos de moda. Acho que nesse sentido sempre fui tipo Madonna: estou sempre mudando. Costumava mudar a cor do meu cabelo o tempo todo. Agora me sinto muito à vontade e segura em relação ao meu corpo. Faço muito exercício. Minha sensação é de que trabalhei muito duro mesmo. Exponho um pouco mais do que costumava, mas é por causa da confiança. Depende de que tipo é o show. Se é um show de maior porte, a portas fechadas, costumo trabalhar junto com uma stylist, até chegarmos a alguma opção bem chique. Sempre tentei ser leal a quem sou. Na medida em que envelheço e fico mais confiante, é uma consequência dessas coisas também.

Sei que você criou uma linha para a Urban Outfitters alguns anos atrás. Você faria uma linha de roupas para alguma outra marca? Está trabalhando em alguma coisa?
Não estou trabalhando em nada, mas com certeza faria algo desse tipo novamente. Foi superdivertido de fazer. É legal fazer coisas fora da música – mergulhar os pés em diferentes piscinas criativas. Eu com certeza faria alguma coisa, se me fosse dada a oportunidade.

Como você definiria o seu estilo atual? O que tem curtido muito ultimamente?
Nessa turnê, curti muito usar meias-calças transparentes – pretas ou cor da pele, e shorts curtos com crop tops. A coisa da meia calça foi inspirada na Beyoncé, porque ela vive usando. A gente sempre pensa tipo: as pernas dela são incríveis, e daí você percebe que as pernas dela são incríveis mesmo, mas aquelas meias-calças, cara, fazem parecer que você é perfeita. Ela tem alguém encarregado de dar os últimos retoques, para ficar perfeito. Como disse, talvez mostre um pouco mais de pele do que costumava, mas não de um jeito escancarado ou exagerado. Meio que tenho tido vontade de criar uma versão modernizada da Jodie Foster. Meio que curto aquele look que ela tinha, a prostituta adolescente naquele filme [risos]

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Fotos do Instagram do Best Coast.

Você usa uns vestidos em A muito legais, provocantes. Em que loja encontra?
Na verdade, roupas eu costumo comprar muito na Target, pra você ver. Meio que procuro tudo lá na Target. Não sei quem começou a desenhar roupas para a loja, tipo, essa mochila é da Target, mas minha estilista achou que fosse uma Gucci vintage. Eu falei “nem, é da Target”. Compro muita coisa no Etsy e no Ebay. Gosto de coisas vintage, criadas por estilistas, então é nesses lugares que compro. E aí meio que vou à H&M para comprar as coisas mais básicas. As pessoas me perguntam isso o tempo todo, e na verdade não sou muito de marcas. Experimento uma roupa, e se ela fica legal, se me sinto à vontade dentro dela e ela cai bem em mim, pouco me importa de onde veio.

Em termos de beleza, qual é o maior luxo que você se permite?
La Mer. É um cosmético muito chique. É de Paris. É o que a Gwyneth Paltrow usa. É uma coisa muito de celebridade. É minha única extravagância. Não acreditei, no início. Fiquei tipo: isso é besteira, não funciona. E aí comecei a usar, e achei que parecia mais nova. Mesmo que seja efeito placebo, faz com que eu me sinta melhor.

Vamos falar de California Nights. Você diria que esse LP tem um tema coeso, que percorre ele todo?
Acho que o disco é uma história de amadurecimento. Curto muito astrologia, e quando fiz 27, comecei a me investigar muito, a descobrir quem eu sou e esse tipo de coisa. Minha mãe é muito new age. Carrego uma bolsinha de cristais comigo para todo lado. Curto demais esse tipo de coisa. Odeio voar, então quando estou no avião sou aquela esquisitona ali no canto, segurando essas coisas na mão. Um é para ansiedade e depressão, outro é uma Pedra da Lua, que ajuda a ter objetividade, tem essa outra aqui… Todos são basicamente para ajudar você a ficar mais centrada e equilibrada. O tema de California Nights é autorrealização. Estou meio que chegando àquele ponto em que me sinto satisfeita e contente com o jeito que as coisas são. Estou numa idade em que estou ficando mais velha e descobrindo o que quero fazer. Será que quero ser mãe? Juro por Deus que, quando você faz 25 e é mulher, fica pensando: “Eita, agora sou uma adulta.” Comecei o disco com a música “Feeling OK”, que é sobre aceitar o fato de que tudo está OK. Aí, o resto do disco dá marcha à ré, passando a falar sobre o que fiz para chegar àquele ponto. Há temas repetidos dos discos anteriores, mas o modo como abordo eles é diferente, porque agora estou mais velha. É menos “estou muito triste, e aquele garoto não gosta de mim”, e mais tipo “porra, qual o sentido da vida?”. É um pouco mais existencial, e menos os choramingos de uma pessoa de 17 anos.

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No que diz respeito a “Feeling OK”, qual foi o catalisador que ajudou você a chegar numa vibe tão boa?
Para ser sincera, ficar em casa. Passei tempo demais na estrada. A gente meio que deu uma pausinha. Basicamente fiquei em casa, quase sem sair, durante um ano. Fizemos nosso disco e algumas turnês curtas. Na maior parte do tempo, fiquei em casa. E trabalhando, estava me aprontando para promover o disco, mas podia ir para casa, cozinhar a janta para mim mesma, tomar uma taça de vinho e ver televisão. Percebi que esse é o tipo de coisa que verdadeiramente me traz alegria, que me faz genuinamente feliz. Só precisava parar um pouco e re-conhecer a mim mesma. Nos últimos anos, tinha a sensação de que eu era o Best Coast, e não a Bethany. As pessoas até falavam tipo “e aí, Best Coast, beleza?”. E eu tipo: “Meu nome é Bethany”. Também acho que fazer exercícios [ajudou]: entrei muito nisso de me exercitar. Conheci muitas garotas que vêm falar comigo nos shows, dizendo que sentem ansiedade, e perguntam o que devem fazer, e eu respondo: “Exercício”. Mesmo você não querendo fazer, é um negócio muito terapêutico.

Quando o seu primeiro disco saiu, você cantava sobre o seu gato Snacks, e sobre ficar chapada. Essa é a primeira vez que a temática mudou?
Acho que sim. Sei que há vários temas recorrentes em todos os meus discos. Ainda estou meio que tentando me orientar no mundo. Acho que esse foi o primeiro disco em que o gato não seria um tema. Em California Nights, quando falo sobre estar chapada no disco, não é maconha – é aquela sensação de ter uma experiência extracorpórea: fazer exercícios, fumar maconha ou outra coisa. Às vezes sinto que preciso dessa sensação de me sentir inebriada para seguir vivendo. Nesse disco, quis me desafiar em termos de escrever algumas das músicas. Escrevi uma música sobre o ciúme, e pessoas que têm ódio por outras pessoas sem motivo nenhum. Escrevi uma música sobre insônia. Tenho lutado com a insônia desde que o Best Coast existe enquanto banda, mas nunca falei de verdade sobre o tema. Até mesmo as músicas que são sobre romance e relacionamentos, elas são diferentes. Eu as estou abordando de um jeito diferente, porque estou mais velha agora.

O Snacks sai em turnê com você?
Quem me dera. Sempre vejo a Taylor Swift postando fotos dos gatos dela nos camarins, e sinto a maior inveja. Acho que ele não gostaria da turnê.

Como você se sente a respeito de ser classificada no gênero pop? Acha que tem a ver?
Acho que nunca me identifico de verdade com os gêneros em que as pessoas nos classificam. Cresci ouvindo pop, adoro música pop. Compomos as músicas que compomos, e sabemos que as pessoas vão defini-las. Tento não prestar atenção nisso. No final das contas, sei como é a minha música, e é isso o que importa para mim.

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Tradução: Marcio Stockler