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Música

O Beat Brasilis chegou à edição número 100

O encontro semanal de beatmakers na zona oeste de São Paulo já passou dos mil beats, teve a presença de mais de 140 produtores e tem muito o que comemorar em dois anos de correria.

Foto por Moah Buffalo.

Em fevereiro do ano passado, a gente levantou uma bola aqui no Noisey de que o Beat Brasilis era uma fábrica de ouros. Nunca estivemos tão acertados. Prestes a completar 100 edições, o encontro semanal de beatmakers já passou de mil tracks, de 140 produtores e acumula infinitas horas de voos diante de máquinas como a MPC 1000, 2000 XL, SP 404, entre tantas outras. A edição 100 rola na Casa Brasilis na próxima quarta (10) no mesmo esquema. Na sexta (12), pra dar aquela celebrada, tem um lineup de live beats cabuloso na Trackers. Ainda vai rolar discotecagem dos manos da Discopédia.

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Bruno Borges, o Niggas, criador do Beat Brasilis e dono da Casa Brasilis, fala sobre o começo da história lá em 2014. “O primeiro encontro se chamou Vinil de Quinta. Era eu e o DJ Marco. O Cabês tava na cidade querendo só apresentar essa produção que ele faz lá [em Curitiba], sem muita pretensão. Pra não ficar um negócio muito zoado de chegar e dar o play, o Marco me perguntou se ele podia colar com a MPC e soltar da máquina. Quando o Cabês chegou com a MPC dele, o Marco tava com a dele no carro e eu desci com as minhas duas. Naturalmente a gente começou uma jam session e trocamos umas informações. Quem tava junto vendo ficou impressionado. As pessoas que estavam na casa não sabiam o que era MPC, não sabiam que ela tinha esse potencial todo, que gravava pra dentro dela na hora.”

Na semana seguinte eles se reuniram novamente e apareceram ainda os DJs Formiga e Franja. Niggas explica o fluxo. “Começou com três, quatro. Aí de repente sete. Seis. Aí vieram 10. Isso já era impressionante. Começou a vir um cara da zona leste, outro do ABC, do Grajaú”. Hoje é comum ter mais de 20 produtores trampando simultaneamente. Niggas, explica a vibe. “Acaba virando uma terapia, uma escola. Aqui um ajuda o outro sem nem perceber. O grande lance aqui é a motivação. É a parada de você chegar, trazer a máquina e saber que vai aprender alguma coisa.”

Ricardo Palamartchuk, o Malak, é enfático. “Aqui é uma grande escola, um grande espaço. As pessoas entram aqui e deixam o ego do lado de fora. Elas compartilham informação, compartilham conhecimento, compartilham coisas valiosas. É muito gratificante”. Ele que chegou na edição 32, se juntou com outros dois beatmakers, o Franja e o Dário, e montou o Maquinatril, um dos projetos criados a partir do Beat Brasilis. “O Maquinatril surgiu daqui naturalmente, numa das festividades que tinha da casa a gente se reuniu. O Franja propôs, começamos a elaborar as coisas e a coisa tá fluindo sem pressão, natural”. O Niggas se juntou ao Sala 70 para o 70”NGS e tem outros projetos e coletivos se formando. O beat que ele mais gosta depois de tantas edições é o da edição 97. Ouve aí:

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Um dos caras mais antigos no Beat Brasilis é Caio Formiga, membro do Vinil é Arte e um dos caras que há milênios discoteca música brasileira em vinil por aí. Ele fala sobre como a centena de semanas mudou seu trabaho. “Eu evoluí 100%. Quando eu comecei a vir aqui não sabia fazer beat. Eu tinha uma MPC 1000 em casa, tinha feito alguns projetos nela com muita dificuldade, eu sempre me atrapalhava, parava. O momento que eu venho aqui começo a entender a lógica de samplear”. Ele passou pela MPC 1000, foi para a 2000 XL e hoje faz seus beats na MPC Renaissance, aquela máquina que virou nome de um álbum do Q-Tip. Ele explica. “Rola uma história de você descobrir musicalmente o seu caminho e descobrir a sua máquina. Primeiro eu desvendei a máquina, agora tô encontrando o caminho. Nas últimas edições caíram várias fichas pra mim e meus beats, de fato, deram uma guinada muito grande”. Formiga acredita que seu melhor beat foi na edição 98. Saca só:

Rafa Jazz faz uma festa de discotecagem de vinil, a Veraneio e é uma das poucas minas a produzir no Beat Brasilis. Ela comenta a ausência de mulheres entre os beatmakers. “Acho que é um ambiente meio intimidador ainda pras mulheres. Acho que o fato de ter muitos homens”. A produtora faz questão de frisar, porém, que o ambiente é bem sussa. “Eles são grandes incentivadores na podução das meninas”. Ela explica que os beatmakers vão se amontoando de acordo com as máquinas em que produzem. “Agora eu fico mais perto da galera da SP. O Comum, o Dário e o Sala me dão umas dicas.”

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Na edição 81 a Rafa produziu uma track e depois fez um beat clipe com trechos do documentário Tuareg Los Guerreros de Las Dunas. Assiste aí:

Macaco velho das produções e discotecagens, Nato_PK fala sobre como o encontro semanal mudou sua forma de produzir. “Quando cheguei eu já produzia, já tinha disco lançado, já tinha uma história como beatmaker e como produtor, mas eu não tinha uma história produzindo com a MPC, eu não conseguia mexer com a máquina. A partir do Beat Brasilis eu comecei a me desenvolver. Tive muita ajuda da rapaziada que já mexe com a 2000 XL. A troca de informação foi tão intensa a cada edição que eu evoluí, me habituei com a máquina e mudei o meu conceito para produzir”, ele conta.

O set mais cabuloso que acredita ter feito foi o da edição 81. Inclusive, ele fez um vídeo dessa track. Se liga:

O produtor revela ainda que seu próximo trampo terá muito do Beat Brasilis. “Aqui eu tenho uma tranquilidade tremenda de trabalhar e tá rendendo frutos para o disco novo. 90% do que eu tô produzindo aqui no Beat Brasilis já tá indo pro meu disco novo. Eu tô fazendo o Pau de Dá em Doido Volume 3”. Nato fala emocionadão do encontro semanal, a pelada dos beatmakers de São Paulo. “Eu vejo o Beat Brasilis como um projeto único e sou muito grato a isso por ter aberto minha mente para trabalhar com a MPC, conhecer mais pessoas, mais produtores. É um projeto que eu quero estar comemorando mais 100, 200, 300 edições.”

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