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Música

Não É Só Mais Uma “Banda De Tiozões”: Os Punks do The S/Cks Mantêm Vivo o Espírito Do Aus-Rotten

A velha guarda do hardcore de Pittsburgh continua fazendo (muito) barulho

Todas as fotos são cortesia de Samantha Stowe Apesar de terem um dos melhores lineups das melhores bandas punks de Pittsburgh ao longo dos últimos 30 anos, os caras do The S/cks não necessariamente atendem às expectativas do que se espera de uma banda punk novata e rude. Enquanto se preparavam para o set, o vocalista Rob Henry, um exímio conhecedor da cena hardcore do fim dos anos 80 e recente vocalista da banda punk local Kim Phuc, zanzava por aí com sua cabeça raspada, de óculos e com um corte perfeito. Como quem acaba de sair de uma prisão estadual para tomar um ar fresco, o guitarrista Eric Good e o baixista Corey Lyons, que compartilham décadas de atuação na pioneira banda punk política Aus-Rotten e, depois, na ameaçadora Caustic Christ, se retiram calmamente para tomar conta de seus afazeres em silêncio. Do lado direito da plateia está o guitarrista Sam Matthews, fundador e mais antigo do grupo. Com cabelos longos e grisalhos e um sorriso desarmador que combina mais com um fã de Greatful Dead, é difícil imaginar que o membro mais antigo tenha participado dos anos mais confusos e agressivos da cena punk e hardcore americana com sua banda The Bats. Em algum lugar na bagunça dos amplificadores e cabos emaranhados está um elenco rotativo de bateristas, que muda quase em todo show.

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Aparências à parte, o The S/cks conseguiu formar uma potência da clássica fúria punk, repleta de riffs e refrões aos berros. Seu primeiro single de 7” lançado na feira “Warning Records”, em Austin, sem dúvida atrairá fãs do notável Killed By Death que se escondem nos porões da casa da mamãe, girando o disco sem parar antes e depois de terem sido obrigados a ir comprar verduras no supermercado. A gente se sentou com o Rob e o Eric para falar sobre a nova banda, o single de estreia e o seu lugar nos anais da história do punk.

Noisey: Antes de mais nada, como vocês se juntaram? Essa é simplesmente a maior quantidade de caras bizarros juntos em uma só banda. Parece até que vocês escolheram nomes aleatoriamente.
Eric: Acho que o Sam era um grande fã do Kim Phuc, e ele queria tocar com o Rob e outros caras daquela banda. Eu e o Sam ficávamos tendo papo de homem na Mindcure (loja de discos local) e no Gooskis (melhor bar do mundo), tirando sarro de como tínhamos que montar uma banda punk de tiozões e todos os integrantes deveriam ter 40 anos ou mais e tocar num estilo punk rock clássico. Nada desse harcore “vráaaa” de hoje em dia. E na próxima semana, esquecíamos de tudo e tínhamos essa conversa de novo.

Então era mais uma ameaça persistente do que planos reais de formar uma banda?
Eric: Basicamente. Daí um dia, do nada, recebi uma ligação do Sam dizendo, “Eu falei com o Rob e com o Corey, uhul, vai rolar!”. E eu só fiquei tipo “Quem é? Como você conseguiu o meu número?
Rob: Eric falou disso nos primeiros ensaios, tudo o que queríamos era ser uma banda que tinha composições. Estávamos cansados do formato “vamos só tocar o mais rápido possível daqui até ali sem nenhuma melodia ou sintonia”. Tipo, é possível ter uma banda punk ou hardcore e escrever músicas fodas. Nós queríamos voltar a isso.
Eric: Todo o lance moderno do hardcore que começou nos anos 90 onde as músicas tinham apenas um verso enorme e o refrão não chegava nunca. Nada de “rise above, rise above”.
Rob: Eu nunca teria curtido punk se os Ramones soassem como… sei lá… o King Crimson.

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Voltando a algo que você disse anteriormente, você mencionou que a intenção era ser uma “banda de tiozões”. Vocês têm muito mais do que 40 agora, como é começar uma banda nessa idade?
Eric: É meio esquisito, mas é algo natural. Eu tenho entrado e tocado em bandas desde que tinha 13 ou 14 anos. Não é algo novo para mim. A idade está lá e é evidente, mas ao mesmo tempo, você poderia ter 40 e poucos anos ou 20 e poucos e não fazer diferença. Eu não acho que a idade seja uma questão quando você vai montar uma banda.
Rob: Tem também o fato de que somos uma porrada de caras mais velhos e temos de começar do início de novo. Não podemos contar só com a experiência. E é massa estar nessa posição. Estamos lá nos propondo a isso.

Vocês conseguiram lançar um disco bem rápido, e para os padrões de Pittsburgh lançaram quase que imediatamente.
Rob: Mais ou menos, levamos um ano e meio.
Eric: Acho que a nossa idade, ou deveria dizer “experiência” [Eric fez o sinal de aspas com as mãos por um minuto inteiro enquanto ele disse isso] pode ajudar também, temos tantos anos tocando música nas costas que sabemos o que fazer.
Rob: Quando você junta todos os nossos anos de experiência, viram tipo centenas. Isso é muito louco.

E então, a banda tem um objetivo? Vocês decidiram desde o início lançar discos e fazer turnês pelo país, ou é apenas algo que os “tiozões” fazem nos finais de semana?
Eric: Algo no meio do caminho. Acho que os nossos objetivos estão mais focados no que NÃO queremos fazer, do que no que queremos. Não vamos fazer turnê. Se talvez pudermos fazer um show fora da cidade no fim de semana, massa, mas não planejamos lançar um número X de discos no próximo ano e fazer uma turnê no Japão no ano seguinte.
Rob: Eu realmente não consigo me imaginar fazendo turnê em uma van por duas semanas novamente, dormindo no chão; tenho 46 anos, meu nervo ciático vai ficar ferrado. Apesar de estar melhor de saúde agora, em um estado de espírito mais tranquilo, estou feliz só fazendo shows.
Eric: Por mais que eu diga “Tô de saco cheio de bandas. Tô ficando velho demais pra essa porra”, isso é mentira. Tocar é o que eu sei fazer. Desde criança, tudo que eu sempre quis fazer foi tocar. Agora, a realidade vem à tona e eu percebo que eu não preciso fazer turnê ao redor do mundo ou estar numa banda ultracomprometida para curtir. Dito isso, se tivermos uma proposta para tocar algo realmente legal, vou considerá-la. Eu só teria que falar com o meu médico para ter certeza de que tenho todas as receitas que preciso.
Rob: É, a gente viajaria com uma mala lotada de comprimidos, mas não para ficar doidões.

Eric, como é ser “os caras da Aus Rotten/Caustic Christ” e chegar tocando rock? Houve alguma reação por parte do público? Deve ser um pouco estranho aparecer no palco e não encher o lugar com berros e distorções.
Eric: Um pouco. Você diria que hoje em dia as pessoas não esperam que a minha nova banda soe como Aus Rotten. Porra, faz 20 anos. Mas ainda tem muitas pessoas que esperam isso. Eu não consigo não pensar “Sério? É isso que você espera?”. Fico lisonjeado que as pessoas ainda curtem isso, e dou valor, mas para mim não é muito diferente. Ainda é punk rock - não é como se eu estivesse tocando música country ou jazz. Acho que um fã comum de Aus Rotten ou Caustic Christ não gosta da gente (risos), mas acho que um fã comum que ouve uma série de música do Crass Records até o Buzzcocks ou qualquer banda hardcore, saca qual é a nossa. Na Caustic Christ, as pessoas não gostavam da gente porque não éramos o Aus Rotten, mesmo não sendo tão diferente. Agora, nossa banda está ainda mais distante disso. Foda-se, eu não ligo. O que caralhos tem de errado com vocês que não conseguem manter um baterista só?
Eric: Uau, essa é a pergunta mais velha de todas. Na época do Aus Rotten estivemos na cena por uns dez anos e tivemos uns dez bateristas.
Rob: De todos os integrantes de uma banda, o baterista e o vocalista sempre serão os mais pé no saco. Eu incluído. Por sermos mais velhos, temos uma vida e várias outras coisas rolando. O Sam Pace (o segundo baterista da banda), por exemplo, está em outras 100 bandas e acabou de ser pai. O Nick, o novato, ele é ótimo. É mais jovem, está empolgado; ele é um nerd de música versado, o que funciona para gente.

Tem alguma palavra de despedida ou planos para o ano que vem?
Eric: Fazer alguns shows, ter um baterista fixo, escrever algumas músicas novas e ver o que acontece.

Tradução: Stefania Cannone