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Música

Ninguém Mata Aula na Escola do Rock

Acompanhamos um ensaio da filial brasileira da School of Rock, que ensina crianças a serem roqueiras e inspirou aquele filme do Jack Black.

Fotos por: Guilherme Santana

Se o professor disser para Luca Loubet Valério que no próximo ensaio ele finalmente vai aprender a cantar como o Freddie Mercury, seus olhos vão brilhar. Ele fala com tanta empolgação sobre o quanto gosta das músicas do Queen que seu conhecimento sobre a banda até surpreende. Seus coleguinhas de ensaio, no entanto, já estão ligados: ele é um roqueiro nato. Luca, de 10 anos, é um dos alunos do programa Rock 101 da School of Rock, turma de crianças com idade entre 7 e 11 anos. “Eu já queria cantar muito antes de vir aqui. Lembro que a primeira vez que ouvi uma música do Queen eu já adorei essa banda. ‘Somebody to Love’ é muito boa, é a minha música preferida deles”, diz, com o microfone em punho, pronto para soltar a voz no palquinho da escola. O som que eles estão tirando naquela tarde é “Jailhouse Rock”, do Elvis Presley. “Eu gosto bastante também dos Beach Boys e do Offspring”.

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Luca Loubet, 10, vocalista.

A School of Rock inspirou aquele filme famoso com o Jack Black, e ganhou uma filial brasileira na região de Moema, em São Paulo, em 2013. Nos Estados Unidos, o conceito funciona há mais de uma década e a criançada sempre tem a oportunidade de conhecer e tocar com verdadeiros rockstars. Alguns dos músicos ilustres que já deram pinta nos ensaios e apresentações promovidas pela escola para fazer umas jams são o guitarrista e vocalista do Queens Of The Stone Age, Josh Homme, o baterista e um dos fundadores do Alman Brothers, Butch Trucks, Darryl McDaniels, do Run DMC, Doug Wimbish, do Living Colour, e Dave Grohl, guitarrista e vocalista do Foo Fighters, apenas para citar os eventos mais recentes.

Além do Brasil – onde tem outras unidades no estado de São Paulo em São Caetano do Sul e em Campinas – e dos EUA, a School of Rock conta com mais de 150 núcleos espalhados pelo Canadá, Chile, Austrália, Panamá, Filipinas e México. Com programas divididos por faixa etária, a partir dos três anos de idade, o trunfo da instituição é fazer o caminho inverso do padrão didático da maioria das escolas de música, ensinando as crianças primeiro a tocarem as músicas que elas mais gostam e depois chegando com a teoria. Os alunos saem da aula individual e vão direto para o palco, a fim de desenvolverem a confiança e o trabalho em equipe. E eles adoram ensaiar em grupo e se apresentar em festivais e casas de show profissionais. Como o Lollapalooza, onde inclusive as bandas da School of Rock vão tocar neste fim de semana.

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Para o aluno de bateria Bruno Laranjeira, de 11 anos, essas ocasiões já são fichinha. Há um ano frequentando o curso, ele segura a onda habilidosamente, com pegada de gente grande, e nesse período fez shows no Lollapalooza 2014, no Bourbon Street e no Manifesto Rock Bar. “Cheguei a fazer aula com professor particular, só que antes eu fazia mais exercícios e aprendia menos músicas”, disse, explicando por que quis mudar para a School of Rock.

Bruno Laranjeira, 11, baterista.

Francisco Góes, de 11 anos, é um dos baixistas da turma e já tocou no Bourbon e no Manifesto. “No Manifesto foi legal tocar ‘Envelheço na Cidade’, do Ira!, e uma do Titãs, ‘Polícia’”, conta ele, que é fã de bandas como The Clash, Sex Pistols, Beatles, Ramones e Green Day. “Eu sou meio do punk por causa do meu pai. Ele é punk, tocava numa banda até, o Neguinhos Nojentos. Mas quando cheguei aqui foi pra fazer o curso de férias dos Beatles. Eu adoro Beatles!”. Estudante de música desde os sete, os próximos sons que ele quer aprender a tocar são “Spanish Bombs”, do Clash, e duas dos Beatles, “Fool on The Hill” e “With a Little Help From My Friends”. “Todas essas são bem bonitas”, opina. E, de fato, não tenho como discordar.

Francisco Góes, 11, baixista.

Conversando com as crianças, deu pra sacar que uma das coisas que elas mais gostam nas aulas é que podem escolher os sons que vão aprender e já partir para a prática. O também baixista Marcelo Drummond de Almeida, de 11 anos, por exemplo, já fazia aula antes, mas ficava de saco cheio de ter que tocar coisas que ele não curtia, como “Asa Branca”, um clichê das apostilas de aula de violão. Afinal, o lance dele é conseguir tirar “Thunderstroke”, do AC/DC. “É um pouquinho difícil, mas eu vou conseguir!”, garante.

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Marcelo Drummond de Almeida, 11, baixista.

Outra baixista, a Mariana Soares, que também tem 11 anos, pensa igual. “Uma das coisas que eu mais gosto daqui é que eu nunca vi uma escola que te leva para fazer shows, essas coisas que eles fazem, eles são bem diferentes. O legal é que você pode escolher as músicas. A gente sugere, anotamos as músicas e os professores veem. Porque às vezes não é muito fácil, então aí eles falam ‘essa aqui é muito difícil, não dá pra vocês fazerem’. Na outra escola eu não gostava muito porque não conseguia dar sugestão”, desabafa a menina, que no momento está treinando para conseguir tocar “Mulher de Fases”, do Raimundos. “É muito rápida e você não repete muito as notas. É meio que impossível até hoje. Quando troca muito a nota eu não consigo. Tem que ir aos poucos, por partes.” Não tenha pressa, logo você chega lá, Mariana!

Mariana Soares, 11, baixista.

Cantando Elvis pela primeira vez com uma indefectível pronúncia, Ivo Vicenzo Tagliani, de 7 anos, explica: “É que minha escola é bilíngue, daí fica mais fácil”. Mas quem está entre os cantores favoritos do garoto, que estuda vocal há um mês na instituição, é a britânica Adele. "Já cantei na aula ‘Someone Like You e ‘Skyfall”.

Ivo Vicenzo Tagliani, 7, vocalista.

Um lance curioso é que, quando perguntadas sobre suas bandas preferidas, a maioria das crianças cita nomes do tempo do Nirvana para trás, e todas elas amam o AC/DC. Algumas, como a guitarrista Luiza Corrales, de 12 anos, curtem coisas mais recentes, a exemplo do Arctic Monkeys. “Ainda não toquei nenhuma música deles, mas é o que eu mais quero aprender”, diz a menina, que também ama os Red Hot Chilli Peppers. Desconfiei que esse negócio de classic rock ser a preferência dos pequenos pudesse ter algo a ver com uma tendência imposta pela própria escola, mas o diretor musical que conduzia o ensaio, Fábio Pisca, também se disse surpreso quando percebeu essa propensão.

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Luiza Corrales, 12, guitarrista.

“Isso é muito louco, cara, porque o que eles têm de referência de banda grande são as clássicas. Banda mais nova que eles curtem pra caramba é Red Hot. O que eles gostam dos anos 90 pra cá são mais músicas isoladas, eles não citam muito bandas. É o tal do efeito shuffle, trazido pela internet. É raro eles chegarem falando assim ‘ah, eu gosto da banda X’. É muito raro. Essa geração é da cultura das faixas soltas", analisa o professor. "Semana passada eu fiz uma votação, e deu Maroon 5, aquela ‘This Love’. Mas hoje, uma das meninas que falou que queria cantar Maroon 5, já mudou de ideia e disse que quer aprender ‘Psycho Killer’, dos Talking Heads. Às vezes tenho a sensação de que eles vão super pirar com uns sons mais novos, mas nem sempre acontece isso.”.

Marina Silbermann, 9, vocalista.

A menina que quer cantar Talking Heads a quem ele se refere é a Marina Silbermann, de nove anos. Ela chegou a estudar um pouco de violão, mas agora está decidida a ser vocalista. Se não conseguir convencer o pessoal a tocar “Psycho Killer” da próxima, ela já tem outra opção na ponta da língua: “Livin’ on a Prayer”, do Bon Jovi.

Rodrigo Silbermann, 7, guitarrista.

O irmão da Marina, Rodrigo, de sete anos, também faz parte da banda. Ele diz que toca guitarra já há um ano, mas na School of Rock ainda era um recém-chegado quando estivemos por lá. “Meu pai toca bateria, ele nem vem na School of Rock, mas ele toca comigo em casa e treina comigo”, detalha, inquieto para que a entrevista acabe logo e ele possa voltar a praticar com os colegas. Deu tempo de pescar suas músicas favoritas, ao menos: “O que eu mais gosto de ouvir é AC/DC, Adele e ‘Cocaine’ (Eric Clapton)”.

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