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Música

As Coleções de Patches do Hellfest 2014

Peça fundamental do estilo de vida metaleiro, o colete de patchs é mais do que uma simples peça de vestuário: é uma parte de armadura, um talismã, um farol na escuridão da noite.

No Hellfest as atrações ficam restritas ao line-up surreal, aos sets insanos, ao cenário incrível, à educação irrepreensível das crianças, ou até mesmo à ausência total de conversas sobre musica chata como Autechre e Arno Schmidt – você também tem atrações importantes na moda. Moda o tempo todo e em todo lugar, moda pra mim e pra você, e, acima de tudo, centenas de patches, milhares, dezenas de milhares, dezenas de dezenas de milhares de patches. Peça fundamental do estilo de vida metaleiro, o colete de patchs é mais do que uma simples peça de vestuário: é uma parte de armadura, um talismã, um ponto de convergência, um farol na escuridão da noite.

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Esse ano, nosso fotografo Melchior Farradou-Tersen rastreou os mais incríveis coletes de patches da Hellfest. Em seguida, enviamos o resultado dessa pesquisa para passar pelo crivo da nossa banca de cinco especialistas: Lelo Jimmy Batista (editor chefe do Noisey França), Guillaume Gwardeath (principal colaborador do Noisey França sobre temas relacionados à patches e símbolos metaleiros), Marc e Mathieu (membros da banda Cobra), Raymond Ov Tod (da Triumph Ov Dead, selo líder em relançamentos de metal), e Marine ND (editora-chefe da Retard Magazine, que contribuiu com observações sobre estilo).

Lelo: Um colete ponta-firme. Ele demonstra uma estética qualificada e elevada sem parecer ter sido calculada demais. Há um bom patch central como base, o emblema da Slaytanic Wehrmacht para garantir a sofisticação vintage, um patch do Master para o street cred, e um logo do Venom, porque nenhum colete está completo sem um logo do Venom (ou do Mercyful Fate). Por outro lado, eu não tenho ideia do que achar do patch da Heineken.

Marc: Eu odeio esses patches sobrepostos. Um colete bonito é o resultado de um cálculo cuidadoso que permite a justaposição harmoniosa de diferentes tamanhos e formas SEM OS COLOCAR UM EM CIMA DO OUTRO.

Lelo: Normalmente eu teria que odiar esse colete por ele ser zoado demais, mas a história por trás dele é claramente maneira. Se você olhar com atenção, você verá um monte de logos antigos (Destruction, Megadeth, Dark Angel) cobertos por outros mais recentes, como Midnight. De duas, uma: ou esse cara é um metaleiro cujo gosto abrange diferentes eras, ou ele pegou o colete do seu irmão mais e velho, e, aos poucos, trabalha para apagar o seu legado. De ambas as formas, eu tenho absoluto respeito por ele.

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Mathieu: Eu vejo uma mensagem bem mais simples nisso aqui: “Eu fui do black metal para o thrash.”

Marc: Aqui nós fomos numa direção diametralmente oposta: esses patches não foram sobrepostos, eles estão flutuando no espaço. É uma pena, pois a escolha dos grupos sugere um certo gosto por ordem e disciplina.

Lelo: À primeira vista, este aqui é um legítimo patcher das antigas: um colete sem mangas, nenhum grupo que não seja um clássico consagrado, simetria no Iron Maiden perfeita, disposição triangular no AC/DC. Por outro lado, vejo cada vez mais esse lance das pulseiras de festival, e a ainda não sei se curto isso realmente.

Gwardeath: De cara, achei que ele estava andando por aí com uma foto da sua coleção de vinis costurada nas costas.

Mathieu: Eu achei magnífico. Parece que esse cara é ordeiro e está fazendo o que quer. Meu único porém é o patchdo Marilyn Manson.

Lelo: Este aqui não é exatamente o mais bonito, mas é provavelmente o meu favorito. A escolha do patch dorsal é fundamental para qualquer colete, e aqui, mesmo que posicionado um pouco alto demais, o fato de ele ter uma ilustração que é tanto original, como também reverencial a um grupo ponta-firme já indica que conjunto opera a 400%.

Marc: Como o Lelo falou, a base de qualquer colete, o elemento mais fundamental, é o retalho dorsal. Se você não tem um retalho dorsal, seu colete não vai se sustentar. É assim mesmo. Esse colete mais me parece uma colcha de retalhos. Sério, não entendo por que num ambiente tão rígido como o do metal, não existem regras mais rígidas quanto a esse quesito.

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Mathieu: Não seja tão categórico. Eu acho que estamos apenas observando um aficionado por patches que não gosta de grandes emblemas nas costas. Eu acho que esse cara não gosta de brim. Ele não conseguiu cobrir todo o algodão, mas ainda assim continua sendo uma boa abordagem. Certa vez trombei uns caras num show do In Solitude em Luynes que fizeram a mesma coisa nas calças e nos jeans.

Gwardeath: O Captcha Humano.

Marc: Ele abusou dos emblemas recortados. Ele não sabia que devem ser usados com parcimônia, seja como uma peça central ou no topo do colete. Esse colete já não é agradável aos olhos, e combiná-lo com esses shorts abomináveis é como jogar pimenta nas retinas inflamadas. Mesmo assim, o colete merece uma menção honrosa pelo patch que diz “Never Stop the Madness”.

Marc: O que no mundo faria um jovem costurar – notemos a leve superposição – um emblema do Led Zeppelin ao lado de um patch dorsal que diz “Metal Anti-Cósmico da Morte”?

Raymond Ov Tod: Esta é a jaqueta de um obsessivo que nunca superou a morte de Chuck Schuldiner em 2001, e que sem dúvida, celebra o fato todo dia 13 de dezembro com lágrimas nos olhos. Pontos para a total submissão desse cara ao inegável conjunto da obra deste artista da Flórida, a profusão de logos, e a escolha do patch dorsal (um álbum que é mais do que unanimidade entre os fãs). Pontos negativos para a segunda logo do grupo sem os elementos sangrentos, especialmente no espaço de altíssima visibilidade sob a nunca. E claro, também pelo patch de The Sound of Perseverance. Precisava disso?

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Marc: Esse ganha o prêmio de pior layout. Sério. Uma jaqueta de patches, no meu ponto de vista, é mais do que um sinal de lealdade ou reconhecimento. É uma forma de demonstrar sua devoção a diversos ídolos. Uma camiseta, por exemplo, só permite que você demonstre seu amor por um grupo de cada vez. Você pode até conseguir chegar a dois grupos se também usar um boné. Com a jaqueta, você pode basicamente usar múltiplos bonés e ainda demonstrar o seu amor pelo Led Zeppelin e pelo Watain. Mas e aqui, qual é a finalidade? Isso é perder a noção e ir longe demais por amor a uma banda.

Mathieu:Ainda assim vale notar que há uma evolução interessante aqui: o patch lateral.

Lelo: Esse cara vive o metal de maneira casual e relaxada. Ele tem um patch dorsal bem colocado e instantaneamente identificável. Led Zeppelin e Motörhead na base, Sacred Reich e Misfits demonstrando ecletismo, Voivod indicando que ele também é underground, e Mötley Crüe e Lynyrd Skynyrd para lembrar você que, a despeito de tudo, ele ainda é capaz de tirar o pau pra fora da calça depois da terceira breja. Esse cara poderia fazer amizade com qualquer pessoa do mundo em menos de quatro minutos.

Marine ND: Tudo isso me agrada 100% – o enorme rabo de cavalo, o brinco de “não se meta comigo”, e o fato de ele ter costurado tudo em um colete sem magas de COURO, em vez de um de brim. O alinhamento perfeito dos seus patches cria um aspecto de uma “coleção de troféus”. Você pode sentir o trabalho, o suor, o sofrimento de todo esse show. Classe absoluta.

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Lelo: Agora esse eu realmente amei. Chega esse cara com um berrante, seu patch dorsal do Extreme, um conjunto completamente incoerente de emblemas (Def Leppard / Hammerfall/ Overkill/ Queensrÿche), mas duvido que você daria um cacete nesse cara. Ele botou o pau na mesa, e isso é melhor ainda se te incomoda.

Marc: Com uma bunda dessas, eu não sei ao certo por que esse cara está perdendo tempo na indiferença generalizada do Hellfest, quando ele podia estar causando um verdadeiro alvoroço em Calvi ou Marrakesh.

Raymond Ov Tod: Ele ama muitas bandas, e você consegue perceber. Muito covarde nas suas escolhas, incapaz de escolher entre Hellhammer e Airbourne, entre Manilla Road e Guns N’ Roses, ele vai longe demais atrás do consenso. No fim das contas, seu colete parece com aquelas carteiras de segundo grau escolar, onde alunos entalham o nome da sua banda favorita sem prestar atenção no que foi entalhado anteriormente. Outro grande erro? O patch dorsal incrível do Omen com outros patches costurados por cima! Nunca faça isso! Nunca! Não cruze as correntes!

Marc: Aqui, tenho problemas com as costuras. Eu sempre respeitei muito pessoas com esse tipo de colete, porque imaginava eles costurando cada retalho. Hard rockers não precisam dominar a arte de coser com pesponto ou do bordado, mas esse trabalho ficou malfeito pra caralho.

Mathieu: Agora esse cara, isso é claro, não se curte nada fora dos limites da cena kvlt . Ele não viu nem a sombra do palco principal.

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Marine:Eu sou cética em relação a esse cara. Eu aprecio a escolha de adotar um layout horizontal e os patches em blocos, mas o rabo de cavalo e o cinto me causaram sérias dúvidas. Eu sei lá. Seu colete me faz querer respeitá-lo, mas o seu penteado esconde e estraga tudo. Lembrem disso, rapazes: nenhuma garota quer um cara com o mesmo cabelo de sua professora de tênis louca da oitava série.

Marc:Desqualificado. Isso é um poncho de patches.

Lelo: Primeiro achei que estava com uma toalha cobrindo os ombros, mas aí imaginei que não. Eu cheguei a ver umas toalhas de patches nos anos 90, mas isso era na Alemanha. Os alemães são sempre mais organizados que a gente.

Marc: Porra! A gente não esta num festival de techno, caralho.

Gwardeath: Poder no vazio. A presença real da morte. A ferida de guerra, reforçada pela indumentária militar legítima do cara. Ele não está usando um cinto de balas por que aquilo iria lembrar ele demais do expediente.

Todas as fotos por Melchior Ferradou-Tersen

Lelo Jimmy Batista é o editor-chefe do Noisey França. Ele vestia um colete de patches por volta de 1990 (com um patch dorsal de Beneath The Remainsdo Sepultura). Ele está no Twitter - @lelojbatista

Guillaume Gwardeath é um patch de si mesmo. Ele está no Twitter - @gwardeath

No segundo grau, Marine ND passou com ferro um patch do Metallica na sua mochila de uma alça só. Ela está no twitter - @RETARDMAGAZINE

Raymond Ov Tod dirige o selo Triumph Ov Death. Ele acabou de editar 45 pilhas de demos do grupo de death metal francês, Mutilated. Ele está sempre aí pra você, mas não está no Twitter.

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Marc e Mathieu são integrantes da Cobra, a melhor banda do Universo.

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