Este ano foi particularmente importante para a música pop coreana, uma vez que a indústria começou a se livrar de alguns demônios cabulosos, mas a maior força da indústria fonográfica sul-coreana está mesmo nos singles — especialmente naqueles acompanhados por vídeos, coreografia e direção de arte opulentos, muito típico do país. Esta lista traz 20 dos mais marcantes singles, b-sides e faixas de álbum que brilharam no centro do pop asiático neste ano. Confira:Depois de ser acusado injustamente de plágio, Primary, um dos maiores produtores sul-coreanos, passou por um período sombrio. Mas 2015 foi o ano que marcou sua redenção, com hits produzidos para si mesmo, como “Don’t Be Shy” e “Mannequin” (confira a nossa entrevista) e para outros, como “Awoo”, da Lil Kim (logo abaixo). Felizmente, antes de sair do marasmo, ele fez uma parceria com o prodígio do indie Oh Hyuk para produzir esta faixa soturna. Muito provavelmente regada a um bom soju.Foi Keith Ape que chamou atenção da mídia, mas Reddy (também da Underwater Squad) e seus parceiros cobriram a aposta — e sem nenhuma carta na manga. Alternando entre rimas em coreano e japonês, acompanhado pela produção demente de JJJ e do nova-iorquino DJ Scratch Nice — que incluem menções a Nas, Mobb Deep e Planet Asia —, esse rap foi a peça mais memorável da Cultura da Convergência.Com o título de “Maior coreana do ano” entregue pelo governo, essa jovem cantora é mais uma celebridade da TV do que uma artista das paradas de sucesso — o que tem tudo a ver com sua especialidade, que é a música minyo, gênero das antigas de cantigas folclóricas. Mas esta produção retrô do pop sul-coreano dos anos 70 mereceria destaque mesmo que todas as gravadoras estivessem lançando músicas do mesmo estilo, em vez da próxima versão do grupo Girls’ Generation.A mais famosa boy band oriental tomou uns negocinhos e fez um dos clipes mais malucos da história do k-pop. Não dá pra falar a mesma coisa da música em si, que é surpreendentemente refinada, com chimbau de trap, rimas de jamrock, guitarra de country pop, reggae universitário e improvisos bem ghetto.A imagem dessa girl band foi ficando tão indecente com o tempo, beirando o desespero, que a gravadora aconselhou as integrantes a fingir timidez nas entrevistas. E a gente tolera essa baboseira, desde que as músicas delas continuem cada vez mais ousadas. “Vibrato” começa como um excelente revival do blog-house, e depois acerta na ponte mais arrojada do ano.2015 mostrou que praticamente todo mundo ama o som do “pop futurista” do Purity Ring, do Chvrches e da Lorde. E também que praticamente todo mundo ama a versão coreana desse som.“Destrua todos os sentimentos desnecessários”. “Eu não dou a mínima se eu for usada e rasgada por dentro”. “É preciso ser louco para viver”. A letra por si só já é muito sombria, mas o aspecto mais niilista de toda essa violência é a maneira como o refrão briga contra si mesmo: um jato desorientador de ruído pendendo à dissonância. É o som do próprio inferno transformado em algo muito massa de se ouvir.As músicas mais inovadoras do k-pop sempre precisam de um tempinho para serem digeridas. O segundo grande sucesso do EXID no ano é cheio de detalhes estranhos, e o maior deles é o breque onírico no meio da música, logo antes da segunda estrofe. Mas os executivos do mercado fonográfico ocidental ficariam chocados em saber quão rápido os ouvidos se ajustam à diferença. É uma música que agrada todos os seus anseios pop, mas que também desafia um pouco — e isso vem de um país inteiro repleto de produções assim.Um ano atrás, a ideia de que a Coreia do Sul faria um revival do freestyle de Miami pareceria ridícula — assim como a ideia do Wonder Girls virar uma banda de synthpop. Mas o que é que o k-pop não é capaz de conciliar, não é mesmo?No começo da década, quando a Neon Bunny era só uma garota desajustada de Seoul, influenciada por Ed Banger e outros rolês franceses, a música dela já valia muito a pena. Mas conforme ela foi se aproximando de uma coisa mais “Manhattan”, Ella Fitzgerald e da era do jazz — além de sua típica instrumentação caseira, como o kayageum sampleado aqui —, ela se tornou ainda mais especial.Tanto o clipe quanto a coreografia de “Married to the Music” são melhores, mas às vezes é a música que fala mais alto. E poucas têm a graciosidade e a leveza da melhor do ano do SHINee, um dos crossovers mais refinados do house-pop deste ou de qualquer outro ano.A breve carreira de Suran teve muitas surpresas. Ela fez sua estreia solo com “I Feel”, uma das melhores produções de R&B do ano passado, com uma voz muito diferente da de qualquer outra estrela coreana. Depois, transformou “Mannequin”, do Primary, em talvez uma das maiores críticas sociais da identidade consumista e artificial que chegou nos rankings. E ainda encontrou tempo para compor “Awoo”, também nesta lista (confira nossa entrevista dupla aqui). Agora, para a estreia de verdade, ela produziu um dos singles mais elegantes do ano, e de alguma forma igualmente adequado para o sol de Los Angeles e para a neve de Seoul. E além disso tudo, ela ainda compõe, produz e toca todo seu material próprio, o que faz dela talvez o talento mais singular na música sul-coreana de hoje em dia.A música k-pop é ótima, mas seu efeito só pode ser apreciado por completo quando acompanhado pelas coreografias, clipes e narrativas conceituais. O melhor exemplo do ano foi “Closer”: o dream-pop é hipnotizante por si só, mas muito de sua ressonância se deve à letra, ao clipe e às constelações zodiacais da coreografia, além da história contada por todos esses elementos. Você não assistiria um filme de olho fechado, assistiria?“Paradise Lost” é a peça central de Hawwah, um álbum conceitual do Ga-In que questiona tudo: misoginia bíblica, a vontade humana sob o persistente jugo da religião, a culpa pela inocência perdida e a figuração anglocêntrica de Eva enquanto mulher branca. Nada mais adequado que a música dessa visão moderna seja o melhor grind industrial desde Year Zero, do Nin Inch Nails.Não tem como não sorrir diante do break desajeitado todo fofo desse clipe. Ou diante da ingenuidade impaciente da música, alternando entre rap sulista e floreios orquestrais grandiosos — que compõem parte do maior pré-refrão da história da música. Ou diante do desconcertante refrão de uma palavra só. Mas o maior sorriso vem no fim desse singelo vídeo: depois de esperar o tempo inteiro pela transformação da garota de nerd para sexy, ela simplesmente não se transforma.A brilhante “Ice Cream Cake” poderia ter uma posição perto do topo desta lista, mas “Dumb Dumb” vence por sua qualidade constante — sustentada por um breque de rap em homenagem a Michael Jackson, uma ponte que veio de outra dimensão sônica e um refrão que interrompe a si mesmo para rir de tanta coisa incrível acontecendo. A cereja do bolo do clipe e da coreografia rola quando SM Entertainment brinca com o pop “linha de montagem” que eles inventaram 20 anos atrás e foram aperfeiçoando desde então. Se é uma fábrica, só pode ser uma do Andy Warhol.A ansiedade que permeia cada cena, cada passo de dança, cada toque de synth e cada frase vocal nesta reinvenção brilhante, é tudo real: o número quatro, afinal de contas, é sinônimo de morte no extremo oriente. E depois de perder seu quinto membro fundador, no ano passado, os quatro membros restantes do F(X) ficaram frente a frente com a morte da banda. Assim, mesmo que essa música tenha todos os elementos típicos do k-pop — refrões de peso, micromelodias sutis, (muitas) pontes surpreendentes e um breque de rap que chega antes de você achar que seria necessário —, desta vez dá pra sentir o lamento genuíno na música. O apelo do k-pop está em esculpir as falhas humanas em pura perfeição, e é assim que a gente gosta — mas arte realmente boa não é concebida sem um pouquinho de sangue.Jakob Darof é escritor em Seoul, onde ele mantém o K-Pendium — um blog maravilhoso sobre k-pop. Ah, ele também tuita.Tradução: Stefania CannoneSiga o Noisey nas redes Facebook | Soundcloud | Twitter
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20. PRIMARY x OH HYUK – “ISLAND”
19. EXO – “PLAYBOY”
Os ganchos dramáticos intermináveis de “Call Me Baby” merecem ser mencionados, mas o maior destaque do álbum Exodus, do EXO, foi “Playboy”. Mesmo para os parâmetros do k-pop, a linha vocal dessa música é impressionantemente luxuosa e se estende com facilidade sobre a sensualidade e maciez do piano elétrico.
18. UGLY DUCK x Reddy x JJJ – “ASIA”
17. SO HEE SONG – “GOONBAM FUNKY”
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16. RAINBOW – “PIERRROT”
Os singles do álbum Innocent foram bons, mas podiam ter sido escolhidos por sorteio. Tem o clima relaxado de “Bad Man Crying”, o electro-funk nóia de “Privacy” e — talvez a melhor de todas — esta prova matemática de que o dancehall e o europop dos anos 90 podem caminhar juntos.
15. BIG BANG – “BAE BAE”
14. STELLAR – “VIBRATO”
13. LIM KIM – “AWOO”
12. B2ST – “YEY”
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11. JONGHYUN – “NEON”
O ápice criativo da estreia do vocalista do SHINee no R&B como cantor solo (e compositor; vide a faixa “Playboy” logo acima) está nesta elusiva e gradual peça de abstração. A faixa tem muitas surpresas, mas talvez a maior delas seja o breque de J Dilla na ponte. (A faixa-bônus “Fortune Cookie” é ainda melhor e é item obrigatório na sua listinha de compras, porque a única versão online é um edit que corta a melhor parte da música).
10. EXID – “HOT PINK”
9. WONDER GIRLS – “I FEEL YOU”
8. NEON BUNNY – “ROMANCE IN SEOUL”
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7. SHINEE – “VIEW”
6. SURAN – “CALLING IN LOVE (FEAT. BEENZINO)
5. OH MY GIRL – “CLOSER”
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4. GA-IN – “PARADISE LOST”
3. GOT7 – “JUST RIGHT”
2. RED VELVET – “DUMB DUMB”
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