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Música

O Engenheiro de Som dos Beatles Lembra a História do Abbey Road, o Estúdio Mais Famoso do Mundo

O currículo de Ken Scott inclui também álbuns clássicos de Pink Floyd, David Bowie e Elton John.

Pode chamar de aura, ou de presença, ou de histeria coletiva – seja lá como você resolver classificá-los, não há como negar o impacto dos Estúdios Abbey Road. É, sem qualquer dúvida, o estúdio de gravação mais famoso do mundo, não sem motivo. “O estúdio nº 2 já foi chamado de Capela Sistina da gravação, e não tenho como discordar”, observa o renomado engenheiro de som britânico Ken Scott. “Sempre que estou lá, paro no alto das escadas e olho para onde tantas grandes performances foram gravadas com tanta perfeição, e sinto a nuca arrepiar. Já ouvi o mesmo tipo de história de tanta gente que sei que há algo de muito especial e inegável naquele lugar”. Nos mais de 80 anos desde que foi fundado, o prédio reside confortavelmente em um subúrbio tranquilo de Londres. Artistas, engenheiros, produtores, até mesmo diferentes proprietários já passaram por ali; o legado, contudo, permanece. O estúdio já foi visitado por bandas tão diversas quanto Pink Floyd, The Alan Parsons Project, The Hollies e Kanye West, e por compositores como John Williams e Jerry Goldsmith, mas seu nome estará para sempre associado à prolongada colaboração com os Beatles.

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Abbey Road nem sempre foi o estúdio que ajudou os Beatles a fazerem sucesso; na verdade, nem sempre foi chamado de “Abbey Road”. Fundado em 1931 pela Gramophone Company (que se fundiria com a EMI no mesmo ano), o Abbey Road Studios era originalmente chamado de EMI Studios, um lar para o conglomerado do áudio, que não só gravava e publicava música como também fabricava eletrônicos. De sua primeira gravação com a London Symphony Orchestra em diante, os primeiros anos do estúdio foram essencialmente dedicados à gravação de música clássica. Naquela época, estava longe de ser um marco histórico – estava mais para um complexo, um centro de serviços. “Não posso dizer que o EMI Studios tinha uma reputação que transcendesse a indústria da música naquela época. Quase ninguém sabia o que era de fato um estúdio de gravação”, diz Scott sobre os primeiros anos do estúdio. Para piorar, a história dos primeiros tempos do estúdio se perdeu quase toda. Os engenheiros não tiveram interesse em relatar o que se passou por ali. Tudo o que sobreviveu foram as próprias gravações, e algumas histórias que tiveram a sorte de ser lembradas e passadas adiante para as gerações seguintes. Quando pergunto se ele lembra de alguma história dos primeiros tempos do estúdio, Scott, um tanto hesitante, conta o seguinte:

“A única [história] que ficou na minha memória, infelizmente sem muitos detalhes, foi sobre a realização de algumas gravações em alguma terra distante, com músicos indígenas tocando seu estilo local de música. Isso foi na época em que as gravações iam direto para o disco, e a velocidade do prato de discos era controlada por um peso que caía a uma velocidade constante. Infelizmente, os engenheiros que faziam as gravações na verdade não tinham ideia do quanto duravam as músicas, então tinham que cruzar os dedos, torcendo para que os músicos terminassem antes que o peso chegasse ao chão.”

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Não é muita coisa, mas é um prenúncio do espírito experimental por cujo fomento o estúdio mais tarde ficaria conhecido.

Entre os anos 50 e 60, a EMI viu o mundo mudar, e fez o que pôde para se adaptar. O foco mudou para a cena emergente do rock'n'roll, com o estúdio começando a trabalhar com bandas como The Shadows. Os Shadows eram tudo o que os Beatles deviam ser, mas não eram: limpos e comportadinhos, do tipo de garoto que você gostaria de apresentar à sua mãe. Era um sinal do que estava por vir. A outra mudança significativa que ocorreu por volta dessa época foi o fim do controle que o selo da EMI tinha sobre o estúdio. Até aquele momento, as bandas gravavam nos estúdios determinados (e, várias vezes, possuídos) pelas gravadoras que lançariam suas obras. Scott explica mais sobre essa mudança: “Até meados dos anos 60, as únicas bandas que gravavam [no EMI Studios] eram as que tinham contrato com algum dos vários selos da EMI… Elas não tinham permissão para gravar em outros estúdios. Isso também valia para as bandas que tinham contrato com outras gravadoras – elas tinham que gravar nos estúdios que eram propriedade das gravadoras delas. Isso lentamente foi mudando, e os contratos mudaram, de modo que as bandas passaram a ter mais liberdade de ação. Isso significava que a incrível qualidade de som que vinha da EMI, em praticamente todos os gêneros de música, passou a poder ser desfrutada por todos.”

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Desde o instante em que os Beatles chegaram à EMI, tudo (inclusive o nome) mudou. Como novo funcionário do estúdio, Scott pôde testemunhar grande parte da ascensão dos Beatles à fama. Como foi trabalhar pela primeira vez com os Beatles? “Incrível. Assombroso. Tedioso também. A melhor cantada que qualquer homem do universo poderia ter na manga. Eu tinha 16 anos, e estava trabalhando com a maior banda do mundo. Não há nenhuma outra maneira de descrever aquelas sessões, pelo menos para mim, do que como sensacionais.” Scott diz que os Beatles não só colocaram a EMI no mapa, como também “fizeram o público geral conhecer o processo de gravação, e a importância do estúdio e de seus funcionários.”

Scott lembra de Abbey Road como um lugar em que as pessoas estavam dispostas a correr riscos, mesmo que não soubessem o que estavam fazendo. Ao ser perguntado sobre ouvir “Helter Skelter” pela primeira vez: “Ninguém ali poderia imaginar que, 50 anos depois, ainda estaríamos falando daquelas gravações. O rock'n'roll tinha menos de dez anos de idade na época.” Contudo, era um lugar em que, vez após vez, tudo se encaixava de uma maneira incrível. Abbey Road continua a ser um lugar que atrai artistas experimentais, que testam os limites dos gêneros. Scott atribui sua longeva relevância a uma série de fatores, sendo o mais memorável o quadro de funcionários do estúdio. “Havia muita gente de alto calibre trabalhando no EMI Recording Studios, desde Norman Smith e Malcolm Addey, com os experimentos que fizeram para os Shadows e para os Beatles, no início da carreira deles, indo até Geoff Emerick e Alan Parsons, com o trabalho que fizeram com os Beatles numa fase posterior, e com o Floyd. E mais os engenheiros de eletrônicos, gente como Ken Townsend, que inventou o ADT (Automatic Double Tracking). O lugar, as pessoas, as bandas e aquela época maravilhosa. Tudo isso confluiu, e deu ao mundo um legado que provavelmente jamais será igualado.”

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É isso o que torna tão fascinante o concurso Converse Rubber Tracks. Eles estão de fato entregando as proverbiais chaves, que abrem uma oportunidade de gravar não só em um dos melhores estúdios do mundo, como também num dos mais icônicos. “Com a Converse sendo uma marca dedicada a ser útil à próxima geração de talentos, nosso objetivo atual era ativar [a Rubber Tracks] em escala global, e estender essa oportunidade a artistas de todo o mundo. Esse próximo capítulo do programa foi nossa resposta, e estamos empolgados por fazer isso num dos estúdios mais lendários da história da música”, explica Jed Lewis, diretor de marketing global de música da Converse. Como uma das primeiras cabeças a trabalhar no projeto, Lewis compreende a importância que o Abbey Road tem na história das gravações. “Abbey Road foi o berço de obras lendárias, que moldaram a história da música.”

A pergunta, então, é a seguinte: será que essas bandas vão conseguir vencer o desafio? Sonhar em ser o próximo Pink Floyd no conforto do seu quarto é uma coisa – tentar é outra. Lewis não está nem um pouco preocupado, contudo: “Com o Converse Rubber Tracks, tivemos oportunidade de trabalhar com alguns dos jovens artistas mais talentosos que já vimos até hoje. Embora tenhamos um processo seletivo meticuloso para o programa, que leva em conta talento musical, dedicação, e o nível de atividade do artista – em termos de fazer shows, turnês, lançar músicas e outros fatores, o calibre dos talentos que vimos se candidatarem para cada um dos nossos estúdios com certeza está à altura da a experiência.”

Depois da Beatlemania, Abbey Road, para melhor ou pior (dependendo de a quem você pergunta) se transformou. Scott foi dispensado depois do The White Album pelo novo administrador do estúdio, que odiava música pop. O estúdio mudou formalmente de nome no início dos anos 70, e se tornou uma incubadora para a composição de trilhas sonoras nos anos 80. Hoje, é um marco histórico e uma atração turística. As pessoas ficam na rua tentando obter algum vislumbre do prédio do qual tantas obras icônicas saíram, mas, atração ou não, sua função essencial continua sendo produzir, gravar e masterizar. Como sempre, Abbey Road se adapta e sobrevive. Ao longo da última década, popstars hiper-estilizados, como Kanye West e Lady Gaga, convergiram para o estúdio, na esperança de que sua atmosfera lhes trouxesse um quê a mais, enquanto artistas underground como Sunn O))) se valeram de suas capacidades de masterização. Para os músicos, Abbey Road continua sendo tão diverso e importante quanto sempre foi. Por quê? “Gravações espetaculares”, diz Scott. “Simples assim”.

Tradução: Marcio Stockler