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Música

Kanye West, Andre 3000, D'angelo e outros mestres fizeram um tributo ao Phife Dawg

Um evento secreto reuniu a nata do rap norte-americano para reverenciar o irmão e membro criador do A Tribe Called Quest.

Fotos por Derek Scancarelli, exceto nos casos de atribuição em contrário.

Com o hip-hop continuando a prantear a perda de Phife Dawg, do A Tribe Called Quest, agora podemos ver com ainda mais nitidez o quanto o rapper e seu grupo significaram para a cultura, não só como autoridades do bom gosto e da boa música, mas como um modelo para gerações de novos artistas. O Tribe, na semana passada, anunciou um evento de homenagem ao rapper, a ser realizado num parque do bairro em que Phife nasceu, chamado Jamaica, no Queens, em Nova York, que aconteceria na manhã da última segunda-feira, dia 4 de abril, prometendo uma surpresa especial para os primeiros 200 fãs que comparecessem. Avisados de última hora, dezenas de fãs apareceram, sob a chuva fria, para prestar suas homenagens, ao lado de pioneiros do hip-hop como Ralph McDaniels, do Video Music Box, Dres, do Black Sheep, e Jarobi White, do Tribe. Os fãs receberam camisetas homenageando Phife Dawg, e ingressos para um evento clandestino marcado para a tarde de terça-feira, dia 5, no Apollo Theater, do Harlem.

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Naquela terça, os mesmos fãs novamente fariam fila para mais uma homenagem a Phife, cujo teor continuaria misterioso até que a noite caísse. As primeiras especulações diziam que se tratava de um show, mas, ao entrar na célebre casa de espetáculos de Manhattan, o público recebeu um programa organizado de modo bastante semelhante ao de um funeral. Porém, boatos de que o evento seria transmitido ao público geral via streaming pelo canal de televisão especializado em música Revolt, de Puff Daddy, diretor da Bad Boy Records, sugeriam que haveria algo mais. O evento finalmente teve início, apresentado por Quest Green, colaborador do Tribe, uma presença carismática que parece uma mistura perfeita entre um pastor e um dançarino de break. Durante algum tempo, a noite de fato pareceu um funeral clássico, mas, na medida em que o programa foi se desdobrando, os fãs, que foram colocados no andar de cima, no íngreme balcão do Apollo, e que portanto estavam em grande medida impossibilitados de perceber quem exatamente estava presente lá embaixo, começaram a entender a magnitude do evento.

No início da noite, a cantora Kelly Price presenteou o público do Apollo com uma comovente versão do inspirador gospel “Because He Lives”, e o The Roots acompanhou Angela Winbush, veterana do R&B, em seu sucesso “Angel”, de 1987, que Winbush salpicou com dedicatórias a Phife e o testemunho de sua miraculosa recuperação de um câncer de ovário de estágio 3. Black Thought, rapper do Roots, juntou-se a sua banda para homenagear Phife em versos pontuados por citações e referências ao falecido MC. Chuck D, do Public Enemy, prestou sua homenagem, e também Busta Rhymes, colaborador de longa data do Tribe, que, com olhos marejados, contou de como o Tribe foi essencial para sua carreira, e das pequenas maneiras que cada um dos membros do grupo foram para ele os irmãos mais velhos que nunca teve.

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D'angelo, acompanhado pelo The Roots

Por trás de uma mortalha de lágrimas, Michael Rapaport, o diretor de Beats, Rhymes and Life: The Travels of A Tribe Called Quest, relembrou a alegria que foi conhecer seu herói do rap, e apresentou uma vídeo-colagem que ele criara para Phife, coletando os clássicos extravasamentos da persona monumental do rapper ao longo dos anos. Houve uma homenagem centrada nos esportes feita por vários jogadores da NBA, e uma história cheia de carinho contada por Scott Van Pelt, coapresentador do SportsCenter, introduzida por Peter Rosenberg, presença clássica das rádios de rap e recém-contratado da ESPN (que comparou o A Tribe Called Quest ao Led Zeppelin), contando em detalhes a empolgação de Phife por finalmente poder sentar-se na cadeira de comentarista esportivo, na condição de rapper famoso e dono de um conhecimento subestimado e, ao que se diz, enciclopédico, sobre basquete e beisebol.

A noite carregada de emoções logo se tornaria extravagante, quando Quest Green apresentou discretamente um D'angelo muito bem vestido, que se juntou ao The Roots para um cover funky da faixa clássica de James Taylor “You've Got a Friend”. Imediatamente após a saída de D'angelo do palco, Green fez um gesto chamando Kanye West, e West, vestido todo de preto, enfatizou a importância da música do Tribe, e o impacto que o clássico disco Low End Theory (1991) teve sobre sua obra. (“Qualquer coisa que eu tenha feito de errado, ponham a culpa no Tip e no Phife, porque foram vocês que me criaram”). Ele criou caso com a comparação do Tribe com o Led Zeppelin, feita por Rosenberg, disparando: “Não quero ouvir falar de Led Zeppelin no funeral do Phife”, e confessou nunca ter ouvido um disco do Zeppelin até o final. West exigiu que se respeitasse os inovadores do hip-hop, que sofrem com a mercantilização da cultura negra, que acaba prejudicando o sustento de seus heróis e pioneiros.

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Kanye West, foto por Joseph Swide

Quando o discurso apaixonado e lacrimoso de West acabou, Andre 3000, do Outkast, subiu e falou de como seu grupo emulava o A Tribe Called Quest no início, ele e Big Boi sendo promovidos como “o poeta e o malandro”, inspirados na interação pensador/homem comum de Q-Tip e Phife. Ele reconheceu as diversas gerações de talentos na plateia, e enfatizou a importância de passar a inspiração adiante, e não isolar a nova geração de rappers, mencionando Young Thug em uma sala repleta de inovadores como DJ Kool Herc. (3000 também deixou escapar aquilo que seria o detalhe mais suculento da noite: que ele e Big Boi chegaram a conversar, há não muito tempo, sobre fazer um disco colaborativo Outkast/Tribe, que nunca chegou a acontecer.)

A noite ainda contou com apresentações de um tempestuoso KRS-One, de Kid Capri (cuja execução do clássico “I'm Still #1”, do Boogie Down Productions, literalmente sacudiu os alicerces do balcão do Apollo), Grandmaster Flash, Kool Herc, e outros, antes que a vez fosse finalmente passada aos membros sobreviventes do A Tribe Called Quest. Dava para perceber que eles ainda estavam em choque, metralhando pequenas lembranças sobre o falecido e se dirigindo diretamente à família de Phife, oferecendo e pedindo por apoio nessa hora difícil. O final da noite foi marcado pelas palavras de um pastor e pelo vídeo de “Nutshell”, colaboração de Phife com J. Dilla, que tristemente sugeria o tipo de música que ele estava pronto para criar, mas jamais criaria. Depois disso, o público, exausto e com a vista embaçada, foi entregue de volta à noite.

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Jarobi, do A Tribe Called Quest, acenando para fãs na homenagem de terça-feira, no Queens.

KRS-One, acompanhado por Grandmaster Flash, Teddy Ted, Special K e Kid Capri

Q-Tip, Ali Shaheed Muhammad e Jarobi, do A Tribe Called Quest

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Tradução: Marcio Stockler