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Música

A Ópera Rock de Ficção Científica “Perdida” do Weezer É Melhor que Quase Tudo que Eles Lançaram nos Últimos 15 Anos

Quando Rivers Cuomo, um rebelde em desalento, não sabia muito bem o que sentir com o sucesso, ele criou esta pérola, que ficou esquecida no ostracismo do Weezer.
Ryan Bassil
London, GB

Até mesmo os maiores artistas do mundo têm músicas que você nunca ouviu. Na nossa série Lados Z, lançamos uma luz sobre estas faixas raras e edições que só os fãs mais ardorosos conhecem de cabo a rabo. Já falamos de pérolas perdidas do The Cure, Prince, Britney Spears, dentro outros. Agora é a vez da há muito esquecida ópera espacial do Weezer.

Os anos que se passaram desde o lançamento de Pinkerton incomodaram todo e qualquer fã de Weezer. Dentre todos os discos, álbuns solo e coletâneas, poucos eram sucessores genuinamente audíveis. Um destes conta com um otário de Lost na capa, e em 2009, a banda lançou uma música com o Lil Wayne, o fundo do poço da carreira de qualquer banda de rock alternativo. Não é que eles estivessem ficando velhos; é que o Weezer ia tão mal que, em determinado momento, os fãs lhe ofereceram 10 milhões de dólares para se separarem e irem pro caralho.

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A história do Weezer, e sua queda, foram bem documentadas. Mas há um elemento essencial que não está presente: um disco planejado entre a estreia do grupo e seu segundo e abençoado disco, deixado no chão da ilha de edição.

A energia dos dois primeiros álbuns – Blue Album e Pinkerton –, uma porrada movida a angústia, nunca mais deu as caras. Estas provavelmente foram as duas últimas grandes coisas que a banda fez em sua história. Quer dizer, eu estaria mentindo se dissesse que qualquer música do Raditude dialoga comigo como “Across The Sea” quando me exilo em meu quarto e me sinto como um perdedor abjeto. Está aí a razão pela qual o disco “perdido” é tão importante na história do Weezer. Ouvi-lo é o bastante para fazer com que Hurley, Make Believe e Raditude sumam da existência.

Eis a história.

O Blue Album havia sido bem-recebido pelos críticos, e Rivers Cuomo, um rebelde em desalento, não sabia muito bem o que sentir com o sucesso. Ele estava feliz, mas como um estudante com uma média perfeita se formando rumo à ansiosa incerteza, o futuro havia começado a assustá-lo. Foi nesta época que ele compôs uma série de canções que ficaram conhecidas como Songs from the Black Hole: uma ópera rock de ficção científica que se passava em 2126, cuja temática era “relacionamentos, estrelato e a vida no Weezer”.

Rivers havia sido inspirado por musicais – Os Miseráveis, Jesus Cristo Superstar, o tipo de coisa que sua mãe provavelmente bota pra rolar no carro – pois eles combinavam música e drama de uma forma única e encantadora. Os sentimentos podem ser explorados sob o véu do teatro e sem julgamento, enquanto uma composição em grande escala parecia adequada para que Rivers mergulhasse em seus pensamentos mais profundos. Então ele decidiu criar um disco que fluísse de uma faixa diretamente à outra; pense em Sgt. Pepper’s ou Dark Side of the Moon só que lotados de distorção e viagens espaciais ao invés de fantasia besta feita por egoístas narcisistas.

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A história focava em um tema muito específico. Em 2126, a espaçonave Betsy II – nome retirado do primeiro ônibus de turnê do Weezer, Betsy – embarcaria em uma missão que cobriria toda a galáxia. “O lance todo era mesmo uma analogia para viajar, pegar a estrada e subir nas paradas com uma banda de rock”, disse Rivers à Rolling Stone em sua edição de 15 de novembro de 2007, “que era o que rolava comigo enquanto escrevia aquilo e me sentia meio que perdido no espaço”.

A tripulação da nave deveria ser interpretada por músicos, que contariam a história através de seus personagens, como em um musical. Os integrantes do Weezer Brian Bell e Matt Sharp fariam parte desta alegre tripulação, empolgadíssima com sua aventura intergaláctica, simbolizando o lado de Cuomo que estava feliz com o sucesso, e ele interpretaria a si mesmo, o capitão da nave que se sentia meio confuso. No meio do caminho ele se encontraria com duas mulheres, interpretadas por Rachel Haden do The Rentals e Joan Wasser do The Dambuilders, cujos papéis refletiam suas relações na vida real. A história se encerra com Rivers chegando ao seu destino e se sentindo desiludido, desejando um retorno a uma vida mais simples.

Basicamente, o conceito era ridículo e coisa de doido.

Rivers estava compondo o álbum durante os meses que ficou hospitalizado por conta de uma cirurgia na perna, e enquanto o efeito dos analgésicos passava, ele achou que a ideia de uma ópera-rock de ficção científica era “muito extravagante” – o que é uma pena porque não é esse o caso; é do caralho. Em 1995, após se matricular em Harvard, Rivers mudou o conceito do disco de rock espacial para aquele lance meio Madame Butterfly que permeia Pinkerton. Songs From the Black Hole havia sido abandonado.

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Dez anos se passaram e a tal ópera espacial não foi lançada. Os fãs fizeram uma petição para que a banda a lançasse, com o vencedor de um concurso – que teve a oportunidade de subir no palco com a banda – até tentando coagi-los a tocar “Blast Off” ao vivo; uma tentativa falha que virou motivo de risadas enquanto Rivers o empurrava para longe do microfone. O disco nunca viu a luz do dia, mas felizmente diversas faixas vazaram ao longo dos anos.

Cinco demos do SFTBH – “Blast Off!”, “Longtime Sunshine”, "Who You Callin' Bitch?", "Dude, We're Finally Landing," e "Superfriend” – foram lançadas no disco solo de Rivers, Alone: The Home Recordings of Rivers Cuomo, em 2007, e mais três apareceram no disco seguinte, em 2008. Três cópias de uma versão demo de Songs from the Black Hole existem em formato CD-R – duas no carro do parceiro da banda de tempos Karl Koch, outra no calabouço musical de Rivers.

No entanto, algumas faixas vazaram em 2002, e foram compiladas com as outras (e graças à internet), pode-se ouvir boa parte do disco na íntegra. Ouça aí em cima.

Você reconhecerá versões de “Getchoo”, “Tired of Sex”, “No Other One” e “Why Bother” no Pinkerton, mas todas surgiram em Songs from the Black Hole, e três outras faixas apareceram como lados B. Isto não é ruim – todas são excelentes. Mas pensando sobre, o lançamento de um disco tão enervante como Pinkerton em vez de uma grandiosa ópera-rock espacial talvez seja o motivo pelo qual a banda nunca mais lançou um disco bom desde então. Pinkerton era como dar uma espiada no diário de Rivers, e quando os críticos o botaram pra baixo, acredito que ele nunca tenha se recuperado das reações, deixando-o apreensivo quanto a se abrir novamente. Há uma razão pela qual a banda demorou cinco anos para compor seu terceiro disco, Green Album e há um motivo dele ser tão emocional quanto um tijolo.

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Pinkerton não é exatamente um prêmio de consolação; possivelmente é a melhor coisa que já lançaram (cai dentro!). Mas não consigo deixar de pensar que, se eles tivessem lançado Songs from the Black Hole em seu lugar, as coisas terem sido diferentes. Há alguma coisa naquele disco – talvez a composição, ou o fato dos sentimentos de Rivers estarem protegidos pela narrativa, ou o fato de que a história se desenrola na porra do espaço – que sugere que os críticos teriam sido mais receptivos, salvando o Weezer para o futuro imediato.

Está tudo bem agora, porém. Everything Will Be Alright In The End foi lançado em outubro e é uma extravagância pop rock sem vergonha e sem remorso. Os solos e ganchos são ótimos. A banda também aceitou sua posição e está confortável com isso.

Mas falando sério, a última década foi complicada. Quando Rivers cultivou um bigode e começou a parecer um cobrador de ônibus e compôs uma música sobre alimentação infantil, pensei em Songs from the Black Hole. Quando ele piorou o mundo com “Magic”, me afastei e limpei os ouvidos com “Blast Off”. Após ter enterrado meu falecido hamster, ouvi mesmo “I Just Threw Out The Love of My Dreams”, e talvez tenha deixado uma lágrima rolar.

O que estou dizendo é que um dos melhores discos já feitos pelo Weezer nunca foi lançado. Um disco que é melhor que cantar “it's Weezer and it's Weezy” e merece estar à frente da maioria dos discos na coleção de qualquer fã da banda.

Namastê.

Tradução: Thiago “Índio” Silva