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Música

A Noite Fria do Rodrigo Ogi

A VICE estreia “Noite Fria”, o último clipe do disco Crônicas da Cidade Cinza do Rodrigo Ogi.

Hoje a VICE estreia “Noite Fria”, o último clipe do disco Crônicas da Cidade Cinza do Rodrigo Ogi. Obviamente é uma honra, mas sabemos que isso também é uma notícia triste pra quem esperava que todas as “histórias do mundaréu” rimadas por Ogi ganhassem versões visuais.

Melhor contador de histórias a aparecer no rap brasileiro em muito tempo, Ogi conquistou seu espaço desde o hiato de seu grupo Contrafluxo, e mês passado entrou oficialmente no elenco do selo Laboratório Fantasma. Amado na rua, indicado à uma categoria no VMB desse ano, agora ele planeja uma pausa pra fazer seu próximo disco.

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“Noite Fria” é a trágica sequência de “Premonição”, ambas odes aos tempos em que era pixador. Dirigido por Gabi Jacob, o clipe tem imagens reais de pixação cujas gravações renderam até um processo. O clipe você pode assistir abaixo, e logo na sequência tá a ideia que trocamos com o Ogi sobre o universo do arrebento.

Direção Gabi Jacob
Câmeras: Carina Zaratin / Jorge Dayeh e Gabi Jacob
Montagem: Fernando Faria Freitas e Gabi Jacob
Finalização: Ricardo Mantovanini

VICE: Você tá respondendo um processo por causa do clipe?
Rodrigo Ogi: Não, quem respondeu o processo foi um amigo meu. Ele escalou num lugar muito alto como dá pra ver ali [clipe] e não conseguiu descer. Os caras normalmente fazem aquela escalada em dupla, só que esse moleque é tão zica da pixação de São Paulo que sempre faz sozinho. Ele tentou amarrar uma blusa no ferro e não conseguiu, daí ele tentou arrombar e o segurança não quis abrir por dentro pra ajudar o moleque. Daí tivemos que chamar os bombeiros pra tirar o cara de lá [risos]. Aí ele assinou. Acho que foi o oitavo processo desse cara. O último processo que eu tomei foi em 2009, e graças a Deus me livrei disso aí.

E era de pixo, também?
É.

Quanto tempo você ficou pixando?
Comecei em 95. Na ativa mesmo fiquei até 2002. Daí dei um tempo, e em 2008 voltei a fazer muito de novo. Agora não sei se volto mais. É um negócio meio estranho, tem cara que fica dez anos parado e depois volta de uma hora pra outra — encontra um mano que ainda tá pixando e volta. Você vê uns tiozões pixando, o Lixomania deve ter uns 40 anos, e é o que mais tem em Sampa.

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As cenas todas do clipe são de verdade. Quanto tempo vocês demoraram pra fazer?
As cenas de pixo a gente filmou em duas noites. As cenas dos moradores de rua, a [diretora] Gabi Jacob fez por conta própria junto com a Carina Zaratin e o Jorge Dayeh.

Mas qual foi tua brisa de escrever essa música?
Foi inspirada nos rolês mesmo. Sempre acontecia alguma coisa errada. Eu já vi muito cara ser zuado e já passei por vários perreios na mão de polícia. Na década de 90 eu tomei muita surra e cheguei em casa todo quebrado várias vezes. Eu não queria contar pros meus pais o que acontecia, mas uma vez cheguei muito arrebentado e minha mãe disse: “Da próxima vez você tem que anotar [o nome do policial] e ir atrás”. Só que sempre que a gente olhava nas fardas, não tinha os nomes. Eles tocavam o terror. Hoje em dia a polícia tá mais tranquila com isso, não chegam te zoando tanto como antes, mas ainda te zoam, se te pegarem numa quebrada mesmo você toma um esculachozinho, mas não que nem antes. Tinha cara lá no Jardim Brasil, um policial que não vou citar o nome dele, e ele era tão ruim que uma vez pegou um amigo meu, parou o carro da viatura em cima dos braços do cara pra ele não ter como reagir e quebrou as costelas dele no coturno.

Caralho. Mas você acha que os policiais eram mais violentos naquela época porque tinha mais pixo ou não?
Não. A coisa mudou, e a pixação mudou. A internet meio que ferrou com a pixação.

Por quê?
Porque tem muito cara que não faz rolê, só perto de onde mora e posta na internet. Mas quem é da rua e tá no rolê sabe quem é quem. Mas a polícia antes era muito pior.

Mas você acha que teve denúncia?
Denúncia e… Você chegou a ver um vídeo que eu fiz chamado Grafitismo? A gente tá pixando com escada, daí a gente corre e é parado pela polícia. Hoje os caras ficam espertos. A gente deixou uma [câmera] GoPro escondida, e pega o enquadro todo. Quando o policial acha e pega a GoPro, e a gente colocou uma tarja na cara dele, diz: “Mas vocês não foram agredidos em nenhum momento, né?”. Isso que aconteceu, celular com câmera, essas coisas. Por isso que diminuiu a violência deles, tá mais fácil de flagrar qualquer coisa que eles estejam fazendo.